Arroja, Comunicação Social, Direita e Esquerda, Ideologia de Direita, Machismo

A direita, o Machismo e o Arroja

Adão e Eva Lucas Cranach

Adão e Eva de Lucas Cranach

Com tanto ruído à volta, também fui ouvir Pedro Arroja. É miserável mas fiquei sem perceber porque é que o Bloco de Esquerda exige desculpas ao canal televisivo, por não se demarcar das declarações de Pedro Arroja. De que valem as desculpas que fossem dadas pelo Porto Canal? Têm o mesmo valor das desculpas que eventualmente os supostos isentos jornalistas que enxameiam os meios de comunicação social poderiam dar pela campanha de desinformação que todos os dias e a toda hora fazem, de forma directa ou indirecta, para alimentarem a campanha de direita. As graduações são evidentemente diferentes, mas o espaço concedido a Pedro Arroja é o mesmo que é concedido, por exemplo a Paulo Portas para repetir a cassete em que, com o descaramento conhecido, desmente o que disse há quatro anos sobre governos minoritários e maiorias parlamentares. Não há jornalista que o confronte com isso ou qualquer outra das suas afirmações irrevogáveis que alimentam a montanha russa de retórica de pacotilha, variável conforme as circunstâncias e os interesses momentâneos, que povoam a sua vida política. A complacência comparada com a agressividade que usam com outros passa sem reparo! Ontem, nos diversos canais de televisão os exemplos multiplicaram-se. Vão ser o pão nosso da mixórdia comunicacional de todos ps dias.

Há por aí quem escreva e diga que Pedro Arroja é conhecido pelas suas afirmações politicamente incorrectas. Curiosa forma de camuflar tudo o que é politicamente incorrecto na política de direita travestido de pensamento político que merece consideração. Poucos são os Heidegger ou os Raymond Aron. Muitos os Glucksmann e os Bernard-Henri Lévy. Poucos os Churchill e muitos os Reagan, os Blair, os Bush. Há um enxame de medíocres vespas asiáticas ao assalto em defesa de uma nova barbárie política económica e social totalitária que quer comandar o mundo escapando-se ao escrutínio democrático, através dos seus braços armados, com o FMI e o Banco Mundial na linha da frente e Bildeberg na retaguarda. A comunicação social anda por aí para os servir.

O Arroja não é mais nem menos do que uma dessas vespas zumbidoras a que a comunicação estipendiada dá voz quando acha conveniente.

O que ele agora disse só merece ser falado porque é um insulto a todos nós homens. Tem a virtude de colocar no terreno uma questão, essa sim fracturante. A ideologia burguesa de direita, que nunca se assume como ideologia por se pensar eterna e estar para lá do fim da história, considera que há territórios politica e ideologicamente neutros como os da cultura, dos direitos humanos ou, no caso, o do machismo. Territórios onde, aparentemente, direita e esquerda se podem encontrar sem conflito.

A realidade é outra. O Schubert ou o Wagner que eu ouço, o Erza Pound ou o René Char que eu leio, o Tartokvsky ou o Orson Welles que eu vejo não são os mesmos do que a generalidade dessa gente de direita, ouviu, leu e viu. Não são, nem nunca serão. Excepções haverá, nenhuma regra não tem a sua excepção. Há mesmo gente que politicamente se afirma de direita que ouvirá, lerá e verá essas obras com uma visão diversa que aprofunda a sua audição, leitura e visão.  Mas na generalidade nunca ouviremos, leremos e veremos o mesmo. Georges Steiner descobriu isso quando Lukács lhe disse que nos campos de concentração nazis Mozart nunca seria tocado. Admirou-se com afirmação tão peremptória. Confrontou-a com Benjamin Britten que, depois de uns quinze dias a rever Mozart, lhe telefona a dar razão a Lukács.

Ao ouvir Pedro Arroja, nós homens, devemos afirmar a nossa condição de homens, indignando-nos, mas afirmando que o machismo é um traço do pensamento da direita. Inscreve-se no pensamento de direita. Está em linha com o pensamento político, social e económico da direita. A luta pela igualdade de género, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres sempre foi uma luta da esquerda. Há homens que são ou militam nas esquerdas e têm atitudes machistas? Claro que há! Outra vez a questão da regra e da excepção. Mas nunca um homem de esquerda pode considerar que a mulher aparece de uma costela de Adão. Nunca um homem de esquerda pode esquecer que foi Eva que deu a maçã a trincar a Adão e lhe limpou o olhar animal, o tornou Homem para a história da Humanidade se iniciar com o trabalho histórico e social de trabalhar os sentidos, não só os sentidos físicos, como o ouvido ou o ver, mas os sentidos práticos como os da vontade, do amor, como Marx teorizou tão excelentemente

Standard

1 thoughts on “A direita, o Machismo e o Arroja

  1. Pingback: A direita, o Machismo e o Arroja | A Matéria Humana - Pedro Mota

Comente aqui. Os comentários são moderados por opção dos editores do blogue.