Bocage, Cultura

Comemorações dos 150 anos da inauguração do monumento a Bocage (1871-2021)

O monumento a Bocage, situado na praça dedicada ao poeta existente no centro de Setúbal – e que nos serve de referência maior neste blog -, é uma obra marcante na identidade da cidade.

Completam-se agora 150 anos sobre a inauguração do monumento. Sob o lema “Bocage O Poeta da Liberdade, construção da memória nos 150 anos do monumento a Bocage”, um conjunto de entidades sadinas organiza um programa de atividades culturais de que aqui se dá nota.

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Setúbal

Pomar em Setúbal

 

Bocage_Julio_Pomar_02Porque o Bocage que vigia lá em cima os autores desta pequena ilha de escrita e escritos é da autoria de Júlio Pomar, aqui fica a notícia divulgada hoje pela Câmara Municipal de Setúbal.

Ensaios de Júlio Pomar sobre Bocage, realizados no âmbito das obras expostas na estação de metro de Lisboa de Alto dos Moinhos, podem ser admirados em Setúbal, na Galeria Municipal do 11, numa exposição patente até 6 de fevereiro.

Treze desenhos, a maioria criada em marcador sobre papel, revelam o processo de análise empreendido pelo artista plástico ao longo do ano em que preparou as obras que viriam a integrar as paredes da estação do metro do Alto do Moinho após a inauguração em 1988.

A maioria dos esquissos patentes na mostra em Setúbal foca a cara do poeta setubalense, retratada sempre com o mesmo tipo de traço, mas com expressões claramente distintas, reveladoras de um profundo estudo de Júlio Pomar da personalidade de Bocage.

“Não cansa porque acaba por não ser sempre a mesma imagem”, refletiu a curadora da mostra, a técnica municipal Francisca Ribeiro, na inauguração, realizada no sábado, ao final da tarde.

O evento é organizado pela Câmara Municipal no âmbito das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage, a decorrer ao longo de um ano, até ao mês de setembro.

“É também particularmente especial, quando amanhã [domingo, 10 de janeiro] Júlio Pomar completa 90 anos”, sublinhou o vereador da Cultura, Pedro Pina.

O autarca destacou, ainda, que a mostra “deixa Setúbal de parabéns”, não só pelo facto de serem trabalhos de um artista com a dimensão de Júlio Pomar sobre um dos maiores poetas portugueses e nascido em Setúbal, como também porque “uma das obras mais relevantes é da própria coleção do Museu de Setúbal/Convento de Jesus”.

Pedro Pina referia-se a uma imagem em carvão e marcador sobre papel vegetal, de corpo inteiro, de Bocage, e, sem dúvida, uma das mais impactantes da coleção que se encontra em exposição.

A mostra, de entrada livre e intitulada “Bocage, por Júlio Pomar”, inclui, ainda, três esquissos do artista plástico sem ser do poeta. Dois são de um frade e, o outro, de temática burlesca, representando este conjunto textos escritos por Bocage.

A Galeria Municipal do 11, localizada na Avenida Luísa Todi, n.º 5, está aberta ao público de terça a sexta-feira, das 11h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00. Aos sábados funciona apenas no período da tarde, encerrando aos domingos, segundas-feiras e feriados.

 

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Geral

Setúbal e Bocage

Bocage

Hoje é Dia de Bocage e de Setúbal. Hoje comemoram-se 250 anos do nascimento de Bocage. Comemorações que se anunciam com a ambição de dar um salto qualitativo em relação às anteriores que, com maior ou menor brilho com maior ou menor repercussão interna e externa, têm ficado confinadas a um período temporal. O programa anunciado das Comemorações dos 250 Anos quer ser o ponto de arranque para tornar a obra e a vida de Bocage um permanente objecto de estudo, de culto e de incentivo à prática da poesia como género literário maior.

Para isso acontecer há sempre que fazer confluir condições objectivas e subjectivas. Em Setúbal, pelo trabalho que o Poder Local, o executivo da Câmara Municipal de Setúbal e a sua presidente, tem realizado na última década, essas condições estão reunidas. Inscrevem-se numa política geral, numa visão estratégica para Setúbal, que era inexistente e se tem afirmado em todos os níveis de intervenção, que é vísivel mesmo para o residente ou o visitante mais distraído. São essas realidades , essas evidências que dão sentido e tornam viável que as Comemorações dos 250 anos do Nascimento de Bocage pensem e projectem o já referido salto qualitativo.

São duas as pedras angulares que estruturam essa ideia. Uma é a existência de uma Casa Bocage remodelada, refundada. Um equipamento cultural, com anos de vida e actividade, mas que se pode considerar novo, em linha com os equipamentos culturais que, nos últimos anos, têm transformada a vida e a oferta cultural de Setúbal, o que se alia a programações com rumo definido que traduzem a progressiva ambição de colocar Setúbal nos roteiros culturais de Portugal. O objectivo é tornar a Casa Bocage num centro de divulgação da vida e obra de Bocage, de investigação científica, de impulsionamento da prática poética a um nível de qualidade relevante, que inicie uma prática normal de acções que tenham a ver com Bocage, a sua época, com a universalidade da sua poesia e da linguagem poética.

A outra pedra angular é utilizar as Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage como uma alavanca para internacionalizar o conhecimento e o estudo de Bocage, um dos maiores poetas portugueses.

Isto só é possível porque, há que repetir e sublinhar a traço muito grosso, Setúbal vive um momento histórico de viragem. De cidade e concelho que vivia de impulsos voluntaristas, uns melhores outros piores, é hoje uma ciadade e um concelho que olha para o futuro com uma visão global estratégica que está a virar do avesso, no seu sentido óptimo, a imagem da cidade e do concelho, a qualidade de vida da sua comunidade. Em paralelo e simultâneo a torná-la uma cidade e um concelho atractivos para visitantes e para o investimento.

O que é mais notável é essa transformação ser feita em contraciclo. Em tempo de crise económica e de valores que abalam Portugal. Setúbal, a cidade e o concelho, são um exemplo de como viver em plena crise, ultrapassando a crise. De como, não baixando os braços e olhando de frente, se trabalha para vencer a crise. A última década demonstra como é possível, com vontade e visão estratégica, transformar o território e a vida das pessoas, ultrapassando escolhos económico-financeiros. Poucas cidades e concelhos conseguiram/conseguem, num espaço de tempo histórico relativamente curto, um salto qualitativo tão grande. O que repita-se, enfatize-se, assinale-se foi e está a ser feito em tempo do que popularmente se chama de vacas magras.

A bússola do Poder Local em Setúbal tem um norte e uma rota bem definida. Dia a dia, com perseverança, os pés na terra e o olhar no futuro, Setúbal, a cidade e o concelho, caminham por esse mapa que se desdobra perante o olhar de todos. Que tem sido feito e se faz de pequenas e grandes iniciativas. As Comemorações dos 250 Anos de Bocage são um ponto, um marco nessa estrada de muitos outros pontos que marcam indelevelmente a paisagem sadina.

Uma cidade e um concelho que merecem algo que começa a fazer falta e que está para lá do que Poder Local tem meios para concretizar: um terminal para navios de cruzeiro. Setúbal, pelo trabalho que tem sido realizado na última década tem tudo para ser um destino turístico inda msia atractivo. Com a sua baía inscrita entre as baías mais belas do mundo, deve ser destino de cruzeiros. Assim deve acontecer se o Poder Central acertar o passo pelo passo do Poder Local em Setúbal.

Setúbal

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Bocage, Cultura, Setúbal

“Setúbal, Palmela e Azeitão Vistas por Estrangeiros – A Época de Bocage”

Nós, portugueses, sempre tivemos um certo fascínio pelo que os estrangeiros pensam e dizem sobre nós. Alimentando essa curiosidade e utilizando-a como pretexto para investigação, o Centro de Estudos Bocageanos acaba de dar à estampa “Setúbal, Palmela e Azeitão Vistas por Estrangeiros – A Época de Bocage”. Uma viagem no tempo.

A obra, da responsabilidade (organização, prefácio e notas) do profícuo investigador setubalense de temáticas bocageanas Daniel Pires, reúne um conjunto de testemunhos escritos por viajantes que demandaram esta região entre 1766 e 1800, datas que se situam no período (1765-1805) em que o famoso poeta sadino viveu. Alguns desses textos tinham já sido publicados, enquanto outros são-no agora pela primeira vez, casos dos textos do arqueólogo-espião espanhol José de Cornide e o do embaixador francês Marquês de Bombelles.

Optando por uma apresentação cronológica, é possível ler oito testemunhos de personalidades de diversas nacionalidades e condições profissionais, apoiados por notas biográficas dos autores e outras explicações. Atente-se, contudo, ao facto de a condição de viajante na segunda metade do seculo XVIII ser repleta de dificuldades de toda a ordem, os caminhos inexistentes, os transportes precários e a insegurança. O relato das viagens entre Lisboa e Setúbal é um bom exemplo, com uma rota terrestre que passava por uma ligação fluvial a Coina (sede de concelho, à época) ou à Moita e que, atravessando charnecas e pinhais, seguia por Palmela. Ou, em alternativa, um caminho marítimo que tanto podia levar um como oito dias.

A leitura desta obra de cento e onze páginas é uma deliciosa viagem no tempo pelas terras de Setúbal, Palmela e Azeitão. Nas deambulações pelas terras ou nos contactos sociais. Testemunhos que relatam, ora com mais objectividade, ora com mais preconceito, os hábitos e os comportamentos dos portugueses, com a vantagem de, como Daniel Pires justamente nos chama a atenção, terem sido publicados nos países de origem dos viajantes, “onde a censura, se existia, não interferia minimamente quando se tratava de textos sobre regiões consideradas remotas”; situação que não estava minimamente ao alcance dos autores nacionais, assediados pelo Santo Ofício, Real Mesa Censória ou os seus sucessores.

Um capelão sueco, um arqueólogo-espião espanhol e um botânico alemão

De entre as visões reproduzidas nesta obra, refiro três. A de Carl Israel Ruders, capelão da legação da Suécia em Lisboa ao ano de 1798, a do espanhol José de Cornide y Saavedra, arqueólogo e intelectual de nomeada em missão de espionagem e a de Henrich Friedrich Link, botânico de renome e professor universitário.

CarI I. Ruders, que fez várias viagens a Setúbal, era servido de uma rara capacidade de observação-participante, devendo-se-lhe, aliás, uma das mais relevantes obras sobre o Portugal desta época, “Viagem em Portugal – 1798-1802” (edição da Biblioteca Nacional, 1981). Leia-se na obra agora publicada, em que se respiga o relato do sermão que o capelão protestante presenciou no adro da Igreja de Nossa Senhora do Bonfim (Setúbal). Ruders descreve o acontecimento e analisa a técnica do frade dominicano que consegue levar os fiéis a “uma salva geral de bofetadas que cada ouvinte aplicava a si próprio como complemento do sermão”. Ou o seu relato, quase hilariante, da interrupção de uma “partida” (sessão de jogo numa residência) interrompida por um sino que anunciava ir a Eucaristia ser levada a um enfermo: “e todos, a um tempo, arremessaram as suas cartas, precipitando-se para a janela e lançando-se de joelhos. Mas, em seguida, recomeçou o jogo, como se nada fosse, embora instantes depois, quando o préstito regressava, todos abandonassem de novo os seus lugares”.

Aproveitando (ou usando como fachada) a elaboração de um minucioso estudo sobre o país, titulado de “Estado de Portugal en el año de 1800”, J. Cornide escreve relatórios de avaliação militar para Manuel Godoy, governante espanhol que haveria de conquistar pelas armas a praça de Olivença, no episódio que ficou conhecido por Guerra das Laranjas. A estória que envolve o escrito de Cornide (1800) é descrita em pormenor por Daniel Pires numa das notas de apoio (pp. 105-106). Cornide procede a avaliação de Setúbal. Deixa claro que a fortaleza de São Filipe foi construída (no reinado de Filipe III) para manter as gentes da vila de Setúbal “em respeito, pois domina-a” mas que, como instrumento de defesa perante ameaça terrestre ou marítima, a sua utilidade é limitada. No seu testemunho faz-se ainda uma completa descrição dos dispositivos existentes e uma avaliação desapiedada das capacidades defensivas. Tal como do potencial económico de Setúbal, que lhe conferido pelo sal e pelos vinhos e frutos. Observa mesmo a estrutura aduaneira.

O botânico Henrich Friedrich Link procede a uma notável caracterização natural e ambiental, a que junta um interessante levantamento do movimento portuário em Setúbal e Lisboa no ano de 1796. Donde se realça o maior movimento de embarcações suecas na cidade do Sado e o muito aproximado número de dinamarquesas. Para Link “a cidade é pequena e constituída por por vielas estreitas e sujas e casas pequenas, só a praia é larga e bonita, está guarnecida com melhores casas e a beira-mar bem pavimentada. De facto a maioria dos nobres da terra reside aqui”. É também ele quem estranha o escasso número de casas comerciais numa terra com o movimento portuário da Setúbal da época.

Setúbal, Palmela e Azeitão Vistas por Estrangeiros – A Época de Bocage” apresenta-nos ainda um prefácio e uma “bibliografia sobre estrangeiros em Portugal (1750-1800)”. Conta também com gravuras evocativas da vida na época, sendo cinco impressas a cores (uma das quais a da capa, vidé ficha técnica) e duas a preto e branco. Para consultar as publicações do Centro de Estudos Bocageanos, clique aqui.

Ficha técnica

Capa: “A Vendedora de Melancias no Largo de Setúbal”, Henry l’Evêque, Costume of Portugal; Design  gráfico: Ricardo Fraga Pires; Editor Centro de Estudos Bocageanos; Depósito legal: 345141/12; ISBN: 978-989-8361-08-0; tiragem: 1000 exemplares; Impressão Rolo & Filhos II S.A.

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Setúbal

O dia da cidade nos media

Setúbal comemorou ontem, dia 15 de Setembro, o dia de Bocage e da cidade. A Câmara Municipal, como é norma, homenageou um conjunto de personalidades e instituições com as medalhas de honra da cidade e, pela quinta vez, atribuiu a medalha de ouro, desta vez ao Vitória de Setúbal, clube que este ano celebra o primeiro centenário.

Entre as personalidades distinguidas encontravam-se os músicos Sharyar Mazgani e Dimas Pereira, este distinguido a título póstumo. Mas estavam também três pessoas ligadas ao Vitória, Fernando Tomé, Manuel Manita e Fernando Vaz.

Ao ler a imprensa de hoje, dia 16, o que parece é que a Câmara Municipal apenas homenageou o Vitória e três dos seus homens. Mais nada aconteceu em Setúbal ontem… Para a imprensa nacional Mazgani não é digno de referência, Dimas Pereira, músico e dirigente associativo injustamente impedido por vereadores do PS e do PSD de receber a medalha em vida, em 2009, é uma irrelevância.

Nem sequer defendo que se tivesse dado atenção aos outros homenageados, pessoas cujo destaque é meramente local, ainda que homens como Álvaro Rodrigues, homenageado a título póstumo pela sua presença activa na cidade e luta antifascista, merecessem uma referência, ainda que pequena. Mas reduzir o dia da cidade a uma homenagem ao Vitória de Setúbal é de uma injustiça atroz e revela bem que, muitas vezes, a voragem do quotidiano induz nos maiores erros os “gatekeepers” dos media, viciados em critérios jornalísticos que consideram os mais justos e adequados, mas que, como se vê pelo exemplo deste dia da cidade, acabam por omitir notícias importantes e relevantes, até fora do contexto local de Setúbal.

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Cultura, Setúbal

BOCAGE

Hoje, 15 de Setembro, é feriado municipal em Setúbal, assinalando o dia em que, nessa cidade, Bocage nasceu. Poeta extraordinário, um talento que a si-mesmo se devorava, Bocage é, na língua portuguesa, um dos seus poetas maiores e é o maior poeta do iluminismo cujas ideias, na época revolucionárias, se encontram bem presentes na sua poesia.
De Bocage disse Camilo Castelo Branco; “é um poeta de uma absoluta singularidade, soberbo no arrojo das ideias, na travação harmónica das palavras, no descomunal das metáforas. As hipérboles são excelentes, se disparam indignação e zombaria.”
De Bocage transcreve-se um excerto de um dos mais belos poemas algum dia escritos em português “Carta a Marília”

Pavorosa ilusão de Eternidade,
Terror dos vivos, cárcere dos mortos;
D’almas vãs sonho vão, chamado inferno;
Sistema de política opressora,
Freio que a mão dos déspotas, dos bonzos
Forjou para a boçal credulidade;
Dogma funesto, que o remorso arraigas
Nos ternos corações, e a paz lhe arrancas:
Dogma funesto, detestável crença,
Que envenena delícias inocentes!
Tais como aquelas que o céu fingem:
Fúrias, Cerastes, Dragos, Centimanos,
Perpétua escuridão, perpétua chama,
Incompatíveis produções do engano,
Do sempiterno horror horrível quadro,
(Só terrível aos olhos da ignorância)
Não, não me assombram tuas negras cores,
Dos homens o pincel, e a mão conheço:
Trema de ouvir sacrílego ameaço
Quem d’um Deus quando quer faz um tirano:
Trema a superstição; lágrimas, preces,
Votos, suspiros arquejando espalhe,
Coza as faces co’a terra, os peitos fira,
Vergonhosa piedade, inútil vênia
Espere às plantas de impostor sagrado,
Que ora os infernos abre, ora os ferrolha:
Que às leis, que às propensões da natureza
Eternas, imutáveis, necessária,
Chama espantosos, voluntários crimes;
Que as vidas paixões que em si fomenta,
Aborrece no mais, nos mais fulmina:
Que molesto jejum roaz cilico
Com despótica voz à carne arbitra,
E, nos ares lançando a fútil bênção,
Vai do grã tribunal desenfadar-se
Em sórdido prazer, venais delícias,
Escândalo de Amor, que dá, não vende.

II

Oh Deus, não opressor, não vingativo,
Não vibrando com a destra o raio ardente
Contra o suave instinto que nos deste;
Não carrancudo, ríspido, arrojando
Sobre os mortais a rígida sentença,
A punição cruel, que execede o crime,
Até na opinião do cego escravo,
Que te adora, te incensa, e crê que és duro!
Monstros de vis paixões, danados peitos
Regidos pelo sôfrego interesse
(Alto, impassivo númen!) te atribuem
A cólera, a vingança, os vícios todos
Negros enxames, que lhes fervem n’alma!
Quer sanhudo, ministro dos altares
Dourar o horror das bárbaras cruezas,
Cobrir com véu compacto, e venerando
A atroz satisfação de antigos ódios,
Que a mira põem no estrago da inocência,
(. . .)
Ei-lo, cheio de um Deus, tão mau como ele,
Ei-lo citando os hórridos exemplos
Em que aterrada observe a fantasia
Um Deus algoz, a vítima o seu povo:
(. . .)
Ah! Bárbaro impostor, monstro sedento
De crimes, de ais, de lágrimas, de estragos,
Serena o frenesi, reprime as garras,
E a torrente de horrores, que derramas,
Para fundar o império dos tiranos,
Para deixar-lhe o feio, o duro exemplo
De oprimir seus iguais com férreo jugo.
Não profanes, sacrílego, não manches
Da eterna divindade o nome augusto!
Esse, de quem te ostentas tão válido,
É Deus de teu furor, Deus do teu génio,
Deus criado por ti, Deus necessário
Aos tiranos da terra, aos que te imitam,
E àqueles, que não crêem que Deus existe.
(. . .)

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Geral

Manuel Maria

Paira sobre a Praça onde habita o Poder como eterno vigilante atento a mandos e desmandos.

Intolerante com os intolerantes, melhor do que ele para começo de conversa não existe.

Figura inspiradora e justificadora de muitos e de muito, serve para mais esta: blogue com seu nome, espaço de conversa e conversadores de Setúbal.

Vamos ver no que dá…

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