Setúbal

IMI familiar? Só se fôr em Setúbal…

O PS, ou melhor, alguns dos responsáveis locais do PS, que, em Setúbal, estranharam a não aplicação do IMI familiar e não hesitaram em utilizar o assunto como arma de arremesso, esqueceram (será?) que em Lisboa, câmara governada pelos socialistas e que foi presidida pelo seu atual secretário geral, o IMI familiar também não foi aceite, com o PS a rejeitar, e bem, na Assembleia Municipal uma recomendação do PSD sobre a matéria e a chutar o debate do assunto na Câmara para depois das eleições legislativas.

Por que será que em Lisboa o IMI familiar não é grande coisa, mas em Setúbal já é bom?

Talvez seja porque a medida foi concebida para ser aplicada indiscriminadamente a quem tem um andar de 100 mil euros ou uma mansão de um milhão, o que significa que quem pode pagar mais também tem direito ao desconto familiar que todos os outros têm sem nenhum factor de correção. A medida, que se alega ser amiga das famílias, é, assim, mais uma peça metida na engrenagem que este governo moribundo pôs a funcionar para tentar com que esqueçamos todas as maldades fiscais (e outras) que nos fizeram.

Estranho é que o PS setubalense (será por serem seguristas?) alinhe nesta jogada, atacando a Câmara Municipal (também obrigada, legalmente, a aplicar taxas máximas) por não aplicar esta medida demagógica e esqueça que em Lisboa os socialistas estão evitar aplicá-la. No Porto, onde o presidente da Câmara não é exatamente um homem de esquerda, também se rejeitou esta medida, com os argumentos que se podem ler aqui.

Diz Rui Moreira queem cidades como o Porto, a medida deixaria de fora a parte da população menos favorecida; uma parte substancial das famílias, precisamente as mais pobres, vive em bairros sociais e, logo, não paga IMI. Dirão alguns: pois bem, esses já são beneficiados por rendas mais baixas que as do mercado. Mas, se olharmos para as classes média e média-baixa, concluiremos que há uma divisão entre os que pagam uma renda, e também não pagam este imposto, e os que vivem em prédios com valores não muito elevados. A estes últimos, a redução de IMI por esta via seria, sempre, pouco significativa. Já quanto aos chamados ricos, que vivem em casas próprias em zonas mais valorizadas da cidade, contariam com um desconto total muito significativo, mesmo tendo apenas um dependente.
Acresce a tudo isto que a aplicação desta lei num município urbano como o Porto, que em 2014 já baixou a taxa de IMI para todos os seus munícipes, provocaria uma quebra da receita desproporcionada, obrigando o executivo a cortar investimentos noutras áreas, nomeadamente na reabilitação do seu  enorme parque de habitação social.”

Será que assim o PS setubalense percebe?

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Grécia, a morte anunciada

OXI

O que, de certo modo pelo andar dos acontecimentos, seria expectável aconteceu. O Syriza abandonou a sua fachada de esquerda que a conservadora e reaccionária Europa adjectiva de radical, para assumir a sua matriz social-democrata.

Depois de fazer um referendo em que os gregos disseram claramente NÃO, Tsipras e o Syriza, a maioria do Syriza, aceitaram tudo, quase integralmente tudo o que a troika exigia. Aumento do IVA, grandes cortes nas reformas, privatização dos transportes, dos portos e dos aeroportos, etc. Uma capitulação em toda a linha, submetendo-se a todas as medidas que dizia rejeitar, depois de ter sido eleito com um programa em que afirmava que nunca iria aceitar. No Parlamento grego faz um discurso vergonhoso, trocando os pés pelas mãos, numa releitura miserável do resultado do referendo. Votaram NÃO às propostas da troika, mas NÃO votaram a favor da saída do euro. Para não sairmos do euro, temos que aceitar as medidas contra as quais se votou no referendo. Para a miséria moral, a vigarice intelectual ser completa, faz uma pirueta e inventa uma nova treta “este acordo levará a um programa europeu. O FMI terá apenas papel de consultor técnico. A troika, como a conhecemos, chegou ao fim.”. Para o quadro das tretas, mentiras e mentirolas ficar completo orgulha-se de evitar o grexit e de se ir discutir pela primeira vez a sustentabilidade da dívida, quando todo o mundo sabe que a dívida grega é impagável

Com o que vai desabar novamente sobre a Grécia, sem que o problema estrutural da dívida seja resolvido, o país vai entrar nos cuidados paliativos, com a morte anunciada. Ficará para sempre a lição de dignidade do povo grego que, contra todas as miseráveis  e violentas chantagens, votou NÃO, uma lição de democracia, de luta contra os poderes dominantes! O povo não cedeu. Cedeu o governo e o partido em que o povo tinha confiado.

Para uma certa esquerda que embandeirou em arco com o Syriza, as esperanças que se iria mudar a face política da Europa esfumaram-se com o desabar do castelo de cartas do programa Syriza. Esperanças infundadas se tivessem olhado atentamente as práticas do governo de Tsipras que nada fez para adquirir força nas negociações, Se atentassem ao seu demissionismo que os fez não se dotar com as ferramentas mínimas que seriam uma base, mesmo frágil, para reverter a situação catastrófica em que a Grécia estava mergulhada. Ferramentas e meios que tinham quando assumiram o governo e que desprezaram por vício ideológico, como referimos aqui no blogue.

Para a direita e direitinhas, o grande gozo de terem quebrado o Syriza. Verem-no de braço dado com a direita e centro-direita grego, a Nova Democracia, o Pasok, o To Potami, além do Anel, com quem já estavam coligados. É a alegria do triunfo da Europa, afirmando-se como um espaço não democrático. Da exibição pública de uma Europa subordinada ao grande capital e aos seus interesses financeiros, especulativos.

O Syriza colocou a Grécia em estado de coma profundo, ligada à máquina. Um dia, não será muito longínquo, a máquina será desligada para mal do povo grego. Farfalharem esperanças numa nova política que nunca existiu por não terem dado um passo, um só passo firme nessa direcção. Uma política de muitas parras sem um bago de uva, para entretém das hostes de esquerda por esse mundo fora. Uma política que enganou sem absolvição o povo grego, comprometendo o seu futuro. A História não lhes perdoará a traição.

Para a esquerda no seu todo, da mais firme à mais vacilante, é uma derrota. Para uns, o Syriza anunciava uma grande vitória sobre a Europa de burocratas sem alma nem sentido político, guiados por falsos pragmatismos que os transformam em eunucos de guarda ao harém do grande capital. O que não aconteceu, nem aconteceria. Para outros o abrir de uma pequena brecha na cidadela política e ideológica da CEE, do BCE, do FMI, fazendo entrever uma vereda no beco sem saída em que está estacionado em estado agónico o mundo actual. O que poderia ter acontecido.

Estes seis meses de tropeções, ambiguidades, vacilações Syriza, as ilusões que borboletearam, demonstram a actualidade do Radicalismo Pequeno Burguês de Fachada Socialista, de Álvaro Cunhal. Impõem-se reler a sua Introdução de uma meridiana clareza na análise ideológica e política que faz da emergência desses grupos, nos seus aspectos positivos e negativos.

Para a esquerda, para as esquerdas, analisar, estudar e perceber as lições syrizas é trabalho urgente. A História também não lhes perdoará se não o fizerem.

PS. Por cá, os porcos refocilam no chiqueiro. Numa das linhas da frente um idiota contabilista que agora julga que o decorrer dos sucessos lhe dão razão. Publica um tweet de um amigo o aconselhava a mudar de opinião em relação à Grécia. O amigo é um tonto como ele. Ele não mudou, nunca mudaria, nem mudará. A noz de massa cinzenta que lhe ocupa o crânio não lhe dá hipótese. Para ele um tweet: Zé, li o teu tesxto a agradecer o pacote de austeridade ao Syriza. Continuas estúpido como sempre! Nem vale a pena recordar-te que a dívida grega é impagável A dívida grega como a portuguesa, são impagáveis! É a verdade, estúpido! Impagáveis e com as políticas do PSD/CDS/PS/SYRIZA/PASOK/NOVA DEMOCRACIA ou outros quejandos, a agravar a vida de portugueses e gregos! A economia nunca sairá da cepa torta! As tuas contas são uma merda! Tentas enganar o pagode! Nem para isso tens jeito! Se tivesses alguma vergonha e um minimo sentido de auto-crítica já tinhas deixado de debitar parvoidades! O Brassens é que te topa , a ti e aos teus parceiros de ginjeira! 

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O Carrossel da Politiquice

carrs

Assim que se anunciou a possibilidade de Sampaio Nóvoa ser candidato ás próximas eleições presidenciais, soaram as campainhas de alarme. Do lado dos trauliteiros direitinhas, que tinham sido simpáticos para Henrique Neto, logo começaram nas redes sociais as piadolas de mau gosto, como é de bom tom para aqueles lados. Os mais civilizados, com destaque para os comentadores que fazem disso um modo de vida, franzem o sobrolho, iniciaram a busca de sinais mais avermelhados em Sampaio Nóvoa para os expor e assustar o bom povo português. Fariam isso com Sampaio da Nóvoa ou com qualquer outro que fosse candidato a candidato a Presidente da República, com perfil idêntico.

Mais preocupantes e reveladoras do clima daquelas bandas foram as reações de socialistas mais ou menos conhecidos da opinião pública. Saltaram a terreiro em vários estilos e tons. Vera Jardim olha com distanciamento para o cargo de Presidente da República, reclamando a falta de perfil, por o ex-reitor da UL se mostrar muito interventivo e um Presidente da República deve, na sua opinião, ser um “poder moderador”(::.)”árbitro supremo do sistema, da constituição e dos equilíbrios do sistema”

Podia ter dado como exemplos o pai de todos os socialistas, Mário Soares, sempre sentado em Belém, a mitigar pachorrentamente os conflitos institucionais que não foram poucos durante os seus mandatos. Ou o seu amigo e ex-colega de escritório, Jorge Sampaio, que tudo fez para que o governo de Santana Lopes cumprisse o mandato. A falta de memória dessa gente é notável. Cautelarmente, Vera Jardim, vai dizendo que se o seu partido apoiar Sampaio da Nóvoa, ele será naturalmente o seu candidato. Uma nota a registar, embora não seja de excluir que estivesse a fazer figas enquanto fazia tal proclamação.

Outros “notáveis” socialistas são mais assertivos. Francisco Assis, estilo sorna, estofo de político mediano, reclama um candidato “genuinamente de centro-esquerda”. Para um militante de um partido que enche a boca a afirmar-se de esquerda, para um homem que se diz de esquerda, que foi candidato a secretário-geral, não está nada mal. Não nomeia, mas percebe-se que o seu Dom Sebastião é o beato Guterres ou o direitinha Gama.

Sérgio Sousa Pinto foi mais, longe, se calhar com receio que um qualquer preclaro Lello se antecipasse. Desata a zurzir em Sampaio da Nóvoa, “Não lhe basta a sublime virgindade de, em 60 anos, nunca se ter metido com partidos” e como estávamos na época pascal acrescenta “também parece agradecer a Deus a graça de ser pobre” . Conclui com mais umas tantas javardices do mesmo jaez sobre as esquerdas latino-americanas e europeias, para rematar “esta não é a minha esquerda”. Não é a esquerda dele pela razão mais simples e óbvia: ele não é nem nunca será de esquerda, por mais que queira travestir a realidade.

Todo o texto é bem revelador dos sérgios sousas pintos que andam como piolhos pelas costuras da política. É atravessado pela raiva, contra quem sendo de esquerda e tendo um currículo intelectual e profissional considerável, por opção, não se filiou num partido. É a raiva roxa de quem em toda a sua vida, só soube e sabe lustrar os fundilhos pelas cadeiras de diversas assembleias, fazendo pela vidinha, com os olhos postos nos vitorinos e passos coelhos que, à pala da política, se tornaram em facilitadores de negócios. De quem cheira o perfume fétido dos corredores da política que também o pode, na graça de Deus, fazer ficar riquinho. Não está sozinho. Pelo contrário, está bem mal acompanhado por aquela maralha que se mete muito jovem na política por cálculo, a acotovelar-se para fazerem carreira nos partidos que lhes abrem as portas do chamado arco da governança.

Sérgio Sousa Pinto não aguenta. Solta o sócrates que tem dentro de si. Estoira com grande alarido rugidos de leão de aviário. Sabia, bem sabia, que iria ter os seus quinze minutos de glória socialite-politiqueira. Para ele é insuportável que um homem, Sampaio Nóvoa ou outro, com um percurso intelectual reconhecido, que sempre tenha tido uma intervenção cidadã de esquerda, que sempre tenha mostrado ter consciência social, se intrometa nas escolhas do aparelho partidário, daquele aparelho partidário  que concede aos sérgios deta terreola. uma teta em que mama desde que se conhece, com afinco, ainda que sem grande talento. Advinha-se que o seu candidato é António Vitorino, se concorreres e ganhares dás-me um lugarzito em Belém? Em segunda escolha, os que Assis leva em andor.

Essa gente, e outra que deve andar a arrastar os pés com ardor nas alcatifas do Largo do Rato rosnando em surdina, saltam a terreiro para demonstrar, como se isso fosse necessário, que renegam a esquerda até ao fim do mundo.

Há ainda quem acredite na possibilidade de um governo de esquerda com este Partido Socialista. Essa é outra questão, magna questão, em que se deve insistir, mesmo contra todas as evidências.

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Setúbal

Cuspir para o ar…

O PS setubalense continua a praticar e a acreditar na velha máxima que garante que a memória é curta. E se tal pode ser verdade a maior parte do tempo, seguramente a máxima não se aplicará a todos, e são muitos, os que recordam bem o que fez, e não fez, o PS enquanto poder autárquico em Setúbal.

Um artigo do militante socialista Manuel Fernandes publicado hoje no jornal “O Setubalense” é a melhor prova de que por aquelas bandas se acredita convictamente na escassez de memória e, por isso, há que lançar para a conversa temas que acreditam poder ser prejudiciais à gestão camarária, mas que, na verdade, e que me perdoem a imagem, mais não são do que cuspir para o ar, com as inevitáveis consequências que sofre quem pratica o arremesso aéreo.

Por entre um arrazoado que pretende dar a ideia que o autor é portador da boa nova de uma estratégia autárquica fenomenal, que pouco comentário merece, a não ser o de que, com as referências que faz ao “betão” quer, com pouquíssima imaginação, fazer esquecer as políticas de Mata Cáceres, também conhecido por Manuel do “Alcatrão”, e compará-las com as atuais sem qualquer sustentação.

Por merecer pouco comentário, vale a pena passar aos factos, ou melhor, ao cuspo para o ar.

Para evidenciar o que diz ser a incapacidade que a autarquia setubalense tem de investir, dá o autor do artigo como exemplo o imaginado fim do destacamento dos Bombeiros Sapadores em Azeitão, que, conclui-se da leitura do artigo, põe em causa a segurança das populações e do Parque Natural da Arrábida. Há, porém, dois “pormenores” que esquece: primeiro, nunca o que existiu em Azeitão foi um destacamento formalmente constituído, mas sim um quartel com bombeiros; o segundo “pormenor” é que não deixou de haver bombeiros nem quartel em Azeitão, já que hoje estão lá em permanência os Bombeiros Voluntários de Setúbal, que, além de integrarem formalmente o dispositivo municipal de socorro e proteção civil, asseguram com qualidade e rigor a prestação do socorro e garantem a segurança do PNA.

Uma vez mais, o PS, para fazer política barata, ofende os Bombeiros Voluntários de Setúbal, dando a entender que não têm capacidade nem competência para prestar socorro às populações, tal como já tinha feito em 2011, quando, a propósito do início dos serviços dos BVS naquelas freguesias, colocou em causa as capacidades técnicas deste corpo de bombeiros que, manifestamente, não merece tanto desprezo e desconsideração.

Muito se poderia aqui falar dos bombeiros sapadores de Setúbal, do caos em que estavam em 2001, do desinvestimento em viaturas e outros meios de socorro nessa época e do que são hoje os meios disponíveis, mas não vale a pena, porque o que existe hoje é mais do que visível e resulta de um investimento candidatado a fundos comunitários de mais de dois milhões de euros, valor que torna ainda mais incompreensível o comentário deste militante do PS.

A seguir, o autor derrapa e despista-se na questão da Feira de Santiago, mostrando, uma vez mais, problemas de memória. Esquece-se de que foi o PS, com Mata Cáceres, quem apontou, pela primeira vez, no Plano Estratégico do POLIS (a história está toda AQUI), as Manteigadas como alternativa mais do que certa para a realização do certame. Para lançar a confusão, dá ainda a entender que uma alteração introduzida recentemente na tabela de taxas do município significa que este ano se pagará entrada na feira, o que, além de abusivo, é manifestamente falso.

O mais interessante é, porém, o ataque feito a propósito do Festroia e a ideia de que a autarquia deveria apoiar ainda mais a realização do festival, depois de a organização ter anunciado a impossibilidade de realizar este ano o certame, face à redução de apoios do Poder Central e outras entidades de que depende.

Uma vez mais, o PS navega ao sabor das oportunidades e do que lhe parece dar proveitos imediatos e esquece-se de que foram também os eleitos socialistas que, em 2009, propuseram, na câmara municipal uma redução do subsídio anual destinado ao Festroia de 150 para 120 mil euros, ou seja, menos trinta mil euros num momento em que havia já despesas e compromissos assumidos com base naquele valor.

Em 2009, pouco preocupou o PS a redução do apoio ao Festroia. Agora, o ágil pensamento estratégico do PS mudou, e mudou muito, pois até defende que a câmara apoie mais o festival, ignorando, até, que foi esta a autarquia que mais apoiou, desde sempre, a iniciativa, financeira e logisticamente. Só em subsídios diretos, desde 2002, a CMS atribuiu ao Festroia mais de 1.644.000 euros, valor que sobe consideravelmente se lhe somarmos a cedência de salas, transportes, refeições, promoção e divulgação e muitos outros apoios difíceis de contabilizar.

É difícil encontrar palavras publicáveis para descrever o comportamento do PS setubalense. À falta de melhor, apenas se poderá dizer que tudo isto é lamentável…

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Política

Perturbações

O deputado socialista Alberto Costa, que foi ministro da justiça de governos PS, disse no parlamento, de acordo com o “Público” de hoje, que os Governos de que fez parte “foram julgados em 1999 e 2009. Os resultados foram o que foram“. Uma vez mais, não fez o obséquio de revelar o pensamento do PS sobre o país e as propostas que tem para resolver os problemas que foram criados pelo PSD/CDS, mas também pelo próprio PS, nos últimos anos.

Porque, disse, não quer “perturbar a avaliação dos eleitores“.

Como se costuma dizer, oferece-me deixar aqui duas questões sobre as declarações do deputado. A primeira é que, concordando genericamente com a ideia de que os governos PS já foram julgados, fico com a dúvida, legítima, se o PS já cumpriu a pena a que foi condenado. Parece-me que não…

A outra é um apelo direto ao senhor deputado para que nos perturbe a avaliação. Estamos ansiosos por ser perturbados com as propostas do PS.

O problema é que deve ser exatamente por isso que não as divulgam: são tão perturbadoras como as políticas do PSD que nos trouxeram até aqui…

Estou, aliás, curioso, de saber o que pensa o PS da renegociação da dívida, em particular depois de ter ouvido a eurodeputada Ana Gomes, na Antena 1, deixar uma declaração de incentivo ao Siryza grego, porque, disse ela, precisamos de “alguém com coragem no Conselho Europeu para dizer que o rei vai nu e que as dívidas públicas ditadas pelo austeritarismo são impagáveis, precisam de ser renegociadas e precisam de políticas de emprego e de crescimento para que possam mesmo ser pagas“. Será que já o disse ao líder do seu partido? Ou está apenas a querer perturbar os eleitores? Ou será que o PS está apenas à espera de ver o que acontece na Grécia para depois, com o sentido de oportunidade que lhe é reconhecido, apanhar a boleia?

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A Persistência da Cassete

acasseteFrancisco Seixas da Costa mantém um blogue, genérico nos temas que versa, que se lê com interesse.

Cruzamo-nos algumas vezes. Amigos meus, muito próximos, alguns desaparecidos, entre outros Bartolomeu Cid dos Santos, Fernanda Paixão dos Santos, Pedro Pedreira, incluem-se na sua vastíssima roda de amizades.

Frequento, com bastante irregularidade, o seu blogue em acordo variável com as opiniões que emite. Em franco desacordo com o que escreve quando se refere ao meu partido, o Partido Comunista Português, onde somos todos desumanos no dizer de um dos seus seguidores, o que não mereceu contradita do autor do “post” pelo que, com propriedade, deduzo que considera ajustado tal epíteto, em linha com o conteúdo do texto que provocou a dita observação. Um “post” em que a pretexto da morte de Francisco Canais Rocha, declara: “Nunca na minha vida consegui condenar alguém que, sob tortura, tivesse “falado”. Sei lá como me portaria se tivesse de suportar idênticas circunstâncias! Tenho amigos que “falaram” e outros que “não falaram” na cadeia. Não tenho menor ou mais apreço por eles, por essa razão. Acho assim miserável que o PCP nunca tivesse reabilitado este seu antigo militante. Um partido também se mede pela sua humanidade.”

Também eu nunca condenei ninguém por ter “falado” na cadeia. Quem está submetido a selváticas torturas só se estiver disposto a morrer as pode suportar até ao extremo limite. São muitos os camaradas que heroicamente ultrapassaram as violências inomináveis a que foram sujeitos. Sem essa determinação, num exemplo abstracto mas real, quem suporte a ferocidade de dez dias de tortura de sono, estátua, agressões físicas e psicológicas, chegue ao fim desse tempo resistindo, até aos verdugos desistirem, fica sem saber se na hora seguinte, na meia hora seguinte, no quarto de hora seguinte, a sua resistência não seria quebrada. Iria, numa fracção de segundo, do Capitólio para a Rocha Trapeia. Por isso, nunca condenei ninguém que “falou”, para usar a gíria em uso. Os limites da resistência humana são infinitos mas sempre desconhecidos. Honra para quem, em nenhuma circunstância, falou ou falaria, por terem a determinação que referi.

Esclarecido este ponto considero que Seixas da Costa deveria cuidar melhor do que afirma. São muitos os militantes do PCP que “falaram” e que, depois do 25 de Abril, voltaram a militar activamente no seu Partido. São muitos os militantes do PCP que “falaram”, e estão hoje no PCP, de militantes de base a dirigentes, mesmo no Comité Central, ou que foram deputados tanto na Assembleia da República como no Parlamento Europeu. São hoje bastante menos do que foram depois do 25 de Abril. Menos, unicamente pela lei da vida. Estas evidências arrasam a acusação de o PCP ter “ausência de humanidade”. O PCP diferencia-se de outros partidos onde o rancor mesquinho, de alguns dos seus mais altos dirigentes, atira à mínima divergência sem hesitações para o inferno alguns dos seus companheiros, mesmo os mais próximos, até íntimos. Seixas da Costa deveria informar-se melhor antes de incorrer em erros e emitir juízos que põem em causa a sua credibilidade.

Ao ler outros “posts” poderemos concluir que há um objectivo, mais geral. O de demonstrar, por fás e nefas, a impossibilidade de um acordo de esquerda por culpa do PCP.

Num “post” mais recente, a pretexto de um artigo do Avante! sobre a queda do Muro de Berlim, é delicioso assistir ao alinhamento do texto que vai de um paternalismo à beira da abjecção que embrulha em ternura por uns supostos saudosos de um passado próximo e por um “ PCP (que é) hoje um museu de si próprio, que deve ser conservado com todo o cuidado que sempre deve ser concedido às espécies em extinção” para concluir “que (é) um partido a quem tenho, como muitos portugueses, uma eterna dívida de gratidão pela sua inigualável e sacrificada luta para derrubar a ditadura”. Continuar a ler

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Geral

Vale tudo para fantasiar o crescimento económico

gráficos

Aparentemente hoje seria dia para escrever sobre aquela coisa, aquele simulacro de democracia que foram as primárias do PS.

Não! Que fique isso para a vozearia que vai inundar os meios de comunicação social na “grande bouffe” ilusionista que atinge cumes em momentos como este. Claro que interessa fazer o cotejo do acontecimento no mais vasto contexto da degradação da democracia, quando as cinzas pousarem.

O que assistiu é mais um momento do aviltamento e da alienação das sociedades actuais Um momento digno de uma das últimas notícias económico-financeiraas bem exemplificativas do estado a que se chegou, em que a moral e ética e quaisquer princípios são ferozmente guilhotinadas na praça pública.

O desespero é de tal ordem que tudo serve para, estatisticamente, aumentar o PIB.

Agora a CEE autoriza que, para o cálculo do PIB sejam incluídas as actividades económicas à margem do que é lícito. A prostituição e o tráfico de droga passam a poder ser englobados no PIB, mesmo na base de valores estimados, nos países onde essas actividades são proibidas.

Em Inglaterra são mais dez mil milhões de libras. Em Espanha o PIB aumenta =,85%. Em Portugal pode a ir até mais 2%. Uma orgia que vai contribuir para o crescimento estatístico da economia.

Sugere-se que o governo PSD-CDS, que se diz tão empenhado no crescimento económico com os resultados desastrosos conhecidos, que é tão dado ao marketing, lance vigorosas campanhas para que, finalmente, haja o crescimento económico.

Que iniciem imediatamente campanhas publicitárias com esse objectivo.

P

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Política

Debates à Esquerda

desert wall.tifAs eleições legislativas aproximam-se a passos largos. Depois de anos de hecatombe social está por perceber se há novas alternativas à coligação da Direita.

Resistirá o actual quadro partidário, mantendo-se a tradicional alternância dentro do centrão? Ampliar-se-ão os sinais de fragmentação de voto já manifestados nas últimas eleições autárquicas e europeias? Surgirá à Esquerda uma nunca experimentada alternativa credível e com possibilidade de aceder ao poder?

O estado de degradação a que governação da Direita conduziu o país nos últimos anos tornou imperiosa a existência de uma alternativa política. Uma alternativa de opções de fundo, que não apenas uma mera alternância entre os velhos, ou novos, protagonistas do centrão (PS, PSD e às vezes CDS) e as suas políticas que pouco se têm distinguido nos últimos quase quarenta anos. Anos marcados pela sobreposição do poder financeiro.

A interrupção do desastre terá que considerar como objectivos de primeira ordem a manutenção do Estado social, nomeadamente no acesso à educação, à saúde e à segurança social, a definição de um sector público estratégico inalienável, a prioridade da criação de emprego e a valorização do trabalho. Para o conseguir não restarão muitas dúvidas de que a dívida terá que ser reestruturada, bem como renegociada a aplicação dos critérios do tratado orçamental que pesam sobre o país e a maioria dos portugueses como uma pesada canga.

Uma das linhas de debate à Esquerda tem sido o papel que o PS pode ter nessa alternativa. As actuais movimentações no seio do Bloco de Esquerda, que culminaram com a saída de alguns seus militantes proeminentes, imbricam, segundo os próprios, na relação com o PS e na possibilidade de o influenciar em algumas opções cruciais.

Pretendem alguns que a alteração de fundo de que o país precisa passa pela perspectiva de o PS regressar ao poder nas próximas eleições legislativas.  Propõem-se a com ele negociar para lhe mudar a sua longeva postura de partido centrista, que oscila entre a social-democracia e a tentação néo-liberal… Ora piscando à esquerda, ora à direita.

As intenções parecem boas. Fazer o PS virar à Esquerda e partilhar uma nova postura sobre aquele que é o actual nó górdio da situação política e económica do país – a necessidade de negociar as políticas decorrentes do tratado orçamental europeu, que consequências tão nefastas têm trazido para o país.

É expectável que o PS, que em Abril de 2012 votou favoravelmente o tratado sem qualquer objecção, venha a ter alguma atitude séria que conduza à sua renegociação? Nem Costa nem Seguro foram até à data explícitos sobre o tema, percebendo-se o quão manietados estão pelos compromissos com os seus colegas europeus. Não fossem, aliás, os socialistas europeus co-responsáveis pela monstruosidade que afunda o país.

Resulta claro que só um reforço eleitoral à esquerda do Partido Socialista poderá fazê-lo inflectir de posição e levá-lo a negociar. Uma alteração que corroa a sua expressão eleitoral e reforce, nomeadamente, um eixo que tem hoje expressão no CDU-PCP/PEV e BE, ou outras formações desta área política.

Mas é também lamentavelmente claro, como já aqui exprimi em (1) e (2), que o eleitorado não tem tido à sua disposição uma opção clara de Esquerda que lhe dê um sinal de esperança numa solução de governação. Só o crescimento eleitoral dessa área poderá criar uma nova opção política na sociedade portuguesa que se equilibre com o Partido Socialista, numa perspectiva de efectivo acesso à governação. E aí talvez seja possível negociar seriamente com o PS. Não antes disso.

Sem um pólo agregador e por “falta de comparência” pode começar a ser tarde para que o eixo da alternativa política se desloque para a Esquerda. E como não há vazios em política essa ausência será preenchida por novas formações ou pela manutenção do centrão.

São algumas as experiências de limitado (?) sucesso de grupos que tenta(ra)m influenciar o rumo centrista com laivos de neoliberalismo do PS. Do MES à Refundação Comunista, passando pela Fraternidade Operária/UEDS de Lopes Cardoso. Sempre acabaram acomodados no velho PS centrista. E mais ou menos transformados em lenços avermelhados na lapela rosa socialista…

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Política

Alternativas e Governos Amigos

Correia de Campos, ministro da saúde de Sócrates, encarregou-se hoje de pôr água na fervura nos entusiasmos coligacionistas que nascem a cada esquina. A urgência de uma união de esquerda é real, mas não se pode adoptar uma qualquer solução a qualquer preço, em particular quando vastos sectores do PS preferem continuar a governar à direita, ainda que apelidem tal governação de políticas mais “amigas dos cidadãos”, como é hoje demonstrado em artigo de opinião no “Público” assinado pelo antigo governante.

Toda a prosa é clara na rejeição da procura de entendimentos à esquerda, o que implicaria, obviamente, a procura de plataformas políticas comuns em questões centrais, como a renegociação da dívida, o memorando de entendimento, a repartição da carga fiscal, o papel e responsabilidades do sistema bancário, a configuração que desejamos para o estado social e muitas outras matérias basilares para um entendimento entre forças de esquerda.

Correia de Campos, a quem não se nega clareza na exposição de razões e ideias, é cristalino como água da mais pura nascente quando recusa entendimentos à esquerda, em nome da centralidade política do PS, centralidade que, porém, não o inibe de defender acordos à direita.

Basta ler este pedaço de prosa extraído do artigo de hoje no “Público” para se entender bem o que se está já a preparar por aquelas bandas, que mais não é do que a redistribuição de cargos e prebendas entre os mesmos de sempre, para que tudo fique na mesma. Nem sequer me atrevo a utilizar a velha máxima das moscas que mudam, continuando a ser tudo o mesmo. Mas leiam o que diz o antigo ministro, que vale a pena:

“Seja em 2015, seja em 2014 teremos um governo para cuja chefia se alinha uma força maioritária, o PS. Os cépticos da direita dirão que será igual ao actual, com pequenas mudanças de orientação. Não é verdade. Mesmo sem sermos utópicos, será possível criar um governo melhor. Mais amigo dos cidadãos, que não lhes faça promessas incumpríveis, nem lhes minta, como se viu nos estaleiros de Viana e nos swaps. Que não se arrime a uma agenda ideológica de méritos ignorados mas destrutivos, para fazer ruir o muito que uniu os portugueses depois da conquista das liberdades, na Saúde, na Educação, na investigação e inovação, na modernização da agricultura, das infraestruturas e da formação profissional, na atracção do investimento e no apoio à cultura e à preservação do património e da natureza. Que crie empregos e valor, apoie as exportações e promova o crescimento nos sectores que demonstram inovação, combatividade e sustentabilidade. De coligação, certamente, mas com gente diferente desta que governa agora. Uma derrota da direita fará cair esta combinação actual feita de ligeireza, teimosia ideológica, incompetência e descoordenação. Verdadeiros sociais-democratas e democratas cristãos surgirão.”

Este parágrafo é a resposta que o articulista dá à questão com que abre o texto, quando pergunta se “deve o PS virar à esquerda?”. A opinião de Correia de Campos não deixa margem para dúvidas, até porque não de pode negar ao ex-governante o mérito de ser habitualmente bastante claro no que escreve. Porém, deveria o autor ter em consideração que parte de premissas erradas. A primeira é a de que a continuação das anteriores políticas, mas com mais “amizade” (resta saber o que é isso…) para os cidadãos, permita resolver alguma coisa essencial dos problemas em que estamos atolados, gerados maioritariamente por Governos de que o próprio fez parte. A segunda é pressupor que existam, no PSD e no CDS, “verdadeiros sociais-democratas e democratas cristãos” dispostos a aceitar uma agenda do PS mais “moderada”, mas com as mesmas finalidades de direita, ainda que apelidada de “mais amiga dos cidadãos”, um conceito político acabado de inventar e de que desconfio de que ainda iremos ouvir falar muito…

Finalmente, Correia de Campos erra na análise quando ignora que é à esquerda do PS que deve ser procurada a solução, com a definição de plataformas de entendimento que rompam com o fanatismo ideológico neoliberal que tomou conta este governo e que, pelos vistos, contamina muitos responsáveis do PS.

As indicações dadas por Correia de Campos reforçam a ideia de que será muito difícil ao PCP encontrar entendimentos com este PS, mais interessado na continuação das atuais políticas, ainda que embrulhadas de forma mais “amigável”. Reforçam, também, a necessidade de o PCP continuar a reforçar a sua influência política e social, ainda que existam à esquerda parceiros com quem pode ser viável estabelecer entendimentos que convirjam numa grande força de esquerda com capacidade de influenciar decisivamente o rumo dos acontecimentos. Esse espaço existe e pode ser ocupado.

Outra conclusão que se pode retirar da argumentação de Correia de Campos é a de que votar no PS será o mesmo do que dar o aval para o prosseguimento das atuais políticas, mas com protagonistas mais “amigáveis”.

Significa isto que, para derrotar a direita e a agenda neoliberal também partilhada por estes sectores do PS só há um caminho: continuar a reforçar o PCP. Não vejo outras “Alternativas”*.

*Titulo do artigo de Correia de Campos publicado hoje no “Público”

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Setúbal

Afinal…

Há coisas que não podem passar em claro. Esta é uma delas. João Ribeiro, que disse, há um mês e meio, que queria ser presidente da Câmara Municipal de Setúbal, afinal tinha outros planos em andamento: ser funcionário das Nações Unidas. Por isso — honestamente, reconheça-se — nunca quis revelar se, caso fosse eleito, se manteria como presidente de câmara até ao fim do mandato. Poder-se-á argumentar que esta é uma decisão só tomada após as eleições, mas custa a crer. Nenhum processo de recrutamento para um cargo das Nações Unidas é tão curto, pelo que se coloca, legitimamente, a questão de saber se a intenção do PS em Setúbal seria eleger não João Ribeiro como presidente de câmara, mas sim o segundo da lista. O (futuro ex?) vereador do PS segue, assim, o caminho de outros notáveis nacionais que o PS destacou para Setúbal, como Jorge Coelho, candidato à presidência da Assembleia Municipal em 2001 que nem chegou a tomar posse, desfeita que Ribeiro não fez, pois participou, há duas semanas atrás, como vereador, na sua primeira reunião de câmara.

Ainda assim, julgo que é importante desejar a João Ribeiro os melhores sucessos pessoais e profissionais na sua nova carreira profissional.

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autarquias, Geral, Política

Democratas mais democratas, não há!

votos

Foto: Henri Cartier-Bresson

Na sequência dos resultados das eleições autárquicas do passado dia 29 de Setembro, a cabeça-de-lista do PS à União de Freguesias de Setúbal, Ana Espada Pereira, com ares de democrata, escrevia no seu facebook:

A nossa equipa irá assumir funções na Assembleia de Freguesia e no mandato que se avizinha não seremos força de bloqueio como outros foram no passado.
Quem ganha deve governar e não pode ser impedido de colocar em marcha o programa apresentado em campanha.
Criticando de forma positiva e propondo, iremos tudo fazer para criar melhores condições na freguesia.
Esta é a nossa forma de estar na politica, este é o nosso compromisso para o mandato que em breve terá inicio e que findará em 2017. 

Estas eloquentes palavras, publicadas no dia 2 de Outubro, rapidamente foram desmentidas pelos próprios autores que, esta noite, na instalação dos órgãos da Freguesia, num entendimento com o PSD/CDS, dizem não reconhecer os resultados eleitorais, querendo à força impor a realização de novas eleições.

Era sabido que o PS havia apostado muito das suas forças eleitorais nesta Freguesia, que esperava ter aqui a sua única vitória no concelho, que os resultados foram uma desilusão para o projecto partidário e pessoal dos intervenientes, era sabido que por estas bandas o PS tem uma larga tradição no mau perder, mas era difícil adivinhar que tão cedo viessem pôr em causa os resultados eleitorais, ignorando a vontade expressa dos eleitores da União de Freguesias de Setúbal.

Em Setúbal, o PS e a coligação PSD/CDS voltam a dar um péssimo contributo para a valorização e dignificação da democracia local, continuam a mover-se nos terrenos perigoso da chicana política, a promover o descrédito e o afastamento das pessoas da política.

Aqueles que nas últimas eleições votaram no PS têm de ficar a saber o que esta gente faz com os seus votos, o que escondem por detrás das promessas de uma nova forma de fazer política, as contradições insanáveis entre as democráticas proclamações e a prática trauliteira e prepotente.

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Política, Setúbal

Insulto a todos Setubalenses

vivamexico

(Foto: Sergei Eisenstein)

O candidato do PS à Câmara Municipal de Setúbal, no dia da sua apresentação pública, depois do aparato mediático que estava montado ter sido um fiasco por culpa do demissionário Paulo Portas, escreve na sua página de facebook que «O medo de pensar de forma livre e diferente acabou».

Hoje, tal como no passado, se há coisa que caracteriza os Setubalenses é a ausência de medo de pensar e de, para além disso, agir.

Para não ir mais longe, direi que foi assim no combate à monarquia moribunda, foi assim na resistência à ditadura, foi assim na defesa das conquistas da Revolução, foi assim nos tempos da gestão arrogante e prepotente do PS/Mata Cáceres na Câmara Municipal.

O Sr. Candidato bem pode armar-se em cavaleiro de absurdas causas, mas escusa de nos insultar a todos, pois nunca estivemos dependentes dele para derrotar o medo e ser livres.

E o que dizem os dirigentes, militantes e simpatizantes locais do PS? Estavam à espera deste senhor para deixarem de ter medo de pensar de forma livre e diferente? 

Se é esta a ideia que o candidato tem de «Afirmar Setúbal», está tudo dito!

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Política

A musiquinha do Seguro

john wayneO Congresso do PS, realizado no último fim de semana, em Santa Maria da Feira, foi uma notável peça de ocultação da realidade que merece ser analisada na perspetiva da encenação meticulosamente preparada para destacar o “líder”. Mais do que a uma estratégia de ocultação, assistimos à tentativa de obliteração do passado recente, estratégia que é, aliás, habitual na prática do PS.

Compreende-se a necessidade de, perante a fraca liderança de António José Seguro, acossada internamente por adversários de maior peso, ensaiar a projeção de uma liderança que a narrativa mediática (e o país) não reconhece.

No reino de D. Sebastiões em que se transforma, ciclicamente, o partido de Mário Soares (quem não se lembra de António Vitorino?) e, sem que apareça o nevoeiro que se liberta da lenda, é imperioso fazer com que ele apareça, nem que para isso seja necessário utilizar vulgares cortinas de fumos como as que se utilizam nos concertos de Tony Carreira quando se cantam musiquinhas de fazer chorar amantes sensíveis.

A verdade, porém, é que, se o nevoeiro, fingido ou não, destaca o líder num fundo neutro, também oculta tudo o que está por trás. As cortinas de nevoeiro, no caso do congresso do PS, assumem as mais variadas formas, desde a discursividade do líder em construção e o tom inflamado usado para destacar uma união forçada e interesseira, com utilização recorrente de frases feitas que pouco dizem e nada esclarecem sobre as propostas do PS, à bandeira nacional que ondula incessantemente no fundo do palco onde se encena o nevoeiro sebastianista. O pormenor mais interessante, porém, por ser o que mais remete para um universo de fingimento, ou melhor, para um universo cinematográfico, em tons épicos e cor-de-rosa, é o da música que serviu de fundo a cada entrada do líder.

Seguro entrava na sala, e lá soava a música, injetada no áudio das televisões com tal nível sonoro que era difícil entender o que debitavam os repórteres. Seguro subia ao palco, e a música subia de intensidade. Tozé acabava o discurso e, com gestos ensaiados no media training, acenava, ao som da musiquinha, às massas congressuais que o adoravam, por nele verem a possibilidade, uns com mais convicção do que outros, do regresso ao poder.

O tema incidental do congresso socialista evoca as bandas sonoras dos filmes épicos, em que o herói surge em cena para salvar o que parece perdido. Todo o cenário, com a música a pontuar, faz lembrar os cenários gigantescos utilizados nos velhos westerns, cenários que reproduziam as enormes pradarias do oeste americano, onde Jonh Wayne, o herói tranquilo, cavalgava sob tranquilizantes céus azuis e umas quantas nuvens que apenas deixavam adivinhar a suave brisa capaz de fazer ondular bandeiras como a que esvoaçava na lateral do palco de Santa Maria da Feira. No fim, o cowboy, claro, levava para casa, na garupa do seu garboso cavalo, a cobiçada garota e tudo acabava bem. Mas isso é só nos filmes…

A política transformada em mero espetáculo é um triste espetáculo de se ver. O Congresso do PS deste fim de semana constitui um exercício de construção artificial de um líder que não o é, de um líder em que o partido não confia, mas que é o que está mais à mão de momento. Pode até ser primeiro-ministro, com ou sem maioria absoluta, com ou sem coligações, mas líder não será. Não o será porque pratica a obliteração do passado, não assume as responsabilidades partidárias pelo que está feito e recusa mudar de rumo, mesmo que insista que quer um “novo rumo”. Mas que rumo será esse, quando sente a necessidade de escrever à troica a garantir que continuará a fazer o caminho ditado no memorando?

Seguro parece procurar a quadratura do círculo, mas todos sentem que está perdido em equações impossíveis.

Outra linha interessante que merece análise é a da reeleição do secretário-geral por mais de 90 por cento dos votos. Interessante porque ninguém se lembrou de utilizar a recorrente argumentação que é usada para atacar o PCP por as eleições dos seus secretários-gerais serem, normalmente, feitas com percentagens semelhantes. No caso do PCP, tais resultados são sempre, para os “comentadores”, votações “norte-coreanas”, representam um “unanimismo” que é sinal de falta de democracia, são resultado de métodos “estalinistas”… No PS, pelo contrário, é tudo normal. Mesmo que, dois anos antes, Sócrates tenha sido reeleito com percentagens semelhantes…

O problema é que já estão todos a prepararem-se para se atirarem ao pote. Outra vez…

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Geral, Política

Eles Sabem o que querem!

Poderia dizer que me sinto chocada, mas tal não seria verdade. Já nada me choca em relação ao PS que nos saiu em desdita.

Bem vistas as coisas, temos estado bem acompanhados nas desditas de todos os povos que elegeram deputados cuidando serem socialistas os quais, trapaceando os seus próprios programas de congressos e de eleições, levaram esses mesmos povos à situação em que estão todos com maior ou menor ditadura da dívida externa, com salários mais baixos, reformas diminuídas, menores apoios sociais, direitos diminuídos em termos de trabalho, privatizações sucessivas, cortes na saúde, na educação, na segurança social, economias em recessão, maior pobreza e desemprego e campanhas ferozes em termos ideológicos nos media de forma a convencer todos os que trabalham ou trabalharam de que não há outra alternativa à situação a que chegou uma Europa em sentido lato e a União Europeia, em pleno século XXI, quando nunca foi tão grande a riqueza produzida, mas que vai toda para os bolsos dos exploradores, do grande capital.

Diz o PS, pela boca do seu secretário-geral, que não compreende a intenção proclamada por Passos Coelho sobre o que pretende fazer em relação ao Estado em Portugal. A tão falada refundação do Estado. Que função deseja o Sr. Passos Coelho para o Estado? Que papel para o mesmo? Estado Social não, está bem de ver.

Então, há aqui não só uma questão política como ideológica. E o PS não percebe isto? Ou não quer perceber? Sabemos que o PS tem defendido muito mal esse Estado Social a que obriga a Constituição Portuguesa (de que o PS fez mais ou menos letra morta ao longo dos anos). Também sabemos que o PS usou (quando usou) a bandeira do Estado Social para esconder objectivos que se foram tornando progressivamente mais claros e transparentes. A aprovação com grande festança do célebre, tristemente célebre, Tratado de Lisboa, com um Sócrates impante de regozijo, foi a aprovação dos ataques e do fim desse Estado Social. Não admira, pois, que agora os responsáveis máximos do dito PS se façam de novas e digam que não percebem a intenção de Passos Coelho.

Como poderiam eles dizer a verdade ao Povo Português se nunca o fizeram ao longo de 36 anos? Como dizer que o Estado Social do PS esteve a ser deglutido paulatinamente para que o governo de agora o possa engolir de vez?

Como poderão justificar-se senão com esse ar de interrogação bacoca em vez de uma posição enérgica em termos políticos e ideológicos?

Que o PS pensa que vai enganar novamente este martirizado e lutador povo, pensa; mas vai ficando cada vez mais desacreditado, tanto ou mais que a sua Central de Trabalhadores sempre (ou praticamente sempre) ao lado dos exploradores com o seu responsável máximo também em crise de perplexidade aguda. Só lhe faltará dizer que não percebe por que razão os trabalhadores lutam e vão fazer greve, uma vez mais!

O Orçamento ainda não está aprovado! Na rua foram muitos os milhares que já disseram NÃO! Vai ser derrotado pela força e luta do Povo que saberá dizer NÃO as vezes que forem necessárias!

Pelos valores de Abril! Sempre!

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Política

Moção de censura? Sim. E depois?

A credibilidade e a capacidade política do governo Passos Coelho ficaram seriamente danificadas com a questão TSU. Representando um veredicto popular sobre as políticas da troika, a manifestação popular de 15 de Setembro (e certamente também a de 29) bem podem significar o principio do fim deste governo e desta maioria. E o que tem a Esquerda para oferecer ao povo?

Percebe-se que a capacidade de decisão de P. Coelho foi seriamente afectada e que o governo navega à vista, tendo interiorizado a imensa contestação que, “orgânica” ou “inorganicamente” alastra pelo país. Pressionado pelos agentes da troika e pelo povo em sentidos contrários, o governo dá mostras de desorientação.

Um governo está, por regra democrática, a prazo. E no actual contexto esse prazo pode vir a ser muito breve. Se a coligação PSD-CDS for apeada do poder, quem lhe pode suceder? Com a atual composição parlamentar só a reedição do bloco central PSD-PS reuniria uma maioria; ou como recurso um governo de inicial presidencial.

Mas a verdadeira questão é como se pode gerar uma verdadeira alternativa de políticas, susceptível de ser sufragada pela maioria dos portugueses.

O crescente afastamento dos portugueses face aos “políticos” e o desprestígio da vida partidária não abonam em favor de uma sociedade moderna e democrática. Mas demonstram também que não tem sido geradas alternativas suficientemente credíveis no interior do actual sistema político-partidário.

Apesar de as responsabilidades pelo actual estado de coisas ser claramente atribuível aos partidos do auto-designado “arco da governação” (PS, PDS e em menor medida o CDS), que se reveza na governação há mais de trinta anos, os políticos são todos “farinha do mesmo saco” para uma parte muito significativa dos portugueses.

Atenhamo-nos ao espectro partidário existente, já que não parece que estejam em vias de por aí surgirem novos protagonistas…

Os partidos

O PS. É o partido central do actual sistema político, oscilando entre a social-democracia e “terceira via” néo-liberal. Os trágicos resultados da anterior governação socialista irão pairar por muito tempo sobre o partido. É credível uma alternativa à Esquerda que inclua o PS? Se sim, como poderão os socialistas compatibilizar a aceitação do memorandum de entendimento, de que foram primeiros responsáveis, com o repúdio pelas medidas que ele implica e cujo fracasso está à vista? Como desatará a Direcção socialista este nó?

O PCP. Mais que nos votos, a influência do PCP mede-se nas organizações sociais e nos sindicatos. A sua área de poder é tradicionalmente o mundo autárquico. Desde 1976 nunca foi claramente perceptível qualquer aposta táctico-estratégica do PCP para aceder ao poder executivo. Está assim por perceber se o PCP está disponível para integrar uma solução de convergência com o(s) outro(s) partido(s) da esquerda parlamentar? Ou mesmo uma solução mais ampla e de mínimo denominador comum.

O BE. Parece assente que, com maiores ou menores oscilações nos resultados eleitorais, o Bloco assentou arraiais e o seu peso conta no xadrez político. Percebe-se no seu discurso uma vontade de aceder ao poder. A mudança de liderança em simultâneo com um novo modelo dual é uma fase crítica para este partido que ainda mantém diversas formações políticas no seu interior.

Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português não estão aparentemente afastados por muito. Votam conjuntamente no parlamento com frequência. Partilham, cada um na sua trincheira, muitas lutas. Mas há escolhos históricos por ultrapassar, aqueles que derivam ainda dos enfrentamentos entre o PCP e a extrema-esquerda nos primórdios do regime democrático.

Com as posições actuais a Esquerda está longe de se constituir como uma alternativa consistente e credível. Tem contra si um histórico de desentendimento, face a uma direita pragmaticamente coligável. Mas como o “caminho faz-se andando”, vejamos.

Uma plataforma comum

A relação com a troika é hoje central e incontornável.

É possível rejeitar o memorandum de entendimento com a troika e recuperar a soberania? Se o fizermos como se procederá ao financiamento do país? Como se honrarão os compromissos com os credores? Euro, sim ou não?

Qualquer alternativa de Esquerda que se perfile terá que responder, de forma credível e circunstanciada a estas perguntas. E reunir consenso nas respostas e soluções apresentadas. E estar disposta a traduzi-las num programa político e económico e numa coligação ou frente política que o suporte. E a arcar com o ónus de governar. Não havendo soluções de um só partido, poderão haver soluções de programa?

Se a Esquerda não o fizer continuará a ser vista pela maioria da população e do eleitorado como uma não-alternativa! E o rotativismo continuará a fazer o caminho por mais uns tempos.

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Política

Universidades

PSD e PS, com as semelhanças que lhes são conhecidas, provavelmente para colmatar as equivocas formações académicas de alguns dos seus dirigentes, criaram uma coisa chamada Universidade de Verão.

Tanto quanto se sabe, cada um tem a sua universidade, mas poderia ser a mesma que o fundamental dos ensinamentos é o mesmo, não fosse a necessidade de dar palco a tanto ilustre ideólogo do regime.

Uns e outros falam, com direito a transmissão televisiva, para dizer aos “alunos” que são inocentes em relação à falência do País, que a culpa é de todos nós, que vivemos todos acima das nossas possibilidades.

Com tonalidades diferentes, dependendo do douto “professor” e da camisa mais laranja ou mais rosa que no momento veste,  insistem na receita que nos conduziu ao desastre.

Por mais que as evidências revelem o contrário, nestas Universidades ensina-se que a realidade pouco importa, que as consequências concretas das políticas praticadas não têm grande relevância, que o que é fundamental é continuar a aplicar a receita (em maior ou menor quantidade) da austeridade e da recessão.

A nossa sorte é que nestas Universidades nem por equivalências se tira outro curso que não o da imbecilidade do pensamento único do chamado bloco central.

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Política, Setúbal

Má-fé ou ignorância?

A nova presidente da Federação Distrital de Setúbal do Partido Socialista começa mal o seu mandato. Muito mal.

Em entrevista que concedeu hoje ao jornal “O Setubalense” debita um chorrilho de disparates que, das duas uma, ou são sinal de ignorância ou, pior, são a prova de uma má-fé política a toda a prova. Estou capaz de acreditar mais na segunda hipótese…

Diz a novel dirigente que o “modelo comunista de gestão autárquica está, metaforicamente, falido”, declaração que nada traz de novo ao habitual discurso do PS, de tão habituados que estão a fazer dos comunistas um alvo a abater. A contradição entre o discurso da dirigente socialista e a realidade é, porém, tão acentuada que não é possível ignorá-la…

Madalena Alves Pereira aproveita a passageira brisa da vitória eleitoral nas eleições federativas, enfuna a vela e aí vai ela em velocidade de cruzeiro. Na ânsia de fundamentar o que acabara de afirmar revela que os “números evidenciam um grau de endividamento elevadíssimo. A Câmara do Seixal é uma das três do país com uma dívida a fornecedores acima dos 100 milhões”. Se é verdade que a Câmara do Seixal está nessa lista, já não se compreende que a líder federativa, em nome da sustentação da relação direta que faz entre a dívida seixalense e a falência do “modelo comunista de gestão autárquica”, aparentemente a causa de todos as maleitas das autarquias CDU, não explique, então, por que razão uma das câmaras municipais mais endividadas é, vá-se lá perceber porquê, a autarquia de Portimão, liderada pelo partido de Madalena Alves Pereira e com dívidas que ascendem a 148 milhões de euros. Poderá também a líder socialista explicar a razão que leva a que uma das mais pequenas autarquias do país, liderada também pelo PS, a Câmara de Mourão, tenha uma das maiores dívidas, ou seja, cerca de 3016 euros por habitante. Será do “modelo comunista de gestão autárquica”, ou será antes das sucessivas alterações na lei das finanças locais e da retirada de meios financeiros às autarquias, acompanhada sempre de mais e mais responsabilidades, que afetam, em diferentes escalas, todas as autarquias do país, sejam elas “comunistas” ou “socialistas”?

Depois, vem o disparate mor, asneira da grossa para sustentar mais asneira, ou o que lhe quisermos chamar. Continuar a ler

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economia, Política

Com o mal dos outros…

Anda por aí um entusiasmo exacerbado, até com alguns laivos de infantilidade, nas hostes do PS. Açoitados e acabrunhados com derrota eleitoral de 5 de Junho e pelo céu que lhes caiu em cima da cabeça com a descoberta de que, afinal, como prometera o ministro Manuel Pinho, num momento em que não pensava em corninhos, não só a crise não tinha acabado em 2006 como se agravou a níveis estratosféricos, os socialistas saltitam e sacodem-se de alegria com a descoberta do buraco atlântico, que o mesmo é dizer, com o buraco das contas da Madeira, sempre a crescer de dia para dia, com Alberto João a reconhecer “cinco mil milhões e tal”, com o ar de quem fala de trocos desprezíveis encontrados nos fundos dos bolsos, e a oposição do CDS a dizer que não senhor, são sete mil milhões, diferença que, honestamente, neste momento já pouco interessa.

Os socialistas descobriram que, afinal, há, no jardim madeirense, alguém tão mau como eles e toca de fustigar Passos Coelho com a pergunta sacramental: “tira a confiança política ao homem ou não?”. Bendito Alberto João. Nada melhor que um desastre na casa dos outros para fazer esquecer outra desgraça, ainda que maior.

Pelos jornais e pelas TV’s vemos, ouvimos e lemos os sábios habituais a zurzir em Alberto João na esperança de fazer esquecer Sócrates, nome que só o simples facto de ser pronunciado provoca pele de galinha nos mais empedernidos militantes socialistas, os mesmos que ainda há poucos meses ululavam em apoio ao querido líder.

Não nos queiram enganar ainda mais. Não saberia Sócrates o que se passava quando ainda era primeiro ministro? Não terá esta operação sido milimetricamente planeada com o Tribunal de Contas e o INE para coincidir com o arranque da nova liderança do PS  e assim dar a Seguro folga, livre dos ónus socráticos, para ataque pesado ao novo governo por via do seu flanco mais fraco? É esquema a mais, o que enerva profundamente.

Ainda assim, tudo isto tem a vantagem de constituir um contributo decisivo para acabar com o reinado de Jardim na Madeira. Mas com que preço…

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