Geral

As Botas do Defunto

Modelo Vermelho, Magritte 1934

Cada dia da campanha é mais um dia em que se dissipam dúvidas, para quem ainda as tivesse, sobre o que esconde Cavaco debaixo do tapete da pose hirta, da máscara facial severa, das frases definitivas ditas num português gaguejante que salta em erupções atabalhoadas libertadas pelas contracturas dos músculos faciais.

É cada vez mais claro que o desejo secreto do homem era calçar as botas do outro. A atitude e a arrogância não enganam. No resto falta-lhe tudo. A começar pelo talento de saber que, à sua volta e à sua sombra os amigos andavam a saquear, sem se deixar embrulhar directamente na pilhagem, para manter a aparência de indestrutível seriedade enquanto montava e dirigia com rédea curta um violento aparelho repressivo para que o saqueio fosse fundo e sem sobressaltos de maior. O outro nunca se deixaria enrodilhar em negociatas que dão lucros de mais de 140% em dois anos. Como professor de finanças, sabia muito bem que tanto lucro em tão pouco tempo é mais que suspeito. Suspeitas que o “mísero professor” não registou enquanto enchia os bolsos com centenas de milhares de euros ganhos mais rápido do que se os tivesse colocado na D.Branca, a banqueira do povo. Explica o inexplicável, refugiando-se em teorias da perseguição promovidas por campanhas sujas, esperando que o bom povo português confie sem reservas na imagem de honestidade paroquial que tenta passar.

Cavaco bem pode mirar e remirar as botas do defunto. Nunca as conseguirá calçar. Não percebe que a presunção e distância que exibe são pechisbeque na montra da democracia, ainda que a democracia se arraste penosamente de vestes esfarrapadas por políticas em que ele foi um destacado protagonista. O outro nunca faria discursos tontos de auto elogio, sentado em cima de uma pilha de banalidades, bordando o palavreado com as pérolas falsas dos seus êxitos políticos, do seu saber extraordinário, da sua moral impar, tudo desmentido no dobrar da primeira esquina.
Os tiques não enganam. Cavaco disfarça a sua desmedida ambição e vaidade escondendo-se num homem que nunca quis ser político. Tudo acasos para que foi empurrado e assumiu por dever cívico. Apesar já ter sido ministro das finanças carneirista, continuava uma carreira de obscuro professor que vai dar uma volta de carro e no regresso é presidente de um partido que lhe dá a cadeira de primeiro-ministro. Sempre empurrado, lá ficou durante mais de dez anos, rodeando-se de amigos que mal caiu o governo se metem em negócios de perfil suspeito, sem nunca esquecer o seu protector. Aparentemente desterrado da vida política, andava das aulas da universidade para casa onde se sentava na marquise para, de comando á distância, ir tramando os seus sucessores no partido (Fernando Nogueira e Santana Lopes ainda devem ter nódoas negras das cacetadas do professor) enquanto esculpia a máscara presidencial. Na primeira vez lixou-se. Continuou a fingir estar exilado da política enquanto angariava carregadores para lhe transportarem as malas para Belém. Ia fazendo pela vida com companhias pouco recomendáveis, como agora está à vista de toda a gente.

Nunca deixou de engraxar as botas do defunto, enquanto sonsamente fingia que não queria ser nada, que nunca tinha querido ser nada além de explicador de gentes ignaras do que era a boa e a má moeda, o monstro e coisas similares. Na segunda oportunidade ai vai ele disparado para o cadeiral presidencial. Agora, quer repetir a dose. Se possível iria repeti-la até cair da cadeira. Não o vai conseguir. A democracia, mesmo trôpega, é uma chatice.

Conformados com ela, lá andam dois pobres professores reformados estrada fora, em campanha eleitoral. Ela distribui papelada, sorrisos e segredos ao marido. Ele não responde a nada sobre legítimas dúvidas suscitadas por chorudos lucros e outras benesses obtidas em conúbio com um gangue cujos saques estão a ser pagos por todos nós. Insinua em voz alta que os adversários são loucos e ignorantes. Bolsa a demagogia mais rasca como se não tivesse responsabilidade em coisa alguma. Numa vitrina qualquer da sua memória senil, estão as botas do defunto no cenário vazio de ideias de um programa eleitoral que não tem. É este o presidente candidato a presidente.

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Política

Cavaco x Lopes

Ganhou o Lopes… Quem o diz é a Ana Sá Lopes (será da família? 🙂 ) aqui.

Talvez tenha sido por causa da gravatinha vermelha e do penteadinho que lhe fizeram, o que lhe retira aquela camada comunista (que horror!) do costume. Ou terá sido porque disse as coisas certas, no tempo certo? Aposto que foi por causa da gravatinha e das coisas que disse… E das que Cavaco foi incapaz de dizer.

Não é todos os dias que se põe um Presidente da República “de gatas”…

Ah grande Lopes!

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Política

Burro em Pé

Aquela gente que gravita no universo político português debitando sentenças e proclamando dogmas, com a liberdade e audiência que lhes é permitida por um jornalismo medíocre, minado de simpatizantes sem qualidade da mais rasca política de direita, sabendo-se de rédea solta derrama os maiores dislates. Sabendo que lhes está garantido esse direito não hesitam, rapidamente ocupam os espaços que a comunicação social estipendiada lhes concede. Assim se vão pondo tijolos, dos mais variegados tipos, no muro do campo de concentração do pensamento único neo-liberal.

Uma  frente de batalha actual é as eleição presidencial. Nada é demais para empurrar Cavaco para uma vitória na primeira volta.

Na semana passada, um jornal diário foi ouvir membros da sua Comissão Política e de Honra. O que se diz sem hesitação é fenomenal.

Joaquim Aguiar, da Comissão Política cavaquista, é peremptório a atestar que os outros candidatos têm “programas do século passado e a crise liga o passado ao futuro” (…) Cavaco é o único que tem os próximos cinco anos para abrir esse caminho”.

Ninguém questiona o que são políticas do passado e que futuro é esse. O que deveriam fazer quando o personagem sempre defendeu políticas do passado. Logo a seguir ao 25 de Abril, Aguiar era um peão de brega do grande capital que tinha feito caminho debaixo do guarda-chuva do fascismo. Escriba aspirador das alcatifas dos corredores sombrios de uma grande frente de capitalistas (MDE/S) que, tendo fracassado o golpe Palma Carlos-Sá Carneiro e estando em marcha o 28 de Setembro da Maioria Silenciosa, vinha prometer, com desaforada demagogia, o «desenvolvimento económico» oferecendo de mão beijada 120 milhões de contos de investimento e 150 mil postos de trabalho, mediante garantias políticas que eram um regresso ao passado próximo. Era tentar alcançar, depois da Revolução de Abril, a almejada e fracassada primavera fascista. Nessa altura o jovem Aguiar, vendia os seus talentos de mordomo do capital aos fascistas reciclados, proclamava, com o descaro que não perdeu, que aquela era a política do futuro, que o programa do MFA era o passado. Pouco imaginativo mas muito activo a abrir as portas dos gabinetes do poder, nunca perdeu o jeito de fazer pela vidinha mudando de farda conforme o vento. Repete-se cacofonicamente colando os mesmos selos no que lhe vai passando pela frente. Continuar a ler

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Política

Procura-se!

Manuel Alegre, o homem que ninguém calava. Foi visto em público pela última vez a zurzir no PS antes de ser nomeado candidato oficial dos socialistas, embora haja quem garanta tê-lo visto fugazmente por ocasião do anúncio das medidas do Orçamento de Estado 2011. Voltou a desaparecer, mas suspeita-se que possa estar escondido num sótão do Largo do Rato.

A família, em especial os enteados do BE, agradecem qualquer informação que possa levar à sua localização.

Dão-se alvíssaras.

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Geral, Política

Malvadezes

Entre os oráculos que na nossa terra se passeiam na comunicação social, prevendo as piores catástrofes, receitando remédios que só as pioram, prevendo apocalipses irreprimíveis, em que eles também cavalgaram, avulta Medina Carreira. Agora no meio de mais uma arenga faz uma revelação capaz de provocar um tremor de terra avassalador: há dois anos pensou candidatar-se a presidente da República! Desistiu por causas das maçadas que isso lhe ia dar!

Oh! Doutor Medina Carreira escondeu essa intenção do mundo?

Nada transpirou para fora das suas portas?

Portugal vai ser incendiado pelas chamas da ira!

Sabe muito bem quem deve estar agora roxo de raiva! À beira de uma apoplexia!

Um candidato do seu calibre e ele e os rapazes da sua corte, a correrem seca e meca, a moverem céus e terra, a fazerem convites a torto e a direito, sem sequer cheirarem essa hipótese?

Lá por você ter abandonado o PS, ter sido mandatário de Cavaco Silva, andar a dizer cobras e lagartos do Sócrates, nada disso seriam obstáculos de monta. Uns pormenores sem importância, quando o desígnio principal é abaterem um alvo de estimação!

Isso não se faz a um velho conhecido!

Malvadez indesculpável!

Você é mau como as cobras!

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Política

É da minha vista…

É da minha vista ou Mário Soares acaba de ameaçar José Sócrates? Escreveu o velho cacique no DN que, “no actual contexto politico-partidário (…) Sócrates cometeu um erro grave, que porventura mesmo lhe poderá ser fatal e ao PS“. Nesta declaração apenas está a mais a parte final “e ao PS“, que, obviamente, deve ter sido acrescentada à última da hora para amenizar o tom de bengalada que Soares queria dar à sua refinada observação das consequências políticas da escolha de Alegre.

Soares diz coisas que são feias e não são bonitas, para parafrasear uma “felicíssima” expressão que lhe saiu na campanha para o Parlamento Europeu há uns anos atrás. Além dessa característica, também tem memória de elefante e não esquece as rimas que o poeta lhe armou nas últimas presidenciais. Curioso é que ele tenha tão boa memória para umas coisas, e tão má para outras. É feio e não é bonito…

Escreve ele que a decisão de não apoiar Alegre se deve “exclusivamente a razões políticas”. Pois…

A ameaça que Soares deixa no ar só pode ter origem numa cabeça que pensa que o PS ainda é Soares e Soares ainda é o PS. Como Sócrates demonstrou, longe vão esses tempos. Parece que o Vítor Ramalho também não percebeu…

A atoarda de Soares faz mais lembrar uma declaração de guerra, de quem se está a preparar para atacar com tudo o que tem à mão um novo inimigo, do que uma declaração meramente política. Não é bonito e, além disso, é feio, até porque o homem já tem idade para estar calado e deixar de prejudicar a vida do partido que ajudou a fundar.

No que me respeita, só me falta mesmo saber o nome do candidato em quem vou votar. Chamem-me o que quiserem, mas é assim.

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Política

As vistas curtas dos soaristas

O PS é um partido plural, proclamaram os dirigentes distritais socialistas que torcem o nariz a Manuel Alegre, depois de mais uma noite a discutir o apaixonante tema do candidato presidencial a apoiar em 2011.

A pluralidade invocada apenas serve a dirigentes como Vitor Ramalho, da Federação de Setúbal, para discordar do apoio a Alegre e condicionar a decisão partidária. Mas, melhor do que isso, foram as condições que alguns destes dirigentes quiseram impor ao possível candidato socialista: “o candidato a apoiar terá de garantir que não interfere na esfera governativa“.

Ora aqui está uma “sábia” imposição a alguém que se queira candidatar ao apoio socialista. Esta condição provoca-me, contudo, uma dúvida: será que Mário Soares — que foi (dizia ele) presidente de todos os portugueses, com o apoio do PS — está de acordo com esta condição? Inclino-me a responder que não, em especial porque é conhecido o comportamento que Soares adoptou em relação ao Governo quando exerceu as funções de Presidente da República. Julgo que ainda ninguém se esqueceu da postura activa de combate aos Governos de Cavaco que Soares manteve (recorde-se o Congresso “Portugal que Futuro?“), sem que alguma vez o PS tenha defendido, então, que o PR deveria garantir que não interferia na esfera governativa.

Compreende-se a tentação socialista. Mas era bom que as vistas destes dirigentes distritais não fossem tão curtas. Será que não desejam que o possível PR Alegre tenha uma postura política interventiva em matéria de políticas governativas quando o País virar à direita e o Governo estiver nas mãos dos ultra liberais Passos Coelhistas?

Ou esperam que, perante as mais do que possíveis alterações nas políticas sociais (e outras…) do Estado, Alegre (ou outro qualquer), enquanto PR, continue a garantir que “não interfere na esfera governativa”. Não me parece…

A garantia que é pedida ao candidato é, pois, mais um sinal da evidente desorientação que grassa no PS e da falta de sentido estratégico de alguns soaristas ferrenhos, incapazes de ver para lá do seu próprio umbigo.

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