
A instituição que mais se reclama da austeridade e do rigor, o FMI – Fundo Monetário Internacional, foi convocada, nos últimos meses, a aplicar a sua receita tradicional contra o que o seu sacerdote-chefe Dominique Strauss-Kahn e o coadjuvante-economista Olivier Blanchard designam como, os “gastos públicos pavorosos” da Grécia e da Irlanda.
Para a Irlanda, o famoso tigre celta, tão valorizado, há meia dúzia de anos, pelos economistas e jornalistas de serviço na nossa praça, o FMI aprovou um empréstimo especial de 22.500 milhões de euros, porque, afinal, todas aquelas virtudes eram apenas virtuais. E, para ter direito aquele crédito, o governo irlandês, de cócoras, teve que cortar 4000 milhões de euros no orçamento do “ainda seu (?)” Estado.
Este tratamento de choque, aplicado também na Grécia, significará menos recursos públicos para a saúde, educação, justiça, cultura e economia solidária, ou seja, menos qualidade e extensão na cobertura dos direitos básicos, maiores impostos, mais desemprego e menor tranquilidade para aposentados e idosos em geral.
Ao cortar, de um forma drástica, a despesa dos Estados, que, segundo as teses neoliberais, estariam muito gordos — confundindo os ventres característicos da doença de Kwashiorkor com as adiposidades balofas tão características dos empórios financeiros — o FMI consegue, de uma só vez, duas coisas: crescer financeiramente (as crises são uma bênção para o FMI) e impor um crescendo nos movimentos de privatização.
Pois bem, este bastião da ética capitalista, e em pleno crescendo da crise mundial, resolveu, como de costume, dar uma festa de Natal para 2000 convidados no seu estrondoso edifício situado na Rua 19 de Washington. A festança, realizada no dia 11 de Dezembro, foi abrilhantada por quatro orquestras e alimentada por catorze restaurantes diferentes, com especialidades de todo o mundo. Não se sabe ao certo, mas diz-se que os sons da salsa e das músicas caribenhas inquietaram os guardas da Casa Branca, situada a pouco mais de duzentos metros!
Alguns dos convidados, altos funcionários do FMI e do seu inquilino[i], o Banco Mundial, seguiram, passados poucos dias, para vários destinos mundiais, quem sabe, também para Lisboa, a fim de pregarem os seus princípios de contenção e racionalidade públicas.
Será que as suas consciências, tal como os estômagos, lhe estavam pesadas?
[i] O FMI teve que alugar o último andar do sumptuoso edifício que erigiu em Washington, porque não tinha destino útil a dar-lhe!
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