Acordo histórico? Sim, porque se traduz num dos maiores recuos que o lado laboral da sociedade portuguesa regista desde há muitas décadas. As confederações patronais e o Governo conseguiram praticamente tudo o queriam: mais fácil e mais barato despedir, trabalho extraordinário a menor custo, menores subsídios de desemprego, menos férias e feriados e menor capacidade interventiva para os sindicatos.
Pode o país ficar melhor se milhões dos seus cidadãos, os trabalhadores por conta de outrem, vão ficar pior? É a quadratura do círculo. Com o país a definhar na recessão e a avançar a passo rápido para os 14% de taxa (oficial) de desemprego, os prometidos aumento da produtividade e criação de empregos são apresentados como a justificação para este monumental retrocesso social. Uma receita que está por provar e que se arrisca a atirar o país para níveis de pobreza e instabilidade ainda maiores.
A chantagem e o medo vão-se paulatinamente impondo na sociedade portuguesa e não serão alheios ao “sucesso” da celebração deste acordo. Justificando a sua assinatura, o líder da UGT, J. Proença, afirmou que “houve claras ameaças da parte do Governo que iria provocar uma grande desregulação laboral“. É claro que as ameaças lograram o seu principal efeito. E qual é ele: apresentar ao país um acordo. Coxo, por sinal, entre três partes, Governo, patrões e trabalhadores, mas em que uma delas, a parte laboral, está claramente sub-representada.
Sem surpresas pelo lado patronal, quer a assinatura da UGT, quer a recusa da CGTP-IN, também não o chegam a ser. As opções políticas dominantes em cada uma das centrais sindicais explicam quase tudo. Central dirigida por sindicalistas maioritariamente das áreas do PS e do PSD – os subscritores do memorandum com a troika -, o comportamento da UGT foi bem o espelho das contradições que actualmente atravessam o PS de A.J. Seguro: por um lado manter o compromisso herdado do Governo de J. Sócrates, e por outro a necessidade de se afirmar com partido de oposição. O acordo desta central vem, aliás, na linha das muitas assinaturas que a UGT apôs em anteriores acordos de concertação ao longo de três décadas. Quem poderia esperar outra atitude?
A CGTP, fiel às suas tradições de combate político-sindical e desta vez por maioria de razão, só poderia mesmo recusar um acordo que nada de bom traz aos trabalhadores, também aqui em linha com a hegemonia dos sindicalistas comunistas no interior da central; mas desengane-se quem julgue que não há outras correntes de opinião na maior confederação sindical portuguesa. E não há notícia de divergências internas entre essas tendências quanto à recusa do acordo…
Apesar da limitada representatividade da UGT no mundo laboral, o Governo de P.Coelho pode reclamar uma outra vitória, para além das medidas que constam no acordo. Conseguiu dividir a até aqui ampla frente sindical que havia promovido a greve geral de Novembro passado e que se vinha mantendo unida face às pretensões liberais e desreguladoras do governo da coligação de direita.