Geral

A Grécia, a CEE os seus mandantes, seus mandaretes e monicas lewinskis

A ESPERA DOS BÁRBAROS

— Que esperamos na ágora congregados?

 

Os bárbaros hão-de chegar hoje.

Porquê tanta inactividade no Senado?

Porque estão lé os Senadores e não legislam?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje.

Que leis irão fazer já os Senadores?

Os bárbaros quando vierem legislarão.

 

Porque se levantou tão cedo o nosso imperador,

e está sentado à maior porta da cidade

no seu trono, solene, de coroa?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje.

E o imperador espera para receber

o seu chefe. Até preparou

para lhe dar um pergaminho. Aí

escreveu-lhe muitos títulos e nomes.

 

— Porque os nossos dois cônsules e os pretores

saíram hoje com as suas togas vermelhas, as bordadas

 

porque levaram pulseiras com tantas ametistas,

e anéis com esmeraldas esplêndidas, brilhantes;

porque terão pegado hoje em báculos preciosos

com pratas e adornos de ouro extraordinariamente cinzelados?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje;

e tais coisas deslumbram os bárbaros.

 

– E porque não vêm os valiosos oradores como sempre

para fazerem os seus discursos, dizerem das suas coisas?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje;

e eles aborrecem-se com eloquências e orações políticas.

 

– Porque terá começado de repente este desassossego

e confusão. (Como se tornaram sérios os rostos.)

Porque se esvaziam rapidamente as ruas e as praças,

e todos regressam as suas casas muito pensativos?

 

Porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.

E chegaram alguns das fronteiras,

e disseram que já não há bárbaros.

 

E agora que vai ser de nós sem bárbaros.

Esta gente era alguma solução.

                                                               Konstandinos Kavafis

(tradução Joaquim Manuel Magalhães/Nikos Pratsinis)

ovelhas

 

Os cônsules, pretores que entre dois partidos sozinhos ou coligados, se sucediam na Grécia, impondo ao povo grego as soluções dos bárbaros foram democraticamente derrotados. As iníquas reformas estruturais, um saco de mentirolas que nada reestrutura e tudo destrói,  que garrotavam a economia, aumentavam a dívida, mantinham os privilégios da oligarquia, aprofundavam  a corrupção, atiravam cada vez mais gregos para a miséria e o desemprego, foram democraticamente derrotadas. Quem venceu pelo voto, propõe outro caminho para sair da crise, caminho dentro do quadro político, económico e social dos bárbaros. Nem isso os bárbaros aceitam. Inquietam-se porque não querem que seja sequer possível pensar que há outras saídas para a crise económica dos países que se debatem com dívidas que são impagáveis, consequência da crise mais geral da Europa tatuada no sistema que se arrasta agónico mas que se julga eterno, sem alternativas.

Governantes e seus sequazes querem ditar, impor as suas leis sobre os países devastados por uma estúpida cegueira que alimenta os oligopólios financeiros, promove uma crescente desigualdade social, instala um desastre económico e social de proporções inquietantes. Mentem manipulando as estatísticas para travestir o desastre. Mentem. mentindo sempre e, sem pudor,  fazem circular a mentira por uma comunicação social mercenária ao seu serviço.

Na CEE, os países que se sujeitaram às receitas das troikas, viram as suas dívidas em relação ao PIB aumentar exponencialmente entre 2007 e 2014. Irlanda 172%, Grécia 103%, Portugal 100%, Espanha 92%. A dívida mundial que em 2007 era de 57 biliões de dólares, em 2010 foi de 200 biliões de dólares, ultrapassando em muito o crescimento económico. Tendência que continua o seu caminho para o abismo, em benefício dos grandes grupos financeiros, entrincheirados nos chamados mercados. O chamado serviço da dívida, os juros, são incomportáveis. São esses os êxitos de uma política cega submetida à ganância usuária que não tem fronteiras ou qualquer ética.

Os governos deixaram de estar ao serviço dos seus povos, nem estão sequer dos seus eleitores. São correias de transmissão dos oligopólios financeiros que se subtraem a qualquer escrutínio democrático ou outro de qualquer tipo. Traçam um quadro legal que os suporta e legitima a ilegitimidade. A democracia é uma chatice, um entrave, um pauzinho nessa gigantesca engrenagem que nos atira barranco abaixo, com efeitos devastadores para a humanidade. Nada interessa a não ser o lucro de quem especula sem produzir nada. As pessoas são uma roda nessa engrenagem.

chaplin

Charlie Chaplin, TEMPOS MODERNOS

Quem não caminha ordeiramente nesse rebanho, quem se opõe, mesmo que mandatado e sufragado democraticamente, é considerado irresponsável, como disse o ogre Wolfang Schauble, ministro da economia da Alemanha, em relação à Grécia. As suas enormidades ecoam pela boca dos seus bufões, das suas monicas lewinskis por todos os cantos de uma Europa submissa aos diktats do bando de arruaceiros financeiros que rouba a tripa forra países e povos. Em Portugal, as nossas monicas lewinskis são mais fatelas, mais rascas com se tem visto e ouvido de Cavaco a Passos Coelho, de Portas a Pires de Lima mais a matilha dos seus sarnentos rafeiros de fila. Espumam raiva, ódio dos ecrãs televisivos às ondas radiofónicas. Quem se atreve a riscar, ainda que levemente, essa realidade em que nos enforcam é logo atacado e silenciado quanto baste por essa matilha de pensamento ulcerado.

Os burocratas europeus dogmáticos, leitores e intérpretes da cartilha neoliberal dizem que a realidade é assim mesmo! Será?

A realidade nunca é a realidade que nos querem impingir como Aragon tão bem descreveu. Há mais vida para lá desse biombo com que a querem esconder qualquer luz, mesmo bruxuleante, de esperança para a humanidade.

ISTO È UMA OVELHA,escultura de João Limpinho

 

AS REALIDADES

Era uma vez uma realidade

com as suas ovelhas de lã real

a filha do rei passou por ali

e as ovelhas baliam que linda ai que linda está

a re a re a realidade

Era uma vez noite de breu

e uma realidade que sofria de insónia

então chegava a fada madrinha

e placidamente levava-a pela mão

a re a re a realidade

No trono estava uma vez

um velho rei que muito se aborrecia

e pela noite perdia o seu manto

e por rainha puseram-lhe ao lado

a re a re a realidade

 

CODA: dade dade a reali

dade dade a realidade

A real a real

idade idade dá a reali

ali

a re a realidade

era uma vez a REALIDADE.

Aragon

(tradução António Cabrita)

ceci nést pas une pipe

pintura de Magritte

Advertisement
Standard
Geral

A emigração… continua.

As despedidas são sempre dolorosas.

A dor e as lágrimas não se demoveram, embora tudo tenha feito para parecer que era apenas uma partida igual a tantas outras. A espaços, a alegria, ainda que titubeante e fictícia (“faço das fraquezas forças”), suaviza o desalento e a cólera.

Num ápice, quase por magia, a gare do aeroporto transforma-se num deserto e o mundo desaba sobre a minha cabeça. É chegada a hora de partir.

É mais uma jovem portuguesa que emigra (não é só mais um número a contribuir para o aumento das estatísticas, é a minha filha) à procura de trabalho, de uma vida…

Esse foi um dia… que nunca mais esqueço.

Depois… os dias sucedem-se e parecem anos. Como o tempo nos engana. Umas vezes anda apressado, outras, distrai-se e não avança… e o reencontro nunca mais acontece.

As saudades cercam-me…

Dias amargos… estes (de resto, essa tem sido a marca de muitos dos meus dias. Já devia estar habituado), tristes, duros, para os quais nunca se está preparado. Revolta é o sentimento que sinto. Não foi com este país que sonhei…

Não tenho culpa de ter nascido em Portugal, mas ainda “sinto a força para não ter, como vós outros, a covardia de deixar apodrecer a pátria”.

“Coragem, Portugueses, só vos faltam as qualidades”.

Standard
Internacional, Política

Desemprego em França atinge novo recorde com 3,29 milhões de inscritos

Estou preguiçosa, decididamente!  Perdoem e entendam-me!

Desemprego atinge mais de 10,9% da população activa

O desemprego atingiu um novo recorde em França com um crescimento de 60 mil desempregados em setembro, o que eleva para 3,29 milhões os inscritos à procura de emprego.

Este aumento deve-se em parte a um erro estatístico que levou a uma descida artificial do número de desempregados em agosto. ( Ai, por cá como descem as taxas à custa não de erros, mas factos premeditados).

Com 3,29 milhões de pessoas sem trabalho, o desemprego atinge mais de 10,9% da população ativa, o que constitui um recorde absoluto em França.

O presidente francês, François Hollande, comprometeu-se a inverter os números do desemprego até ao final do ano, num clima de preocupação crescente quanto à economia e à criação de emprego.( pois, pois, digo, eu!)

Ainda se lembram dos tais 150.000 empregos que o Sócrates, de má memória, iria criar?

A França está atolada uma vez mais nas políticas neoliberais do tal de Hollande do tal PS francês. (guerras vergonhosas, neocolonizações  com sobreexploração de povos já tão martires, conluios com o Al Qaeda, os tais terroristas apoiados na Líbia, na Síria, etc. )

SERÁ QUE ESTE EXEMPLO, MAIS UM, SERVIRÁ DE ALGUMA COISA?

Standard
Política

Indecência

Coelho Gaspar e MoedasTrabalhadores do Estado, por sinal os dos escalões mais baixos, tratados com os pés e despejados à porta do desemprego; pensionistas a quem a lei da vida já não permite inflectir o seu curso, despojados dos seus rendimentos sem apelo nem agravo; professores com anos de carreira tratados como ignorantes e transformados em jornaleiros na praça de jorna…

Sem explicações e ao arrepio de tudo o que prometeram. Medidas servidas num ambiente de confusão e de vingança mesquinha contra amplos sectores da população, num autentico assalto à mão armada. O Estado, pela mão de Passos Coelho e Paulo Portas, deixou de ser pessoa de bem. Deixou de honrar contratos que mexem com o mais importante da vida das pessoas. O trabalho, o acesso à saúde e à educação, a protecção na velhice. Numa palavra, a dignidade.

Tratando os mais fracos com rigor extremo e continuando a proteger os interesses dos poderosos. Rasgando facilmente contratos com as pessoas. Sem saberem o que fazem nem para onde vão, destroem e escaqueiram tudo à sua volta.

Reforma do Estado? Ou despedimentos, diminuição de salários, diminuição da proteção social no desemprego, na doença e na velhice, empobrecimento acelarado!

Onde está o país com economia florescente que nos prometeram com o memorandum da troika?

Atentemos ao desemprego. Ficámos há dias a saber que o desemprego recuou no segundo trimestre deste ano face ao trimestre anterior – apesar de ter aumentado quando comparado com o mesmo período do ano passado. Mas é o INE quem nos diz que o número de empregos remunerados desceu nesse mesmo segundo trimestre deste ano,  reduzindo-se em cerca de 5.300, para os 3,85 milhões.

Conclusão: foi o emprego não-remunerado (*) que cresceu – uma indignidade. E é assim que nos dizem que o desemprego diminuiu!

(*) Segundo o INE, os trabalhadores não remunerados são “indivíduos que  exercem uma atividade na empresa/instituição e que, por não estarem vinculados  por um contrato de trabalho, sujeito ou não a forma escrita, não recebem  uma remuneração regular, em dinheiro e/ou géneros pelo tempo trabalhado  ou trabalho fornecido. Inclui nomeadamente os trabalhadores com emprego  por conta própria, os trabalhadores familiares não remunerados, os membros  de cooperativas de produção e os trabalhadores destacados“.

Standard
Política, União Europeia

A União Europeia hoje

Pobreza infantil

A União Europeia está mergulhada numa profunda crise de que não se vislumbra qualquer melhoria, mas, pelo contrário, um agravamento progressivo, agravamento que tal como um cancro vai metastizando todos os países, mesmo aqueles que, aparentemente, poderão parecer a salvo dele. Hoje, tornou-se claro que o tão cantado processo de integração europeia serviu, apenas, os interesses do capitalismo, dos grandes grupos económico-financeiros que agem de forma premeditada e pérfida para esconder a verdadeira questão: a crise estrutural avassaladora em que está mergulhado o capitalismo. Essa crise manifesta-se a nível económico, social, ambiental, energético, alimentar, cultural e moral.

O desemprego na zona euro subiu novamente, estando em Abril de 2013 em 12,2% no conjunto dos 17 países; 19 milhões de desempregados dos 26,9 milhões da União Europeia vivem nos países que adoptaram o euro. O desemprego dos jovens atinge números impressionantes, o desemprego de longa duração tornou-se uma praga, pois não há trabalho. Os mini-empregos na Alemanha são outra praga que já faz com que governos se queixem do governo alemão, nomeadamente, o governo belga. São já 7,5 milhões, alguns são romenos e búlgaros que ganham entre 3 a 4 euros por hora e sem quaisquer direitos e descontos para a segurança social.

Desemprego e diminuição de apoios sociais (o que também se verifica por todos os países mais ricos da UE) está a provocar um aumento da pobreza. De resto, há mesmo trabalhadores, inclusive na Alemanha, que mesmo trabalhando vivem já abaixo do limiar de pobreza. A pobreza infantil alastra como erva infestante. Uma em cada seis crianças na Alemanha vive na pobreza; ainda na Alemanha 12,8 milhões de alemães viviam abaixo do limiar de pobreza; 67,8% dos desempregados alemães estão ameaçados de pobreza. Poderia dar-vos muitos outros números de vários países, mas cito a Alemanha para tornar mais óbvio como a situação é grave mesmo na maior economia da Europa e ainda a 3ª a nível mundial. A Holanda (que silêncio à volta deste País, tão orgulhoso e presunçoso quanto aos programas do FMI) está em crise (explosão da bolha imobiliária tão grave como a dos EUA e a de Espanha) acelerada e a já com medidas de “austeridade” que só estão a gravar a situação. Um grande banco holandês (DSB) foi à falência, e outro (ABN) foi nacionalizado. (claro, o povo trabalhador que pague).

Nenhum país da zona euro está tão endividado como a Holanda.

O desemprego está a subir, o consumo a baixar e a economia a estagnar. Os novos cortes anunciados pelo seu ministro das finanças são da ordem dos 4,3 mil milhões, cortes que atingirão a saúde e outros serviços públicos. Há rumores sobre a França!

As desigualdades sociais aumentam em todos os países europeus e o sonho europeu (de quem foi o sonho?) integrador, de grande progresso social, fim do desemprego e aumento da inclusão social mais parece um nado-morto gerado na mentira e pela ganância daquela pequena percentagem de multimilionários cuja frieza de raciocínio conhecemos. Aqueles objectivos eram para se cumprir até 2020, gargalejavam eles e mais os seus capatazes pagos a preços de luxo.

Depois, face ao que se passava em 2008, com a pobreza a subir bem como a exclusão social, resolveram que o ano de 2010 era o Ano Europeu de combate às ditas. Conversa fiada para encanar a perna a rã, como se costuma dizer em jargão popular. A pobreza atinge números escandalosos, os excluídos aumentaram sob as mais diferentes formas e as desigualdades sociais sobem em flecha.

László Andor, o comissário europeu do emprego (desemprego, melhor dizendo)) afirmou que a União Europeia atravessa “a pior” crise financeira, económica e social desde que foi criada e que a zona euro está, este ano, “na posição mais vulnerável” de sempre, se forem tidos em conta o desemprego e a situação social. O comissário europeu disse também que cada vez mais cidadãos e políticos estão a começar a procurar soluções que implicam desintegração em vez do fortalecimento do projecto europeu, porque “sentem que a Europa não geriu bem a resposta à crise. Neste âmbito, László Andor reconheceu que “muitas coisas” poderiam ter sido mais bem geridas na resposta à crise. Pois é, mas convenhamos que galinhas e raposas juntas não convivem bem nem nunca conviverão.

Os povos, os trabalhadores dos países da UE, e não só, já perceberam que só a luta vigilante, persistente e organizada poderá combater o seu inimigo mortal, a raposa, que não irá desistir daquilo que o move: o lucro, seja à custa de pobreza de crianças, mortes de idosos, de jovens de asas cortadas, de reformados a sustentarem os seus filhos e a empobrecerem ainda mais, de doentes a morrerem sem tratamento.

A luta foi sempre o caminho dos povos e os povos sabem isso. Se assim não fosse, estaríamos ainda na sociedade esclavagista grega e romana de que tanto nos orgulhamos e na qual só uma minoria era considerada cidadã e com direito à democracia( e à ociosidade).

Standard
economia, Internacional, Política

Que se jodan

Que melhor que um “Que se jodan” para definir o pensamento de uma certa direita ibérica sobre os desempregados. O dichote é da autoria da deputada do PP espanhol, Andrea Fabra, quando Mariano Rajoy anunciava no parlamento espanhol o corte no subsídio para os desempregados há mais de seis meses.

O desprezo pela sobrevivência e dignidade dos seus concidadãos desempregados fica bem patente nas palavras da deputada valenciana, por sinal filha de um dirigente do PP acusado de tráfico de influência, suborno e fraude fiscal. Palavras porventura irreflectidas, mas que verdadeiramente expressam o que lhe vai na alma.

Um desprezo porventura partilhado por outros colegas de bancada, no lado de lá, como no lado de cá da fronteira. Partilhado mas silenciado. Só assim se explica que o PP espanhol tivesse levado cinco dias a reagir ao caso, fazendo-o forçado pela dimensão do que entretanto se havia tornado num “caso viral” nas redes sociais e imprensa.

Mas… ainda bem que alguém no lado do poder político expressa sem rebuço o que pensa sobre o destino dos mais de cinco milhões de espanhóis que constam nas estatísticas oficiais! Apesar de, mesmo para os sectores que defendem que o desemprego é uma virtude regeneradora, seja mais adequado chorar umas lágrimas de crocodilo pelos desempregados.

Também por cá e com a mesma urgência do governo espanhol, os desempregados foram (são) dos primeiros a pagar o “ajustamento” ditado pela troika. Sendo a condição social com menor organização e escassa capacidade reivindicativa, aos desempregados é sempre reservada a primeira linha das políticas de austeridade, quando não mesmo serem apontados como responsáveis pela sua situação.

Não vivesse esta gentinha que nos governa contida nos limites da uma sociedade em que os movimentos e as forças sociais e políticas ainda se podem organizar e exprimir, dentro e fora dos parlamentos, certamente os veríamos espezinhar por completo os direitos sociais mais básicos.

Que se jodan!

Standard
Política

ImpulsoJovem

Miguel Relvas( não, não é esse que estão a pensar; foi o clone!)veio informar o país solenemente( o outro, aquele que veio do Canadá, está doente ou…?)que o governo tinha um programa para os jovens desempregados. O nome não é lá muito feliz, mas está de acordo com o Primeiro-Ministro que é um homem de impulsos!

Pois, aí temos o IMPULSO JOVEM.

Falei com muitas pessoas acerca deste Impulso do governo e fiquei perplexa, pois não encontrei uma só que acreditasse no valor deste esforçado Impulso como solução do desemprego jovem.

Nem mesmo os dois jovens com quem falei que me disseram que iriam tentar, porque já estão sem trabalho há muitos meses e que 6 meses de trabalho, mesmo que sejam só 6 meses, darão muito jeito. Já estamos habituados a ser precários! Contudo, foram dizendo que também sabem o que lhes está reservado: trabalharem desalmadamente, ganharem o salário mínimo e depois ficarem sem nada, porque com a nova legislação laboral nem poderão voltar para o fundo de desemprego. Deixaremos de existir neste País! E diminuiremos o número oficial de desempregados!

Confesso que fiquei sem palavras! E para quê mais palavras?

O espectro da emigração está presente na cabeça daqueles dois jovens que tristemente acrescentaram que nem sabiam para onde poderiam emigrar, mas teriam que ir à aventura.

Não consigo dizer mais nada.

Standard
economia, Geral

Farsantes!

O bando de pantomineiros que tem visitado regularmente Portugal para impor as condições brutais de um pacto de agressão ao povo português em benefício do grande capital e dos ditames de uma política que procura ressuscitar o capitalismo financeiro moribundo,  agora abriu a boca de espanto com os números galopantes do desemprego. O que se verifica em Portugal, não muito diferente do que acontece no mundo, é consequência directa das políticas económicas e financeiras que eles nos impuseram e a que se submeteram os partidos que nos têm governado nos últimos trinta e cinco anos. Estes porteiros do capital não são estúpidos. Sabem melhor que ninguém que as políticas por eles impostas teriam esse resultado mais que óbvio!

Porque terão ficado surpresos? Claro que não ficaram nada surpreendidos. Como vigaristas intelectuais experimentados simularam a surpresa para logo a seguir tirarem a carta do baralho que já traziam preparada e marcada:  “falta de flexibilidade salarial”. Naquelas cabecinhas já nem o retorno a condições de trabalho similares às so século XIX, são suficientes é preciso ainda condições de trabalho mais gravosas. Quem sabe as dos servos da gleba da Idade Média, talvez a escravatura. A única coisa que lhe interessa é salvar os lucros do capital.

Istro não é um caso de insensibilidade social, como alguns acusam. É não olhar aos meios para atingir os fins. É cumprir as ordens para sustentar uma ordem ecómica-fina«ceira mundial cada vez mais insustentável mas que vai tripudiando direitos duramente conquistados em séculos de lutas pela dignidade humana.

Essa gente, sem escrúpulos com sangue de barata, são batoteiros profissionais. Baralham e distribuem cartas viciadas com um objectivo bem definido. Sabem o resultado de cada jogada. Como têm as cartas todas marcadas, vão subindo a parada. Existindo um governo que lhe sirva de guarda-costas e uma oposição que lhe abre alas mesmo quando eleva timidamente a voz, ficam imparáveis esmagando o povo trabalhador, proletários , pequenos e médios comerciantes ou industriais. Esmifram até ao último cêntimo, à última gota de sangue. Tudo para glória do grande capital financeiro e triunfo dos direitos humanos.

A gente desta, vigaristas e batoteiros profissionais travestidos de tecnocratas, que viajam a soldo do grande capital semeando a miséria e plantando lucros, devia-se dar um castigo público. Eram besuntados de alcatrão e cobertos de penas. É o que lhes temos que fazer antes que Portugal seja um cemitério de destroços. Façamos ouvir a nossa indignação!

Standard
Política, Trabalho

Coisas que gostava de ter escrito I

«Não atribuo às infantis declarações de Passos Coelho sobre o desemprego nenhum sentido político ou ideológico. Apenas a prova de que é possível chegar aos 47 anos com a experiência social de um adolescente, a cargos de responsabilidade com o currículo de jotinha, a líder partidário com a inteligência de uma amiba, a primeiro-ministro com a sofisticação intelectual de um cliente habitual do fórum TSF e a governante sem nunca chegar a perceber que não é para receberem sermões idiotas sobre a forma como vivem que os cidadãos participam em eleições. Serei insultuoso no que escrevo? Não chego aos calcanhares de quem fala com esta leviandade das dificuldades da vida de pessoas que nunca conheceram outra coisa que não fosse o “risco”.»

Daniel de Oliveira, no Expresso online

Standard
Política

Passos Coelho e a Cultura do Risco

Já em anterior post me tinha referido ao cinismo, à  desfaçatez, à desumanidade de Passos Coelho face ao desemprego que a política de roubo e de saque que o      seu governo, totalmente cumpridor das ordens do grande patronato, está a impor ao país e aos trabalhadores.

Depois de ter ouvido as últimas declarações do dito Coelho sobre a grande oportunidade que o desemprego deve representar, fico sem palavras para qualificar um tal primeiro-ministro. Já não sei se hei-de pensar que a loucura o tomou definitivamente de refém tal foi a subida meteórica que o alcandorou a tal tacho ou se já sofria de uma qualquer perturbação ou deficiência psíquica que me passou despercebida até agora.

A sua tese da cultura média da aversão ao risco, nomeadamente dos jovens que já mandou emigrar, fará as delícias do grande patronato que ainda não se tinha atrevido a caucionar o trabalho precário e o despedimento de milhares e milhares de trabalhadores com uma tal tirada antropológico-social.

É de Conde de Abranhos! Vivam os precários e os desempregados felizes, pois são os corajosos, os aventureiros, os que, como dizia o meu amigo noutro contexto: «não comem o mel, comem as abelhas.»

O Primeiro – Ministro, pelo menos, antes de pronunciar o arrazoado, poderia ter ouvido o seu Ministro das Finanças que, valha-o Deus, sempre leu alguma coisa sobre os malefícios do desemprego.

Passos Coelho não quer dizer-nos que a génese do desemprego está relacionada com as leis objectivas do mercado e com as transformações do modo de produção capitalista verificadas nos últimos decénios com o desenvolvimento mais rápido das tecnologias de produção e, principalmente, com as novas formas de acumulação do capital, em especial, do capital especulativo que prescindindo da produção gerou um modelo de sociedade que tem sido nomeada por alguns de sociedade do desemprego, mesmo quando, hipocritamente, tecem loas ao trabalho como função   de coesão e de inclusão sociais.

O trabalho é importante na construção da identidade e da realização pessoal bem como da integração social. Esta centralidade antropológica do trabalho gera, por isso, muitos problemas aos que caem na situação de desempregados.

Sr. Primeiro-ministro, procure um pouco mais de conhecimentos, porque o saber não deveria ocupar lugar na sua cabecinha!

Muitos estudos (e não só os dos alemães que referenciou Herr Gaspar) comprovam que o desemprego é uma ameaça séria à saúde mental do desempregado, mas também afecta todo o seu agregado familiar e, em geral, toda a comunidade.

O desemprego provoca um conjunto de efeitos negativos no individuo tais como:

  • Perda da felicidade
  • Insatisfação com a vida
  • Baixa auto-estima
  • Stress generalizado
  • Violência e discórdia familiar
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Abuso de álcool e outras drogas
  • Suicídio

Sr. Primeiro-ministro, o desemprego faz parte da lista dos piores factores adversos a par das catástrofes naturais, de morte de pessoa amada,de  violação e de doença grave.

Por que razão o seu governo nomeou uma comissão especial para tratar da prevenção do suicídio que se sabe aumentar com a crise e com o desemprego que ela gera?

Perca uns minutos e leia, leia alguns dos muitos estudos que relacionam o desemprego com uma deterioração do estado de saúde mental das pessoas que o sofrem e venha ( se é que tem sentimentos e competência cognitiva para isso) pedir desculpa ao milhão e tal de portugueses que sofrem as consequências nefastas de tal calamidade e daqueles que o Sr. irá mandar para a mesma situação.

Julgo, porém, que não terá nem o discernimento nem a grandeza para fazer tal coisa.

Assim, só a luta cada vez mais ampla nos resta para o fazer sair deste país e, assim, ir estudar qualquer coisa em Paris ou Nova Iorque  se conseguir as “cunhas” necessárias!!!

Deixo aqui um apelo veemente aos desempregados deste País: não se isolem, não  deixem de se juntar, organizar e lutar. 

Standard
economia, Política

Dois números

15,5% e 3,3% são os dois números trágicos que sintetizam o resultado da também trágica governação do país neste ano da graça de 2012. As previsões são da Comissão Europeia.

Os 15,5% de taxa desemprego são um valor inaudito, nunca visto em Portugal, e o seu crescimento parece não abrandar.

Sucedem-se as notícias sobre o encerramento e deslocalização de empresas, despedimentos e salários em atraso. Em finais de 2011 eram 770 mil os desempregados oficiais, número que não parou de subir desde então e que certamente mais aumentará com a “ajuda” da recém-aprovada legislação laboral que visa a quase completa liberalização dos despedimentos.

O outro lado do desemprego são os 3,3% previstos para a recessão em 2012, isto é, para a diminuição do produto interno bruto face a 2011, ano em que este indicador havia já diminuído 1,6%.

O crescimento das exportações está a abrandar, fruto da estagnação nos principais mercados europeus, enquanto se aguarda com expectativa o desenrolar da crise financeira espanhola, um dos principais parceiros comerciais do país (23% das exportações portuguesas) e cujas consequências não deixarão de se fazer sentir na nossa economia.

O mercado interno está também a afundar-se rapidamente, com amplas repercussões em sectores como o comércio, a restauração e o turismo. A diminuição das receitas fiscais reflecte todo este panorama e o Estado vê-se ainda pressionado pelo aumento de despesa com subsídios de desemprego.

Qual a estratégia governamental? Que tem, aliás, a desculpa de ser imposta pela troika. Ao que parece uma estratégia digna de khmers vermelhos – isto é, destruir o tecido produtivo para fazer florescer uma nova economia, tal como os discípulos de Pol Pot experimentaram nos idos dos anos setenta.No nosso caso na miragem de uma economia liberal e com os governantes assistindo de plateia à degradação e à destruição massiva da economia real e do emprego. Na esperança de ver um dia florescer uma economia qual fénix renascida, com baixíssimos e “competitivos” custos de mão de obra (inclusive a qualificada), sem contratação colectiva e com um Estado desobrigado de funções sociais – um serviço nacional de saúde, uma segurança social e uma escola pública mínimos.

Mas com um dos mais elevados níveis de esforço fiscal europeu. Compreende-se?

Standard
economia, Política, Trabalho

Desempregados, um mal menor?

Como num dique que já cedeu à pressão, assim o número de desempregados sobe todos os dias, atingindo níveis assustadores e desconhecidos até à data, destruindo o equilíbrio de milhares de famílias e do próprio país.

Não se percebendo como está o Governo a combater tal flagelo, ouvem-se anúncios sobre medidas que passam ao lado do problema, como o “alargamento” da “rede de cantinas sociais” ou uns esparsos apoios financeiros à contratação. Entretanto terminou ontem a consulta pública sobre as alterações ao Código do Trabalho (ver resumo abaixo), que se arriscam a lançar mais achas no incêndio descontrolado do desemprego.

Com as empresas estranguladas por uma economia deliberadamente atirada para a recessão, certamente que os defensores do “reajustamento” da economia portuguesa devem estar satisfeitos. Satisfeitos com a destruição de empregos conjugada com a baixa dos rendimentos disponíveis das famílias, já que, como gostam de propalar, “vivemos acima das nossas posses”. Por detrás, o objectivo de fazer descer os custos do factor trabalho.

Entretanto vem o ministro das finanças dizer que para o ano iremos voltar a crescer. Depois de tanto decrescer (quebras do PIB de 1,6% em 2011 e 3,1% em 2012, segundo projecções do Banco de Portugal) não é claro que voltemos a crescer, pese a mesma projecção do BP prever um aumento do PIB de 0,3% em 2013. O problema é o grau de destruição de empregos e de desagregação social que se atingirá até lá.

Sob a crescente pressão da opinião publica e dos meios de comunicação social no que se refere aos impressionantes números atingidos, quer pelos 35,4% de desemprego jovem (até aos 25 anos), quer pelos 14,8% de desemprego em geral, o Governo anunciou a criação de uma “comissão” dirigida pelo ministro adjunto e dos assuntos parlamentares, o polivalente Relvas. Para estudar e propor medidas para a criação de emprego jovem. Julgávamos nós que quando estes senhores foram eleitos já saberiam o que fazer. Puro engano. O que traziam inscrito na sua agenda política era a liberalização dos despedimentos, a redução das indemnizações e a fragilização de vínculos. E até sabiam que começariam por aí, como começaram. E depois? Qual o plano para lidar com o aumento do desemprego? Até ver, nada!

O pior é que a nova maioria que governa o país tem em vias de aprovação medidas de alteração do Código de Trabalho de muito duvidosa eficácia no combate ao desemprego. Como podem a criação de bancos de horas individuais e grupais, a eliminação de quatro feriados ou a eliminação da majoração dos três dias de férias, contribuir para esse combate? Segundo a CGTP-IN, considerando apenas as duas últimas destas medidas, as mesmas horas de trabalho poderão ser efetuadas com menos 98 mil trabalhadores. E se a isto se acrescentar a facilitação de despedimentos e as indemnizações mais baratas…

Será que o desemprego os preocupa mesmo ou consideram-no um “mal menor”, um dano colateral, na aplicação prática da sua cartilha ideológica?

Principais alterações previstas (aplicadas ao sector privado)

– Criação de um banco de horas individual e grupal; o banco de horas individual permite que um trabalhador possa trabalhar mais duas horas por dia, até 150 horas por ano. No caso do banco de horas grupal, tal significa que toda uma equipa de funcionários pode ser abrangida pela medida;

– Corte para metade no valor pago pelas horas extraordinárias. Na primeira hora extra, o valor a pagar terá um acréscimo de 25% (contra os atuais 50%) e de 37,5% nas horas seguintes (contra os atuais 70%). Caso o trabalho suplementar seja realizado ao fim de semana ou feriado, o trabalhador ganha apenas 50%, contra os atuais 100%;

– Trabalho extraordinário deixa de dar direito a descanso compensatório, que actualmente representa 25% de cada hora de trabalho suplementar (15 minutos);

– Redução de quatro feriados: Corpo de Deus, 15 de agosto, 5 de Outubro e 1 de Dezembro;

– Encerramento das empresas nos casos de “pontes”, por decisão do empregador, com desconto nas férias;

– Eliminação da majoração entre 1 e 3 dias de férias, acrescidos aos 22 dias úteis. Ou seja, os portugueses deixarão de usufruir dos 25 dias de férias anuais e passam a gozar apenas 22;

– Facilitação dos despedimentos e indemnizações mais baratas para as empresas. Mal entre em vigor a nova lei, contam-se 20 dias por cada ano de trabalho e a remuneração que serve de base ao cálculo não pode superar 20 salários mínimos;

– Empregador pode avançar com despedimentos por extinção do posto de trabalho, mesmo no caso dos funcionários contratados a prazo. É igualmente possível avançar para o despedimento por inadaptação sem que ocorram mudanças no posto de trabalho;

– Introdução de um conjunto de alterações que agilizam e facilitam o recurso à redução do período normal de trabalho ou suspensão do contrato de trabalho por motivo de crise empresarial (lay-off).

Standard
economia, Política

Pobres e desempregados

Cerca de 16 milhões e quatrocentas mil pessoas estavam oficialmente desempregadas nos dezassete países da zona Euro no passado mês de Novembro, isto é 10,3% do total da população activa deste conjunto de países, valor que em Portugal atingiu então 13,2% – segundo dados do Eurostat.

Sendo o desemprego um dos maiores flagelos pessoais, em Portugal a situação atinge agora contornos assustadores. No espaço de um ano a taxa de desemprego oficial aumentou 0,9% (era de 12,3% em Novembro de 2010) estimando-se que continue a progredir, conforme o demonstra a perspectiva sobre evolução do desemprego nos próximos 12 meses publicada pelo INE. Portugal tinha, ainda segundo os dados do Eurostat, a sétima mais alta taxa da UE, numa lista encabeçada pela Espanha (22,9%), seguida da Grécia (18,8%), Lituânia (15,3%), Letónia (14,8%), Irlanda (14,6%) e Eslováquia (13,5%).

E evolução da taxa de desemprego na última década é bem a medida do falhanço das políticas seguidas por sucessivos Governos. A linha que une os 3,9% registados em 2000, os 7,6% cinco anos depois e os 14% que se poderão atingir em 2012, é a maior manifestação de que a década do euro foram dez anos perdidos em matéria de criação de emprego. Aliás, enquanto no ano 2000 eram mais de 5 milhões (5.020,9) os indivíduos registados nos diversos regimes de emprego, dez anos depois esse número era 4 milhões e 978 milhares. Elucidativo!

O estudo do organismo europeu de estatística permite-nos ainda compreender a dimensão deste problema junto dos mais jovens: 30,7 % dos jovens portugueses com idade activa abaixo dos 25 anos estavam desempregados. Valores ainda mais dramáticos são os que registam alguns outros países, casos da Espanha (46,9%), Grécia (46,6%) e Eslováquia (35,1%). Facto que está na base no regresso em força da emigração de jovens, agora em direcção a economias emergentes, casos do Brasil e Angola. Uma emigração significativamente mais qualificada que a registada em décadas passadas e retira ao país os mais aptos – sim, porque são, em regra, os mais aptos e dinâmicos que arriscam sair da sua “zona de conforto”, como um ajudante de ministro referiu numa amarga ironia, esquecendo-se que é o país quem perde quando jovens qualificados têm que procurar no estrangeiro rumo para a sua vida.

A “democratização da economia” anunciada pelo primeiro-ministro visa contornar o problema pela clássica estratégia de embaratecimento do custo do factor mão-de-obra (aumento do horário e diminuição de rendimentos de trabalho) e o aumento da precarização de vínculos – fingindo esquecer que nesse “campeonato” outros fazem já muito “melhor” que nós. Isto sem esquecer os baixos custos do factor trabalho de Portugal é já destacado titular, para o que bastará comparar o salário mínimo nacional praticado no país com o dos restantes parceiros europeus.

Conjugada com a recessão para que o país foi atirado, não são de esperar boas novas em matéria de emprego no ano que agora se inicia.

Standard
Geral, Política

Cristina e Pedro

A estória é curta mas diz muito. Dois irmãos, Cristina e Pedro, de 53 e 57 anos, decidiram-se pelo suicídio atirando-se para debaixo de um comboio na estação de Paço de Arcos. Viviam há pouco mais de um ano como sem abrigos, após terem perdido a casa onde habitavam com a mãe quando esta faleceu. No bolso das calças de um deles foi encontrada uma carta em que se pode ler que se “sentiam abandonados e viviam em pobreza extrema devido à crise económica”, segundo reportou fonte policial ao jornal Correio da Manhã.

Provavelmente este caso não terá só que ver com a crise económica e o desespero que progressivamente se vai apossando de mais e mais pessoas – ele é também o símbolo de uma época. De isolamento no meio da multidão urbana e de desinteresse pelos menos ágeis.

Mas é irracional e desumano que quando as crises económicas se fazem sentir, sejam os mais fracos dos fracos os primeiros a ser punidos. E aí os desempregados estão na primeira linha, como os nossos Governos bem têm mostrado, considerando-os frequentemente uma espécie de “culpados” pelos problemas do país e muitas vezes dando mesmo a entender que os desempregados gostam de ser… desempregados. Por isso, seguindo uma cartilha que não se preocupam em perceber, aprovam sucessivas medidas para diminuir o valor e o tempo dos subsídios de desemprego. E sem preocupação de que a condição de cada um desses homens e mulheres seja diferente e única.

Quantas Cristinas e Pedros andarão por aí? Reduzidos a números!

Standard
Geral

Não a esta austeridade!

4ª feira, dia 29, de Norte a Sul, de Este a Oeste a Europa de quem trabalha faz uma grande jornada de luta e protesto contra as injustiças sociais, o desemprego e as medidas de austeridade que vão sempre aos dos mesmos para manter os privilégios de uma ultra minoria.

Em Bruxelas, espera-se que mais de cem mil trabalhadores façam ouvir a sua voz, enquanto os ministros

das finanças da União Europeia, protegidos por paredes insonorizadas das suas alcatifadas salas

fazem os jogos florais económicos caminhando, cegos e surdos à realidade, para o abismo.

O rastilho da urgência em mudar radicalmente de políticas está a ser ateado.

Em Portugal, às 15h00 no Porto e em Lisboa grandes manifestações de protesto contra o Desemprego, as Injustiças Sociais, a Destruição dos Serviços Públicos das políticas de direita, conduzidas pelo PSD e PS sempre com o apoio do CDS.


NÃO A ESTA AUSTERIDADE!

Standard
Geral, Política

Desemprego e revisão constitucional

O desemprego (ou a sua perspectiva) é hoje um dos maiores flagelos que se colocam ao Homem urbano. A elevação civilizacional do último século na Europa é, em boa parte, fruto da estabilização da relação entre empregador e empregado. Sem essa relação todos os trabalhadores continuariam a ser jornaleiros – essa figura de trabalhador manual associada ao mundo rural e ao trabalho à jorna, ao dia.

A existência de contratos de trabalho e, mais ainda, de contratação colectiva, veio colocar algum equilíbrio na balança trabalho-capital. É que o lado do trabalhador individual é o mais fraco na maioria das relações laborais. Que pode um Homem que apenas conta com a sua força e inteligência para trabalhar contra o poder de uma organização?

Com a globalização têm os poderes económicos (com ajuda de alguns políticos) procurado impor padrões mais baixos, isto é, nivelar os direitos por baixo: menos salários, menos direitos e, sobretudo, menos garantias nos vínculos contratuais. Infelizmente já não estranhamos o trabalho à hora, ao dia ou à semana. Com ligeireza apontam como causas as práticas dos países de mão-de-obra barata e da desregulação. Isto é, em vez de se puxar “para cima” esses países e os respectivos povos, aponta-se, cinicamente, o seu exemplo como a razão para as desregulações que pretendem impor por cá.

A recente discussão em torno da revisão constitucional assim o indicia. Suscitada pela primeira versão da proposta do PSD em que aventava a retirada do texto constitucional da expressão “sem justa causa” como motivo de despedimento. A inscrição de “razão atendível” para despedimento pode ser o levantar da tampa para a mais completa desestruturação social de um Estado de economia frágil e com escasso investimento e criação de emprego. Cientes do alarme social que provocaram, os sociais-democratas recuaram agora para a fórmula “razões legalmente atendíveis”, na esperança de virem posteriormente a ganhar a liberalização dos despedimentos em sede de legislação ordinária. Um recuo táctico que mostra que a concepção se mantém.

Haverá que seguir com atenção os debates e os acordos que se vão seguir durante o processo de revisão constitucional que agora se iniciará. Esperemos que não haja a tentação de trocar esta garantia constitucional – que separa muitos assalariados da condição de desempregados à primeira curva – por acordos relativos a questões mais imediatas, caso do orçamento do Estado para 2011

Será então ocasião para discutir se o país não avança por causa da garantia constitucional ao emprego – como alguns passam a vida a apregoar, transformando o assunto na varinha mágica que resolveria os problemas do nosso (não) crescimento económico. Um bom momento para clarificar posições políticas.

Recordemos que Portugal é, desde 1991, subscritor da Carta Social Europeia.

Standard
Política

Um Homem às Avessas

Em Junho o desemprego atingiu um valor de 10,8 %, valor pela primeira alcançado em Portugal, país que passou a ocupar o 4.º lugar dos países da CEE com maior taxa de desemprego. Um número muitíssimo preocupante para todos, menos para o Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional que, no meio de vários números, conseguiu vislumbrar um valor positivo. Valter Lemos passa como gato pelas brasas para sublinhar que, pela primeira vez nos últimos trinta meses, as inscrições nos Centros de Empregos reduziram-se 0,1%. É para ele um extraordinário sinal que aponta para uma futura recuperação do emprego. Nesse inenarrável personagem isso tem sido uma argumentação recorrente, sempre de peito feito a enganar o futuro, sempre esgrimindo com a excalibur dos números positivos que descobre onde mais ninguém é capaz de os encontrar.

Nele, não é propriamente uma novidade. Sempre foi um mestre a manipular números. Na sua passagem pelo famigerado Ministério da Educação do 1.º governo Sócrates, rapidamente os números do insucesso escolar se transformaram em sucessos quase retumbantes. Valia tudo, até a bengala de exames nacionais que em vez de aferirem os conhecimentos adquiridos facilitavam a vida a quem pouco tinha aprendido. Por essas e por outras foram recompensados. Como não havia tachos em número suficiente para distribuir entre tão abnegados servidores, dispostos às mais cavilosas manobras para o triunfo do paradigma socrático, o Lemos foi enfiado na Secretaria de Estado do Emprego e da Formação Profissional. A outra, sempre era a chefe, foi premiada com a presidência da FLAD, Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, decerto com a esperança que a sua manifesta incompetência passe despercebida.

Valter Lemos é que não perde qualidades, “sempre fui mais de mandar que de fazer”. Já se tinha percebido e, se calhar foi a seu mando que se verificou a tal redução de 0,1% , que esfrega na cara dos mais descrentes. Desvaloriza o efeito da sazonalidade, que todos os anos se repete nestes meses, e não explica a anulação súbita de 50.782 desempregados, a mais alta de sempre de uma só vez. Anulação que pode ocorrer por diversos motivos: por se ter passado à reforma, por se faltar à obrigatória comparência na junta de freguesia do local de residência ou até ao actualmente mais improvável facto de se arranjar emprego, etc. Como ninguém esclarece como, de repente, desaparecem tantos desempregados para aparecer aquele número pequenino mas mágico, é legitimo atribui-lo à voz de comando de que Lemos tanto se gaba, resolvendo a ansiedade de ter um número que, na sua visão estrábica, desvie as atenções de se ter atingido a maior percentagem de sempre no número de desempregados e que é superior em 14,6% à taxa do período homólogo.

Aliás, quando em finais de Maio, a OCDE fazia uma previsão de 14,4 % , o Lemos saiu logo a terreiro para garantir que esse número nunca seria atingido. Como se vê a previsão é que foi feita por defeito. Uns meses antes, em Novembro, quando o desemprego tinha subido na Europa comunitária 0,1%, fixando a média em 10%, e em Portugal já se ia nos 10,3%, Lemos esmagava esse número, porque tínhamos deixado de ocupar a 6.ª posição e tínhamos passado para a 8.ª, assegurando que isso era uma melhoria significativa que prenunciava recuperação futura. Viu-se! Agora caímos pelo plano inclinado da classificação e logo para o 4.º lugar, só tendo à nossa frente a Irlanda, a Eslováquia e a Espanha, a campeã do desemprego.

Cão de fila do modelo socrático, este manipulador de meia-tapaca, tem o desplante de afirmar que “nenhum país pode ter um sistema de apoio ao desemprego que desincentiva as pessoas a voltar ao mercado de trabalho”. Claro que é um dos grandes entusiastas do fim dos apoios aos desempregados, como se isso não fosse um direito e uma precária tábua de salvação. Um adepto da reintrodução das praças de jorna.

Possuído por essa fúria normalizadora não deve duvidar que uma das maneiras de reduzir o número de desempregados é matá-los à fome, o que não deve andar longe da realidade, sabendo-se os problemas com que se começam a debater as estruturas que tem dado apoio a quem luta pela sobrevivência. Estamos a reviver os cenários dos romances de Dickens e Zola.

Isso não comove Valter Lemos mais empenhado no triunfo estatístico a qualquer preço. Para essa gente as pessoas não são seres humanos, são números!

Standard