CDS, Geral, Passos Coelho, paulo Portas, PSD

A Porta de Duchamp e Passos Coelho

Porta de Duchamp
Quando vivia em Paris, no pequeno apartamento da rua Larrey, Duchamp fez instalar dentro de casa uma porta que não podia estar aberta nem fechada porque estava sempre aberta e fechada ao mesmo tempo.

A resposta que Passos Coelho deu ontem na Assembleia da República, após recuperar a memória compulsando documentos, abre a porta de Duchamp.

Diz ter recebido pagamentos de despesas de representação que fez a trabalhar para a Tecnoforma ou para a ONG que essa empresa inventou e usava para captar a dois bolsos dinheiros da CEE, com formações sem utilidade visível a não ser sacar dinheiros comunitários como muito boa gente, com o mesmo ou equivalentes expedientes, o fez. Lembremos que, paralelamente, a Bolsa de Lisboa viveu, não por acaso, um dos seus períodos mais eufóricos.

Se Passos Coelho não recebeu honorários mas despesas de representação, que a lei não obriga, não obrigava, a declarar se forem consideradas no exercício de actividade profissional, o primeiro-ministro está a fechar a porta de Duchamp que inevitavelmente abre para a aldrabice que fez quando, ao deixar de ser deputado, pediu subsídio de reintegração por ter exercido o cargo em regime de exclusividade. Sublinhe-se que nunca pediu a exclusividade por uma xico espertice rasteira, para receber o suplemento que lhe era atribuído por ser vice-presidente da bancada do PSD.

Numa entrevista o presidente da Tecnoforma, foi muito claro. Passos Coelho era um facilitador. Calcula-se de que facilitação se tratava. Andar pelos corredores do governo a bater às portas. Principalmente à porta do seu amigo, então Secretário de Estado, Miguel Relvas. Passos Coelho era uma gazua das portas dos gabinetes do governo. O que nada abona ao seu currículo.

Claro que é relevante saber se almoçou por 100 euros ou por cinco mil euros. Se de facto, ao longo de três anos, recebeu 150 mil euros, qualquer coisa como um ordenado mínimo actualizado a cada três dias, de despesas com almoços e viagens o que não são gastos de uma pessoa remediada,

As reacções das bancadas que apoiam o governo ao strip-tease incompleto e mal executado por Passos Coelho na AR foram lindas de se ver. Com a lágrima ao canto do olho a aplaudir o quase mendicante primeiro ministro, querido líder que andou uma semana a correr e a uivar atrás do rabo, em grande sofrimento até conseguir reavivar a sua selectiva memória que continua a não se lembrar de quanto embolsou em viagens e comezainas.

Também foi comovente ouvir Paulo Portas a reiterar a confiança na palavra de Passos Coelho. Um Paulo Portas convertido irrevogavelmente à sobrevivência, abjurando a pés juntos o P. Portas do Independente, aos saltos sobre o seu túmulo, renegando-o três vezes por trinta dinheiros.

Tanguismos e trafulhices à portuguesa, que condenam sisificamente Passos Coelho a ficar encerrado numa sala equipada com a Porta de Duchamp. Nunca sairá de lá.

Advertisement
Standard
Geral

Costa Amigo, o Relvas e o Isaltino estão contigo

Image

 

Há um novo paradigma nas eleições democráticas das mais ou menos abertas às mais mais ou menos fechadas ou mesmo completamente fechadas. É o paradigma António Costa, eleito por unanimidade presidente da Comissão Executiva e do Conselho Metropolitano da Área Metropolitana de Lisboa (AML), depois de afastar, como não quer a coisa mas não deixando outra saída em quem tem coluna vertebral, coisa de que ele tem uma vaga ideia do que seja, que não fosse abandonar a votação para não legitimar tamanha tropelia. Um caso de estudo em regimes democráticos.

Pela mão do amigo Miguel Relvas, António Costa sem mexer uma palha seria sempre eleito para uma das presidências da Área Metropolitana de Lisboa. Mesmo que tivesse havido uma abstenção abstrusa e um único votante no concelho de Lisboa, ele próprio a votar em si-próprio, a lei Relvas garantia um dos cargos de presidência de uma das comissões da AML. Malhas que as democracias tecem, cerzindo as leis à medida dos interesses de momento, como aqui já foi explanado por Demétrio Alves no “post” O Eleitor de Oiro. Emalhamentos que xicos-espertos, sem rei nem roque, costuram  para legalizar processos tortuosos, em que os fins justificam os meios, para que o Estado de Direito continue a ser o estado do direito dos mais fortes à liberdade atropelando todos os princípios e qualquer ética. António Costa, mal a lei foi publicada, deve ter enviado um cartão de agradecimento ao amigalhaço Miguel Relvas, antecipando os abraços democráticos que devem ter trocado, rebolando-se de gozo com as consequências da aplicação da lei. A democracia fica sempre mal servida por Costas & Relvas.

O Miguel Relvas bem deve ter corado de vergonha quando António Costa vituperou a falta de coragem para levar a lei até às últimas consequências. Ter deixado a porta entreaberta para critérios da lei anterior continuarem em vigor. Pela lei Relvas, o partido cujos municípios somassem maior número de eleitores, independentemente dos resultados eleitorais, elegeria um presidente de um dos órgãos. Para ocupar os dois órgãos seria necessário ter também o maior número de presidências de municípios. Pelo primeiro critério, tendo sido António Costa, eleito presidente de Lisboa mesmo que, como já referimos, com a hipótese absurda de haver uma abstenção desaustinada e um só votante, o Costa no Costa, a sua eleição estava garantida. Como se está a ver nada mais transparentemente democrático!

Pelo segundo critério é que a porca torce, torcia o rabo. A CDU ganhou nove municípios, com um total de 233.414 votantes, o PS, seis com um total de 355.114 votantes (só Lisboa contribuiu com 32,8% desses votos numa coligação que era um ponto de encontro de várias vontades e opções ideológicas, como lembrou Helena Roseta para sublinhar a pluralidade de uma lista, com vários grupos de cidadãos organizados, que se albergava debaixo da bandeira do PS, opinião que António Costa rebateu soezmente no discurso de vitória em que quase afirmou, para Seguro e o PS ouvirem evidentemente, que a vitória se devia a ele e só a ele) o PSD dois, com um total de 196.524 votos, e o delfim do Isaltino, toma lá aquele abraço comovido, que ganhou Oeiras com 25.071 votos.

O PCP propôs ao PS que cada um dos partidos ocupasse a presidência de um dos órgãos da Área Metropolitana de Lisboa. Hipótese liminarmente rejeitada por António Costa que. como bom democrata, queria todo o poder para ele nem que  tivesse que se deitar com o diabo.

A única saída era aliar-se aos presidentes de câmaras ganhas pelo PSD e, o mais fácil, à Câmara de Oeiras, ganha por um discípulo desse autarca exemplar que foi Isaltino Morais. Um exemplo também para o António Costa, sobretudo em anos em que vai rever o PDM. Isaltino grande líder estou contigo, o teu seguidor será meu vice-presidente.

Homem avisado, António Costa preparou o terreno em Lisboa, rasgando uma regra tácita, em que as vice-presidências da Assembleia Municipal eram ocupadas pelas outras forças mais votadas. Sempre virado para a direita enquanto fala para a esquerda ouvir, numa conversa fiada que tem treinado desde a juventude, afastou a CDU de qualquer acordo, antecipando o que iria fazer na Área Metropolitana. Com essas alianças somou tantas câmaras, nove, quantas as que a CDU ganhou. Estava desfeito o nó que o amigo Miguel Relvas não tinha desfeito. António Costa foi eleito por unanimidade absoluta, obtida com a ausência de indignação justificadíssima dos autarcas CDU, É o novo paradigma democrático, o Paradigma António Costa, um político cheio de qualidades, quase nenhuma com qualidade. Ainda há pouco tempo, no programa Quadratura do Círculo, insurgia-se de forma pouco habitual no seu estilo de experimentado e meloso intriguista, contra a alteração estatutária que António José Seguro propunha, em que as propostas de listas de candidatos a deputados pelo PS  abandonariam o método proporcional e a lista vencedora ficaria com todos os candidatos, nem que vencesse por um voto. Para António Costa isso acabava com a suposta marca de água do PS que seria a pluralidade interna. E, coisa rara nele, engrossava a voz enxofradíssimo, quase a ultrapassar as fronteiras da exaltação que  essa proposta lhe causava, apesar de tudo bem mais aceitável que a celerada lei Relvas que o beneficiava descaradamente e de que não discordava de algum modo. Essa gente é assim, sempre pronta para o contrabando ideológico e de princípios desde que saquem vantagens.

Bem pregava Frei António Costa contra as malvadezas do Seguro, malvadezas que só o são dentro do PS mas que são óptimas se, em variante menos justificável e mais violenta, fazem tábua rasa de qualquer veleidade democraticamente pluralista, quando aplicadas na Área Metropolitana de Lisboa, por via de uma lei miserável que abençoou em silêncio e logo  utilizou, fazendo  as alianças espúrias necessárias para ultrapassar os buraquinhos deixados pelo legislador e que punham em perigo o poder absoluto. Ou talvez as alianças não sejam nada espúrias e revelem, para quem ainda tenha ou tivesse ilusões, que António Costa, como o rematador de pólo aquático da Palombella Rossa, aponta à esquerda, sempre à esquerda para rematar à direita, sempre à direita. Aliás António Costa especializou-se em dizer coisas de esquerda, que chegam a ultrapassar a esquerda pela esquerda, para melhor fazer políticas e, sempre que necessário, alianças à direita. Nunca se viu, em todo o seu já longo percurso político, António Costa fazer outra coisa que não seja rasteirar a esquerda na primeira curva em que com ela se cruza. Um artista faceto, um político sem príncipios, um homem da confiança do grande capital como se viu ainda há bem pouco tempo quando fez um ultimato a Seguro, em que acabou por recuar só para tomar mais balanço. Apercebeu-se que ainda não tinha chegado a sua hora apesar dos apoios angariados entre correlegários e os externos que os representantes do capital lhe garantiam. Por ela tem feito tudo, com a habilidade que se lhe reconhece, dando doces mas vigorosas dentadas nos adversários colegas de partido, puxando os cordéis nos bastidores, largando bombas de relógio nos corredores do Rato, rasteirando e intrigando brilhantemente para que não apareça outro Sócrates que lhe atrase o destino para que se acha predestinado e que desde a juventude, as elites socialistas preconizam.

Ao assistir a estas manobras, lembrámo-nos da primeira aventura autárquica de António Costa, quando em 1993 concorreu ao município de Loures. Ainda estavam os votos mal contados, a votação era-lhe favorável. Não perdeu tempo a fazer um extemporâneo discurso de vitória. Na RTP 1, entre vários comentadores, Cáceres Monteiro e Nuno Rogeiro. Cáceres Monteiro babava-se a ouvir António Costa cantando vitória.. Depois a má notícia, Costa tinha perdido. Cáceres Monteiro, muito rápido, quase lacrimejante, desatou a fazer o elogio de António Costa, a lamentar a perda que era para Loures ter atirado para a lixeira a oportunidade de ser dirigida por tão promissor político, ter dado a vitória ao engenheiro “Demérito” Alves (sic). O alvoroço tem desses imprevistos. Nuno Rogeiro sarcástico corrigiu-o. Cito de memória: “Não é Demérito é Demétrio Alves, e você ainda não percebeu que a população de Loures preferiu o ferrari ao burro?!” Aludindo há corrida que o Costa tinha promovido entre um burro e um ferrari na Calçada do Carriche,

Agora o burro, que não é nada burro como os burros não o são, vingou-se e de braço dado com Miguel Relvas e Isaltino Morais, dois democratas estrénuos como ele e de gabarito equivalente, ocupou todos os cadeirões presidenciais da Área Metropolitana de Lisboa. Reconheça-se que o burro vai longe. É um animal político trabalhador, obstinado, com objectivos bem definidos que mascara habilidosamente para os adversários, dentro e fora do seu partido, só deles se aperceberem quando já não há, ou quase não há, retorno. Consumado politiqueiro, onzeneiro experimentado, tem poses e discursos de sereia que disfarçam a voracidade saturnina. Mesmo quando parece recuar está a avançar dando a volta ao texto. O tempo em que teve hesitações que foram escolhos na sua carreira, parece definitivamente ultrapassado. No pântano da democracia, enquanto a democracia for um pantanal mal cheiroso, António Costa está entre os que prometem ir mais longe. Terá é que não ser tão sofrego como na referida edição da Quadratura do Círculo e não desatar a correr atrás do seu fado, para recuperar o tempo e as oportunidades que por maus cálculos deixou passar. Dona Constança Vitorino anda a fazer pela vidinha e os outros não passam de uns seguros de trazer por casa. Oh Costa, tenha calma, nem sempre terá Relvas por muleta, mas os ventos, maus ventos para todos nós, são-lhe favoráveis.

Standard
Política

O adeus de um futuro ex-licenciado

Miguel Relvas, personagem de opereta desde a mais tenra idade, demitiu-se, até que enfim, do Governo.

Sabe a pouco, mas já é alguma coisa.

Agora falta o resto…

Como todos os megalómanos, o homem que despachou cadeiras universitárias à velocidade da luz não resistiu à tirada grandiloquente na hora da despedida. “Sei que só a história me julgará convenientemente e com distância”, disse, com cara de caso, o ex-ministro que deve estar quase a passar também a ex-licenciado, condição que é, aliás, muito mais rara do que a de ex-governante.

Tem razão Relvas, mas apenas na parte do “convenientemente”, porque a “distância” não será necessária.

Do homem que se fez doutor com créditos universitários sacados por traficância obscura a história já fez o julgamento, e a sentença não é nada boa. A sentença política que fica “convenientemente” lavrada em ata para a história é o espelho mais fiel do chico espertismo nacional arvorado a ministro; o chico espertismo a raiar a aldrabice do menino que tem de ser doutor porque é chefe partidário.

A sentença de Relvas é a do chico esperto que quis fazer um curso superior sem queimar pestana, é a do chico esperto que inventa cursos de formação profissional que para nada servem apenas para sacar dinheiros da Europa. É a sentença de quem se envolveu em enorme trapalhada na RTP, estilhaçou, com uma reforma absurda, todo o edifício do poder local mais próximo das populações. Para falar só de algumas…

Relvas, ao contrário do que disse na RTP Ângelo Correia, finíssimo principe do PSD mais profundo, não saiu já apenas porque era um ministro especial, com particular relação afetiva com Passos Coelho.

Relvas saiu porque não tinha outro remédio, porque daqui a dias o relatório sobre a sua licenciatura está nas mãos dos magistrados do ministério público, quem sabe para acabar no grande buraco negro que são as investigações que envolvem esta gente da grande loja de interesses que é o bloco central, onde o CDS às vezes vai às compras.

Apesar de tudo, o que é mais sinistro da declaração do futuro ex-licenciado Relvas é a possibilidade, bem real, de, daqui a dois anos, após período sabático para estudar ciência política, o termos na televisão a fazer comentário político, em estilo alternadeira com o regressado de Paris.

Isso sim, seria sinistro…

Standard
economia, Geral, Política

Vigésimos Premiados!

Image

Vender Vigésimos Premiados tornou-se agora legal e legitimado pelo inevitável Relvas. Não fosse ele um pioneiro das licenciaturas com cadeiras inexistentes que passam a ser nucleares e outras trapalhadas que ganham foros de coisas sérias. Agora descobriu em carne e osso o Oliveira da Figueira, com a novidade insuperável de ter pronúncia de Braga. A mesma que Luiz Pacheco celebrou em “O Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor “, engatando e pagando a magalas para acções sexuais que não são de relatar. De qualquer modo, bem mais dignas bem mal pagas que as deste vendedor da banha da cobra que ganha a vida com expedientes e vigarices intelectuais que nos espantam como continuam a render dividendos. Espantam, mas existem. Vender Vigésimos Premiados tem compradores. É espantoso com se vendem e ainda conseguem alumbrar o Relvas, que arrasta consigo lustrosa comitiva ministerial, o que é extraordinário por o sabermos afeito a negociatas com bancos cabo-verdianos ligados a várias cenas do BPN.

O rapazelho. agora tornado embaixador, é pelo que se vê e ouve no You Tube mais apto que o já referido Oliveira da Figueira, personagem português que apareceu, já lá vão oitenta anos numa da aventuras do Tintim, ” Os Charutos do Faraó”. Continuar a ler

Standard
Política

Pode Relvas falar numa universidade?

Relvas visto pelo “Inimigo Público”

Miguel Relvas foi impedido de falar no ISCTE por dezenas de estudantes em protesto contra a política do Governo e o próprio ministro. Naturalmente, não se fizeram esperar os protestos dos que defendem, e bem, que a democracia implica respeito pelas opiniões alheias e que impedir o ministro de falar é um atentado a essa democracia, à própria liberdade de expressão.

Ainda que tal argumento seja absolutamente justo, é preciso recordar que a própria democracia contém, em si, instrumentos para impedir o abuso que faz dela quem se julga detentor do poder eterno, da razão absoluta, e em especial do abuso que fazem dela os eleitos para mandatos de quatro anos, com base em programas que para mais não servem do que cumprir o formalismo eleitoral de ter uma base programática, com base na qual se tenta convencer os eleitores a optar, para depois, já no poder, a esquecer por completo.

Se, em condições normais, não é legítimo o que aconteceu no ISCTE — e é preciso afirmá-lo, o que aconteceu não é normal nem adequado — neste caso os estudantes do ISCTE utilizaram correta e proporcionalmente o instrumento do protesto para manter em movimento mecanismos que alertam para a degenerescência em curso do sistema democrático promovida pelo atual Governo, para a ilegitimidade de políticas praticadas contra tudo e todos com base num mandato totalmente subvertido.

O caso de Miguel Relvas — com Passos e Portas, claro — é, seguramente, o mais paradigmático que a democracia portuguesa conheceu de alguém, investido de funções de poder, que praticou uma fraude política absoluta ao defender, em campanha eleitoral, um programa e, no poder, praticou algo completamente diferente. Relvas não apenas se limita a dizer uma coisa e a fazer outra na atividade política em que está envolvido. Relvas é, igualmente, o paradigma do chicoespertismo que invadiu a sociedade portuguesa, com particular incidência nos partidos do chamado arco do poder. O chicoespertismo do “é preciso é ganhar as eleições e depois logo se vê”, mas também o chicoespertismo na vida pessoal de um ministro que, com o apoio de aparentes traficâncias de interesses em que se envolveu ao longo de extensa carreira política, conseguiu obter um grau de licenciatura sem praticamente pôr os pés na escola.

Invocar a liberdade de expressão, a democracia, a boa educação no caso de alguém que não tem já qualquer legitimidade política, pelo sistemático incumprimento do programa partidário que propôs aos eleitores, nem sequer qualquer idoneidade, por ter forjado uma licenciatura com que se arroga o direito de ser tratado por doutor, é um manifesto abuso da própria democracia.

Numa democracia saudável,  Miguel Relvas não poderia falar de cátedra em universidades, quanto mais ser ministro.

Permitir a alguém que, na prática, forjou uma licenciatura, que obteve um grau de licenciatura não como  forma de acumular saber, mas apenas como forma de acumular poder, falar numa universidade é uma ofensa a todos nós, mas, em especial, aos milhares de alunos universitários que se esforçam por obter uma licenciatura com estudo, pesquisa, sacrifício e muitos milhares de euros pagos em excessivas propinas ao longo de quatro ou cinco anos.

Obviamente que nas universidades pode e deve falar quem tem saber, competência e capacidades, adquiridas ou não por via universitária. Um mineiro pode contar experiências numa aula de geologia, um bombeiro pode falar numa aula do curso de proteção civil, um pedreiro pode falar para engenheiros, certamente. Mas nunca um pantomineiro, que inventou uma licenciatura tirada por favor de amigos influentes, que baseia a sua habilitação académica num esquema obscuro…

Standard
Política

As ONG’s do Passos e do Relvas

A investigação do jornal “Público” publicada nos últimos dois dias, na qual se revela a brilhante ideia de Passos Coelho de, nos seus tempos de estroina da vida empresarial social-democrata, em íntima sintonia de pensamento com o amigo Relvas, à data secretário de estado de outro governo PSD, de criar uma Organização Não Governamental para ir ao pote e sacar umas massas de fundos comunitários para umas formações profissionais que não interessavam a ninguém, revela bem a idoneidade moral desta gente que nos governa.

Com truques de ilusionismo que metem ONG’s fictícias à mistura, Passos & Relvas prepararam uma cartada que iria valer, sob o manto diáfano das supostas benfeitorias que todas das ONG’s praticam, umas largas massas para uma empresa “protegida” do PSD. Interessante seria, aliás, saber qual seria o verdadeiro destino final das massas sacadas aos fundos comunitários, mas isso ficará, certamente, para outras núpcias ou mesmo para as calendas gregas, que estas coisas, já se sabe, todos conhecem, mas ninguém viu…

Esta gente que nos anda a querer comer por parvos, com a conversa mil vezes repetida de que a culpa é nossa, que vivemos acima das nossas possibilidades, com supostos carros comprados a prestações que trocávamos todos os anos, ou imaginárias viagem ao Brasil para ver as garotas que pululam por areais e calçadões, ou ainda para, numa versão de betinho direitinha bacoco, comprar Adidas, Lacostes e Burberrys a crédito, esta gente é aquela que afinal andou a engendrar esquemas e truques para bifar os dinheiros da formação profissional que, toda a gente sabe desde os tempos em que a UGT se abalançou a semelhantes projetos, são dinheiro fácil e lavadinho.

Portas e Relvas, inspiradores e fundadores de ONG’s de duvidosa estirpe, inventores de cursos para técnicos de segurança de aeródromos que não existem, dizem-nos agora que houve e há desperdício de dinheiros públicos, que a culpa foi de quem esbanjou euros europeus em autoestradas e aeroportos de papel. A culpa foi de quem deixou o Estado engordar e, por isso, é preciso agora retirar-lhe as gorduras, nem que para isso se raspe até ao osso.

Sim, são eles, os mesmos que andaram a lamber o pote dos fundos comunitários que deveriam servir para desenvolver o país, os mesmos que não descansaram enquanto não inventaram a melhor raspadeira para sacar o máximo que pudessem. Sim, são eles que nos governam. E nada acontece. Tudo continua na mesma, com Passos a manifestar estranheza por colocarem em causa tão transparente operação.

Mário Soares, que é homem coerente por raramente dizer coisas acertadas, teve um acidente de percurso e sintetizou bem o que vai na alma de muitos portugueses por estes dias em artigo hoje publicado no Diário de Notícias. Escreveu ele que “os portugueses estão desesperadamente contra este Governo. Não há qualquer dúvida. Contudo, Passos Coelho diz que não se aflige com isso. Talvez até goste. Mas é preciso que se lhe diga, antes que seja tarde, que corre grandes riscos. Inúteis. Tem Portugal inteiro contra ele: sacerdotes, militares, de alta e baixa patente, cientistas, académicos, universitários, rurais, sindicalistas, empresários, banqueiros, pescadores, portuários, médicos e enfermeiros e, sobretudo, a maioria dos seus próprios correligionários do PSD”.

Soares acertou desta vez. Mas também não era difícil…

Standard
Geral, Política

Procissão de Cegos

Parábola dos Cegos, Pieter Brueghel, o Velho
um cego conduz uma caravana de cegos

Um governo em fuga. De cobardolas que metem os pés pelas mãos na Assembleia da República ao serem confrontados com moções de censura que despem as tarouquices do seu argumentário. Que fogem a sete pés do povo, mesmo do povo que o elegeu. Povo que assiste ao aviltamento de um primeiro-ministro a correr para o avião para desembarcar numa qualquer reunião insignificante para, por poltronaria, abandonar a comemoração da implantação da República, mesmo quando, pela primeira vez em cem anos, foi celebrada quase à porta fechada. Com todos os ministros a escolherem portas esconsas para entrar e sair, procurando escapar-se sem ser percebidos.

Um governo de pantomineiros que cada vez que aperta um furo do cinto dos portugueses, para a maioria já não existem mais furos, promete que é a última vez para poucos meses decorridos arremedarem a mesma conversa em que já ninguém acredita.

Um governo de ineptos incompetentes que se escondem uns atrás dos outros. Isto não é um governo é uma barraca de feira onde os ministros aparecem e desaparecem, tentando fugir a ficar no retrato do descalabro da governação e às bolas que o povo lhes atira sempre que tiram a cabeça de fora. A desorientação é de tal jaez que já recorrem a números de ventriloquismo, em que o Borges é o principal e prazeroso boneco de serviço. Teatradas de títeres que, com argumentos cavilosos, vão tramando o país.

Espectáculo nauseante e fedorento o desta procissão de pseudo tecnocratas cegos por uma ciência de numerologias tóxicas que matam e esfolam os direitos sociais, económicos e políticos, que espalham a desgraça por todo o país clamando em vão pelo fim da crise, simulando uma luz fátua ao fim do túnel quando já nem sequer se vê o túnel. Cortejo de cegos que se vendem por trinta dinheiros ao todo poderoso capital e caminham para o barranco para onde também querem empurrar o país. Para onde o atirarão se os deixarmos prosseguir essas políticas errantes, de mentes perturbadas pelo deserto das folhas de cálculo de economias virtuais sem gente, sem terra, sem sol, sem árvores, sem mar, sem nada.

Um governo de homens de palha do capital, serventuários das latrinas dos mercados, que andam atarantados a correr desatinados pelos labirintos da crise atirando medidas às paredes a ver se alguma pega e tapa ao acaso um dos vários buracos por onde ela entra e cresce. Bola de neve a levedar sem parança ameaçando ir desfazer-se num abismo de que não se vê o fundo.

Enquanto Portugal é um titanic a afundar-se abalroado pela crise, os partidos do governo e a oposição intermitente do outro partido do amaldiçoado arco governamental escrevem um capítulo de raro brilho e densidade da História Universal da Pulhice Humana. Não é que desde muito tempo atrás essa história não esteja a ser enriquecida com episódios nacionais, só que agora atingiu-se um grau superior de sofisticação, desde que o primeiro-ministro gargarejou a voz para  desafinar o nini vestida de organdi depois de ter anunciando o maior roubo, feito de uma assentada, aos trabalhadores para enfiar os milhões extorsionados nos bolsos do grande capital, até à cena de ópera buffa, vista em directo e ao vivo, de Paulo Portas a enfiar-se cadeira abaixo, escrevendo com o afã de mulher-a-dias a enfrentar a porcaria que tinha conscientemente feito, mentindo aos eleitores sem uma ruga de pudor, como é seu timbre e fica bem com os fatos às riscas e na moda que enfarpelam a sua chibante xico-espertice. Enquanto Honório Novo lhe esfregava na cara lampeira as asquerosidades que tinha feito, nas suas costas, os seus parceiros de quadrilha riam-se, com velhacaria, a bandeiras despregadas. Os episódios sucedem-se, cada um mais desprezível que o anterior.

Portugal está a ser governado por esse bando de malévolos cegos, que se passeia sem rumo pelos corredores do poder defecando poucas e corruptas ideias nas leis com que vai enforcando o país, onde já só se atrevem a por um pé dentro de cápsulas de segurança.

Portugal vive em estado de calamidade económica, social e mental. Tem que se livrar dessa gente para que o ar se torne de novo respirável. Uma emergência que já disparou todos os sinais de alerta. Não há tempo a perder.

Standard
Política

Não nos reformem mais

José Luís Arnaut, apontado como um dos mais destacados pontas de lança da linha Barrosista do PSD, citado, este fim-de-semana, pelo Expresso, defende com unhas e dentes Miguel Relvas, quem sabe seu patrono na nomeação para o sempre interessante cargo de administrador da REN.

Mais à frente no mesmo jornal, o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, por entre avulsos elogios, desvia as atenções ao explicar que Relvas não foi escolhido para ministro por ser licenciado, ignorando o essencial, que é saber se quem exerce cargos políticos pode, ou não, sustentar a sua credibilidade política em licenciaturas obscuras e na distorção da verdade. Bill Clinton, por histórias de charutos e nódoas em vestidos de jovens estagiárias que negou até poder, o que, convenhamos, é muito menos importante do que a obtenção de uma licenciatura de forma enviesada, esteve à beira de perder o mandato de presidente dos EUA…

Cito de memória, mas dizia Arnaut  em defesa de Relvas qualquer coisa como “este Governo tem tido a coragem de lançar importantes reformas para o país” que, supostamente, têm o condão de resolver todos os nossos problemas, embora o que se veja por estes dias seja exatamente o contrário. Reformas que, claro, têm sempre o dedo, ou a mão toda, do doutor Relvas em ciências políticas e outras que andamos por estes dias a descobrir.

A verdade é que não me lembro de nenhum Governo, sempre dos partidos do que pomposamente se chama o “arco governativo”, não ter lançado vastas “reformas” sempre apresentadas como a solução para os nossos problemas. Infelizmente, continuo sem perceber como é que, com tantos e vastos programas de “reformas” a que temos sido sistematicamente submetidos, estejamos, hoje, no estado em que estamos.

Foram as “reformas” de Cavaco Silva, que venderam ao preço da chuva os mais importantes setores produtivos nacionais a troco do dinheiro fácil da União Europeia, as reformas de Sócrates que agravaram a espiral de perda de direitos dos trabalhadores portugueses, e agora as reformas de Passos Coelho, que afunilam ainda mais esta espiral e acabam de alienar todos os setores do Estado a estrangeiros, certamente bem-intencionados, no que ao seu dinheiro diz respeito, claro.

Relvas, claro, ficará para a pequena história como o pioneiro da reforma do ensino superior, protagonizada pelos donos da Universidade Lusófona, que lhe garantiu o diploma mais rápido de sempre da vida académica portuguesa. Há que reconhecer que foi uma grande reforma, em particular porque reconhece a qualquer um que tenha passado por cargos políticos a faculdade de ser doutor nestas ciências.

Poupem-nos, pois, a mais “reformas” daquelas que nos tiram salários e direitos sociais, fecham escolas e centros de saúde, lançam milhares de professores no desemprego, promovem de novo a emigração, oferecem quatro euros a enfermeiros, castigam funcionários públicos, entretanto transformados no bode expiatório de todas as asneiras cometidas por PS e PSD nestes anos todos de “arco governativo”; reformas que castigam os pobres por serem pobres, que aumentam o desemprego e reduzem a receita fiscal.

Reformas destas não precisamos.

Standard
Educação, Geral, Política

O caso Relvas e a Universidade

A génese dos factos é clara. O por enquanto ministro Relvas tem uma licenciatura em que, de facto, fez exame a quatro cadeiras semestrais, tendo obtido equivalências para as restantes trinta e duas, assim concluindo um curso universitário em tempo recorde. Um expediente com cobertura legal que choca a generalidade dos portugueses.

Um tiro na Academia

Mas, porventura mais até que o caso em si, a licenciatura do por enquanto ministro Relvas, deve preocupar-nos pelo que representa de descredibilização do nosso sistema de ensino. Em primeiro lugar, da Universidade Lusófona que lhe concedeu um grau académico com uma fundamentação quase risível. E, por contágio, descredibilização do ensino universitário em geral, sobre o qual se acentuarão a partir de agora as suspeitas de práticas semelhantes. Mais cedo ou mais tarde todas as universidades terão que vir a público dar testemunho das suas práticas sobre avaliações curriculares e equivalências.

As maiores vítimas do escândalo Relvas são contudo os estudantes e os professores da Universidade Lusófona. Os primeiros porque têm (tiveram) que se aplicar no estudo para concluírem as suas licenciaturas e se vêm agora olhados como suspeitos de terem sido formados por uma entidade permeável a influências extra-académicas. Facto que parece ter já começado a afectar os seus graduados, conforme referiu o respectivo administrador Manuel Damásio em entrevista televisiva. O mesmo empenho certamente se aplicará à generalidade dos professores da Universidade Lusófona, cujo profissionalismo é manchado por episódios como estes. A uns e a outros não vamos confundir com os dirigentes da instituição que se permitiram situações facilitistas visando agradar aos agentes do poder e, quiçá, aceder a favores daí provenientes. Continuar a ler

Standard
Política

Pepe Rápido

Miguel Relvas fez a licenciatura num ano, o que, imagino, deverá ser muito difícil e está apenas ao alcance de mentes brilhantes como a do nosso ministro. Vaticino que  também acabará a fazer mais uma qualquer pós graduação em Paris, talvez mais depressa do que ele desejaria. Mais uma, porque em esquemas complexos e obscuros já ele tem um doutoramento. Espero que sim. Pode ser que encontre por lá a sua alma gémea…

Standard
Media, Política

Mais depressa se apanha um mentiroso…

Ainda a propósito do episódio que envolveu o ministro Miguel Relvas e o jornal “Público”, vale a pena olhar para a deliberação do Conselho Regulador da ERC apenas para confirmar o velho ditado que envolve mentirosos e coxos, ainda que seja também forçoso reconhecer que seria muito difícil provar alegadas pressões do ministro sobre uma jornalista deste jornal, a quem a ERC não dá como provada que tenha sido feita pelo governante a ameaça de divulgação de informações sobre a sua vida privada na internet.

O importante acaba por ser, mais do que as alegadas pressões, o carácter daquele que é considerado o ministro mais importante do governo de Passos Coelho. E, em matéria de falta de rigor e verdade, não há coxo que lhe ganhe a corrida.

É fundamental que conheçamos quem nos governa. Se há falhas de carácter que são absolutamente irrelevantes num governante, a falta de rigor e verdade no que se afirma e no que se pratica é uma daquelas falhas que não pode ter perdão. Por esta, e por outras, Relvas já se deveria ter demitido há muito tempo.

Leiam-se, então, os seguintes parágrafos numerados da deliberação da ERC para ver quem leva, sem margem para dúvidas, a dianteira na corrida:

104. A editora [do “Público”] interpretou os telefonemas [de Relvas] “como tentativas de condicionamento”, porque “vieram imediatamente a seguir às perguntas” de Maria José Oliveira.

 105. Questionado sobre este segundo telefonema, o ministro Miguel Relvas negou na ERC, e depois por escrito, que este tenha ocorrido, bem como que tenha dirigido tais ameaças e feito tais comentários.

(…)

 107. Por, mais tarde, a editora de Política ter remetido documento facultado pelo seu operador de telecomunicações com o registo de todas as comunicações telefónicas havidas no dia 16 de maio, a fim de comprovar que falara duas vezes a Miguel Relvas nesse dia – uma às 16h05, com a duração de 1m45s, e outra às 18h03, com a duração de 2m44s -, entendeu-se inquirir, por escrito, o governante acerca deste aspeto concreto, identificando o número de telemóvel que Leonete Botelho indicava como sendo o seu.

 108. Em 12 de junho, o ministro, embora reiterando as declarações anteriormente prestadas, acrescentou porém não conseguir precisar “a esta distância o número de vezes que falei com a editora de política nesse dia”.

 109. Ao que foi possível apurar pela ERC, o segundo telefonema não foi presenciado por quaisquer testemunhas, nem da parte da editora de Política, nem da parte do ministro. Na verdade, a primeira esclareceu que estava sozinha naquele momento, sendo que só quando reproduziu o conteúdo do telefonema a Maria José Oliveira é que contou com a presença de mais pessoas.

(…)

 116. Uma vez que, em duas ocasiões, Miguel Relvas desmentiu que manteve uma segunda conversa telefónica com a editora de Política na tarde de 16 de maio, foram-lhe remetidos os elementos aparentemente comprovativos dessa chamada telefónica. Em resposta, o ministro não contestou que o número indicado lhe pertencia e, em relação aos seus anteriores testemunhos, veio referir que, afinal, não poderia precisar quantas vezes falara com a editora de Política naquele dia.

Standard
Política

Falar sem dizer nada ou o Pulo do Lobo de Singapura

Cavaco Silva especializou-se em falar sem dizer nada. É uma arte que requer longa aprendizagem e experiência, ainda que por vezes, quando menos se espera, aflorem lapsos de monta, em especial quando fala de pensões de reforma.

Cavaco sabe que quanto mais fala, mais se enterra, como diz a sabedoria popular, e, por isso, aperfeiçou ao limite a arte de abrir a boca sem que retire do que disse qualquer conclusão válida, exceto a de que não se quer comprometer. Claro que arte de falar sem dizer nada admite exceções. No caso do Presidente da República, a exceção chama-se Sócrates, inimigo de estimação que, com ele, partilha algumas das maiores malfeitorias de que fomos alvo. Os “bons” espíritos encontram-se sempre.

Cavaco conseguiu até fazer uma campanha de reeleição sem dizer praticamente nada. Lá está, quanto mais falasse mais se enterrava. Há tempos distraiu-se com as pensões de reforma e foi o que se viu.

O mais recente exercício bem sucedido de falar sem nada dizer é a declaração que Cavaco produziu em Singapura, muito longe, já se vê, a propósito de Miguel Relvas andar a ameaçar dizer quem é o homem que vive com uma jornalista do “Público”:A mais de 15 mil quilómetros de distância, as polémicas que lá correm [em Portugal] chegaram aqui de forma imprecisa. Estou convencido de que tudo acabará por ser esclarecido e com a devida transparência, mas não devo acrescentar mais nada“.

Curioso. Chegaram de forma imprecisa a Singapura, diz Cavaco, em quem se nota o incómodo de ter de falar do amigo Relvas, em particular depois de alguns outros dos seus mais diletos amigos, como o antigo líder parlamentar do PSD cavaquista Duarte Lima, o secretário de estado dos assuntos fiscais dos seus governos Oliveira e Costa, e o conselheiro de estado por si nomeado Dias Loureiro, terem caído nas malhas da justiça. Se o rol das acusações ainda ficasse pelo desvio de uns milhões, ainda vá lá. Mas, segundo as acusações que chegam do Brasil, a coisa mete pistolas e mortes, o que já incomoda um pouco mais…

É curioso que Cavaco afirme que as informações lhe chegaram de forma imprecisa. Há trinta anos, no tempo dos telexes, que aquela coisa nem acentos tinha, ainda se acreditava em alguma imprecisão. Mas hoje, alguém acredita nisso? Mesmo que se esteja em Singapura?

Curioso mas não original em Cavaco. A declaração de Singapura mais não é do que uma actualização da síndroma do Pulo do Lobo, da qual Cavaco padece com grande intensidade. Em 1994, era ele primeiro-ministro, perante questões dos jornalistas sobre críticas que lhe haviam sido dirigidas pelo Presidente da República, Mário Soares, no contexto do congresso “Portugal, Que Futuro?”, Cavaco limitou-se a responder que no Pulo do Lobo, entre Corte Gafo e Mértola, onde estava nesse momento, não chegavam as ondas rádio e, por isso, não conhecia as notícias do dia. Enfim, naquele tempo quase se levava mais tempo a chegar ao Pulo do Lobo do que a Singapura, mas mesmo assim…

A história repete-se com Relvas. Cavaco diz que está convencido de que tudo acabará por se esclarecer, e de forma transparente, claro, mas sobre a situação em si, nem uma palavra…

O que pensa o Presidente da República de um ministro dos assuntos parlamentares que conhece, sem que se saiba como ou porquê, a vida privada de uma jornalista que lhe faz perguntas incómodas? O que pensa o Presidente da República sobre um minsitro dos assuntos parlamentares que ameaça um jornal com um blackout informativo de todo o Governo? O que pensa o Presidente da República de um ministro dos assuntos parlamentares que se expõe desta forma e se deixa envolver com um espião com a mania das grandezas?

O que ele pensa sobre esta matéria é que os portugueses gostavam de saber.

Cavaco, se pensa, não o diz. Está no Pulo do Lobo de Singapura…

Nota: Hoje apeteceu-me exercitar o Acordo Ortográfico. Poupem-me…

Standard
Política

O Grande Relvas

Semana espectacular para este homem de todas e mais algumas estações. O Grande Relvas estará sempre a alterar meridianos e paralelos para o inverno ou o verão, a primavera ou o outono se ajustarem aos seus desejos. O Grande Relvas não pára. Nada o detém. Esta semana demonstrou todas as suas capacidades, para quem algum dia delas duvidou. Foi à Assembleia da Republica para a afogar no seu frenético palavreado de português futebolístico, sempre a chutar a sintaxe da esquerda para a direita, a fintar sujeitos, predicados, complementos directos, indirectos, oblíquos e modificadores com uma habilidade ronáldica, para disser e desdizer com um afã que deixa qualquer um sem folego.

A culminar a actuação ameaçou um jornal de black-out absoluto de todos os ministros, mostrando que tem a trela na mão, e uma jornalista de enviar arautos para a praça pública apregoar a sua vida privada. A directora do jornal fechou-se na casa de banho a emitir comunicados em papel higiénico. O Conselho de Redacção do Jornal exigiu explicação e a directora levantou-se finalmente da sanita para protestar. O melhor estava para acontecer. O gabinete do Grande Relvas desmentiu tudo. O Grande Relvas apresentou desculpas. Estará o Grande Relvas de costas voltadas para o seu gabinete?

Nada disso! É impossível alguém não ter atentado no perfil do alçado principal do Grande Relvas, nos atropelamentos linguajares daquela matraca falante que mostram um longo treino! Fica-se fascinado com o brilho da estrela que guiou o destino do Grande Relvas que deve ter começado  a ganhar brilho na creche onde devia ser o líder do bando da chucha. Na escola primária foi certamente o líder do gangue do pião e no liceu da máfia da carica. Agora aí está poderoso ministro todo o terreno, brilhando amis que um sol, intrépido guardião de um baú gigantesco cheio de roupa interior de jornalistas que ciosamente guarda no seu gabinete para a cheirar amiúde, certificando-se do seu bom estado e se está pronta a usar!

Avé Grande Relvas! César dos Assuntos Parlamentares e de se meter em todos os bedelhos!

Standard
Media, Política

Como desmentir sem desmentir

Só por piada, que a coisa já está mais do que vista e entendida, é útil voltar aqui ao tema jornalístico do “non denial denial”, de que vale a pena ler a definição na wikipédia, para esboçar um sorriso com a declaração de Miguel Relvas, o nosso eminente ministro dos Assuntos Parlamentares e pau para toda a obra deste governo, quando dá a ideia, mas só a ideia, coisa de maçon, claro está, de que está a desmentir que o espião Silva Carvalho, que, sabe-se agora, ajudou na elaboração do programa de governo para a área da segurança, lhe enviou um mail, já na qualidade de quadro da Ongoing, essa misteriosa “coisa”, com uma proposta de reestruturação das secretas, com nomes e tudo para chefes, e nomes dos que não deviam ser chefes. O angélico Relvas dá a ideia de que nega ter recebido a tal proposta, mas não nega nada. Ora leiam o que disse ao “Público”o dos assuntos parlamentares: “Sobre este caso em particular não tenho ideia de ter recebido qualquer tipo de informação particular, e disso não resultou qualquer interacção da minha parte“.

As palavras são muito importantes, e Relva sabe-o muito bem… Não tem a ideia, mas também não nega. Pode ser que ainda tenha de se lembrar um destes dias se recebeu ou não. Além disso, não tem ideia de ter recebido, mas apenas “qualquer tipo de informação particular”, o que deixa em aberto que tenha recebido outras que ele classificará como lhe apetecer e entre as quais afinal até lá estava aquela coisa do Silva Carvalho.

A promiscuidade entre interesses privados e económicos e assuntos de Estado fica, com esta revelação do “Público”, de tal forma evidente que é impossível não perguntar se o Governo deste país é a sério ou apenas uma extensão de outros poderes. Como se pode aceitar que um quadro de uma empresa privada, com fortes ambições de poder, que foi desenvolvendo com a extensão de múltiplos tentáculos, na maçonaria ou nos media, possa ser o conselheiro do Governo em matérias tão sensíveis? Um quadro que, aliás, tinha abandonado pouco antes os Serviços Secretos em circunstâncias pouco claras para ir integrar um grupo privado, onde deveria também fazer trabalho de espião, sabe-se lá para quem mais, além dos patrões do momento.

E o Relvas, que faz? Finge que nega, mas não nega e cala-se bem caladinho à espera que passe.

Eis o estado a que chegou a vergonha no governo: não há nenhuma…

Standard