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Cantam de galo, mas…

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Fraldas: um utensílio essencial para os trabalhadores dos aviários nos EUA

«Os trabalhadores lutam para se adaptar a essa negação de uma necessidade humana básica. Urinam e defecam enquanto se encontram na linha de produção, usando fraldas para trabalhar».

Não há ninguém para dar uma lição sobre Direitos Humanos aos norte-americanos, à semelhança do que estes fazem no resto do mundo?

Se tais acontecimentos se  verificassem noutro ponto do planeta ainda teríamos a chance de ver Obama a dizer umas palavrinhas, mas assim…

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imperialismo, Obama

Home of the brave

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Para lá da propaganda e das lições sobre direitos humanos que dão pelo mundo fora, os EUA confrontam-se com graves problemas sociais e com o total desrespeito pelos mais elementares direitos, em particular, aqueles que dizem directamente respeito à sobrevivência, como a saúde, a habitação e a alimentação.

Só na cidade de Nova Iorque, os dados mais recentes revelam que a população sem abrigo atingiu os valores mais altos desde o período da Grande Depressão, no início dos anos 30.

Em Fevereiro de 2016, contabilizavam-se 60.144 pessoas sem abrigo a recorrer à rede de dormitórios públicos municipais, onde se incluem 14.654 famílias, com 23.424 crianças.

No ano de 2015, mais de 109.000 pessoas recorreram a esta rede, incluindo cerca de 42.000 crianças, números que representam um aumento de 91% face aos registos de há 10 anos.

Nestes números não se incluem milhares de pessoas que dormem nas ruas, no Metro e noutros abrigos fora da rede municipal, revelando uma realidade assustadora e profundamente contraditória com a imagem que nos é vendida.

Esta realidade também não deixa de reflectir uma sociedade profundamente desigual no plano racial, 58% dos sem abrigo são afro-americanos, 31% latino-americanos, 7% brancos, 1% asiáticos.

O capitalismo triunfante, mesmo no centro do império, é incapaz de resolver os principais problemas que afectam a humanidade e  continua gerar grandes desigualdades e injustiças.

Este é aquele país que anda por aí a dar lições sobre respeito pelos direitos humanos, quem não se lembra do triste papel desempenhado por Obama na sua visita a Cuba, como se em casa não tivesse graves problemas por resolver.

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Terrorismos

SATURNO

Saturno devorando o seu filho, pintura de Goya

Há dezenas de anos que a barbárie terrorista campeia pelo mundo. Manifesta-se das mais variadas formas e com as mais diversas vítimas. Sejam humanas ou materiais. Agora, a memória do atentado ao Charlie Hebdo ainda não faleceu,  mais de cem mortos em Paris,há um mês mais de 250 pessoas num avião que foi sabotado,as duzentas crianças recentemente massacradas na Síria pelos mesmos bárbaros que todos ou quase todos os dias rebentam bombas, disparam indiscriminadamente no Iraque, na Síria, no Iemen, no Afeganistão, no Líbano. Por todo o Médio-Oriente e África. Também não devem ser esquecidos os Budas dinamitados no Afeganistão ou a destruição que tem sido efectuada na cidade de Palmira.

Os estados emocionais que provocam são variáveis. Não o deviam ser, para que a condenação e a memória não se torne flutuante. Todos nos devemos defender do terrorismo que o terrorismo origina. Com o medo que esse terrorismo brutal provova, dissemina~se o terrorismo xenófobo, aduba-se a sua retórica. Suporta-se e aceita-se  o aumento de políticas securitárias a caminho de um novo maccartismo. Dois terrorismos, ou se quiserem as dezenas de terrorismos de fardas e emblemas diversos, acabam por se alimentar  uns aos outros, com a fúria de devorarem a liberdade, as liberdades. O pavor, o medo que espalham tem efeito perverso e muitísimo perigoso, se a isso não estivermos atentos. Querem que nos tornemos autofágicos das nossas próprias liberdades.

Não é por ser aqui ao lado em Paris, nem por o número de vítimas ser superior a uma centena, de se quantificar e qualificar os atentados que deve aumentar a temperatura da nossa indignação e condenação. Deve ser a mesma se tivesse sido no deserto de Gobi e vitimado uma só pessoa. A barbárie é a mesma e deve ser combatida com igual determinação.

Nos últimos anos o terrorismo com a bandeira islâmica é real, a mais vísivel e tem aumentado. Também tem sido utilizado, armado e financiado ao sabor de conveniências e oportunismos políticos  que não se devem esquecer ou travestir. Causa alguma perplexidade ouvir as condolências e a condenação dos atentados em Paris feito por Erdogan que tem treinado, armado e financiado, directamente ou indirectamente o Estado Islâmico, deixando que a Turquia seja a principal rota do petróleo contrabandeado pelo Estado Islâmico, uma das suas principais fontes de rendimento.. Ou ouvir o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita enviar condolências aos framceses declarando que os atentados de Paris contradizem todas as normas éticas e morais, assim como as leis de todas as religiões, quando no seu país quem entre com uma bíblia, mesmo para uso pessoal, é preso. Um país que tem um sistema judicial pior que medieval em que se chicoteia, degola, crucifica em nome da religião e onde a sharia é lei. São desse calibre os aliados do ocidente conduzido pelos EUA, em diversas aventuras no Médio Oriente, para manterem a hegemonia política enquanto a económica se esboroa. A brutalidade da barbárie terrorista, a sua dimensão e extensão são alarmantes. Não só na Síria e Iraque que estão mais na ordem do dia, é bom não esquecer que na Ucrânia há batalhões de jihadistas a lutar em coordenação com as mílicias nazi-fascistas, que é altamente intranquilizante. O nível de preparação militar e organização política que crescentemente demonstram, tornam o combate a essa horda de uma urgência que deve, devia ultrapassar divergências e cálculos políticos a qualquer prazo, numa luta comum que é uma luta civilizacional.

Não se deve perder memória de como tudo isto foi avançando passo a passo. Com que cumplicidades se cimentou. Mas a gravidade da situação é tal que não se pode perder tempo com recriminações. O tempo que se perde a apontar o dedo para esses factos, que são reais e não devem ser rasurados, é tempo que se perde na luta urgente de arrancar pela raiz o mal que, de um ou outro modo, mais longe ou mais perto nos cerca, nos assalta. O inimigo é letal, tem um objectivo que persegue cegamente e sem grandes hesitações. É um animal raivoso e determinado que ataca mesmo as mãos que, directa ou indirectamente, o alimentam ou o alimentaram. O recente atentado em Ankara, com centenas de vítimas, é a mais clara demonstração disso.

O risco que ocorram mais golpes terroristas, cada vez  mais bem planeados e executados, mais dificeis de prevenir é um facto.. A curto prazo, mesmo a muito curto prazo, o maior risco é esse terrorismo alimentar o terrorismo de uma direita ultra momtana, de raiz nazi-fascista, que tem crescido a olhos vistos na Europa Uma direita que se vai  impondo  sentada ao colo do nosso medo e das irracionalidades que origina, escamcarando as portas para os ódios mais primários, mesmo paradoxais. Não podemos deixar que a história se transforme numa pintura negra em que, por temor ou omissão colaboramos, quase sem darmos por isso. Combater e condenar o terrorismo é o mesmo combate de combater todas as políticas de cariz fascista que o dizem combater impondo outro terrorismo.

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Políticas Criminosas

Palmira

Com algumas da últimas notícias vindas da Síria, estava a organizar um texto sobre o tema. Além de algumas notas que acrescento o que iria escrever está  melhor escrito e documentado pelo José Goulão no seu blogue Mundo Cão, e neste outro post. É necessário repor a verdade contra a imensa fraude que tem sido a luta pelos direitos humanos e a democracia na Síria. Assad é um ditador? É, claro que é pelos padrões da democracia ocidental. Mas é um democrata comparado com os ditadores da Arábia Saudita, Qatar e outros, grandes aliados e amigos das democracias ocidentais! Com a ofensiva que a Rússia está a realizar contra os terroristas na Síria, Estado Islâmico, as variantes da Al-Qaeda e, colateralmente, essa ficção que é o Exército Livre da Síria, uma tropa de alguns sírios e muitos mercenários que repetidamente se tem passado de armas e bagagens para um dos grupos terroristas como aconteceu recentemente nos finais de Setembro, os terroristas têm sofrido grossas perdas em homens, equipamentos, logistica estando a recuar as suas linhas da frente, empurradas no terreno pelo exército sírio e mílicias apoiantes. Nalgumas semanas a Rússia causa perdas muitíssimo maiores aos grupos terroristas que a famosa coligação ocidental anti terrorista liderada pelos EUA durante um ano. Quem se alarma com o êxito do combate aos terroristas? Os EUA, a NATO, os seus aliados regionais, Turquia, Arábia Saudita,Qatar e Israel !!! A máquina de propaganda ocidental foi a primeira a abrir fogo e, como é habitual, continua manobras de desinformação sistemáticas. Noticiou que os os bombardeamentos russos tinham causado grandes perdas civis quando ainda nem um avião russo tinha levantado voo! Uma das fontes mais citadas é o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma instituição pouco credível financiada pela Irmandade Muçulmana, agora também reactivada e que já notíciou ataques aéreos que nunca se realizaram, como um bombardeamento a Palmira. Os Estados do Golfo,anunciam que, por causa da ofensiva russa, vão entregar misseis anti-tanque e mesmo terra-ar ao Exército Livre da Síria. Todo o mundo sabe que o destino final é o Estado Islâmico e a Frente Al-Nusra, que sempre foram apoiados financeira e militarmente pela Arábia Saudita e o Qatar. Que fazem os EUA, os fornecedores dessas armas aos seus aliados do Médio-Oriente? Através da NATO dão ordens aos aviadores da coligação para no espaço aéreo iraquiano atacarem, sempre que se sentirem ameaçados, os aviões russos! É este o calibre, a estatura política.a ética dos líderes ocidentais! Fazem orelhas moucas mesmo aos apelos dos patriarcas católicos e ortodoxos na Síria que apelam, através do Vaticano, para que o Ocidente acabe com as políticas desastrosas de armar os terroristas e armam-nos contra quem os combate. É o desvairo, sobretudo de Obama e Cameron,  por começarem a sentir aquela região que dominavam a seu bel-prazer com o seu aliado Israel a fugir da sua esfera de influência.
O seu interesse no combate ao terrorismo é uma ficção. O Iraque olha para o que se está agora a passar na Síria no combate ao terrorismo e interroga-se, com razão, sobre o porquê da ineficácia, da inoperância  da tão propalada coligação de forças lideradas pelos EUA, Os bombardeamenos efectuados pelos norte-americanos e tem tido paradoxalmente acções mais eficazes contra quem trabalha no terreno contra os efeitos ds guerras como o recente bombardeamente pelos EUA a um Hospital dos Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão, destruindo-o completamente e causando centenas de vítimas. Aliás eles já estão habituados a ser bombardeados pelas forças democráticas  como acontece sistematicamente na Palestina.

Há que parar esta gente, que é gente muito perigosa para a paz e para o futuro do mundo.

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CUBA/EUA- o discurso de Raul de Castro

Obama Castro

Habituados à ligeireza  intencional, com objectivos mais que sabidos, da comunicação social, ao modo enviezado com que se fabricam e alinham as notícias, apoiados pelos comentários dos inúmeros e variegados interpretadores dos sinais do que se passa no mundo para nos (de)formarem a visão, em que alguns, sem perderem o norte marcado na bússola dos mandantes, são mais sofisticados por formação académica ou prática diplomática, não se pode ficar admirado com o modo com tem sido tratado a aproximação entre Cuba e os EUA.  Desse imenso aglomerado de gente, na rádio, jornais, televisão, Internet,  foram banidos todos os que poderiam ter outro ângulo de visão, mais à esquerda , e outra profundidade de análise, não se limitando aos medias telecomandados, e com base em informação sólida, que desse e doutros sucessos dessem uma visão do mundo não normalizada, que não se conforma com o quadro imposto pelo império.  Ainda se lembram quando Pezarat Correia ou José Goulão (este com blogue que deve ser frequentado por quem quer saber realmente o que se passa no mundo), só para lembrar dois homens de vasta informação e seriedade, apareciam nos jornais ou nos ecrãs televisivos?  Agora resta-nos uma sucata, onde ainda brilha alguma esquerda, representada por variantes menores do Príncipe de Salinas, reluzente nas suas opiniões de esquerda sensata ou esquerda de gente gira, que impulsionam democraticamente o movimento do mundo para que este não saia sair dos seus eixos. Nada do que é publicado e como aparece nos causa surpresa.

No percurso de aproximação entre Cuba e os EUA, na recente cimeira das Américas, o discurso de Raul de Castro ficou sepultado no aperto de mão histórico, no encontro histórico que mantiveram, nas declarações históricas mais insignificantes dos dois presidentes, se nos limitarmos a seguir o que foi publicado na generalidade dos media onde a adjectivação de histórico para aqui, histórico para ali ia brunindo a superficialidade do noticiado. A habitual  filtragem feita pelos mais rigorosos e independentes critérios jornalísticos (esta é para todos nos rirmos a bandeiras despregadas!) acabou por menorizar o que ambos disseram.

Do importante discurso proferido por Raul Castro na Cimeira das Américas, os media internacionais apenas reproduziram um pequeno aparte dirigido a Obama. Omitiram deliberadamente, como é a sua prática, o essencial desse discurso que aqui reproduzimos, repescado do Diario.info Continuar a ler

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Os Valores Democráticos

Papel higiénicoÉ extraordinário o coro ocidental de elogios ao falecido rei Abdullah da Arábia Saudita que descobrem como um dos seus. Um defensor dos valores democráticos, coisa que ele nem sabia o que seria, como o secretário -geral da ONU, Ban Ki Moon, teve o cuidado de recordar. Provavelmente têm razão, os valores democráticos do Ocidente são uma tábua de logros, pronta a usar para os passar a ferro conforme as conveniências de momento. Só assim se podem compreender os encómios a semelhante personagem.

Descobrem qualidades democráticas de envergadura na sua governação como rei absoluto de um país onde a pena de morte está sempre no horizonte de quem ousa desafiar um poder discricionário que se rege pela sharia aqui, pelos vistos, abençoada e tolerada pelo ocidente dito democrático que a condena noutras paragens do Médio Oriente.

Não é preciso recuar muito no tempo para se tirar a temperatura democrática da Arábia Saudita. Recentemente um crítico da Casa Saud e mitigadamente da fé islâmica. Foi condenado a dez anos de prisão e a sofrer 1000 chibatadas em doses públicas de 50 chibatadas durante 20 semanas, depois das orações de 6º feira, para tudo ficar na graça de Alá. Um feito, entre muitos outros, que fazem Abdullah ser lembrado como um rei democrata não só pelo secretário-geral da ONU, mas também por John Kerry e, como tal, com direito a bandeiras a meia haste no Reino Unido.

Aliado de sempre do Ocidente, ou não fosse ele o elo mais seguro da ligação intima entre o dólar e o preço do crude, os celebrados petrodólares que vão sustentando a mentira da economia norte-americana, conhecido financiador de grupos islamitas radicais, da Al-Qaeda ao Estado Islâmico apesar de uma lei promulgada em 2013, proibindo o financiamento de grupos terroristas, para aliados se calarem. Todo o mundo sabe que a Casa Saud, seguidora e impulsionadora do radicalismo wahabita, continua a despejar centenas de milhares de dólares nos bolsos dos radicais islâmicos. É por este tirano que os sinos ocidentais dobram!

Vale tudo para essa gentalha ocidental sem qualquer dignidade ou princípios. É assombroso, nauseante, se alguma coisa ainda nos possa espantar do cinismo e hipocrisia dos países defensores dos valores democráticos ocidentais, que Christine Lagarde, se una a esse coro apologético, para lembrar Abdullah como um defensor dos direitos das mulheres! Isto num país onde as mulheres são proibidas de conduzir, têm o direito a voto muitíssimo controlado, onde mesmo quatro das filhas de tão democrático monarca foram condenadas a catorze anos de reclusão porque ousaram reivindicar um mínimo de direitos, nessa sociedade duramente tutelada pelos homens.

O próprio Abdullah ao ouvir essas louvações deve dar voltas e reviravoltas no túmulo. Não vai ter mais descanso!

Morre agora esse contumaz violador dos direitos humanos, amortalhado por valores democráticos que nunca defendeu em vida. Um imundo e pestilento espectáculo que diz tudo sobre os dirigentes do mundo ocidental e da sua corte.

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Barranco de Cegos

1- CABEÇAS “PENSANTES”

Nos prados verdes e viçosos da nossa comunicação social os inúmeros comentadores pastam com o sorriso alegre, ruminante e beato de quem olha o futuro com a certeza da eternidade dos mercados mesmo quando a sua queda livre já nem sequer é anunciada, é um facto. Uma realidade inquietante por coexistir com os sinais de confrontos, cada vez mais frequentes, que vão dos debates diplomáticos mais aparentemente civilizados àqueles em que a diplomacia se exerce pelo uso da força, das sanções à intervenção militar, a sua forma extrema.

vaca

Nada disso remove o sorriso bovino da multidão de comentadores em concorrência ao que Cavaco Silva revelou ao mundo embasbacado, ter descoberto nas vacas açorianas. Os géneros são os mais diversos cobrindo largo espectro. Dos mais sofisticados que se esforçam por parecer independentes e lançam boias para que o sistema não se afogue nas suas próprias contradições aos que, dotados de enorme espessura óssea, arremetem contra a realidade como arietes medievais a rebentar portões das cidadelas onde ela se refugia para a ferir de morte ao som do alarido das carpideiras a entoarem os improváveis amanhãs que cantam do império.

Uma dessas luminárias, cegas pelo furor de acreditar teologicamente no futuro da ordem unipolar no mundo, é Miguel Monjardino (MM) que todas as semanas arrota tonteiras, o que faz presumir como atormenta as meninges dos seus alunos na Universidade Católica que, quando chegam à rua, devem ficar atónitos verificando que ou a realidade naqueles minutos de trânsito mudou quase completamente, ou que pouco do que lhes foi impingido tem a ver com ela.

A sua crónica no Expresso de 25 de Outubro é o exemplo acabado de um pretenso Tirésias de vão de escada que à cegueira física soma a cegueira mental que o torna num completo incapaz de ler o presente e prever qualquer futuro. O tema “Energia e Política”, em que, referindo a Ucrânia, as eleições que se iriam realizar nesse fim-de-semana, faz considerações sobre questões geoestratégicas relacionadas com a energia, as finanças, os equilíbrios globais.

Em duas penadas despacha as questões energéticas actuais para fazer duas demonstrações: 1ª O orçamento russo é muito dependente das exportações de petróleo e gás, o que a torna muito vulnerável e um país muito fraco. 2º Os EUA lideram a revolução energética a nível mundial e a influência de Washington na regularização da globalização financeira nunca foi tão grande.

2. MERCADOS DAS ENERGIAS

O estado actual dos mercados energéticos é muitíssimo mais complexo do que que MM supõe. Quanto ao segundo pressuposto é o avesso da realidade. O objectivo de MM é linear. Comungou a hóstia macdonnald do mundo unipolar com a fé de quem acredita que será dirigido para lá dos séculos pelos seus donos que atiçam a canzoada: ladrem, ladrem, quanto mais ladrarem menos gente olha para os nossos pés de barro.

PETROLEO

A turbulência dos mercados do petróleo é dominada pelo baixo preço do barril de petróleo que resulta, por um lado do abrandamento da economia mundial, por outro por a Arábia Saudita estar a inundar o mercado com petróleo, chegando a vendê-lo aos seus clientes asiáticos a US$50/60 o barril. A decisão da casa Saud pode ser o resultado de um conluio EUA/Arábia Saudita, para atingir, em primeira linha, a Rússia, em, segunda linha o Irão, depois todos os outros países produtores. Mas a primeira consequência é arrasar os mercados de futuros, sem ainda serem previsíveis as consequências, sobretudo nas bolsas de Nova Iorque e Londres, as principais praças desse “produto” financeiro. Tudo isto é menos que linear, mas faz MM, do alto da sua fissurada ciência, decretar impante, como todos os ignorantes o são, que “a revolução energética é agora liderada pelos EUA”. Não percebe que a entrada da Arábia Saudita nessa trama, ao atingir fortemente a Rússia, cujo PIB muito depende das exportações de petróleo e gás o preço barril terá que ter um patamar mínimo de US$ 100, tem efeitos colaterais brutais, alguns ainda não entrevistos.

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3-NOVAS FONTES ENERGÉTICAS

Os norte-americanos são neste momento energeticamente autossuficientes, têm capacidade exportadora por via da produção de óleo e gás de xisto, o “shale”. Só que o preço de extracção do “shale”. Só que o preço extracção do “shale ”números da Agência Internacional de Energia (AIE), varia entre os US$ 60/85, barril igual ou superior ao actual preço de mercado do barril de petróleo. No seu valor mínimo só um preço acima dos US$105/barril remunera essa produção. É de referir que os investimentos são enormes porque os poços esgotam-se praticamente na primeira perfuração. Isso sem referir o desperdício de água, necessária em volumes brutais, os impactos ambientais A poluição das águas subterrâneas consequência do “fracking” começa a ser severa e preocupante. Outros fenómenos como o aumento de sismicidade, já cientificamente comprovada, e outros enunciados mas ainda não mensurados, tornam a produção de “shale” controversa.

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O conluio entre a Arábia Saudita e os EUA, que tem o objectivo de levar a Rússia á falência e submeter o Irão aos ditames do império, acaba por ter um efeito de ricochete nos EUA, que a Arábia Saudita utiliza em proveito próprio procurando ocupar o lugar agora deixado quase vazio pelos outros grandes produtores, como a Líbia e o Iraque. Trava as veleidades exportadoras dos EUA, porque a produção de gás das rochas betuminosas é marginal e mesmo que não fosse não existem infraestruturas para a sua exportação. A outra face dessa “revolução energética é que, embora a extracção de hidrocarbonetos de rochas compactas tenha aumentado a bom ritmo, os operadores têm-se endividado de forma brutal. O custo e as exigências continuadas de investimento, não é coberto pelas receitas geradas. Ivan Sandrea, da Oxford Institute for Energies Studies, num relatório recente afirma: “quem pode ou vai querer, financiar a perfuração de milhões de hectares e centenas de milhar de poços com prejuízo permanente? (…) A benevolência dos mercados de capitais dos EUA, não pode durar para sempre”. Análises da Blombreg e do Barclays concluem que cada US$1 ganho custou US$2,11. O que é insustentável a curto e médio prazo e está sobre forte pressão dos actuais preços do barril de petróleo, impostos pela Arábia Saudita. Este é a radiografia da “revolução energética a nível mundial é agoira liderada pelos EUA“ que faz salivar de alegria MM, porque com os seus fracos recursos em massa cinzenta, um bem que mesmo escasso é gratuito, não vê que essa revolução energética tem mais razões políticas que económicas, o que a torna frágil e de futuro, a curto e médio prazo, mais que incerto.

Outra ficção é o “light crude” saudita acabar por substituir as outras importações de petróleo europeias. A transformação das refinarias para o “light crude” exige investimentos incomportáveis. A Europa beneficia no curto prazo, mas não a médio prazo.

4-DÓLAR, PETRODÓLARES

As primaveras árabes, a guerra no Iraque e na Síria, a emergência dos islamitas radicais, os vários braços da Al-Qaeda, tudo invenções dos serviços secretos norte-americanos ao serviço de uma política expansionista e de defesa do petrodolar e com o fim último de cercar a China e a Rússia, tem sido postas activamente em prática. Saddam Hussein, embora com restrições violentas à exportação do seu petróleo, começou a vendê-lo em euros. Kadhaffi, estava a tentar implementar um sistema de venda do barril de petróleo em dinar-ouro. Na Síria estava ser projectado um oleoaduto e um gasoduto para dar acesso directo ao Mediterraneo ao gás e ao petróleo do Irão. Estão explicados os conflitos, o frenesi de agitar as rotas bandeiras dos direitos humanos e da democracia esburacadas pelos interesses económico-finnceiros. A opinião sobre estes conflitos de alguns diplomatas que andam por aí a perorar dariam vontade de rir se a situação mundial não fosse tão séria.

Ainda em relação à energia MM diz e bem, pepitas raras de verdade são largadas de quando em vez para dar credibilidade ao disparate, que a Europa vai demorar uma década a ser energeticamente independente da Rússia, para concluir que a viragem da Rússia para a China é uma miragem. Em menos de dez anos prevê-se que os oleadutos entre a Rússia e a China entrem em funcionamento, pelo que não se percebe onde habita a miragem.

A política do petróleo a um preço artificialmente baixo tem consequências que não podem ser mensuráveis com certezas absolutas, pelos efeitos perversos que tem sobre quem a prática e apoia. Em relação aos EUA tem uma exigência não negligenciável: manter o dólar, com variações mínimas, à cotação actual. Garantir a cotação exige a sobrevivência do petrodólar, resultante de um acordo EUA/Arábia Saudita, que impôs o dólar como moeda de referência nas transacções de petróleo, depois adoptado por outros países da OPEP, e o dólar como moeda de referência nas transacções internacionais. MM sabe quanto essa premissa é fundamental e arremete contra todas as evidências. Decreta que “a influência de Washington na regulação da globalização financeira nunca foi tão grande como agora”. Isto já não é um disparate. É uma alarvidade todos os dias desmentida pelas mais diversas e inquestionáveis fontes.

5- DÓLAR À BEIRA DO ABISMO

Um alerta vem do FRED (Federal Reserve Bank of St.Louis) que noticia que só num ano, 2008; foi criado quase tanto dinheiro (817.904 milhões de dólares) como nos 63 anos anteriores (de 1945 a 2008 821.686 dólares). Que nos seis anos de crise, Janeiro de 2008/Setembro 2014, foi criado quatro vezes mais dinheiro do que entre 1945/2008.

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Quer dizer, sem resolver a crise, a tipografia não parou de imprimir notas verdes. Um sinal de que tudo está a correr mesmo muito mal é o FED ter deixado de divulgar as estatísticas de M3 (M1, dinheiro em circulação e dinheiro depositado em contas à ordem. M2 M1 mais dinheiro depositado em contas a prazo e pequenos instrumentos de poupança. M3, M2 mais os grandes instrumentos de poupança, eurodólares, outras divisas, etc.). a partir de Março de 2006, ocultando deliberadamente esse indicador. O que vale o dólar? O primeiro sinal de alarme vem do mercado do petróleo. O dólar, os chamados petrodólares só são agora usados em 75%/80% das transacções mundiais. Pior é a situação do dólar como moeda de trocas comerciais. Os BRICS decidiram fazer as transacções entre si nas suas moedas. A China e o Japão, os maiores parceiros comerciais asiáticos, usam as suas moedas desde 2012. A tendência para abandonar o dólar é crescente já atinge mais de 30% das transacções comerciais mundiais,  tendência em aceleração. Um editorial recente do Wall Street Journal, avisa para o enorme perigo de nos próximos três anos o dólar só estar presente em 50% das transacções comerciais mundiais e nos cinco anos seguintes tornar-se uma moeda quase irrelevante. Mais pessimistas são alguns analistas neoliberais. Lord Christopher Monckton de Brenchley, um dos assessores e mentores de Margaret Thatcher escreve um artigo com o título “The dollar colapse not whetter, but when”, que a falência do dólar é uma questão de tempo , porque os EUA, com uma dívida gigantesca aumentam-na em 64 000 dólares a cada segundo!!!

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Jeremy Levy, economista que previu a crise do subprime, avisa a forte probabilidade de crash em 2015 .Peter Singer, que gere um dos maiortes fundos de investimento o Trust Investment Elliot Managenement, calculado em 5 400 mil milhões de dólares, escreveu uma carta aos seus investidores, carta também reproduzida na Bloomberg News, avisando-os que não é prevísivel o tempo que irá durar uma política com dados de crescimento falsos, com postos de trabalho falsos, com dinheiro falso, com investimentos falsos, com financiamentos falsos. Os alertas disparam de todos os lados. A confiança que dava ser dono da tipografia e de se poder imprimir notas verdes a toda a hora para as injectar na economia, foi chão que deu uvas. Poderão ser previsões excessivamente pessimistas, mas noutros tabuleiros a realidade move-se.-

5- REALIDADES EMERGENTES

Os indicadores acumulam-se. Segundo o FMI o PIB da China; 17,6 biliões de dólares, 16,5% do PIB mundial ultrapassou em Setembro o dos EUA,17,4 biliões de dólares, 16,2% do PIB mundial. Os analistas do FMI e do BMI, previam que isso só acontecesse em 2016. Um facto a sublinhar porque a última vez que isso sucedeu foi em 1876 quando os EUA ultrapassaram aa Grã-Bretanha.

EUA CHINA

As previsões do FMI para 2015 são catastróficas para os EUA. A diferença entre os dois países será superior a dois biliões de dólares.

Outra novidade registada nos estudos do FMI é que o poder de compra G7- EUA, Japão, Canadá Inglaterra, França. Itália, Espanha, foi ultrapassado por um novo G7- China. India, Rússia, Brasil, Indonésia, África do Sul, Turquia em dois mil milhões de dólares.

G7

Tudo notícias pouco favoráveis ao dólar e ao domínio dos EUA sobre o mercado de capitais que se joga noutras frentes. O Banco de Desenvolvimento decidido pelos BRICS, tem entre outros objectivos por em circulação uma moeda alternativa ao dólar nas transacções mundiais. É uma ameaça aos habituais instrumentos de dominação financeira actuais, o FMI e o BMI. A internacionalização do yuan está em marcha. Já salvou a Bolsa de Londres de grande afundamento e começa a ser olhado pelo BCE como moeda importante para as suas reservas monetárias. Na área do Pacífico a China desafia abertamente os EUA com um Banco de Desenvolvimento Asiático. Ainda na recente reunião da APEC- Asia-Pacific Economic Cooperation, que se realizou em Pequim, Obama tentou contornar os objectivos da China, reunindo-se na embaixada dos EUA com os doze mais importantes países, excluindo a China e a Rússia. Não teve êxito e acabou por ver aprovada a proposta da China que, através do Banco da China e do Fundo China, vai investir 140 000 milhões de dólares em ionfraestruturas ferroviárias, rodoviárias e marítimas para desenhar uma nova Rota da Seda. Xi Jinping foi muito claro nesse objectivo, firmado num Acordo Estratégico Trans-Pacífico de Associação Económica, que irá redesenhar o mapa de negócios da Costa Asiática do Oceano Pacífico estendendo-o até à Europa, para garantir um novo equilíbrio no campo económico. Os EUA são atirados para um plano secundário nesse novo eixo mundial.

6- O OURO E O DÓLAR

Como se isto tudo não fosse suficiente a outra arma que os EUA têm utilizado para manter artificialmente o dólar ao seu valor actual é a manipulação do mercado do ouro. Desde 2010 que o FED, os seus agentes bancários têm realizado vendas de ouro a descoberto. O mercado da Comex, a bolsa de ouro actual com sede em Nova Iorque, desde essa data, vende ouro-papel e não ouro-físico. Os grandes compradores são os especuladores e os hedge funds que compram e vendem activamente esse ouro-papel para controlarem o preço do ouro e proteger o dólar. As emissões de ouro papel são brutais, muitos analistas afirmam que os EUA já não terão ouro que cubra as emissões de ouro papel. A Alemanha e a França por diversas vezes reclamaram em vão a devolução do ouro que enviaram para os EUA, durante a II Guerra Mundial. Há quem veja nisso um sinal grave de haver insuficiência de ouro físico nos EUA.

dolar ouro

Paul Craig Roberts, ex SubSecretário do Tesouro nos governos Reagan, advertiu que a China e a Rússia esforçam-se para fortalecer a sua posição com compras maciças de ouro, enquanto os EUA apostam em atrasar essa intenção com guerras e outras intervenções para debilitar os seus rivais e proteger o petrodólar. Vai mais longe. Com o cohecimento de causa que lhe dá o lugar governamental que ocupou, coloca em dúvida que os EUA ainda tenham reservas de ouro, incluindo a de outrso países que lhes foram confiadas. Na sua opinião essas reservas estão esgotadas.

De facto, no ano corrente tanto a China como a Rússia têm comprado enormes quantidades de ouro físico, cuja cotação embora continuando a subir lentamente, consequência da manipulação comandada pelo FED, está longe de ser a que se calcula ser o seu valor real. A China e a Rússia para contrariar e alterar essa situação decidiram instalar no mês de Novembro em Xangai uma Bolsa de Ouro, onde as vendas a descoberto são proibidas e só será transacionado ouro físico. O yuan passará a ter como padrão o ouro o que irá acelerar a sua internacionalização e incrementar a sua procura como a moeda de reserva.

golar yuan

A Bolsa de Xangai será uma fortíssima ameaça às Bolsas de Nova-Iorque e Londres. Vai ser uma luta entre dois mercados de ouro, um baseado na avaliação da realidade e outro no jogo e manipulação. Mais uma forte ameaça ao dólar e ao petrodólar num país com uma dívida brutal, provavelmente já impagável, com enormes e crescentes défices comerciais. Uma política económica sacrificada pela especulação, a desmesurada cobiça de agentes financeiros cujo objectivo principal é salvar cinco ou seis megas conglomerados financeiros, cujos antigos decisores e executivos controlam o FED, o Tesouro e as agências financeiras federais.

6-O MUNDO SOB UMA SERIA AMEAÇA

É essa realidade evidente que ameaça os EUA o que MM não vê para continuar a afirmar que os EUA comandam o mundo financeiro. O pior cego é o que não quer ver, sem querer ver os enormes perigos para a paz mundial que isso representa, bem evidente no frenesi guerreiro de Obama, esse prémio Nobel da Paz que já bombardeou sete países. Pano de fundo o desespero de manter o dólar a flutuar antes que cada nota de dólar não valha mais que as do jogo do monopólio. Há entre os políticos norte-americanos quem acredite e defenda que o primeiro a sacar do gatilho nuclear fica a salvo. MM pensa pouco e mal o estado do mundo, muito menos consegue entrever as grandes alterações geoestratégicas que se estão a desenrolar que provocam o desespero perigoso do império, da sua ordem unipolar. Deve considerar legítimo, normal que Obama discurse na Academia de West Point declarando-se um convicto fora da lei :” Os Estados Unidos usarão a força militar, unilateralmente se necessário, quando os nossos interesses o exigirem, a opinião internacional conta, mas a América nunca vai pedir autorização”. Claro que os interesses dos EUA não são os interesses dos norte-americanos mas os do complexo militar-financeiro, quem verdadeiramente governa por interpostos democratas ou republicanos.

A Miguel Monjardino, arauto rouco do império, oferecemos um rolo de papel higiénico para se babar com o padrão, escrevinhar no verso a sua Guerra e Paz, Tolstoi deve rebolar-se até ao fim da eternidade de raiva do uso abusivo que o idiota lusitano faz do título da sua obra-prima, para depois de cada escrita lhe dar a finalidade para que foi fabricado. As crónicas de MM terão finalmente utilidade e acabam no sítio certo.

dolar papel higiénico

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Vicky Soto

article-vicki-soto-3-1215-webChamava-se Vicky Soto e era professora numa escola básica em Newtown, Connecticut, local onde ocorreu um terrível massacre de que resultou a morte de vinte crianças e seis mulheres.

Vários testemunhos contam que se deveu à sua iniciativa a salvação de diversas crianças, escondendo-as no interior de um armário e interpondo-se frente ao assassino. Um acto que lhe custaria a vida.

O heroísmo da jovem professora – tinha 27 anos, recorda-nos a contradição da natureza humana. “She was an absolutely amazing teacher”, no dizer de quem a conheceu. A contradição de alguém que pagou com a sua vida a proteção de outras vidas. A minha homenagem.

Mas a homenagem não permite esquecer o fundo do problema. A proliferação de armas de fogo nos Estados Unidos e a facilidade com que se lhes tem acesso. O massacre de Newtown é apenas mais um de uma lista já impressionante.

Segundo estimativas reportadas a 2007 pelo relatório do UNODC (organismo da ONU para o controlo da droga e a prevenção do crime), havia 270 milhões de armas em posse da população nos Estados Unidos. E em 2005 estimava-se que 34% da população norte-americana possuía armas de fogo.

O porte privado de armas é pouco regulamentado nos EUA. Cada Estado aplica as suas próprias leis sobre permissão para compra, posse e controle de armas. Em 43 Estados, por exemplo, não é sequer necessário ter licença ou registo para obter uma. No Texas e em outros cinco estados, não há sequer idade limite para as obter.

Já é tempo de os Estados Unidos ultrapassarem a cultura de armas que está associada à sua génese como país e à sua história recente. O wild west ou a guerra civil, que poderão ajudar a compreender o fenómeno, tem que ser remetidos para o seu lugar – a história.

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Internacional

“A OUTRA AMÉRICA”

 

Hoje, apetece-me falar de outra coisa, porque sim!

Dei com uma outra imprensa a dar-nos conta do que foi por esse mundo a luta, a contestação e festejo do 1º de Maio.

Na Alemanha os trabalhadores mobilizaram-se para as 450 acções convocadas pela Confederação dos Sindicatos. A unidade e solidariedade de todos os trabalhadores da Europa é uma necessidade imperiosa face às políticas de austeridade que estão a ser impostas aos povos. Também na Alemanha a ofensiva destas políticas estão a ser causa de precariedade, desemprego e de empobrecimento dos trabalhadores e do povo.

 Nos EUA, onde o dia do trabalhador não é feriado, este foi assinalado em 120 cidades, facto de assinalar já que o movimento reivindicativo popular se encontra numa fase de recuperação e reconfiguração. Um grande número de estruturas representativas de trabalhadores, de defesa de direitos sociais, pacifistas e defensores da liberdade realizaram protestos em cidades como Chicago, Boston, Washington, São Francisco, Atlanta, Pittsburgh, Los Angeles e Nova Iorque, entre muitas outras.

 Neste país, a situação de pobreza foi classificada pela embaixadora dos EUA na ONU de “ situação trágica nacional”. O Professor de Princetown, Cornel West referiu a pobreza nos EUA como “moralmente obscena”.

 Os números falam por si: Continuar a ler

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ANO do DRAGÃO

Começou o Ano do Dragão, o Ano Novo Chinês que foi antecipado por uma iniciativa chino-japonesa aparentemente da máxima importância mas que, em Portugal passou sem ser notícia ou quase sem ser notícia. A decisão das trocas comerciais entre o Japão e a China deixarem de ser em dólares e passarem a ser feitas nas suas moedas nacionais, o Yuan e o Yen. Trata-se da China, a segunda, a caminhar em passo de corrida para ser a primeira, e do Japão, a terceira economias mundiais que, entre si, são mutuamente os maiores parceiros comerciais. É um duro golpe no dólar que tem vindo nos últimos anos a perder importância como moeda de troca e como moeda de reserva cambial. Não parece coisa de somenos, sabendo-se que um dos sustentáculos, se não mesmo o sustentáculo mais forte da economia norte-americana tem sido transferir para países terceiros os custos da sua enorme dívida, e que essa exportação se faz sobretudo à custa da circulação dólar que, actualmente,  deve ser o maior produto de exportação dos EUA.

Nas últimas décadas essa posição imperial e dominante começou a degradar-se. Primeiro com o surgimento do euro, moeda em que já são feitas 1/3 das transacções comerciais mundiais o que lhe tem valido uma guerra sem quartel por parte dos EUA que está a atingir um ponto nodal. Depois os chamados BRIC (Brasil, Rússia, India, China) que, apesar das suas abissais diferenças,  têm, desde há vários anos, manifestado nas reuniões do G20, a necessidade de o dólar ser substituído por outra referência cambial que concitasse o acordo entre as economias mais fortes do mundo. Coisa a que os norte-americanos fazem ouvidos de mercador e nem querem ouvir falar, com o apoio do que tem sido, até agora, os seus instrumentos de dominação o FMI e o BM, desde que o dólar numa grande manobra cambial deixou de estar indexado ao ouro, o que, num golpe de quase mágica, fez evaporar 45% da sua dívida externa. Frente a essa contumaz surdez, os BRIC decidiram que as transacções entre si se começassem a fazer, como agora acontece, nas suas moedas nacionais. O dólar, cada vez mais cercado,  ancora-se no mercado dos barris de petróleo, pelo que não será de estranhar todas essas movimentações no Médio-Oriente, com o apoio das “democracias” suas aliadas Arábia Saudita, Qatar, Omã, em defesa do dólar e numa estratégia de cerco á China.

Com o Japão a descolar das directivas dos EUA, aceitando essa proposta da China, o que está em marcha é a internacionalização do yuan, colocando-se mesmo no horizonte que as trocas comerciais entre os países do Sudeste Asiático abandonem o dólar, trocando-o pelo yuan. Em relação à China isso encaixa-se no seu Plano Quinquenal 2011-2015 em que se prevê que a dominância das exportações seja progressivamente substituída pela predominância do consumo interno e que as empresas chinesas estatais e/ou privadas, mas sempre muito centralmente controladas, se internacionalizem. O que está a acontecer um pouco por todo o mundo e já chegou a Portugal. A grande curiosidades é assistir às economias ocidentais atacadas de febre neoliberal a privatizarem tudo e mais alguma coisa sendo essas empresas nacionalizadas por um país. Contradição que não incomoda os nossos pensadores económicos tão decididos a que os Estados se reduzam ao mínimo dos mínimos abdicando das suas empresas estratégicas. (leia-se o interessante texto que Mário Vieira de Carvalho publicou no jornal Público e que anexamos).

O que se assiste é a uma mudança geopolítica de consequências incalculáveis e ainda imprevisíveis, apesar de todo o optimismo mesmo dos mais insuspeitos economistas ocidentais. Joseph Stiglitz numa entrevista no caderno Economia do Expresso, diz, com uma inesperada (?) ligeireza que “não há hipótese de os EUA entrarem em incumprimento porque devem dinheiro em dólares e controlam a impressora “ acrescentando a rir “só se a impressora se avariar”. Não coloca sequer a hipótese de a impressora começar a tipografar moeda que vale tanto como o papel em que é impressa ou mesmo valer tanto como papel higiénico. Parece ser mesmo essa a hipótese que começa a circular pelas economias mais poderosas do mundo pelo que, cautelarmente, vão atirando o dólar para um protagonismo secundário, até se tornar irrelevante. Esse movimento de abandono do dólar, sucede também quando a China se aproxima de ocupar o primeiro lugar nas indústrias tecnológicas e no registo de patentes. Isto quando a sua posição já é dominante em muitos sectores. A ideia que ainda é corrente de a China produz produtos de má qualidade na base da exploração da mão de obra barata e trabalho infantil é pueril, está bem longe de traduzir a realidade actual. Em dez anos, a China deu um brutal salto em frente, melhorou significativamente todos os índices aceites para medir a qualidade de vida, tornou-se uma potência tecnológica.

No início do Ano do Dragão tudo parece apontar para que o eixo do mundo se desloque geograficamente. A incerteza é grande e os perigos são muitos. O menor dos quais não será os EUA, em decadência económica, continuarem a ser a maior potência militar. As últimas leis aprovadas tornam aquela democracia duvidosa numa democracia protofascista e os últimos orçamentos de estado acentuam o seu pendor militarista. Nada que deixe o resto do mundo sossegado.

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