Política

Sondagens generosas à espera dos indecisos

Agora que o país começa a perceber com maior amplitude os efeitos do acordo com a troika e que muitos esperariam que os responsáveis pelo estado da situação fossem penalizados nas urnas, a recuperação do PS e de Sócrates nas sondagens de opinião mostra o quanto o exercício da política é uma arte em que os protagonistas devem estar dotados das melhores estratégias e de algumas competências específicas. Mas quem tudo decidirá são os trinta por cento de indecisos, segundo números das mesmas sondagens.

Os resultados obtidos pelo PS de Sócrates nas mais recentes sondagens não deixam de constituir um caso de óbvio interesse para os observadores do sistema político: depois de seis anos no governo e de ter conduzido o país a uma situação de pré-desastre, os políticos por isso responsáveis parecem beneficiar da complacência de uma parte relevante dos eleitores.

O que nos ajuda a compreender este facto?

Um) Gestão do calendário. Escolher o motivo e o momento das eleições: após a demissão do governo ficou claro que o PSD não tinha programa para apresentar e que Passos Coelho tinha sido apanhado “com as calças na mão”: tiros para o lado a propósito das mais diversas matérias sobre que se foi pronunciando em declarações a televisões, mas que acabaram por acertar nos seus próprios pés. A dupla P.Coelho-Catroga parece funcionar com o velho ministro de Cavaco a dar as ordens e o jovem líder a ir atrás, ainda a aprender, .

Dois) Uma mensagem clara. “A culpa foi da oposição quando chumbou o PEC IV” é a base central do argumentário socialista para as Legislativas. Transferir para a oposição a responsabilidade pelo agravamento da crise da dívida soberana, da chegada do trio FMI/BCE/UE e do consequente agravamento das medidas de austeridade,. Uma mensagem que varre para debaixo do tapete as suas próprias responsabilidades, nomeadamente as resultantes das opções nos dois últimos anos no contexto da crise internacional iniciada com o caso dos sub-prime.

Três) Gestão comunicacional – começou com a espectacularidade de uma deslocação a Belém para apresentar uma desnecessária demissão, logo que conhecido o “chumbo” do PEC IV e passou por um congresso socialista produzido para iluminar e projectar o líder (o que lhe valeu a evocação de uma certa mitologia norte-coreana), apagando praticamente tudo o resto num mar de bandeiras nacionais para telespectador ver; continuou com as sucessivas entrevistas do PM e a sua omnipresença mediática – perante quem todos personagens das suas linhas se apagaram em óbvia manifestação de “unidade”. Sócrates é, sem dúvida, um bom comunicador que o público conhece. Dispõe de uma imagem cuidada e seguramente bem assessorada, que procura esconder “atrás dos arbustos” todos os erros cometidos pelo líder. Mas quem o aconselhou a falar apenas das não-medidas na comunicação ao país que antecedeu a divulgação do memorandum da troika? Um gesto demasiado parolo para não ser notado.

O que vem ai?

Os partidos do auto-designado “arco governativo” (PS, PSD e CDS) têm o seu programa de governo já estabelecido – está inscrito no memorandum. No mês que nos separa das eleições, iremos tentar perceber se há diferenças programáticas entre esses partidos ou se nos limitaremos a uma escolha entre as cuidadas imagens dos seus líderes. O grau de responsabilidade de J. Sócrates pela situação actual que venha a ser percepcionado pelos indecisos será correspondente à medida da sua penalização nas urnas.

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Política

Primeiros-ministros… como sair?

Zé Povinho cravejado com impostos, décima e outras "carícias". Caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro

Ser primeiro-ministro de Portugal não é tarefa fácil. Às tantas é mais fácil chegar ao lugar do que sair e ficar bem no fotografia. Recapitulemos.

Cada um a seu jeito, Cavaco Silva, António Guterres e Durão Barroso foram primeiros-ministros avisados. Cavaco (1985-1995), ao fim de dez anos como Chefe do Governo, percebeu, por ocasião de um célebre Carnaval, que o seu tempo havia chegado ao fim e não se recandidatou. Seguiu-se-lhe Guterres (1995-2001) que, antevendo a aproximação do “pântano” após a derrota do seu partido em eleições… autárquicas, saiu pela esquerda baixa. O testemunho foi passado a Durão Barroso (2002-2004) que após dois anos no lugar e assustado com a visão do país “de tanga”, o trocou pela sereia europeia. Saiu pela direita alta e passou o testemunho – sem eleições — ao seu amigo (ou inimigo) de estimação Pedro Santana Lopes.

O resultado pessoal foi óptimo para o trio de políticos. Cavaco descansou, regressou à Universidade e tornou-se um talentoso investidor. Para coroar a sua carreira de “servidor público” desejou e conseguiu ser eleito Presidente da República. Guterres repousou das agruras do “pântano” e dirige hoje uma prestigiada organização internacional, viajando pelo mundo em missão de protecção dos refugiados. Barroso, qual deus do Olimpo europeu, repousou menos e é hoje uma estrela da política mundial, por onde também viaja, aparecendo amiúde nas fotografias de cimeiras e outros areópagos internacionais.

Resguardados do caldeirão nacional, Guterres e Barroso reservam-se, à semelhança de Cavaco Silva, para uma candidatura presidencial, esse lugar onde se influencia, mas não se governa, e se é muito popular.

P. Santana Lopes “anda por aí”, como avisou logo que perdeu as eleições para J. Sócrates (2005). Ajudado por uma má imprensa, que tudo fez para o equiparar ao “playboy que chegou a primeiro-ministro”, não aqueceu o lugar. Terá cometido o erro crasso de ter aceitado o lugar sem eleições — uma habilidade do seu amigo (ou inimigo) de estimação D. Barroso que, com artes nunca desvendadas, também conseguiu convencer o presidente J. Sampaio.

Guterres e Barroso abandonaram o rectângulo do combate, Portugal, e partiram para melhores paragens. Porventura humildemente cientes das suas capacidades. Como este país cansa e desilude! Daqui se constata que não são só os pobres e os desempregados que emigram para melhorar a sua vida. Veja-se que até os nossos mais altos representantes o fazem… Continuar a ler

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Política

Não votes na Mãozinha

Está explicado o mistério!

Sócrates no congresso a apelar desesperadamente siga a maõzinha! Siga a mãozinha! Olhava sempre e só para a esquerda!

Podia-se pensar que tinha encenado aquela fixação, tendo aprendido aquele número na Palombella Rossa: olha à esquerda, olha à esquerda, remata à direita! Ou até que levava a teatrada tão a sério que decidira representar publicamente o acto de contrição.

Afinal foi o vidro do teleponto da direita que o obrigou a estar sempre virado para a esquerda. O sofrimento que o homem suportou estoicamente durante aquele discurso são rosas senhor, são rosas de plástico, falsas como judas.

A mãozinha continuará sempre fechada para a esquerda e aberta para a direita.

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Política, Trabalho

Sócrates no Titanic

Sócrates deve ter sido, noutra vida, violinista no Titanic. Enquanto o seu Governo e o nosso país se afundam, o primeiro ministro continua a tocar empenhadamente. Com uma diferença: os violinistas do Titanic sabiam tocar…

O ainda chefe do governo exulta com o acordo para a competitividade e o (des)emprego alcançado na concertação social. Um triunfo político, proclamou o governante a prazo. Para o país, acrescenta. Ora aqui está mais uma demonstração de inconsistência política no mais elevado grau.

Sócrates fala de um triunfo imaginário obtido com um acordo de onde se excluiu, por razões mais do que justas, a maior, ou talvez mesmo a única, central sindical do país; um triunfo em que apenas patrões celebram, acompanhados pela irrelevância política, social e laboral que responde pelo nome de União Geral dos Trabalhadores.

Falar de triunfo só pode mesmo ser fruto de um delírio político que pode e deve, naturalmente, levar à obliteração eleitoral do autor de tão bizarras declarações. Um triunfo que, entre entre malfeitorias, poderá fazer com que se sejam os próprios trabalhadores a pagar o seu despedimento.

No Titanic os violinistas tocavam com afinco, mas sabiam que o barco ia afundar. Sócrates também sabe, mas ainda pensa que pode continuar a enganar tudo e todos o tempo tempo.

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Cultura, Política

Sandice Ortográfica

Começa agora a proliferar na imprensa uma nota no fim dos textos avisando que foi escrito “de acordo com a ortografia antiga”

Não sei se a intenção é colocar uma nódoa no texto ou deixar uma marca do género da que Hitler obrigava a colocar nas roupas e nas fardas carcerárias dos judeus, comunistas e homossexuais. Tal como nesses malfadados tempos, esse estigma só honra quem não se verga às imposições de um código negociado há dezenas de anos por uns malfeitores da língua portuguesa, e que Sócrates, um beócio contumaz sempre ávido de modernidades & novidades por mais rascas que sejam, quer impor aos cidadãos portugueses com a cumplicidade da maioria da Assembleia da República, contra a opinião da esmagadora maioria da comunidade científica e cultural do país.

Apesar de o Acordo já estar ratificado e, oficialmente, ter entrado em vigor em 2009, deverá continuar a ser combatido e execrado. Até 2015, ano em que se supõe tornar-se obrigatório há uma luta patriótica a empreender contra essa aberração ortográfica que não pode baixar de intensidade nem ser procrastinada. Temos o exemplo de um anterior acordo ortográfico acordado, em 1945, entre Portugal e Brasil que o Brasil atirou para o caixote de lixo das inutilidades.

Agora começamos a ser sinalizados. Ainda na semana passada, perguntaram-me se um texto que tinha escrito para uma publicação em que colaboro regularmente podia ser “corrigido” pelo novo acordo ortográfico. Recusei liminarmente. A troca de “mails” entre o Conselho Redactorial foi intensa. Conclusão no fim do texto deverá figurar a etiqueta denunciadora: “escrito de acordo com a ortografia antiga”.

Sugiro que hitlerianamente me seja fornecido um pin para colocar na minha roupa. Tenho um modelo que proponho à consideração de todos.

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Política

Causas Humanitárias

Ahamadinejad entregou o seu Peugeot 504 à Organização de Ajuda Social Iraniana, para ser leiloado, revertendo o valor da venda para a construção de 60 mil casas para deficientes e pessoas com necessidades. Concorreram à compra leiloeiras da Europa, América e Ásia. O velho automóvel rendeu 1,81 milhões de euros, uma quantia considerável.

Isto pode iluminar uma ideia na cabecinha do nosso primeiro-ministro.
Numa altura em que, em Portugal, todas as agências e serviços de ajuda social dão sinais de alarme com o aumento diário de pessoas carenciadas que a elas recorrem, Sócrates podia ter um gesto magnânimo, liberal e moscovita como diria Pessoa, e oferecer para leilão o seu diploma do curso de engenharia. Sabe-se lá o valor que seria atingido por tão precioso e raro documento. Apostamos que a excitação dos mercados seria imensa, transferindo para aí o nervosismo que os assalta quando os títulos da dívida portuguesa são postos á venda.

Pudera! O diploma de engenheiro de José Sócrates é uma raridade universal!

Ainda por cima, como a Universidade certificadora já não existe, não corria os riscos do ministro da Defesa alemão que viu ser-lhe retirado o título de doutor, pela Universidade de Bayreuth, por ter plagiado a tese. Se tivesse feito doutoramento, mestrado ou licenciatura na Independente não corria qualquer risco. Azares de quem não sabe escolher universidades.

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Política

Separados à nascença?

As declarações de Sócrates, no Congresso dos Exportadores, conjugadas com o que se soube hoje sobre a destruição pela TMN dos registos das escutas telefónicas feitas no âmbito do processo Face Oculta invocam de uma forma cristalina os mais notórios defeitos do salazarismo e trazem à memória algum do arsenal argumentativo do cavaquismo da década de noventa.

A TMN, escondida atrás de um imponente conjunto de justificações técnico-jurídicas, tenta explicar por que destruiu os registos, deixando, porém, claro, que mais um jeito se fez ao primeiro-ministro suspeito e respetivos amigos. A eliminação de registos e documentos não apaga, contudo, os factos que são conhecidos e muito menos anula a perceção que os cidadãos têm sobre Sócrates e os esquemas em que se terá envolvido. No salazarismo a anulação de registos e de notícias, por via do visto prévio, funcionava porque existia, de facto, um aparelho repressivo que zelava pelo bom funcionamento do sistema, aparelho que, como sabemos, impediu durante décadas que os portugueses pudessem exercer plenamente a sua cidadania e livre arbítrio. Hoje não existe tal sistema generalizado — ainda que existam formas de coerção, nomeadamente a económica, muito mais eficazes do que o próprio aparelho coercitivo clássico do estado e quase impercetíveis — mas existe uma crença ilimitada dos detentores do poder na capacidade de influenciar decisões judiciais apenas por via de vícios formais dos processos, nem que para isso, como aconteceu agora, seja necessário destruir registos apenas para que mais tarde se possa invocar a sua inexistência numa qualquer sede investigatória ou judicial.

Já as declarações de Sócrates no Congresso das Exportações, se não foram copiadas de um qualquer discurso de Salazar, bem que podiam ter sido. Quem afirma que “este não é o momento para que a política se entretenha com questões de poder e se entretenha a discutir crises” e que  “isto não é acerca de partidos, não é acerca de poder, isto é acerca do país” só pode ser alguém plenamente convencido da sua infalibilidade política e incapaz de perceber que o seu tempo chegou ao fim. Mas, a verdade é que, de insubstituíveis está o cemitério cheio.

Sócrates recorre ao argumentário anti-política e anti-partidos para convencer os portugueses que apenas ele tem a solução para os males do país. Salazar fez o mesmo, com algum sucesso, reconheça-se…

Num momento em que o que prevalece é, e bem, o primado da política; num momento em que os constituintes do sistema democrático anunciam que podem recorrer aos instrumentos constitucionais para provocar uma mudança de política e de governo, interpretando o que consideram ser os sentimentos e expectativas dos cidadãos, Sócrates diz-nos, implicitamente, que quem o faz está a atacar o país. Exactamente a mesma técnica que Salazar utilizava, traduzida na ideia de que quem não está connosco é porque é contra nós, neste caso contra o país.

Por estas e por outras, sabe muito bem saber que o PCP pondera apresentar uma moção de censura para acabar de vez com esta podridão política em que o governo PS deixou cair o país. E sabe bem saber que o PCP, com a ideia da moção de censura, ganha dianteira na condução do debate político, arrastando o Bloco de Esquerda, que, perante a eventualidade de derrubar Sócrates, é incapaz de expressar com clareza uma posição sobre a matéria.

Já basta de taticismos e de esquemas. É tempo de acabar com isto.

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Política

Vladimir Ilitch não merece a ofensa

Das duas, uma: ou Ana Benavente desconhece o funcionamento do centralismo democrático, por ser profundamente ignorante, ou então apenas quis produzir um elemento dissonante na argumentação — só para ficar bem junto de alguns dos seus camaradas e não a confundirem com uma qualquer perigosa comunista — com que arrasou o governo do partido a que pertence, numa entrevista que deu à Revista Lusófona de Educação e que o jornal “Público” fez o favor de desenterrar.

Na prática, as declarações de Benavente, que compara o “autoritarismo” de Sócrates ao “centralismo democrático” de Lenine constituem uma ofensa não ao líder do PS, mas sim a Lenine. A Sócrates já nada se pode dizer que o ofenda, porque ele é tudo o que lhe chamam, e talvez mais ainda. Lenine, pesem todas as opiniões que se possa ter sobre ele e o seu papel histórico, não pode ainda ser acusado de algumas coisas…

Benavente, que, apesar da comparação pouco feliz, tem toda a razão no diagnóstico que apresenta sobre o PS, esquece que é no Partido Socialista e nos partidos do chamado arco governativo que as lideranças são construídas e definidas como o projecto de um homem só, salvador previdente capaz de, com a visão iluminada que mais ninguém tem, corrigir e resolver todos os problemas da humanidade e, quem sabe, até de desconhecidas civilizações escondidas no sistema solar. Isto mesmo que saibamos que mais não são do que emanações do mesmo poder económico que põe e dispõe sempre e a que alegremente aceitam sujeitar-se.

O centralismo democrático, com todos os enormes defeitos que tem, gera mais discussão democrática e saudável do que qualquer estrutura orgânica partidária nacional. No centralismo democrático, salvo algumas excepções que fazem, de facto a regra, são muitos mais a discutir e discute-se mais ferozmente do que em qualquer directório político partidário português. Com uma diferença essencial: a regra da submissão da minoria à maioria, depois de tomada uma decisão, e a disciplina com que essa regra é encarada, ainda que o essencial resida em saber se os resultados dessas discussões são, ou não, devidamente aproveitados e respeitados. Mas isso é outra conversa… Por isso, comparar Sócrates a Lenine, misturar autoritarismo com centralismo democrático, é um equívoco de proporções históricas e até ofensivas. Para Lenine, claro está.

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Política

Filial do FBI?

O Governo Sócrates negociou às escondidas com os Estados Unidos a cedência dos dados pessoais biométricos e biográficos que constam nas bases de dados de identificação civil e criminal do Estado português, bem como da base de dados nacional de perfis de ADN.

Sócrates só esqueceu que a protecção de dados pessoais, como disse o deputado do PCP, António Filipe, na Assembleia da República, no dia 5 de Janeiro, numa intervenção sobre esta matéria, é alvo de “tutela constitucional expressa, que proíbe a interconexão não autorizada de ficheiros de dados pessoais e garante a sua protecção através de autoridade administrativa independente”, neste caso a Comissão Nacional de Protecção de Dados Pessoais.

Este é apenas mais um episódio que mostra bem como está o Governo de Portugal acocorado perante os interesses americanos. Afinal, não foi apenas o nosso espaço aéreo que cedemos para os voos ilegais de Guantámo, o que, ainda assim, valeu muitos carinhos ao nosso Amado ministro dos negócios estrangeiros. Agora, o primeiro ministro do meu país também quer dizer aos americanos, se é que já não disse, quem eu sou, a cor dos meus olhos, a minha altura e sabe-se lá mais o quê.

Sócrates transformou o país numa mera filial do FBI e transformou-se, ele próprio, no moderno J. Edgar Hoover em versão lusa.

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economia, Política

Com papas e bolos…

Vendedor de banha da cobra, em Lisboa.

Com papas e bolos… se enganam os tolos, diz o velho ditado. Felizmente, já vai havendo poucos tolos que possam ser enganados por este Governo PS, mas eles acreditam que ainda podem enganar todos o tempo todo.

Uma das que usaram para tentar enganar, mais uma vez, os portugueses foi a promessa, feita no momento em que anunciavam o maior roubo fiscal e salarial de que há memória na democracia portuguesa, de instituir uma taxa a pagar pelos bancos como forma de contribuir para reduzir os efeitos da crise esperada em 2011.

A falta de rigor com que a medida foi anunciada, em comparação com a exactidão das quantificações dos ganhos esperados com as reduções salariais e o aumento da carga fiscal sobre os cidadãos, fazia esperar o pior. Mas o PS conseguiu fazer ainda pior do que o pior que esperávamos. Afinal, a taxa era só mesmo mais uma oferta de papas e bolos para enganar tolos. Chegado a 5 de Janeiro, o Governo não publicou ainda a portaria que permitirá cobrar a tal taxa aos bancos, apresentada como a medida de justiça social com que o Governo pretendia fazer-nos crer que iria equilibrar os sacrifícios que pediu aos que menos podem. A medida com que nos queria fazer crer que, apesar de tudo, ainda lhe restava alguma perspectiva de esquerda na abordagem dos problemas.

É bem verdade que, no momento em que se recusou a proibir o pagamento antecipado das mais valias bolsistas pela PT e outros que tais, nos deu logo todas as pistas para adivinhar o que se iria passar com esta taxa, mas era admissível ainda o benefício da dúvida. Agora, já não. Está tudo esclarecido.

Claro que já começou a discussão dos fiscalistas e juristas sobre a retroactividade ou não retroactividade da taxa, o que significa que a coisa se arrastará eternamente nas bancas dos tribunais e, entretanto, lá se foram mais uns milhões para encher os bolsos do sistema bancário e dos seus senhores.

Já não há mais palavras para descrever esta falta de seriedade, de dignidade, de tudo…

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Política

Sócrates at Columbia University

Lamento, mas não vou engrossar o caudal de críticas feitas ao primeiro ministro por ter, supostamente, feito um discurso em “mau inglês” aos estudantes e professores da Universidade de Colúmbia (USA), no âmbito de uma iniciativa designada por World Leaders Forum, subordinado ao tema “Energy policy and the portuguese new growth agenda”, realizada em 23 de Setembro último.

De facto, durante cerca de uma hora – discursou 25 minutos e no tempo restante respondeu ao mais diverso tipo de questões –, José Sócrates safou-se muito bem na comunicação daquilo que lhe interessava : a política energética do governo e da sua imagem pessoal.

É certo que gaguejou aqui ou ali e até começou por dizer que iria utilizar uma linguagem universal : o “bad english”. Mas, convenhamos, é muito melhor escutá-lo nesta língua do que no seu portunhol manhoso, e, quem tem dúvidas, pode esclarecê-las vendo e ouvindo, aqui, em directo o que ele disse.

Tomara que os empresários portugueses, em geral, comunicassem de forma tão escorreita. Em inglês e, em alguns casos, em português.

O problema real  que se deveria, de facto, colocar, está, em minha opinião, no conteúdo da mensagem, ou seja, na propaganda política, como Sócrates assumiu em determinado momento, ter ido fazer a Colúmbia, Nova Iorque.

A estória de que Portugal é pioneiro mundial nas energias renováveis é um duplo engano: porque se limita a ser um seguidor daquilo que foi determinado a nível da UE pelo designado pacote energia- ambiente (clima) e, também, porque esta política é um monumental engano como o tempo há-de provar.

Contudo, os portugueses compraram, de uma forma muito ampla, a tese da liderança portuguesa nesta matéria. Há muita gente insuspeita de ser apoiante do governo que, neste campo, lhe bate palmas.

O homem comunica bem e vende todo peixe que vem à rede. E não apenas robalos. Também despacha cachucho com sabor a fénico. Tem aquilo que se costuma designar popularmente por “muita lata”.

Claro, depois exagera. É que não havia necessidade de ter feito distribuir um curriculum vitae enganoso. Ora vejam aqui.

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Política

Foi o Henrique Neto que disse…

Pois foi. Mas lá está. O senhor já tem uma certa idade, é rico e pode dizer o que lhe dá na gana. Além disso, está reformado e quer é ler uns bons livros e divertir-se. Foi ele que disse. E por isso também se dá ao luxo de dizer alto o que muita gente do PS diz baixinho. Pelo menos enquanto o Sócrates for primeiro ministro.

E o que foi que ele disse? Leiam, então, a parte final da entrevista que ele deu hoje à Anabela Mota Ribeiro, no Jornal Económico:

Porque é que tem pó ao Sócrates?
Uma vez, fui a um debate em Peniche, conhecia o Sócrates de vista. Isto antes do Governo Guterres. Não sabia muito de ambiente, mas tinha lido umas coisas, tinha formado a minha opinião. O Sócrates começou a falar e pensei: “Este gajo não percebe nada disto”. Mas ele falava com aquela propriedade com que ainda hoje fala, sobre aquilo de que não sabe [riso]. Eu, que nunca tinha ouvido o homem falar, pensei: “Este gajo é um aldrabão, é um vendedor de automóveis”. Ainda hoje lhe chamo vendedor de automóveis.

Esse é um dos nomes mais simpáticos que lhe chama, chama-lhe outros piores.
Quando se pôs a hipótese de ele vir a ser secretário-geral do PS, achei uma coisa indescritível. Era a selecção pela falta de qualidade. O PS tem muita gente de qualidade. Sempre achei que o PS entregue a um tipo como o Sócrates só podia dar asneira.

Nos últimos tempos, a sua voz é das mais críticas no PS, e o desdém com que fala dele faz-me perguntar se a questão tem uma raiz emocional.
Faço uma explicação: gosto muito de Portugal – se tiver uma paixão é Portugal – e não gosto de ninguém que dê cabo dele. O Sócrates está no topo da pirâmide dos que dão cabo disto. Entre o mal que faz e Continuar a ler

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Política

Incompetência?

Ou má fé? Começo, realmente, a acreditar que este Governo PS age, mais do que orientado pela incompetência do seu primeiro ministro e respectivos ajudantes, por uma profunda e desonesta má fé. O episódio do pagamento antecipado de dividendos aos accionistas da PT para evitar o aumento de impostos em 2011 é a evidência que faltava a esta tese.

Os accionistas da PT não pagam, mas pagamos nós, os privilegiados que ganham mais de 1500 euros na administração pública e os outros todos que vão levar com mais dois por cento de IVA e aumentos de IRS, foras as consequências nos preços do custo de vida causadas por estas medidas. E assim se esfumam 260 milhões de impostos…

A crer nos jornais do dia, o Governo disse à administração da CGD, banco do estado e um dos maiores accionistas representados na administração da telefónica, que deveria vetar a antecipação do pagamento. Mas disse um dia depois de a decisão ter sido votada no CA da empresa de telecomunicações.

Nesta história assume também um relevante papel o Presidente do CA da CGD, o mesmo que, há dias, depois de anunciada uma taxa sobre a banca, se apressou a dizer que bem podiam aplicar novas taxas à banca, porque seriam os mesmos de sempre a pagar, ou seja, os clientes. Todos nós, mais uma vez.

O Presidente do Banco do Estado assume, uma vez mais, a postura de banqueiro em vez de se convencer que é um gestor de bens públicos, esquecendo o dever de lealdade ao interesse público e não ao interesse de meia dúzia de accionistas, ávidos do euro de dividendo por acção, livre de impostos, que a PT vai já pagar para não ser onerada com os custos do OE 2011. Eis a mentalidade neo-liberal no seu esplendor, o endeusamento do dividendo como única justificação possível para o funcionamento da economia e da sociedade.

Sócrates e os seus patrões conseguiram, finalmente, concretizar o sonho dos detentores do capital. Lá está, é a nossa cassete. Mas não deixa de ser verdade.

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Política

Afinal, não houve tempo…

Foi o que disseram os procuradores do Ministério Público que conduziram a investigação do Freeport. Não houve tempo, em seis anos e meio que durou a fase processual, para fazer umas míseras 27 perguntas a José Sócrates. E quais eram essas perguntas? O jornal “Público” revela, hoje, algumas delas e por aí percebe-se a complexidade dos problemas que este processo suscitou. Além disso, percebe-se também, a crer no que perguntam os procuradores, que nem tudo ficou bem esclarecido.Por isso é estranho este «canto de vitória” de Sócrates.

Os procuradores Paes de Faria e Vitor Magalhães escreveram no despacho final que, «após a análise do inquérito e compulsados todos os elementos que dele constam, verifica-se que, nesta fase, importaria, não obstante a ausência de qualquer proposta neste sentido por parte da Polícia Judiciária, proceder à inquirição do então ministro do Ambiente, actual primeiro-ministro, e do então secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, actual ministro da Presidência». Além das tais perguntas, conclui-se daqui que há outra pergunta por responder e que envolve, obviamente, a Polícia Judiciária.

E quais são então as outras perguntas? Aqui ficam algumas delas, transcritas pelo «Público», para que cada um pense pela sua cabeça:

“Confirma a recepção, na sua residência, de uma carta que lhe terá sido dirigida pelo arguido Manuel Pedro, tratando-o por “Caro amigo”?”; “Confirma ter havido um apoio efectivo da família Carvalho Monteiro [tio e primos de Sócrates] ao licenciamento do Freeport?”; “Encontra alguma explicação” para o teor das declarações produzidas nos autos por Hugo Monteiro (seu primo), segundo o qual a reunião promovida pelo pai com o então ministro do Ambiente “foi realizada e contribuiu decisivamente para o licenciamento” do Freeport?; “Encontra alguma explicação” para as declarações de Hugo Monteiro “no sentido de que, ainda antes da apresentação do projecto, foi ter consigo, a sua casa, na Rua Braancamp, em Lisboa, perguntando-lhe se não se importava que ele invocasse o seu nome, para prestigiar o projecto, ao que terá respondido afirmativamente?”; “Como explica o envio, através da conta de correio electrónico josesocrates@ps.pt, de uma mensagem de propaganda eleitoral ao arguido Charles Smith (charlessmith@mail.telepac.pt), sendo certo que o mesmo é de nacionalidade estrangeira e não inscrito nos respectivos cadernos eleitorais?”; “Confirma que, em Outubro de 2000, enquanto ministro do Ambiente, deu alguma orientação no sentido do ICN apresentar proposta” de alteração dos limites da ZPE [Zona de Protecção Especial] do Estuário do Tejo?; “Teve conhecimento da colaboração do arguido Eduardo Capinha Lopes nas campanhas eleitorais do PS para as autárquicas de 2001, nomeadamente em Grândola, Santiago do Cacém, Moita, Barreiro e Alcochete e, em caso afirmativo, se essa colaboração influenciou a sua escolha para o desenvolvimento dos projectos de arquitectura do complexo Freeport?”.

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Política

um arco-iris no freeport

A comoção assalta o país ao ouvir a declaração do 1º ministro, agora que o chamado caso Freeport acaba, como se esperava em nada ou quase nada.

Comoção que se sublinha quando o 1º ministro invoca os altos padrões pelos quais sempre se regeu o Ministério do Ambiente que então tutelava.

Altos padrões que, por exemplo,  viabilizaram o projecto do Vale da Rosa, em Setúbal, na base da imprescindível utilidade pública de um estádio de futebol. Ele nem pestaneja! São os mesmos altos padrões que estão impressos nos projectos de arquitectura de que orgulhosamente assumiu a paternidade e que são do mais elevado gosto pimba que assola o país e, pelos vistos, a cabeça criadora do 1º ministro.

O nosso 1º ministro, depois de seis anos de suspeições, deveria ter feito outro discurso, mais assertivo. Os seus assessores se tivessem outro gabarito, deveriam ter bebido noutras fontes para que, embora sem atacar a justiça, pusessem em causa o estado ético da nação. Poderia ter baseado o seu discurso no de alguém que, também perseguido pela justiça, assim se lamentava:

“Hoje em dia, as pessoas já não respeitam nada. Dantes, punham-se num pedestal a virtude, a honra, a verdade e a lei. A corrupção campeia na vida americana dos nossos dias. Onde não se obedece à lei, a corrupção é a única lei. A corrupção está a minar este país. A virtude, a honra e a lei esfumaram-se das nossas vidas.”

O nosso 1º ministro bem pode subscrever este sentido desabafo, depois de, durante seis anos, ter vivido entre as labaredas ateadas por todos os que o atacaram, até ver a virtude, a honra e a lei vingarem. Ele, como o autor desse lamento feito alguns dias antes de ser preso por fuga ao fisco depois de ser repetidamente ilibado dos outros crimes, confia na lei.

Advinham quem, em declarações feitas a 17 de Outubro de 1931 à revista Liberty, estava tão preocupado com a honra, a verdade, a lei, sobre o estado moral da sua pátria os EUA? Abram o link. Um exemplo do valor das palavras!!!

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