Se não foi isso que Sócrates fez na Assembleia da República quando respondeu em 2007 às questões que lhe foram colocadas por Francisco Louçã sobre os voos secretos de Guantanamo, então não sei o que será mentir com todos os dentes que se tem na boca…
Sócrates, ladeado pelo seu “unflappable” ministro Luis “Cool” Amado, para usar expressões do senhor embaixador americano em Lisboa, indignou-se, ofendeu-se, e, olhos nos olhos com os parlamentares desconfiados, negou que tivesse havido sequer um pedido ao Governo português para deixar passar os presos por território nacional.
“Nunca aconteceu“, “acusação infundada“, “o relatório [do Parlamento Europeu] que foi recentemente divulgado é um relatório que não ajuda a verdade e profundamente mistificador” são frases utilizadas pelo Primeiro Ministro na negação de factos que a Wikileaks tornou, entretanto, evidentes, com a ajuda dos embaixador norte americano em Lisboa.
Vale a pena ver, a seguir, nesta posta, o video da indignação de Sócrates (e também fica o texto do telegrama do embaixador dos EUA, antes que apaguem de vez a Wikileaks…) e a comprovação do jeito que o Primeiro Ministro de Portugal tem, ele sim, para mistificar, para não usar outra palavra…
A divulgação das comunicações diplomáticas das embaixadas norte americanas espalhadas pelo mundo relançou, entretanto, a discussão sobre a divulgação de informação confidencial que, dizem alguns dos potenciais afectados pela operação de Julian Assange, assemelha-se a mera “coscuvilhice” e a um desrespeito pelo direito à privacidade. Esta discussão está, aliás, na ordem do dia em Portugal, com a recente divulgação de escutas que envolvem, mais uma vez, o Primeiro Ministro e a sua credibilidade e seriedade.
O ataque à divulgação destas informações é compreensível, mas não é admissível que se coloque em causa o seu manifesto interesse público. Aguardo com expectativa a divulgação de mais telegramas da embaixada lisboeta, mas a verdade é que este que já conhecemos justifica plenamente a divulgação de mais informações confidenciais, porque evidencia a falta de seriedade e honestidade de um Governo, neste caso do Governo Português, e isso, obviamente, eu tenho o direito de saber.
Aliás, foi com base neste pressuposto bastante simples que um presidente dos Estados Unidos foi forçado a resignar. Nixon foi empurrado para fora da Casa Branca por dois jornalistas teimosos que insistiram em conhecer informação confidencial, que apostaram em “Gargantas Fundas” posicionadas ao mais alto nível da administração americana. Se não fossem eles, um presidente desonesto, que não hesitou em recorrer à utilização de escutas para saber o que planeavam os adversários, teria continuado a ser presidente.
Não basta ter um discurso sobre a transparência e a seriedade da governação. É preciso praticá-lo. O que vemos, hoje, é que as políticas externas dos países ocidentais, em particular dos países europeus e dos EUA, refinaram ao máximo a hipocrisia subjacente às relações diplomáticas, mas refinaram também os métodos que utilizam para nos enganarem. Continuar a ler →
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