Geral

Terrorismos

SATURNO

Saturno devorando o seu filho, pintura de Goya

Há dezenas de anos que a barbárie terrorista campeia pelo mundo. Manifesta-se das mais variadas formas e com as mais diversas vítimas. Sejam humanas ou materiais. Agora, a memória do atentado ao Charlie Hebdo ainda não faleceu,  mais de cem mortos em Paris,há um mês mais de 250 pessoas num avião que foi sabotado,as duzentas crianças recentemente massacradas na Síria pelos mesmos bárbaros que todos ou quase todos os dias rebentam bombas, disparam indiscriminadamente no Iraque, na Síria, no Iemen, no Afeganistão, no Líbano. Por todo o Médio-Oriente e África. Também não devem ser esquecidos os Budas dinamitados no Afeganistão ou a destruição que tem sido efectuada na cidade de Palmira.

Os estados emocionais que provocam são variáveis. Não o deviam ser, para que a condenação e a memória não se torne flutuante. Todos nos devemos defender do terrorismo que o terrorismo origina. Com o medo que esse terrorismo brutal provova, dissemina~se o terrorismo xenófobo, aduba-se a sua retórica. Suporta-se e aceita-se  o aumento de políticas securitárias a caminho de um novo maccartismo. Dois terrorismos, ou se quiserem as dezenas de terrorismos de fardas e emblemas diversos, acabam por se alimentar  uns aos outros, com a fúria de devorarem a liberdade, as liberdades. O pavor, o medo que espalham tem efeito perverso e muitísimo perigoso, se a isso não estivermos atentos. Querem que nos tornemos autofágicos das nossas próprias liberdades.

Não é por ser aqui ao lado em Paris, nem por o número de vítimas ser superior a uma centena, de se quantificar e qualificar os atentados que deve aumentar a temperatura da nossa indignação e condenação. Deve ser a mesma se tivesse sido no deserto de Gobi e vitimado uma só pessoa. A barbárie é a mesma e deve ser combatida com igual determinação.

Nos últimos anos o terrorismo com a bandeira islâmica é real, a mais vísivel e tem aumentado. Também tem sido utilizado, armado e financiado ao sabor de conveniências e oportunismos políticos  que não se devem esquecer ou travestir. Causa alguma perplexidade ouvir as condolências e a condenação dos atentados em Paris feito por Erdogan que tem treinado, armado e financiado, directamente ou indirectamente o Estado Islâmico, deixando que a Turquia seja a principal rota do petróleo contrabandeado pelo Estado Islâmico, uma das suas principais fontes de rendimento.. Ou ouvir o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita enviar condolências aos framceses declarando que os atentados de Paris contradizem todas as normas éticas e morais, assim como as leis de todas as religiões, quando no seu país quem entre com uma bíblia, mesmo para uso pessoal, é preso. Um país que tem um sistema judicial pior que medieval em que se chicoteia, degola, crucifica em nome da religião e onde a sharia é lei. São desse calibre os aliados do ocidente conduzido pelos EUA, em diversas aventuras no Médio Oriente, para manterem a hegemonia política enquanto a económica se esboroa. A brutalidade da barbárie terrorista, a sua dimensão e extensão são alarmantes. Não só na Síria e Iraque que estão mais na ordem do dia, é bom não esquecer que na Ucrânia há batalhões de jihadistas a lutar em coordenação com as mílicias nazi-fascistas, que é altamente intranquilizante. O nível de preparação militar e organização política que crescentemente demonstram, tornam o combate a essa horda de uma urgência que deve, devia ultrapassar divergências e cálculos políticos a qualquer prazo, numa luta comum que é uma luta civilizacional.

Não se deve perder memória de como tudo isto foi avançando passo a passo. Com que cumplicidades se cimentou. Mas a gravidade da situação é tal que não se pode perder tempo com recriminações. O tempo que se perde a apontar o dedo para esses factos, que são reais e não devem ser rasurados, é tempo que se perde na luta urgente de arrancar pela raiz o mal que, de um ou outro modo, mais longe ou mais perto nos cerca, nos assalta. O inimigo é letal, tem um objectivo que persegue cegamente e sem grandes hesitações. É um animal raivoso e determinado que ataca mesmo as mãos que, directa ou indirectamente, o alimentam ou o alimentaram. O recente atentado em Ankara, com centenas de vítimas, é a mais clara demonstração disso.

O risco que ocorram mais golpes terroristas, cada vez  mais bem planeados e executados, mais dificeis de prevenir é um facto.. A curto prazo, mesmo a muito curto prazo, o maior risco é esse terrorismo alimentar o terrorismo de uma direita ultra momtana, de raiz nazi-fascista, que tem crescido a olhos vistos na Europa Uma direita que se vai  impondo  sentada ao colo do nosso medo e das irracionalidades que origina, escamcarando as portas para os ódios mais primários, mesmo paradoxais. Não podemos deixar que a história se transforme numa pintura negra em que, por temor ou omissão colaboramos, quase sem darmos por isso. Combater e condenar o terrorismo é o mesmo combate de combater todas as políticas de cariz fascista que o dizem combater impondo outro terrorismo.

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A Europa Connosco em 7 pontos

ruinas gregas

1. Angela Merkel e Wolfang  Schaulbe têm um número treinado, bem afinado conhecido há séculos. O do pide bom e do pide mau, com a experiência gestapo. Está em cartaz há vários anos na Europa Connosco. Torturam os povos europeus por interpostos governantes submissos. Sujeitam os recalcitrantes para tudo andar pelos carris das suas ordens.
2. Hollande, Renzi acreditam na primavera merkelliana. Opõem-se até cederem e cedem sempre. Na última representação do teatro de sombras que são as reuniões dos governantes europeus, ficaram muitos satisfeitos por evitar o grexit. A que custos para os gregos e para quê? Salvar o euro que não a Grécia. Remendar os buracos do pano de cena que oculta o palco onde, em sessões contínuas, está em cartaz a comédia-dramática Os Últimos Dias da Europa.
3. Pedro, o Super-Homem de plástico, teve uma ideia e salvou a Europa. Primeira nota, o Pedro também tem ideias, o que o deve deixar exausto, pior do que estar exposto a kriponita. Segunda nota ter ideias para ajudar ao saque e ao esbulho não honra ninguém, mesmo um Passos Coelho.
4.  Marisa Matias tinha a mão no tapete, mas não o puxou com a ilusão que o Syriza e o seu querido Tsipras conseguiriam que a sua (má) proposta fosse aceite pela Alemanha e seus submissos pares europeus. Nada melhor do que ter fé! Depois de Fátima há que acreditar em milagres mesmo contra todas as evidências! E agora, Marisa?
5. A mulher de Alexis Tsipras vai pedir o divórcio? Divorciado do povo grego e de todas as esperanças que andou a espalhar pela Europa já ele está. Merkel e Schaulbe estriparam-nas a sangue frio. Esquecem-se, Tsipras também, que há sempre alguém que resiste.
6. 6. Nas estratégias militares às vitórias de Pirro adicionou-se um novo paradigma: as derrotas de Pirro.
7. No horizonte da Europa anuncia-se um futuro radioso. Depois da derrota do III Reich, o triunfo do IV Reich. Em marcha a transferência efectiva de Bruxelas para Berlim. Os países que não se declararem aliados serão submetidos e transformados em protetorados. A Grécia foi o primeiro. Outros se seguirão. A Solução Final avança!

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Ucrânia: Vem aí uma grande guerra?

http://www.dailymail.co.uk/news/article-2677613/American-military-advisers-masterminding-Ukraines-surge-against-pro-Russian-separatists-bid-expand-Nato-east.html

Pode o conflito ucraniano arrastar a Europa para uma guerra? A pergunta está a deixar de ser retórica. Assiste-se a um crescendo assustador – centenas de milhar de pessoas deslocadas, operações militares em larga escala com destruição de vidas e bens, o dramático abate de um avião civil e agora uma escalada internacional de sanções e contra-sanções. E um horizonte onde pode caber um enfrentamento entre a Ucrânia, a OTAN e a Rússia. Pede-se bom senso!

Recapitulemos.

A mudança de regime na Ucrânia, forçada a partir das ruas de Kiev em Fevereiro, instalou no poder novos protagonistas, particularmente anti-Rússia. O frágil equilíbrio géo-estratégico de um país tão historicamente ligado à Rússia ficou em perigo, com os novos governantes ucranianos a alimentarem um ambiente desconfiança face à Rússia, que rapidamente gerou respostas do lado russo.

O risco acentuou-se com a secessão do território russófono da Crimeia e a sua adesão à Federação Russa. Os episódios de desconfiança sucederam-se e ampliaram-se a ponto de degenerarem numa guerra de secessão em algumas regiões do leste do país (Donbass), cada vez mais mortífera e sem fim à vista. Ucranianos russofonos do leste, com o apoio mais ou menos explícito do governo de Moscovo, responderam assim ao novo poder de Kiev.

Em rota de colisão

E dois países irmãos, ou com uma longa história comum, Federação Russa e a Ucrânia, entraram numa perigosíssima rota de colisão em que vários limites foram já ultrapassados. Com recurso a “obuses” comerciais e financeiros cada vez mais “pesados”, num processo iniciado com a guerra do gás (preços, dividas, desvios, etc.) e agora com uma escalada de sanções e contra-sanções que envolve um numeroso grupo de países e que certamente se refletirá nas respetivas economias.

É desde o início da crise ucraniana claro que o principal objetivo do bloco EUA/OTAN, com a UE de arrasto, é retirar a Ucrânia da área de influência russa e dos seus planos de uma comunidade euro-asiática. Processo que encontra agora na secessão do leste ucraniano um momento decisivo mas de alto risco para todas as partes.

A solução que porventura mais interessaria à Rússia seria a de federalização das regiões russófonas do leste no âmbito da Ucrânia, mas com uma ampla autonomia face a Kiev. Também poderia ser uma solução aceitável para o governo ucraniano. Só que, com o agravar do conflito e o extremar de posições, esta solução parece estar a ficar cada vez mais distante.

A OTAN tem tornado públicos sinais de apoio ao governo ucraniano, que são mais um forte estímulo à subida de temperatura do conflito. E que podem facilmente tornar o país (e não só) no palco de uma guerra bem mais abrangente, com intervenção direta da Federação Russa. E que fará então a NATO? Enviará as suas tropas para o terreno? Enviará a aviação e os misseis contra “alvos seletivos” russos? Ou ficará paralisada enredada nas contradições entre os seus membros, como já se viu no conflito da Ossétia do Sul (Georgia) em 2008.

A Ucrânia não é membro de OTAN, apesar de todas as declarações de simpatia pelos novos governantes ucranianos. Estará a OTAN a “esticar a corda” com a Rússia, empurrando a Ucrânia para a opção militar e inviabilizando uma solução negociada? Loucos são aqueles que anseiam por ver iniciada uma guerra com Rússia.

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Geral

Um novo mapa da Europa?

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Com a Crimeia a caminho da integração de facto na Rússia, está agora claro que o mapa da Europa está a mudar. O detonador mais recente e porventura mais perigoso foi o da mudança de regime operada a partir das ruas de Kiev, Ucrânia. Mas a porta já tinha sido aberta pela independência do Kosovo (da Sérvia) e o estilhaçar da Federação Jugoslava, patrocinados e forçados pelos poderes ocidentais. Resta-nos esperar pelos próximos episódios.

Há um traço comum naqueles episódios. Contradições internas no bloco de leste foram amplamente rentabilizadas pelos poderes ocidentais, sempre desejosos de enfraquecer a Rússia e tudo fazendo para lhe subtrair as áreas de influência estabilizadas após a Segunda Guerra Mundial. Quando a pressão política e económica não chegou, as forças da NATO encarregaram-se de bombardear Belgrado… uma capital europeia.

Depois da Guerra Fria, a Guerra Fria…

A Guerra Fria tinha terminado com a rubrica de M. Gorbatchov, o lider soviético a quem tinha fugido o controlo do processo de perestroika na URSS. O pacto de Varsóvia tinha-se esfumado e os países que compunham a União Soviética tinham declarado as suas independências. Mas todos continuaram a raciocinar na velha lógica dos tempos da guerra fria, isto é, Rússia igual a comunismo, logo a tudo fazer para a desestabilizar.

Ao fim da União Soviética sucederam-se os anos do enfraquecimento, do desprestígio e mesmo da humilhação russa personalizados pela presidencia de B. Yeltsin. O desmantalemanto da União deixou numerosas populações russas ou russófonas e de outras nacionalidades em “lugares errados”. São os casos dos arménios de Nagorno-Karabakh no interior do Azerbaijão, ou dos russos espalhados por quase todas as ex-repúblicas soviéticas, do Báltico ao Mar Negro passando pelo Caucaso e pela Ásia central. Com situações explosivas, como as da Ossétia do Sul e da Abecásia (na Geórgia) ou a Transnístria (na Moldova). Mas também de povos do Caucaso forçados a permanecer na Federação, como é o caso dos chechenos.

Nos últimos anos e como resultado do processo de concentração de poder operado por V. Putin, apoiado numa certa recuperação económica, a Rússia ultrapassou os anos negros que ditaram o encolhimento da sua importância geoestratégica. À aproximação das fronteiras da NATO, ou perante a sua ameaça, a Rússia respondeu logo em 2008 com a invasão de territórios com importantes concentrações de população russa na Geórgia. Estava então sinalizada a inversão da estratégia russa.

Uma mudança qualitativa

O que agora se passa na relação entre a Rússia e a Ucrânia é de grande magnitude para o equilibrio na Europa. É um facto que a Rússia não pode prescindir da Crimeia – onde se situa desde o século XVIII uma das suas mais importantes bases navais, que lhe permite aceder ao Meditarrâneo. Como é um facto que a maioria da sua população é russófona.

Mas também é um facto que há uma relação histórica muito próxima entre Rússia e Ucrânia. São povos próximos, que partilharam uma história comum que não começou nos tempos soviéticos mas séculos antes. Como concilia-la com um novo poder ucraniano que logo nos seus primeiros dias fez questão de assustar os falantes de russo do país?

Se a Crimeia vier a integrar a Federação Russa – como tudo indica – como ficará a relação e a ligação entre russos e ucranianos? Ganhará a Rússia a Crimeia mas perderá a ligação privilegiada à Ucrânia? E como resistirá a unidade nacional ucraniana às tensões libertadas por nacionalismos radicais ou assustados nos dois (ou três) lados presentes? E como não lembrar aqui a Polónia, potencia desejosa de evocar o seu papel histórico na região?

O Império contra ataca

Pode o poder instalado em Kiev dar-se ao luxo de ser anti-russo ou sequer de não manter boas relações com a Federação Russa? A que preço? O que está em jogo é demasiado para não serem tentadas soluções. Dos interesses económicos – basta olhar para as linhas de transporte de gás que atravessam o país – às ligações históricas entre ambos os povos.

Os riscos são muitos e um dos mais sérios pode ser a própria desagregação do Estado ucraniano – estimulada do exterior, a partir da Rússia (e a Polónia? ), a manter-se a presente conflitualidade, mas também do interior, nomeadamente nas zonas orientais e de maior infuência russófona.

Vendo a sua área de influência significativamente diminuída após o final da URSS, assistiu-se nos últimos anos à tentativa russa de reequilibro. Com o patrocínio das separações da Ossétia do Sul e da Abcasia e agora da Crimeia. Regiões onde há sempre significativas populações russas. O novo poder russo visa agora recuperar a influência e o prestigio perdidos

Sete décadas após a última grande reformulação geo-estratégia da Europa, acumulam-se as situações “pendentes”, numerosas na metade leste do continente, mas também presentes no lado ocidental – Escócia, Flandres, País Basco ou Catalunha.

O ténue equilíbrio que havia na Ucrânia, e de certo modo na Europa oriental, foi rompido … E agora?

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For Europe! Fora da Europa?

for-europe-DCB-GVA Europa está mergulhada numa grande crise estrutural de contornos gravíssimos.

Os povos europeus, desde os que sofreram a violência direta de duas guerras, até aos nostálgicos de passados nacionais gloriosos, procuram perceber saídas.

É um tempo que exige reflexão e ação. E não discursos esdrúxulos. Mas é, sobretudo, um período em que devemos estar de atalaia contra oportunismos de diversos matizes.

No seu recente livro “For Europe”, Daniel Cohn-Bendit (presidente dos verdes no PE) e Guy Verhofstadt (ex-primeiro ministro belga e líder do grupo liberal do PE), defendem uma hipótese de caminho para a Europa do futuro.

No manifesto que retoma o antigo projeto de uma União Europeia forte e federal, o elemento mais notável da receita não é, contudo, o federalismo, mas a ideia de uma superpotência europeia imperialista. Nesse sentido, os autores dizem ser necessários dois ingredientes: austeridade para os povos e militarismo face ao mundo.

“Precisamos defender enfaticamente os nossos interesses económicos e políticos contra grandes potências do calibre de China, Índia, Brasil, Rússia ou os Estados Unidos Estados”, dizem.

A globalização está a ser fatal para a economia europeia. E, vendo bem as coisas, também para os EUA. O que é paradoxal: foram os seus líderes políticos e económicos que inventaram esta forma de globalização.

A solução estará no confronto com as potências emergentes que têm vindo a conquistar mercados e produções? Sim, dizem eles. Mas, como e porquê? É fácil, dizem: a Europa, seguindo a pista americana, deveria impor a democracia à força. Claro, uma democracia conveniente ao capitalismo neoliberal, que fecha hipocritamente os olhos a tudo quanto é antidemocrático nos países já sob controlo dos empórios! Continuar a ler

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Internacional, Política

Xácara das Bruxas

A Liberdade guiando o Povo / Delacroix

Em Londres, na maior manifestação dos últimos anos, milhares protestam contra as medidas de austeridade.

Mais um sintoma do mau estar que vai acordando o mundo para a rapinagem que está a ser realizada pelo capital financeiro socavando e pilhando a economia dos países, decapitando a dignidade da humanidade, reduzindo a estilhas o valor do trabalho na gigantesca e desumana trituradora da especulação financeira, em nome de um rigor gestionário que são os espasmos de um capitalismo moribundo a lutar pela sobrevivência.

Camerons, Sócrates, Berlusconis, Coelhos, Portas, Sarkosys, Merkels, Obamas e comparsas, personagens maiores ou menores dessa xácara de bruxas que dançam as últimas rondas sinistras de um sistema a que nos querem amarrar…

Hoje em Londres, ontem em Lisboa, amanhã algures, pequenos incêndios vão alimentando o vulcão que irá explodir e onde, eles todos, um dia serão engolidos.

Não deixemos que a chama se reduza. Antecipemos os seus funerais ao som de uma música que aquece e ilustra o nosso estado de alma, embora eles nunca a hão-de merecer ou perceber! A espessura óssea das suas cabeças é opaca à beleza e à grandeza do mundo!

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Política

Os Ciganos, a Comissária e o Eliseu

O que o governo francês fez com os ciganos é inaceitável, revelador de uma visão distorcida e desfasada da realidade. Não faz qualquer sentido a decisão de expulsar os ciganos, que certamente voltarão logo que possam. Estamos, obviamente, perante uma operação que mais não visa do que desviar as atenções das gravosas alterações que neste país estão a ser introduzidas nos direitos sociais, em particular o aumento da idade reforma.

Mas, assim como a expulsão de ciganos é inaceitável, também não são admissíveis as declarações que a comissária europeia Viviane Reding fez sobre a matéria, numa clara ingerência na governação de um Estado, por muito que possamos concordar com o que ela disse. É bom que se respeite a independência dos Estados, em particular num momento em que também se quer que Bruxelas dê o “visto prévio” aos orçamentos de estado, algo que os europeistas fundamentalistas encaram com a maior naturalidade.

Não são declarações destas, inflamadas e irresponsáveis, que ajudam a resolver o problema. Pelo contrário.

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Política

Emigrantes: nuvens na Europa

Um pouco por toda a Europa multiplicam-se sinais de desconforto com os emigrantes: em Espanha, a partir de uma iniciativa de um grupo catalão de extrema-direita, o Senado debate um projecto do PP espanhol visando a proibição da burca islâmica. O mesmo se passa em França e na Suiça. No Luxemburgo um agente policial difunde uma mensagem de correio electrónico com conteúdo xenófobo ofensivo para diversas comunidades, entre as quais a portuguesa…

Tradicionais destinos de emigração, os países da Europa ocidental devastados pela 2ª Guerra Mundial reergueram-se com a fundamental colaboração de emigrantes. Numa primeira fase com levas de muitos milhares de emigrantes de outros países europeus periféricos, caso dos portugueses, espanhóis, italianos e jugoslavos. Mais tarde também com a emigração oriunda das suas próprias ex-colónias, que atingiu consideráveis dimensões no caso francês, dada a dimensão das suas antigas possessões. Isto é, há várias gerações que a emigração faz parte do quotidiano dos países mais ricos do continente europeu, tendo aí uma expressão muito significativa. A Alemanha tem 12,3% de emigrantes, enquanto a Espanha e a França atingem, respectivamente, 12,2% e 10,2%. No Luxemburgo os portugueses constituem 16% da população do país. Um clima económico de relativa abundância e crescimento económico, agora ameaçado por falências, desemprego e cortes de apoios sociais, tem suportado a serenidade nas últimas décadas…

A novidade da emigração chegou a Portugal nos anos noventa, com a implosão dos sistemas sócio-políticos de muitos países da Europa de leste. Não que até então não conhecêssemos outros povos. Mas são, também eles, o resultado do antigo “império colonial” – cabo-verdianos, guineenses, são tomenses, angolanos, moçambicanos e timorenses não são exactamente estrangeiros. Mal saídos da pobreza mais pobre e das guerras coloniais, os portugueses, desde sempre um povo de emigrantes, começaram a ver chegar ucranianos, kosovares, bósnios, brasileiros. Isto é, viram o país tornar-se um destino de emigração, potenciado pela livre circulação nos países do espaço Schengen.

Não temos sinais públicos de rejeição de hábitos das comunidades estrangeiras como os que vemos tomarem já expressão institucional e legal em países vizinhos. Mas estamos cientes que há uma percepção difusa sobre os impactos das comunidades estrangeiras de maior dimensão – nomeadamente a brasileira – na vida das cidades, no domínio da convivialidade e da partilha do espaço público. Há problemas diagnosticados junto de descendentes de imigrantes, a chamada 2ª geração, para que há que desenhar intervenções e programas específicos. A concentração em guettos de habitação social terá que ser alterada.

A dimensão da comunidade muçulmana em Portugal, estimada em 30.000 membros, segundo dados da Comunidade Islâmica de Lisboa, contrasta com a expressão atingida em países como França (3 a 4 milhões, 7% da população) ou Alemanha (2 a 2,5 milhões) – o que ajuda a compreender a inexistência de problemas em Portugal ao invés do que tem vindo a acontecer naqueles países.

Dada a baixíssima taxa de natalidade que os portugueses têm na actualidade, a imigração tem que ser uma solução a considerar seriamente. Os imigrantes são, na maioria dos casos, pessoas em idade activa e disponíveis para trabalhar, desempenhando funções que os nacionais não vêm como atractivas. O cosmopolitismo de uma sociedade com comunidades de diversas origens permite que ela seja mais plural e rica. Aos imigrantes devem pois ser concedidos os direitos inerentes a quem trabalha e exigidos os deveres correspondentes. No respeito da sua cultura e das suas tradições, deve ser-lhes proporcionada formação sobre a cultura e as tradições portuguesas.

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Política

Para nos Despertar do Sono da Razao que engendra Monstros

Num cenário de grande significado simbólico, o do berço da civilização ocidental, os gregos apelam:
POVOS DA EUROPA LEVANTEM-SE
É um apelo e é um aviso de quem está em luta há muitos dias. Luta que não tem enfraquecido apesar da comunicação social a congelar ou dela preferir as imagens de uns quantos desacatos levados a cabo por ditos extremistas, um filme velho e relho rodado para desacreditar um povo em luta pelos seus direitos, pela sua soberania, contra os ditames de Bruxelas que, a mando da Alemanha quer impor um estatuto de protectorado aos outros paises da CEE.

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