Geral

Reencontros… doces.

Há semanas que duram….e duram… e as saudades apertam, tiram-nos a vontade de comer, de dormir…

Naquela sexta-feira, ao final da tarde, foi com alegria, apesar de cansado, que tomei o comboio que me havia de trazer para casa, depois de uma ausência que nunca mais tinha fim. Muitos dos passageiros traziam espelhado na cara a mesma euforia, a mesma pressa de chegar, e nem a falta de lugares disponíveis para todos foi impedimento para a festa que eu já pressentia estar para acontecer…

Ela, para surpresa minha, foi esperar-me à estação do Pinhal Novo.

Avistámo-nos, um ao outro, quando o comboio abrandou ao dar entrada na gare e ela correu, como se de uma atleta de fundo se tratasse, ao longo da plataforma, a mover os lábios, dizendo coisas que eu não ouvia nem entendia e, no entanto, eu ria de felicidade.

Nada na minha vida foi tão doce como aquele momento em que, ao apear-me, caí nos braços dela.

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Geral

Estimas de estimação.

arvore

A pequena árvore que “estacionou” em frente à minha casa já cresceu, mas continua desigual no seu viver… como os homens.

Umas vezes adormece toda desnuda e, quem a vê, parece que grita com seus braços levantados ao céu, a tiritar de frio, em dias de chuva. Outras vezes desperta e enfeita-se, em dias de mais calor, cobrindo-se com as suas melhores roupas, cheia de vida, dando abrigo aos seus melhores amigos, que são sempre bem recebidos.

Andar é que não anda…

Gosta, por certo, de viver ao meu lado e eu lá vou fazendo o melhor que sei e posso. Rego-a, corto as ervas daninhas, dou-lhe ferro e vitaminas e, quando tenho tempo, contemplo-a.

– És mesmo bonita!

Há quem tenha cães, gatos, galinhas e patos, eu tenho a minha árvore.

Todos os dias a vejo, todos os dias ela me vê. Somos como dois bons amigos que, com o passar dos anos, já não podem viver um sem o outro.

Eu gosto da minha árvore.

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Geral, Política

Abstracção e sonho

 

MARCELO R SOUSA

Marcelo Rebelo de Sousa venceu as últimas eleições para Presidente da República e a culpa não é minha, nem da minha família, nem da minha vizinha, que vive só, mas que não é parva.

Antes de conhecidos os resultados eleitorais dizia-se ser possível derrotar o candidato da direita, e que este nunca chegaria a Belém (nem que chovessem picaretas), que não, com toda a certeza, pode lá acontecer uma coisa dessas… e se não for vencido há primeira volta, será derrotado à segunda, de modo expressivo, porque sim e coisa e tal…

Agora que os votos já foram contados e a tomada de posse há muito que ocorreu, ninguém, por agora, está interessado em recordar a pesada derrota da esquerda portuguesa em mais um acto eleitoral, pois o “caminho faz-se caminhando”.

De todo o modo, ao cabo de alguns meses de mandato, muitos – mais do que aqueles que nele votaram, assim revelam as sondagens de popularidade – simpatizam com o actual Presidente.

Simpatizam com o seu modo de ser e de estar, do saber ouvir, da vivacidade com que comunica, da espontaneidade e da proximidade com as pessoas, do seu bom senso, das decisões tomadas…

Enfim, será Marcelo Rebelo de Sousa outra pessoa?

Bem sei que ele é agora o Presidente de todos os Portugueses e que a “gente sonha mais do que vê”…

 

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Geral, S.N.S., saúde

Um bem raro

saúde

 

 

 

Tudo aconteceu num repente… e todos os minutos contam, para o bem e para o mal.

Depois de alguns exames é para o hospital – lugar de vida e de morte – que o levam. Atónito, com tantas alterações na sua vida em tão pouco tempo, o que queria era sair dali, o mais rapidamente possível. A sua expectativa, porque é uma pessoa positiva, é que o inesperado aconteça e que as boas notícias dêem lugar às más e, como que num passo de magia, a vida volte ao seu curso habitual, longe deste meio invasivo e acético, onde tudo é impessoal, dos cheiros… aos paladares de sempre.

Quando, finalmente, se abeirou da porta do quarto, sentiu um tremor forte por todo o corpo que o deixou em “pedaços”, tal qual um copo de vidro que, ao cair, se despedaça. Era assim que se sentia. Em “cacos”.

A entrada deu-se a medo, muito assustado e pouco convencido da necessidade deste seu ”novo espaço/quarto”. Sentia-se bem, sem nada a assinalar, só os exames o desmentiam. Aos poucos, ainda que vagarosamente, deixou cair o corpo sobre a cadeira que estava junto à mesa, a um dos cantos do quarto, apoiou a cabeça entre as duas mãos e fechou os olhos… como quem dorme. Sentia-se cansado.

Entorpecido, de olhos molhados e sem interesse em ver ou ouvir, só tinha o desejo de acabar com aquele tumulto. A cabeça sentia-a “vazia”, a imaginação, sempre tão viva, estava agora totalmente paralisada. Só podia estar doente… ou seria do desconcertante medo?

A noite já descia dos céus e tomava de assalto, com o seu manto negro, todos os espaços e cores, que tudo submerge.

– Pareço estar num poço sem fundo – dizia de si para si.

Tudo aqui é novo e frio, como frias são as noites de invernia, com a chuva a plagiar o choro das fontes.

Os dias, esses, são vividos um de cada vez, na esperança de que aconteçam muitas vezes, para manter acesa a chama da vida.

Quando saiu pela porta principal do hospital, naquela manhã de Janeiro, e acedeu à liberdade, um pequeno sorriso iluminou o seu rosto e aceitou (como lhe tinha dito a mulher) que tinha renascido… outra vez.

Não há nada de melhor… do que ter saúde!

 

 

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Geral

Retratos…bárbaros

pedinte

Não é um lamento… é a revolta!

Quando o vejo passar, envergonhado, por entre os carros ruidosos, mas parados, num dos  semáforos da cidade, de boné na cabeça e mochila às costas, contendo os poucos bens que possui, com a sombrinha na mão onde se apoia quando, por cansaço, já não sustém o peso do corpo, o António (porque todos temos um nome) espera e desespera, se o ignoram… porque há vidas que não podem esperar pelo amanhã, vivem só o presente, não têm passado nem futuro.

Há outros “retratos” de vidas que, não possuindo a importância e a urgência deste, são vistos e admirados pelos seus (não) feitos e minudências sociais, obtendo a atenção e o aplauso (às vezes a inveja) de muitos.

Incongruências… deste tempo bárbaro.

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Geral

O CANDIDATO

BANDEIRA

É já no próximo dia 24 de Janeiro que o país vai às urnas para eleger o próximo Presidente da República (o vigésimo desde a Implantação da República, o sétimo desde o 25 de Abril e o quinto democraticamente eleito) e eis que os jornais, a televisão e a rádio estão “prenhas” de palavras, de debates e de discursos do candidato que deseja (há ainda quem tenha privilégios… vá se lá saber porquê) afirmar, convencer, ocultar ou iludir os eleitores dos seus verdadeiros desígnios.

O candidato, é bom que se saiba, julga que em política tudo vale, e são muitos os recursos que utiliza para levar a “água ao seu moinho”.

É natural que aquele que melhor domina o uso da palavra (é ela que constitui a matéria-prima por excelência da política) possa tirar eventuais vantagens, ainda que temporárias, no conjunto dos debates e nas várias intervenções em que participa, apesar de não trazer/acrescentar qualquer ideia nova que seja geradora de contributos significativos e positivos para o desenvolvimento do país e para a melhoria de vida dos portugueses.

Não há, sabemo-lo, um candidato que reúna todas as qualidades de que o país necessita, mas há quem não mereça ser candidato a tão alto cargo da Nação… nem o país precisa dele.

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”[1].

[1] Abraham Lincoln

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Política, saúde

Já Chega!

Rosina Andrade é médica, anestesista, dona de um humor mordaz e acutilante. As suas palavras são um grito de alerta que vale a pena ler e divulgar… a bem do Serviço Nacional de Saúde.

Já Chega!

Na “ressaca” de uma consoada que pela primeira vez em seis anos consecutivos pude festejar junto da família, reservo uns momentos para maçar quem quiser ler estes desabafos.
A maior parte dos meus amigos do FB conhece-me bem, porque muitos são mais do que amigos virtuais. Conhecem o meu modo de estar por vezes truculento, o espírito não alinhado e rebelde, a intolerância para o disparate e a displicência, a falta de corporativismo. Costumam resumir tudo na designação “mau feitio”. Os mais contaminados pelos eufemismos em voga dirão que tenho um baixo quociente de inteligência emocional. Não discordo do veredicto, prefiro ter mau feitio a ter mau carácter e o meu QI (não emocional) avaliado, em tempos de juventude, em 138 e 140 parece afastar-me dos níveis de debilidade e embotamento de raciocínio.
Vem tudo isto a propósito de que, sendo médica, me sinto diariamente agredida, insultada e difamada pelos profissionais do “eu acho” e do “eles deviam”.
Para quem me conheça menos eu apresento-me: médica anestesista, 57 anos, 31 de profissão dedicada nos últimos 14 anos sobretudo à Neuro-anestesia, dez dos quais no H. de S. José.
Para esclarecimento de muitos que transformam os honorários médicos em mistérios de sociedades secretas, a minha remuneração na categoria de assistente hospitalar graduada, com exclusividade na função pública, horário de 42 horas semanais (actualmente 39, pela redução anual de uma hora após os 55 anos) é de 4107 € (preço hora ~ 22 €) dos quais receberei no fim do mês ~ 2400 € (preço hora ~ 9€). A condição contratual de exclusividade obriga-me à prestação de mais 12 horas extra semanais se a instituição hospitalar o exigir (e exige), resultando em 53 horas semanais, das quais 24 são um período contínuo. Posso ser solicitada (e pressionada) a realizar mais horas semanais. Actualmente, face à carência de recursos na área de anestesiologia, perfaço, em média, 70 horas semanais (39 em actividade de bloco operatório programado, o resto em urgência) e tenho um fim de semana por mês sem urgência (nos meses mais compridos posso chegar à loucura de ter dois). Por lei poderia não realizar trabalho nocturno a partir dos 50 anos e ter isenção total de trabalho de urgência a partir dos 55. Se eu e os meus colegas do H de Faro cumprirmos a lei do trabalho à risca, a urgência cirúrgica será encerrada porque restam três elementos para garantir o apoio anestésico 24/24 horas – 7 dias por semana. Em resumo, com o ordenado base e as horas acrescidas, recordo – 70 horas semanais – a minha remuneração fica em – 3800€. Acima da média dos ordenados em Portugal? Sem dúvida! Mas 70 horas representam a soma do horário de dois médicos sem exclusividade que é de 35 horas.
Portanto, meus senhores, os malandros dos médicos trabalham ao fim-de-semana mesmo quando a lei os isenta; e também trabalham nos feriados.
Perguntam alguns porque têm os médicos que ganhar mais do os maquinistas do metro, do que os policias, do que os licenciados em geral. Faço um pequeno desvio para falar das forças da ordem. Os que têm como dever zelar pela nossa segurança são talvez a única categoria profissional mais odiada do que os médicos. Desprestigiados, mal remunerados, sujeitos a julgamentos e em alguns casos a penas de prisão quando cumprem a missão que lhes é profissionalmente exigida. Ridículo e afrontoso que um polícia tenha que pagar o próprio equipamento, surreal que se responsabilize por danos em viaturas usadas em serviço. Não há salário demasiado alto para quem arrisca a vida para que a nossa esteja segura. Existem abusos, sabemos que sim, protestamos contra a caça à multa e algumas arbitrariedades de que somos vitimas. Mas imagino como será difícil ver uma e outra vez sair pela porta da frente o marginal que horas antes detiveram, não raramente arriscando a vida, e que um juiz, de interpretação mais liberal da lei, põe e liberdade.
Vivemos numa sociedade acéfala de faz de conta, de inversão de valores, do politicamente correcto, do fundamentalismo da tolerância, dos chavões momentâneos gritados em ondas emocionais bem orquestradas, em proveito próprio, pelos bonecreiros da política.
Somos formatados para pensar o que os media querem que pensemos, sem contraditório, sem interrogação, adormecidos e embalados em conceitos pre fabricados. Continuar a ler

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Geral

Tudo o que faço ou medito

Tudo o que faço ou medito
Fica sempre pela metade,
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço –

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além…
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.

Fernando Pessoa
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Geral

Somos todos tolos?

Aproxima-se, a passos largos, o tempo das promessas que nunca são cumpridas, vendidas pelas oleadas máquinas de criar sonhos… que nunca se materializam.

Apesar das contrariedades sentidas por todos, ao longo dos últimos quatro anos, já se prepara, outra vez, com afinco a festa que a muitos pouco diz, mas que a uns poucos muito importa que prossiga, mesmo que balofa e cheia de mentiras. E depois… festa é festa! As canetas, os bonés e as bandeiras não vão faltar à chamada. A música, essa, vai servir e ser servida, por instantes, para fazer esquecer as misérias do quotidiano.

Pensarão que somos todos tolos?

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Geral

Esta gente / Essa gente

O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Essa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por gente

NENHUMA!

A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente

Ana Hatherly, in “Um Calculador de Improbabilidades”

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Geral

Histórias minhas

Há um banco, na Avenida Luísa Todi, que conta e ouve histórias aos que por ali se demoram… histórias de vida, verdadeiras, de um passado que mais parece presente.

Sempre que por ali passo, encurto o passo para ouvir pedaços das falas dos que por lá “vivem”, todos os dias, a horas certas, como certos são os dias e as horas daqueles encontros. Para quem já se habituou a vê-los, ali sentados, em dias de sol e céu azul, o banco da avenida é o palco de todas as representações, com aplausos e vaias, como no teatro acontece.

Há já quem chame àquele banco, por graça, o “banco sem tempo”… e tempo é coisa que não lhes falta, felizmente.[1] É verdade que o tempo não dá para tudo, mas viver na falta de tempo permanente é uma aflição dispensável.

É com o cair da tarde, na hora em que os pássaros recolhem às suas moradas, que aqueles homens partem, quase como os gatos, para retornarem no dia seguinte, para mais uma festa da vida.

 Ninguém quer regressar aos dias ou a um passado de recordações tanto memoráveis quanto infelizes.

____________________

[1] Ter mais ou menos tempo é uma variável da vida, na arte do saber viver, que apesar de escassa, é preciso saber gerir.

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abril ... sempre

Geral

25 de Abril… sempre!

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Cultura, poesia

Credo… mais um poema

CREDO

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,

creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,

creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. Amém.

Natália Correia

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Geral, poesia

Belo… e poético

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A rua é das crianças

 

Ninguém sabe andar na rua como as crianças. Para elas é sempre uma novidade, é uma constante festa transpor umbrais. Sair à rua é para elas muito  mais do que sair à rua. Vão com o vento. Não vão a nenhum sítio determinado,  não se defendem dos olhares das outras pessoas e nem sequer, em dias escuros, a  tempestade se reduz, como para a gente crescida, a um obstáculo que se opõe ao  guarda-chuva. Abrem-se à aragem. Não projectam sobre as pedras, sobre as  árvores, sobre as outras pessoas que passam, cuidados que não têm. Vão com a mãe à loja, mas apesar disso vão sempre muito mais longe. E nem sequer sabem  que são a alegria de quem as vê passar e desaparecer.

Ruy Belo

Do seu livro Homem de Palavra(s) (1970)

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Geral

Há vidas assim

CHORO-011

Fernanda permanece de pé, colada ao chão, alheia a tudo o que a rodeia, com pensamentos a encalhar em recordações que a perturbam e que por descuido ainda não estão arquivados em gavetas do seu passado.

Apesar de não querer revê, de modo fugidio e em velocidade acelerada, todas as vicissitudes por que passou nos últimos três anos; falta de trabalho, de comida, atrasos no pagamento da renda… e tantas coisas mais. Uma lágrima furtiva escapou-se-lhe dos olhos e deslizou ao longo da cara.

Os sonhos guarda-os num saco de plástico, de baixo da cama, junto a outras tralhas que, desde então, aí permanecem esquecidas.

Sente-se cansada, quase por terra, vencida.

Tem a noção de que não anda a descansar o suficiente – as noites mal dormidas não têm conta – e as últimas atribulações da vida estão a tornar os pensamentos imperfeitos, nebulosos, tal como acontece a qualquer aguarela deixada à chuva.

Adormecer, num sono sem sonhos, embalada num qualquer devaneio que a arrede das angústias que tanto a atormentam, é o que mais queria. Na angústia não há dor. A dor é uma entidade que se localiza e se combate. A angústia, pelo contrário, não se localiza, alastra-se a todo o corpo e é tão ou mais dolorosa que a dor… e só o tempo a amaina.

Há muitas vidas assim… e há quem não queira ver.

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música

Mais música

Foi um amigo que me deu a conhecer este novo trabalho musical, de muito bom gosto, sedutor, capaz de despertar todos os nossos sentidos e abrindo a curiosidade para receber, com toda a atenção, o novo EP “5 Monstros”, de Tio Rex, com data de edição prevista para 1 de Outubro.  

É tão difícil fazer tanto com tão pouco… tarefa só acessível aos predestinados.

 

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Geral

Vil desemprego

Aquele largo era o lugar de todos os encontros e de todas as brincadeiras… das desgraças também.

Todos os dias ele ali estava. Sentado naquele banco de jardim, mesmo no centro da praça, quase pasmado, bebendo um vinho leve e barato, em pequenos tragos, tentando matar a mágoa inexplicável que sentia por dentro, como acontece aos inocentes quando são presentes à presença do juiz. Sempre que o observava, ele chorava, sofria, como quem aguarda pela morte que tudo apaga, calando definitivamente esperanças e ansiedades durante anos adiadas.

António já não sentia forças para deixar de beber… e, bebendo, eu ouvia-o dizer as mais baixas vulgaridades. Às vezes ria dos insultos que lhe dirigiam e, em vez de responder, baixava a cabeça, num quase recolhimento religioso, apesar de indignado.

A vida tinha mudado… e muito. Já não tinha que fazer, ia para dois anos, apesar de ser um “velho”… ainda novo.

Matilde, sem dizer nada, tinha partido e ele nem sabia para onde.

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Cultura, Livros

E… BOAS LEITURAS

Há encontros aos quais não podemos faltar, por cumplicidade ou por genuíno prazer. E se a leitura é o vício bom que tudo avassala, fruto de uma experiência repetida vezes sem fim, então não deve deixar de conhecer este novo site – Deusmelivro.com – que se propõe divulgar/falar de autores, de livros e de livrarias… pois o que se lê é muito precioso e transcendente.

A leitura é, frequentemente, uma ajuda. Sabemos que pode mudar vidas, tal qual o farol que alumia a noite escura… sem parar.

Deixo aqui um pequeno aperitivo… delicioso.

Histórias com Bicho – Livrarias #1

Por 

Conhecem aquela sensação, propagada através do cinema e da literatura, de se percorrer um deserto sem fim à vista e, do nada, dar-se de caras com um belo oásis, cercado por belas árvores e com a dádiva inesperada de água fresca? Pois bem, a livraria Histórias com Bicho é também ela um oásis, descoberto após uma travessia que parece não ir dar a lado nenhum mas que, no final, reserva uma recompensa de todo o tamanho.

Mas comecemos pelo início. Em 1999, na cidade de Tomar, nascia uma editora infantil chamada O Bichinho de Conto, fundada em parceria por Mafalda Milhões e Pedro Maia. A Editora começou com o livro “Perlimpimpim…Perlimpimpão” – da autoria de Mafalda Milhões -, uma edição de autor feita nos tempos da faculdade que viu a luz da edição graças a um grupo de amigos que acreditou que seria possível dar forma ao impossível. Seguiram-se títulos como “Come a sopa Marta” – de Marta Torrão -, “O Desejo da Lua” – de Montse Gisbert – ou “A morte e o nascimento de uma flor” – de Elvira Santiago, Joana Quental e Alberto Péssimo -sempre à volta do mesmo desígnio: ler e dar a ler materiais gráficos de qualidade, desenhados com rigor, cuidado e atentos aos pequenos detalhes.

Depois do nascimento da Histórias com Bicho, um projecto que começou na Fábrica da Pólvora de Barcarena, em Oeiras, num dos espaços da Lugar Comum, a editora entrou em modo pausa, dedicando-se por inteiro à livraria, à mediação de leitura e à formação de leitores.

Há sete anos, tendo por missão a descentralização da cultura e o devolver da vida a uma zona de baixa e média densidade urbana, a Histórias com Bicho fez as malas e andou a percorrer o país à procura de um sítio com características muito especiais. Depois de uma demanda de contornos Quixotescos, o lugar especial para a implantação da Histórias com Bicho foi finalmente encontrado a 2,5 quilómetros de Óbidos, na localidade de Casais   Brancos.

Numa escola onde outrora crianças e adultos se encontravam para aprender, os olhos procuram o castelo, a lagoa ou o mar, num horizonte atravessado por um bonito monte. Em redor há também um poço, uma árvore gigante e ovelhas e cabras à solta, num cenário que parece ter nascido de um bonito sonho de infância. Aqui nasceu uma livraria especializada em literatura infantil, a primeira Livraria que Óbidos conheceu ainda antes de se ter tornado uma Vila Literária, que colocou à disposição dos leitores um catálogo de edições nacionais e internacionais, onde se encontram algumas das mais belas preciosidades editadas.

Mas nem só de livros vive a Histórias com Bicho. A livraria oferece uma agenda regular de actividades de promoção da leitura, apoio na formação de pais, educadores, professores e outros mediadores de leitura e um atendimento especializado, que junta muita simpatia e, na grande maioria das visitas, uma chávena de chá.

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