O actor é um fingidor. Um provocador das emoções alheias. De tristezas e alegrias. De angústias e entusiasmos. Alguém capaz de nos tocar por dentro. Por isso nós próprios também morremos um bocadinho quando morre um actor que nos proporcionou todas essas emoções. Tanto mais se crescemos a vê-lo representar.
Fernando Guerreiro (Setúbal, 25 de Novembro de 1938) foi um desses actores que deixa marca. Não conheço na nossa comunidade quem não gostasse de o ver em cena – coisa difícil nos tempos que correm.
Pelo seu talento, pelo seu desempenho artístico e sensibilidade poética, pelo seu percurso no teatro setubalense desde há décadas. E pelo empenho e carinho que dedicou aos projectos teatrais (e não só) em que participou – nos grupos Ribalta, Teia, Palcarte, Teatro Infantil de Lisboa, Sociedade Musical Capricho Setubalense, Teatro de Animação de Setúbal (TAS) e, ultimamente, no Grupo de Animação e Teatro Espelho Mágico.
Homem do teatro e da palavra, Fernando Guerreiro fez parte daquela geração que viveu parte significativa da sua vida no antigo regime e que, após o 25 de Abril de 1974, soube por mãos à obra e trazer o teatro para a luz do dia. Tempos conturbados, mas ricos de entusiasmo e de novas apostas.
O desaparecimento de Fernando Guerreiro é mais um momento nessa inevitável mudança de geração no teatro feito em Setúbal e que já viu partir gente como António Assunção, Carlos Daniel, Luisa Barbosa, António Banha, Asdrúbal Teles, Carlos César, Mário Anjos e mais recentemente Álvaro Félix.
Apesar de todas as inúmeras dificuldades, tenho a certeza que o teatro de Setúbal está hoje à altura do testemunho que lhe é deixado por Fernando Guerreiro e pela sua geração.
Adeus Fernando!