Fiscalizar a vida alheia sempre foi um dos mais apreciados desportos nacionais. O COVID apenas lhe veio dar novo e reforçado impulso. Com o advento das redes sociais, o impulso para o ataque, para a crítica descabelada, e muitas vezes destituída de qualquer fundamento, ganhou novo alento. E lá estão os especialistas em generalidades armados em polícias do COVID aos gritos e a reclamar de fulano que estava sem máscara, de beltrano que foi a uma festa (nem interessa que as as regras tenham sido cumpridas; para estes polícias covidescos vai dar no mesmo), de sicrano que não cumpriu a distância de segurança. Para os polícias do COVID o país devia ter parado, a vida devia ter sido interrompida, os trabalhadores deviam ter deixado de lutar por melhores salários, nem que para isso todos deixássemos de trabalhar e de receber salário. Não morríamos da doença, lá isso não, mas morríamos de fome. Para os polícias covidescos não faz mal. Desde que possam continuar a fiscalizar a vida alheia. Desconfio que, no momento em que acabar a pandemia, muitos destes fiscais da vida alheia vão cair em enorme e prolongada depressão por deixarem de poder exercer o passatempo preferido. Sim, como irá depois sobreviver esta gente? Claro que, entre eles, há aqueles para quem o COVID é mero instrumento de ataque político. Na verdade, estão-se nas tintas para o COVID. Apenas lhes interessa na medida em que, através do vírus, podem atacar ódios políticos de estimação. Esses são os piores. Juntam a pulsão covidesca (ou será pidesca?), velha como o mundo, à vigarice intelectual. Felizmente há muita gente por aí que reconhece estes vigaristas covidescos que pululam pelas redes sociais a guinchar como símios, embora se comportem como ratos e ratas de esgoto que comem toda a (m…) porcaria que lhes aparece pela frente, defecando depois onde acham que mais gente pode cheirar a sua nojice. Seguramente vão desfalecer por muito tempo com o seu próprio cheiro nauseabundo.
“Não há nenhum comboio a apanhar para as legislativas nem para as europeias. Não há, a minha paragem é esta, não é mais nenhuma. Eu estou por aqui, não escolhi outro apeadeiro. Se, porventura, possa, ou não, ficar apeado em futuras eleições autárquicas, meus caros, ainda falta muito e não sei quantos de vós ou eu ficarão, ou não, apeados, porque, hoje em dia, dois anos e tal na política é muito tempo, mas não tenho outras paragens. Não tenho mesmo. A minha agenda é local e tem a ver com Setúbal, com a minha terra, porque eu gosto. É o meu gosto fazer política local e não é mais nenhum outro. Posso dizer isto com toda a segurança, porque, sempre que me convidam para qualquer outra lista, qualquer outra situação, peço sempre para ir bater lá para o fundo, como foi nas europeias. Portanto, a minha lógica é mesmo local.”
Nuno Carvalho, vereador do PSD na Câmara Municipal de Setúbal, na reunião de câmara de 5 de junho de 2019, em declaração proferida um mês antes de ser anunciado como cabeça de lista do PSD pelo distrito de Setúbal às eleições legislativas de outubro de 2019. Em entrevista ao jornal “O Setubalense” publicada no dia 17 de julho, quando questionado sobre se se “sente à altura de ocupar” o lugar de deputado, respondeu: “Demorei segundos a dizer que sim ao presidente do partido“, que, neste caso, é Rui Rio, vencedor da disputa interna a Santana Lopes, o candidato à liderança social democrata que foi apoiado pelo agora candidato a deputado nas eleições internas do PSD. O mesmo Nuno Carvalho que, em outubro de 2017, “O Setubalense” indicava como subscritor de um manifesto em que se garantia que “Pedro Santana Lopes é a única personalidade com condições de unir o PSD e motivar as bases para os importantes combates que se aproximam“.
Nuno Carvalho foi o candidato do PSD à Câmara Municipal de Setúbal que obteve, nas eleições autárquicas realizadas desde 2001, o pior resultado deste partido.
José Sócrates e Ascenso Simões, Secretário de Estado da Administração Interna (2005-2007) e da Proteção Civil (2007-2008)
A discussão sobre a inconstitucionalidade da Taxa Municipal de Proteção Civil tem sido feita nas redes sociais cá da terra da forma como, quase sempre, são feitas as discussões nas redes sociais, ou seja, com muita ignorância e ainda mais má-fé à mistura. Um dos argumentos (acusações) recorrentes aponta para que a decisão de criar a taxa tenha resultado apenas de uma ação da autarquia, esquecendo todo o contexto, político e legislativo, que motivou tal decisão. Na verdade, a disposição legal que possibilita a criação da taxa foi incluída no Regime Geral de Taxas das Autarquias Locais, aprovado em 2006 pela Lei 53 E, de 29 de dezembro, depois de, por muitos anos, os municípios detentores de corpos de bombeiros (profissionais) sapadores e municipais reclamarem do Estado a devida compensação pela prestação de serviços que nem todas as autarquias prestavam e de exigirem do Poder Central a criação de mecanismos que permitissem que as autarquias tivessem fontes de financiamento para apoiar as associações de bombeiros voluntários. E o que consagrava nesse quadro legal, proposto por um secretário de Estado da Proteção Civil de um governo de José Sócrates? Pura e simplesmente que as autarquias poderiam cobrar taxas “pela prestação de serviços no domínio da prevenção de riscos e da protecção civil“.
Se há responsáveis da situação complexa a que se chegou eles só podem ser José Sócrates e Ascenso Simões, ou, para ser mais rigoroso, o principal responsável de toda esta monumental confusão político-jurídica é, sem qualquer dúvida, o Partido Socialista
Uma das notícias que se encontra ainda disponível sobre este assunto data de 21 de novembro 2005 e foi publicada no Correio da Manhã. Será, porventura, a primeira notícia sobre a matéria, embora depois disso pouco mais se encontre. Nela, refere-se que Ascenso Simões, secretário de Estado da Proteção Civil do governo PS, tinha anunciado no congresso da Liga dos Bombeiros Portugueses, realizado em Viseu, que o “Governo [iria] criar [em 2006] uma taxa de Socorro cujas receitas serão destinadas ao financiamento das associações de bombeiros“. E foi o que aconteceu. Depois disso, foram várias as autarquias que criaram esta taxa, fazendo-a incidir sobre distintos universos de contribuintes. Se, em alguns concelhos, os alvos da taxa foram os consumidores de água, obrigados a pagá-la com valor fixo na conta dos Serviços Municipalizados, noutros concelhos os alvos foram os proprietários de imóveis, a quem a taxa foi aplicada com base no Valor Patrimonial Tributário. Ainda que a partir de 2007 a taxa pudesse ser aplicada pelas câmaras municipais, em Setúbal a autarquia optou por a aprovar apenas em 6 de julho de 2011, mas com diferenças assinaláveis em relação às taxas de proteção civil cobradas no resto do país. Aqui, a taxa seria apenas aplicada a indústria e comércio, escalonada de acordo com o risco de cada indústria ou estabelecimento comercial, livrando-se os restantes cidadãos de ter de a pagar. A deliberação camarária determinava que estes valores apenas seriam cobrados enquanto o governo não “ressarcisse” a autarquia dos valores gastos na Companhia de Bombeiros Sapadores, o que resulta da ideia base de ser o Estado (central e não local) o responsável pela prestação de socorro aos cidadãos.
Na prática, o que aconteceu, uma vez mais, foi que o Estado — neste caso, o Governo Sócrates — empurrou para as autarquias o ónus de ter de cobrar uma taxa para financiar a prestação de socorro aos seus cidadãos, livrando-se, assim, de mais responsabilidades no financiamento, em particular, dos corpos de bombeiros detidos por autarquias. Uma solução cómoda, portanto… para o Governo da altura.
Com o arranque da cobrança da taxa em Setúbal, logo surgiram os protestos públicos das grandes empresas, precisamente as que mais precisam de bombeiros e proteção civil, precisamente aquelas onde estas operações têm maiores (enormes) custos. Nada de admirar, ou não se soubesse que é assim que funcionam as grandes empresas, onde é sempre bem-vindo quem pague por elas os riscos que comportam.
Alguns “especialistas em generalidades” que pululam nas redes sociais locais garantem ter sido a autarquia a única responsável pela aplicação da taxa. Não foi. Eles que procurem (alguns deles) lá no seu partido os responsáveis que os vão encontrar. Nem é muito difícil…
Depois dos protestos, foi o tempo da ação judicial, com os competentes recursos para os tribunais, acabando no Tribunal Constitucional, que viria a declarar a inconstitucionalidade da taxa aplicada em Lisboa e em Gaia (municípios detentores de corpos de bombeiros profissionais e liderados pelo PS e PSD). Em Setúbal, apenas em 2018 o TC declararia a inconstitucionalidade de várias normas do regulamento municipal da taxa de proteção civil “aplicada a uma sociedade exploradora de postos de abastecimento”. Ou seja, não foi decretada a inconstitucionalidade geral da taxa, uma vez que, para tal acontecer, as normas do regulamento de Setúbal teriam de ter sido julgadas inconstitucionais em três casos suscitados em processos concretos (fiscalização concreta). Para o caso, este aspeto deixou de ser relevante, uma vez que a autarquia decidiu anular a taxa, não tendo, assim, havido declaração geral de inconstitucionalidade nem sequer mais recursos para o TC.
A Câmara Municipal tem, entretanto, vindo a desenvolver os
procedimentos para devolver a taxa, tendo-o feito já em vários casos.
A declaração de inconstitucionalidade criou, naturalmente, a todas as autarquias que a tiveram de a devolver, problemas complexos, quer financeiros, quer administrativos. Criou, porém, um problema ainda mais complexo, que reside em saber como se vai financiar o socorro e a proteção civil num contexto de recursos escassos. Contudo, importa fazer uma leitura política deste caso extraordinário. Se há responsáveis da situação complexa a que se chegou eles só podem ser José Sócrates e Ascenso Simões, ou, para ser mais rigoroso, o principal responsável de toda esta monumental confusão político-jurídica é, sem qualquer dúvida, o Partido Socialista, que, para calar as autarquias na questão do financiamento dos corpos de bombeiros, martelou a lei para acomodar uma taxa que, muito provavelmente, os autores da legislação já sabiam que poderia ser declarada ilegal. Mas, afinal, o que interessava isso ao PS, useiro e vezeiro neste tipo de soluções? Nada, rigorosamente nada. Quem viesse atrás que fechasse a porta. E isto reconduz-nos à discussão travada por alguns “especialistas em generalidades” que pululam nas redes sociais locais e que, praticando a descontextualização, garantem ter sido a autarquia a única responsável pela aplicação da taxa. Não foi. Eles que procurem (alguns deles) lá no seu partido os responsáveis que os vão encontrar. Nem é muito difícil…
“Conversas na Praça” hoje sob o tema Desafios da Escola Pública. Assista aqui, em direto, as opiniões e análise de Jorge Gonçalves, Vítor Ferreita e Jaime Pinho, com moderação de Vanessa Silva.
Manuel Pisco, vice-presidente da Câmara Municipal de Setúbal, nas Conversas na Praça no dia 3 de abril
O vice-presidente da Câmara Municipal de Setúbal anunciou esta quarta-feira que a Área Metropolitana de Lisboa está em negociações com a Atlantic Ferries e a autarquia grandolense para integrar a travessia do Sado no novo tarifário de transportes públicos que entrou em vigor no passado dia 1 de abril.
Manuel Pisco revelou na “Conversa da Praça” dedicada à mobilidade e transmitida em direto no blogue Praça do Bocage que a “AML esteve já a negociar não só com [a Câmara Municipal de] Grândola, mas também com a Atlantic Ferries (concessionária da travessia do Sado)”. O autarca salienta que este foi o momento escolhido para tratar desta matéria porque é agora que se está a tratar das “ligações entre as fronteiras da AML com as CIM (comunidades intermunicipais) e concelhos limítrofes“.
“Conversa na Praça” dedicada ao tema Mobilidade para Todos, transmitida em direto na noite de 3 de abril em https;//pracadobocage,wordpress.com e no canal YouTube Praça do Bocage Blogue. Assista aqui à gravação das opiniões de Bruno Dias, Luís Leitão e Manuel Pisco, com moderação de Carlos Anjos.
Conversa com Miguel Tiago, ex-deputado do PCP, Ricardo Medeiros, administrador da APSS, Miguel Sena, da Associação Setúbal Pesca, e João Silva, deputado do PEV na Assembleia Municipal de Setúbal, moderada por Carlos Anjos e transmitida em direto do Beco da Ribeira na noite de 25 de março.
Miguel Sena, da Associação Setúbal Pesca, um dos protagonistas do processo de discussão sobre as dragagens no Sado para alargamento do Porto de Setúbal, fala do que têm os pescadores feito para conseguir alterar o local de deposição dos dragados.
A Praça do bocage inicia a 25 de Março um conjunto de debates e tertúlias em torno de vários temas. Nesta edição de arranque, sob o tema “O Sado no desenvolvimento sustentável de Setúbal”, teremos à conversa Miguel Tiago (ex-deputado do PCP), Ricardo Medeiros (administrador da APSS), Miguel Sena (Associação Setúbal Pesca) e João Silva (deputado do PEV na Assembleia Municipal de Setúbal). A transmissão será em directo no youtube e facebook da Praça do Bocage a partir das 22 horas.
Rui Canas, presidente da União de Freguesias de Setúbal, falou à Praça do Bocage sobre o novo Mercado do Rio Azul, um investimento de 350 mil euros na qualificação de um equipamento essencial para as populações do concelho de Setúbal.
Com este pequeno video iniciamos, no blogue Praça do Bocage, a publicação de uma série de depoimentos sobre o concelho de Setúbal.
A partir de hoje a Praça do Bocage passa a ter contributos de convidados sobre temas da atualidade setubalense. Tais contributos serão publicados sob o nome de Bocage, que escolhemos para podermos albergar na nossa página as opiniões de vários autores que não fazem parte do painel regular de comentadores do blogue. Não é, neste caso, um pseudónimo, mas sim um nome que permite que vários protagonistas da nossa vida local aqui deixem o seu testemunho sobre os mais variados temas*.
O contributo inaugural é de Ricardo Oliveira, vereador da Câmara Municipal de Setúbal que tem o pelouro da saúde e que, neste texto, demonstra a reduzida seriedade política da mais recente proposta do PSD setubalense.
Ricardo Oliveira Vereador do pelouro da Saúde da Câmara Municipal de Setúbal
Recentemente surgiu um título de primeira página no Setubalense/Diário da Região atribuindo aos eleitos do PSD e do PS na Assembleia de Freguesia de Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra a consideração de que a Freguesia sofre problemas de saúde pública, pois não tem um Centro de Saúde no território. Curiosa afirmação!
Os dois partidos que têm sido Governo ao longo dos anos e que são responsáveis pela ausência de respostas à população, tanto desta freguesia como do concelho de Setúbal, e de desinvestimento no SNS, em especial no seu parente pobre – os cuidados de saúde primários, como que assobiando para o ar, na proximidade de eleições para o Parlamento Europeu e Legislativas e numa altura em que o Governo PS com o apoio do PSD tentam impor às autarquias locais uma transferência de competências desadequada e sem meios, lembraram-se que, apesar do forte crescimento da Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra e das reivindicações da população da Junta de Freguesia, este território continua sem qualquer Centro de Saúde.
Navegando na crista da onda, um dos partidos da oposição na Freguesia e nos órgãos municipais – Câmara Municipal e Assembleia Municipal de Setúbal – apresentou uma proposta em sessão de câmara para a aquisição de uma unidade de saúde móvel para esta freguesia, através de protocolo a ser assinado entre a CMS e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT). Curiosa proposta!
Tudo isto foi proposto e é defendido pelos partidos que há décadas asseguram o negócio dos seguros privados de saúde e a proliferação de clínicas e hospitais privados alimentados pelo dinheiro dos funcionários públicos e pelo desinvestimento no SNS.
Ignorando o grave problema de Setúbal, incluindo da Freguesia da Gâmbia Pontes e Alto da Guerra, de insuficiência de médicos de família (cerca de 62% das pessoas inscritas no Centro de Saúde de S. Sebastião/Vale do Cobro e 64% das inscritas no Centro de Saúde da Praça de República/Beira Mar não têm médico de família), este partido inventou a fórmula mágica para assegurar cuidados médicos à população da Freguesia mais oriental do Concelho: a Câmara de Setúbal apresentaria uma candidatura a fundos comunitários (no máximo cofinanciariam 50% e não os 80% referidos na proposta); a Câmara disponibilizava um local na freguesia para apoio à população para acederem à dita unidade móvel (uma carrinha); a Câmara disponibilizava um assistente técnico para organizar o atendimento da população na dita carrinha; a Câmara forneceria o combustível e o motorista para a carrinha; e ainda, a Câmara asseguraria tudo o que fosse necessário para o funcionamento do projeto de unidade móvel de saúde.
Dito isto, algumas perguntas ficam no ar… Quem asseguraria os médicos que não existem e os enfermeiros que não existem nos centros de saúde, nem na Unidade de Cuidados à Comunidade do concelho de Setúbal e dos concelhos de Sesimbra e Palmela que compõem o território do Agrupamento de Centros de Saúde Arrábida (ACES Arrábida)? Quem asseguraria as consultas nos centros de saúde de Setúbal para os utentes que, após consulta de enfermagem na dita unidade de saúde móvel, fossem referenciados para serem vistos por médico de família?
Tudo isto foi proposto e é defendido pelos partidos que sempre estiveram no governo e sempre tiveram a responsabilidade da saúde e do SNS. Tudo isto foi proposto e é defendido pelos partidos que há décadas asseguram o negócio dos seguros privados de saúde e a proliferação de clínicas e hospitais privados alimentados pelo dinheiro dos funcionários públicos e pelo desinvestimento no SNS.
* Sempre que a administração do blogue entender poderá utilizar o nome Bocage como pseudónimo