
foto publicada no Expresso
Foi anunciado que hoje será finalmente entregue o acórdão do Processo Casa Pia a todos os interessados. Nos entretantos a manipulação da informação sobre o julgamento da Casa Pia ultrapassou o inimaginável e, certamente, irá continuar.
No dia da leitura do acórdão saltaram os advogados de defesa a dizer cobras e lagartos da juíza Ana Peres. Ricardo Sá Fernandes, com o descaramento que se lhe conhece, insinuou de viva voz no tribunal e depois em todos os microfones que passaram no seu raio de acção, foram muitos, que o acórdão não estava redigido.
Agora, no meio dos abundantes noticiários, sabe-se por uma pequena referência feita por um dos advogados de defesa que a juíza Ana Peres perguntou por duas vezes aos advogados se queriam que ela lesse a totalidade do acórdão. Ao lado da juíza estavam cinco grossos volumes.
Nenhum jornalista registou isso, só agora um jornal referiu esse facto. Ricardo Sá Fernandes é que não perde tempo e a pretexto dos problemas informáticos com a transcrição do acórdão, de que foi avisado pela juíza e que verificou pessoalmente, continua a vociferar: “ Falou de problemas informáticos, de qualquer coisa com a digitalização, não sei. O que é um facto é que, se não tinham o acórdão pronto, mais valia terem adiado a leitura da sentença, qualquer coisa era melhor que isto.” Ele bem sabe que esses problemas não põem em causa a defesa. Os prazos só começam a contar depois de entregue o acórdão a todos os juristas implicados no processo. Homem atento também ouviu a juíza perguntar se queriam que lesse todo o acórdão. Cinicamente fingiu nada ter ouvido, bem sabe que isso lhe daria mais tempo de antena e beneficiaria, em especial, o seu constituinte.
O espaço concedido na comunicação social a Carlos Cruz é escandaloso. A avaliar pela sua prestação nos “Prós e Contras”, — essa maravilha da informação séria, independente, que cuida com desvelo olarilolé a pluralidade de opiniões oralilolá — em que procurou descaradamente, em directo e ao vivo, manipular afirmações de outros intervenientes e usou dados pseudo científicos para tentar descredibilizar a acusação, só quem acredita cegamente que a intuição nunca falha, argumento de elevado teor científico da promotora de um abaixo-assinado a favor do Cruz que agora começou a correr , é que pode acreditar, sem reservas, que ele é inocente.
Cá estamos para ver sem o condenar mas também sem o ilibar até ao fim do processo. Sem histerismos nem argumentações que simulam a dúvida para defenderem sonsamente a tese da inocência dos arguidos.
Vergonhosas, verdadeiramente vergonhosas foram as intervenções do bastonário da Ordem dos Advogados. Falou que se desunhou sobre a não entrega do acórdão, como isso agravasse a situação dos réus, agora condenados em 1ª instância. Depois servia-se da voz tipo adamastor para atacar dois dos principais empenhados na defesa das vítimas dos crimes de pedofilia que ele considerava os poderosos do processo e a quem acusava de ser quem mais aparecia na comunicação social.
Se medirem rigorosamente o tempo de antena, desde o principio da investigação até hoje, duvidamos que Catalina Pestana ou Pedro Namora ocupem os primeiros lugares. Directa ou indirectamente foram sempre os arguidos e os advogados de defesa que ocuparam largos espaços na comunicação social. Se somarmos os tempos entre defesa e acusação, a diferença deve ser abissal. Marinho Pinto, que também faz parte do lote dos assaltantes à credibilidade do processo, é que não tem dúvidas. Mais, denunciando o que supostamente o escandaliza, nunca referiu coisas escandalosas que aconteceram durante a investigação como a da jornalista Inês Serra Lopes, filha de Serra Lopes defensor de Carlos Cruz, ter pago a uma funcionária da RTP, para ir à Polícia Judiciária com uma fotografia de um outro funcionário da RTP, sósia de Carlos Cruz, tentar baralhar as investigações. A tramóia foi descoberta. Ela foi condenada em todas as instâncias judiciais. Fazer coisa daquelas não lhe retirou credibilidade profissional entre os seus pares, somos um país de brandos costumes e , dentro das corporações, eticamente permissivo. Será que Marinho Pinto acredita que a jornalista, filha exemplar movida por um arrepiante amor filial, teve essa iniciativa porque que quis dar uma mãozinha ao querido paizinho, fazendo-lhe uma surpresa no dia de aniversário?
O bastonário, de alguns advogados com alguém bem disse, nem sequer se insurge com as cirúrgicas alterações ao Código Penal, feitas em 2007, e que claramente beneficiam os supostos arguidos e os já arguidos.
Pensa-se, provavelmente mal, que essas manobras e outras como a dos psicólogos norte-americanos, trazidos a Portugal pela parceria Serra Lopes-Sá Fernandes-Carlos Cruz para deporem como peritos, defendendo a tese que violar as crianças desprotegidas só as favorecia porque lhes aumentava a auto-estima, deveriam ter sido referidas. Coisas desse jaez, à margem da investigação e do processo e que visavam claramente influenciá-lo é que são verdadeiramente escandalosas e deveriam causar algum escândalo tal como as insistências de Fátima Campos Ferreira, questionando se os casos de pedofilia já tem um longo historial porque só agora com estes arguidos é que houve processo? Ou o sr. dr. acha que as vitimas são mesmo credíveis? Portanto são credíveis as que acompanhou profissionalmente. E as outras? E por aí fora, sempre nesse registo em que, pela voz de vários intervenientes, com o seu consentimento tácito, os malandros do processo acabam por ser os investigadores da polícia judiciária, o juiz Guerra que conduziu a investigação e, sobretudo, quem mais denunciou o escândalo da pedofilia na Casa Pia, Catalina Pestana, Pedro Namora que originou este processo. Esqueceram-se do mestre Américo mas lá chegarão. Uma inversão eticamente miserável. É isto o nosso jornalismo dito de referência.Nota final para a grande exibição de vaidade de Daniel Oliveira nesse programa. Transpira-a por todos os poros, não há desodorizante que lhe valha. Disse convictamente banalidades, como é seu hábito, mas com um objectivo preciso: colocar em causa tanto a investigação como o processo. Nada de novo para adorno do personagem, agora barricado na dúvida sistemática, coisa que raramente o assalta noutros assuntos, e são muitos, sobre os quais perora com a mesma espessura com que abordou este.
Esperemos que hoje seja entregue o acórdão para acabar com esta parte da especulação. Outras serão imediatamente iniciadas porque, ao contrário do que apregoam e de que se dizem sofredores, o que andam a engendrar é uma espécie de julgamento popular para ver se conseguem de algum modo influenciar os recursos que se irão seguir. Carlos Cruz foi bem claro quando citou várias vezes o número de apoiantes que angariou com o seu blog. Número de apoiantes que vai aumentar com um anunciado abaixo-assinado pedindo a sua absolvição. Cenário nos antípodas do descrito por Marinho Pinto e Daniel Oliveira que desenharam com requinte um julgamento popular a que, na sua opinião, tinham estado sujeitos os arguidos agora condenados durante os anos em que decorreu o processo. pelos vistos erraram o alvo.
Repete-se : não condenamos mas também não ilibamos ninguém até ao fim do processo. O que não calamos são indignações perante factos decorridos que tentam manipular um juízo se esse juízo for contrário aos seus interesses.
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