Alterações Climáticas, Ciência, Energia, Clima, Geral

A comunicação social e as variações do tempo ao longo dos tempos

I. Introducao

Por variações do tempo entendem-se, aqui, as alterações das condições meteorológicas  nas diversas regiões ao longo do tempo. Costuma falar-se em mudanças de estado do tempo.

Os diversos tipos de precipitação (chuva, neve, granizo, etc.,), a temperatura do ar e a pressão atmosférica a várias altitudes, a velocidade do vento, o grau de humidade e a nebulosidade, podem ser avaliados qualitativa e quantitativamente constituindo-se como parâmetros meteorológicos fundamentais. Estes são, por sua vez, função complexa da rotação da Terra, da inclinação do seu eixo em relação à órbita, do ponto ocupado na sua translação em torno do Sol e da intensidade e tipo das radiações solares que chegam ao planeta que habitamos. A temperatura a diversas profundidades, bem como o tipo de velocidade das correntes experimentadas nas grandes massas de água existentes nos mares e oceanos, estão correlacionadas com as condições atmosféricas porque, entre outros aspetos, contribuem para a evapotranspiração e, assim, para o grau de humidade do ar atmosférico.

Sabe-se que a evolução das condições meteorológicas constitui um bom exemplo de sistema caótico existente na natureza, o que determina que as previsões, têm, apesar da evolução técnico-científica que se traduz em métodos empíricos e numéricos sofisticados, um horizonte temporal limitado[1].

A propósito das mudanças de estado do tempo sentidas em várias regiões do planeta, não apenas daquelas associadas às estações do ano, vem-se falando cada vez mais em clima nos últimos anos, e, particularmente, em alterações climáticas. Ou seja, aponta-se para a existência de uma mudança persistente  nos padrões característicos dos vários tipos de clima mais comuns [2].

Tempo (meteorológico) e clima são conceitos diferentes muitas vezes confundidos pelo senso comum. Talvez porque os meios de comunicação social utilizam o termo “clima” quando se referem ao “tempo” e usam “climático” em lugar de “meteorológico”. Mas, curiosamente, nunca se enganam ao contrário[3]

O tempo varia muito e de forma contínua, aliás, de forma caprichosa, não obstante reger-se por leis da natureza. Já o clima está, ou é suposto estar, sujeito a variações que ocorrem muito mais lentamente[4]. A ciência que dele se ocupa, a climatologia, fundamenta-se no estudo estatístico dos elementos caracterizadores do clima, ou sistema climático, procedendo a descrições sistemáticas e a explicações acerca da repartição dos vários tipos de clima[5]

O sistema climático consiste numa estreita camada exterior da Terra com pouco mais de 60 km, que engloba a crosta terrestre e o designado geofluido formado pelos oceanos e atmosfera. A modelação físico-matemática de tal sistema exige interdisciplinaridade e é extremamente complexa[6].      

Embora se saiba que sempre houve  alterações climáticas ao longo da vida da Terra, as mudanças de que se fala e escreve de forma abundante nos últimos anos, dever-se-iam em grande parte, segundo a hipótese teórica dominante, às interações das atividades humanas com o meio ambiente. No caso concreto das repercussões na biosfera traduzidas em fenómenos meteorológicos severos que dificultam a habitabilidade do planeta, aponta-se como causa principal a crescente emissão do dióxido de carbono (CO2) a partir de diversos processos de combustão, tanto na indústria e na produção de eletricidade, como nos edifícios habitacionais ou de serviços, e, ainda, pelos transportes que utilizam derivados de combustíveis fósseis. Não obstante existirem outros gases, como o metano, p.ex., e, também, o vapor de água, que contribuem para o efeito de estufa de uma forma muito intensa, isso é pouco valorizado na divulgação daquilo que se vem designando como uma catástrofe que merece uma declaração de emergência generalizada.

Não é objetivo do presente artigo discutir  esta hipótese, e, muito menos, confirmá-la ou infirmá-la. Dizer, apenas, que se trata de uma teoria, que ganhou grande força institucional, social e política, mas que, no entanto, não está comprovada de forma definitiva  por metodologia científica homologável em referenciais canónicos.       

Contudo, os órgãos de comunicação social tomaram o tema como item nuclear das suas agendas, e vêm-lhe dedicando muito espaço e tempo, designadamente através do relato dos acontecimentos meteorológicos com maior impacto, procurando estabelecer, de forma crescente e acrítica, um nexo de causalidade entre cada episódio  e as alterações climáticas de raiz antropogénica.

Nos últimos meses o caudal de notícias, artigos, reportagens e debates difundidos em todo o tipo de vetores de comunicação social, tem aumentado exponencialmente, raiando por vezes uma estridência que, ela própria, se configura como inadequada ao tratamento sério de assunto tão complexo. Em certos casos parece haver um histerismo eivado de traços populistas.

E é neste contexto que se insere a pesquisa realizada de que se dá conta no presente artigo. 

Pretendeu-se com ela responder às questões seguintes: a) Que eco fazia a comunicação social, neste caso a imprensa, dos eventos meteorológicos mais relevantes, isto é, aqueles que maiores inconvenientes traziam às sociedades humanas, em meados do século XX?  b) Havia menos  inclemências meteorológicas noticiadas do que hoje em dia? c) A natureza e a intensidade dos fenómenos registados pelos jornais eram menos significativas do que no presente? 

O método usado implicou fazer uma análise às edições dos jornais Diário de Notícias e Século referentes ao ano de 1950.

Por se considerar suficiente para os objetivos definidos, descrevem-se sucintamente os principais eventos noticiados nos meses de janeiro e fevereiro pelo Diário de Notícias e nos meses de maio, junho e julho pelo Século.

2. Notícias relacionadas com eventos meteorológicos significativos publicadas pelo Diário de Notícias e Século

Diário de Notícias (1950, janeiro e fevereiro)

Em termos noticiosos, embora não se trate de evento meteorológico, será interessante registar que, no dia 1 de janeiro, se dava conta de um abalo sísmico com significativa intensidade, sentido em Lisboa, Mafra, etc., tendo o  Observatório Infante D. Luís situado o epicentro a 100 km ao norte de Lisboa.

A 8 de janeiro, o matutino publicava na sua primeira página, com destaque, um interessante título: A Terra está a aquecer? 

O trabalho jornalístico, de autoria de Manuel Rodrigues, era depois desenvolvido a páginas quatro, isto numa época  em que tanto se falava já na “guerra fria” entre o mundo ocidental e a Rússia (URSS). Aquilo a que no jornal se dizia ser uma  “audaciosa hipótese científica”, não surgiu, portanto, por falta de outros assuntos. 

O texto explicava que “desde o princípio deste século a temperatura está a aumentar no ártico e os glaciares recuam”, isto segundo  uma teoria do Prof. George Gamow. Mais exatamente, há que esclarecê-lo, tratava-se de Georgy Antonovich Gamov, nascido em Odessa (1904) e naturalizado americano em 1940, físico que recebeu da UNESCO um Prémio Kalinga em 1956. Esteve, entre outras investigações, ligado à teoria do Big-Bang.

No seu livro  “Biography of the Earth”, o autor previa que o aquecimento ocorresse até ao ano 20 000 e, depois, haveria um arrefeceria até ao ano 50 000. A notícia referia, também, que o Prof. Hans Ahlman vinha coligindo dados sobre o Ártico, concluindo que a temperatura teria aumentado desde 1900 até 1950, cerca de 5ºc. Este investigador afirmava ter verificado uma subida do nível do mar em torno das ilhas Spitzberg, relacionada com o recuo dos glaciares. Na Suécia o glaciar de Kebnekolse reduziu-se em 30 milhões de m3 desde 1902, afirmava Ahlman.

E quais eram as hipóteses colocadas para explicar o aquecimento? Inclinação do eixo da Terra? Dizer que uma expedição à Antártida dirigida pelo almirante Byrd, tinha detetado a existência de “oásis” com lagos livres numa latitude onde tudo deveria ser gelo.

Para tirar tudo a limpo, dizia-se na peça jornalística, tinha partido uma expedição internacional (ingleses, noruegueses e dinamarqueses) para o Antártico, a bordo do iate Norsel que levava a bordo dois aparelhos da RAF.

Notar que esta hipótese, colocada por cientistas, surgia num contexto socioeconómico pós-guerra, em que a Revolução Industrial havia começado várias décadas antes, e quando se registava um significativo incremento das atividades produtivas com a concomitante produção de gases com efeito de estufa. No entanto, estava-se então no início de um período, que durou até cerca de 1975, durante o qual, sabe-se hoje pelos registos homologados, não houve aumentos nas temperaturas médias no planeta.   

A notícia atrás referida era contemporânea de uma visita do presidente do conselho aos trabalhos da barragem de Castelo de Bode, e, também, de uma outra sobre o reconhecimento do governo britânico da China Popular, embora, dizia Grã-Bretanha, “não implicava a aprovação do comunismo na China (Times)”. 

A 15 de janeiro noticiava-se que um intenso “temporal” no Atlântico e no Pacífico continuava a causar graves perturbações no EUA, tendo-se afundado doze barcos de pesca.

Em Portugal o tempo apresentava-se gélido (Lisboa) e nevava abundantemente em Portalegre (22, 23 e 24 de janeiro)

No Lago Winnebago (Oshkosh), Estado de Wisconsin, localizado a norte de Milwaukee (USA) uma placa de gelo soltou-se, a 26 de janeiro, tendo isolado cerca de 6000 automóveis quando os seus condutores estavam a pescar, o que causou grande aflição durante várias horas enquanto a grande placa andou à deriva. 

Entre 2 e 13 de fevereiro, anunciaram-se: um “violento temporal” em Inhambane, o vento ciclónico que paralisou o movimento de navios no Tejo, graves destruições na costa de Espinho, uma tempestade de neve em Israel, a morte de 18 pessoas devido a intensos nevões em França e um ciclone na Zambézia, tempestades no mar com chuvas torrenciais que impedem a navegação, bem como intensa queda de neve que isolou vários aglomerados em toda a Inglaterra. O naufrágio do navio finlandês “Karhula” provocou 10 mortos a oeste de Helder.

Estes eventos meteorológicos aconteciam quando se anunciava que a “bomba de hidrogénio” iria ser fabricada por decisão de Truman, e que um espião alemão, em fuga de uma mina de urânio soviética perto da Checoslováquia, dizia que  “a água será transformada em combustível para automóveis”. Este cientista alemão, Wilh Mellentin de seu nome, referia-se a uma transformação da água em “oxi-hidrogénio líquido”.

No dia 16 anunciava-se a assinatura de um Tratado de aliança entre a URSS e a China, anunciava-se que continuavam a verificar-se grandes nevões em vários pontos do país, e alguns dias depois (a 26) dava-se nota de que vento a 117 km/h foi registado no Porto (Serra do Pilar) e que grande trovoada teria imposto o encerramento de várias barras.

Século (1950, maio, junho e julho)

Antes da referência aos episódios mais marcantes relacionados com o tempo, deixar registo de que, a 2 de maio, se noticiava que “é possível que as tarifas elétricas no Porto aumentem para que se possa fornecer aos consumidores corrente em boas condições” e que tinha começado “no Tribunal Plenário da Boa-Hora, sob a presidência do desembargador Dr. Abreu Mesquita, o julgamento de Álvaro Barreirinhas Cunhal, de 36 anos, licenciado em direito, acusado de atividades subversivas”. 

A 5 de maio os pescadores de Sesimbra pediram a “proteção ao Senhor Jesus das Chagas para que a abundância regresse”, até porque também se noticiava que “a sardinha que fugiu da costa continental está a afluir aos Açores”, isto num tempo em que a maior parte da população portuguesa vivia da agricultura e da pesca

Também por essa altura se referia que “está quase submersa a cidade de Morris no sul de Winipeg devido a inundações/cheias do Rio Vermelho”, o que determinou que 300 000 habitantes tivessem sido afetados e que  8 500 tinham ficado sem abrigo.

Vários mortos e desaparecidos, para além de avultados prejuízos materiais devido a uma tempestade que assolou o Estado de New York, ocorrência grave registada a 9 de maio, quando “granizo do tamanho de ovos de perdiz caiu em Mértola e Moura causando avultados prejuízos” e ventos fortes causaram naufrágio embarcação pesca no Porto.

Para evitar uma nova guerra franco-alemã o governo de Paris ministro Schuman propôs, noticiava-se a 10 de maio, “a fusão da produção da hulha e aço da Alemanha e da França como um primeiro passo para a Federação Europeia”. Isto quando, discretamente, partiu uma “missão de estudo dos EUA para o Vietnam”.

A 12 de maio registrava-se que “chuvas torrenciais na Turquia, provocaram dois mortos e cinco feridos no distrito de Chakmak”, bem como “dezoito mortos causados por inundações no Estado de Nebrasca”.

Uma chuva intensa e trovoadas perturbaram as cerimónias do 13 de maio em Fátima e a 6ª esquadra dos EUA chegou a Lisboa, enquanto no porto de Leixões se descarregavam 6200 de trigo chegados no âmbito do Plano Marshall.

Concluía-se, ainda, que as “culturas tiveram em Abril condições desfavoráveis em relação ao mês anterior devido às condições meteorológicas”, e sobre as causas do desaparecimento da sardinha das costas portuguesas, anunciava-se, a 18 de maio, que “serão estudadas por uma missão que vai aos EUA ocupar-se de questões de biologia marítima”.

A 21, “um violento furacão que durou alguns minutos assolou Vilar Formoso, tendo o granizo destruído culturas em Almeida e Junça, e um violento temporal desabou sobre a região do Porto.

As trutas do rio Coura estão a desaparecer, notava-se a 24, acrescentando que “em Padronelo (Paredes) a pesca à rede e a introdução de outras espécies” estava a dizimar as saborosas salmonidæ. Também o ano estava a revelar-se “terrível para a agricultura”: em Belmonte chove há 15 dias tendo caído granizo com grande dimensão que feriu pessoas. Em Almeida houve milhares de contos de prejuízo.

Uma grande tempestade ocorreu na Turíngia (Berlim), provocando oito mortos e duas crianças desaparecidas, bem como 88 casas destruídas, tendo perecido 95% das cabeças de gado (dia 25). Além de que violentas tempestades assolaram várias regiões de França causando mortos e grandes prejuízos em Besançon, Lille, etc.,

Em junho, dia 7, dava-se relevo a três incêndios que  “devastam florestas da Terra Nova, um dos quais ameaça a cidade de Lewisport” e, a 12, chamava-se a atenção dos leitores para as inundações em Lisboa, assim como as violentas tempestades assolavam Calcutá e Bengala Ocidental.

Alguns dias depois, a 18 de junho, destacava-se a notícia de que “três continentes estão a ser assolados por violentas tempestades; milhões de francos de prejuízo e várias vítimas em França; foram arrasados os arredores de uma cidade no norte da Itália; a trágica ameaça de inundações que ocorreram em 1948 está a repetir-se na Colúmbia britânica” e a 20 de junho, dava-se á estampa a impressionante notícia de que se tinham verificado  130 mortes de habitantes na região de Darjeeling, Bengala ocidental, em função de desprendimentos de terras devidos às chuvas torrenciais.

Não obstante publicação, a 26 de junho, de que “Tropas da Coreia do Norte invadiram a Coreia do sul”, facto que, tendo sido o início visível da Guerra da Coreia, alimentou os noticiários dos dois matutinos analisados com vasto caudal noticioso até ao início de 1951, continuou a aparecerem muitas referências a episódios meteorológico mais ou menos intensos.  

3. Síntese Conclusiva           

O Homem teve sempre uma íntima ligação aos diversos fenómenos meteorológicos, não apenas porque a sua segurança, atividade e conforto são função direta deles, mas, também, porque o troante fogo celeste ou os grandes caudais de água e vento remetem os humanos, temerosos do que desconhecem, para patamares pontuados por diversos teísmos.

Não é de admirar que as sociedades humanas tenham vindo a prestar crescente atenção aos noticiários relacionados com a meteorologia, nomeadamente no referencial das previsões, até porque algumas atividades económicas carecem desse prévio e vital conhecimento. 

Contudo, o presente artigo tem outro objetivo: analisar, embora sinteticamente, a qualidade e a quantidade informativa difundida nos meios de comunicação social de massas, que, na atualidade, está quase sempre focada no estabelecimento de correlações com as alterações climáticas antropogénicas.

Admite-se, como muito provável, que perante notícias relacionadas com mais um ciclone (furacão, tempestade tropical, ou congéneres) ou com uma inundação violenta, os espectadores dos canais televisivos estabeleçam imediata e subconscientemente uma ligação às mudanças de clima de raiz antropogénica, até porque isso é quase sempre sublinhado. É, também, verosímil considerar que as pessoas em geral concluam que “há cada vez mais e piores eventos meteorológicos”, esquecendo, até porque deles não têm memória, os que ocorriam há setenta anos.

Contudo, poder-se-á constatar, pelo registo feito, que, em 1950, o número e a intensidade de fenómenos meteorológicos em Portugal e no mundo, foram muito significativos: várias dezenas de acontecimentos problemáticos e extremos. Não se poderá, é certo, dizer se foram em maior ou menor número do que os que ocorreram em 2018, p.ex., nem se pode fazer uma comparação direta e segura das respetivas intensidades. Mas, quanto a muitos deles, apesar de não terem merecido mais do que algumas linhas no interior dos jornais, percebe-se terem significado graves impactes para as populações e territórios. 

Não haverá dúvida de que determinadas cheias ou ciclones ocorridos em 1950 afetariam, no presente, um muito maior número de pessoas e infraestruturas, quanto mais não fosse devido ao aumento das densidades populacionais em determinadas zonas costeiras (e não só). E, também, salienta-se, porque os aumentos exponenciais das áreas impermeabilizadas devido à explosiva urbanização facilitam muito os caudais que acorrem às zonas baixas. O problema está no solo e não no ar.

Sublinhar que o ano de 1950 se situou em pleno num período de cerca de trinta e cinco anos (1940 a 1975) durante o qual se registou uma descida da temperatura media global, depois de ter havido um crescimento desde o início do século XX. Os modelos climáticos não têm resposta credível para este facto, até porque não seria crível que tivesse havido uma descida nas emissões de CO2 antropogénico nesse período. 

Um fator decisivo para a perceção da realidade por parte dos atuais consumidores de notícias, quando comparada com a situação de há umas décadas atrás, está no facto de que, agora, qualquer episódio atmosférico mais intenso é imediatamente designado como extremo e, por isso, demonstrativo da existência de alterações climáticas,  merecendo um palavroso e prolongado (horas e, por vezes, dias) tratamento mediático, com espetaculares imagens em direto, colhidas com reduzidos custos de produção, e acompanhamento de comentadores encartados como cientistas. 

Parece poder-se concluir que, sem por em causa a existência de alterações no sistema climático, seria necessária uma maior prudência na disseminação de “verdades científicas” tidas como paradigmas indiscutíveis, apresentadas, bastas vezes, de uma forma simplista, pouco racional e, até, fundamentalista.

E, sobretudo, as políticas públicas, aquelas financiadas por recursos reunidos a partir dos contribuintes e dos cidadãos que pagam taxas e tarifas  por serviços de interesse comum, deveriam merecer grande ponderação, evitando voluntarismos que podem vir a revelar-se graves no futuro.    


[1] Matemática do Planeta Terra, Entre ordem e desordem: da célula ao sol, Maria Paula Serra de Oliveira, pág. 74, 2ª edição, outubro 2014, IST Press.

[2] Tipos de Clima mais característicos: equatoriais húmidos, tropicais, áridos ou desérticos, temperados, frios, polares e de montanha.

[3] História de los câmbios climáticos, José Luis Comellas, pág. 15, 2011, RIAL, Madrid

[4] Idem, pág. 17.

[5] Dictionaire des sciences de la Terre -Continents, océans, atmosphére, François Durand-Dastès, pág.104, Encyclopædia Universalis, 1998, Paris.

[6] Matemática do Planeta Terra, Compreender o clima, uma aventura pelos paradigmas da modelação, Carlos Pires, pág. 99, 2ª edição, outubro 2014, IST Press.

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Geral

A Grécia, a CEE os seus mandantes, seus mandaretes e monicas lewinskis

A ESPERA DOS BÁRBAROS

— Que esperamos na ágora congregados?

 

Os bárbaros hão-de chegar hoje.

Porquê tanta inactividade no Senado?

Porque estão lé os Senadores e não legislam?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje.

Que leis irão fazer já os Senadores?

Os bárbaros quando vierem legislarão.

 

Porque se levantou tão cedo o nosso imperador,

e está sentado à maior porta da cidade

no seu trono, solene, de coroa?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje.

E o imperador espera para receber

o seu chefe. Até preparou

para lhe dar um pergaminho. Aí

escreveu-lhe muitos títulos e nomes.

 

— Porque os nossos dois cônsules e os pretores

saíram hoje com as suas togas vermelhas, as bordadas

 

porque levaram pulseiras com tantas ametistas,

e anéis com esmeraldas esplêndidas, brilhantes;

porque terão pegado hoje em báculos preciosos

com pratas e adornos de ouro extraordinariamente cinzelados?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje;

e tais coisas deslumbram os bárbaros.

 

– E porque não vêm os valiosos oradores como sempre

para fazerem os seus discursos, dizerem das suas coisas?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje;

e eles aborrecem-se com eloquências e orações políticas.

 

– Porque terá começado de repente este desassossego

e confusão. (Como se tornaram sérios os rostos.)

Porque se esvaziam rapidamente as ruas e as praças,

e todos regressam as suas casas muito pensativos?

 

Porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.

E chegaram alguns das fronteiras,

e disseram que já não há bárbaros.

 

E agora que vai ser de nós sem bárbaros.

Esta gente era alguma solução.

                                                               Konstandinos Kavafis

(tradução Joaquim Manuel Magalhães/Nikos Pratsinis)

ovelhas

 

Os cônsules, pretores que entre dois partidos sozinhos ou coligados, se sucediam na Grécia, impondo ao povo grego as soluções dos bárbaros foram democraticamente derrotados. As iníquas reformas estruturais, um saco de mentirolas que nada reestrutura e tudo destrói,  que garrotavam a economia, aumentavam a dívida, mantinham os privilégios da oligarquia, aprofundavam  a corrupção, atiravam cada vez mais gregos para a miséria e o desemprego, foram democraticamente derrotadas. Quem venceu pelo voto, propõe outro caminho para sair da crise, caminho dentro do quadro político, económico e social dos bárbaros. Nem isso os bárbaros aceitam. Inquietam-se porque não querem que seja sequer possível pensar que há outras saídas para a crise económica dos países que se debatem com dívidas que são impagáveis, consequência da crise mais geral da Europa tatuada no sistema que se arrasta agónico mas que se julga eterno, sem alternativas.

Governantes e seus sequazes querem ditar, impor as suas leis sobre os países devastados por uma estúpida cegueira que alimenta os oligopólios financeiros, promove uma crescente desigualdade social, instala um desastre económico e social de proporções inquietantes. Mentem manipulando as estatísticas para travestir o desastre. Mentem. mentindo sempre e, sem pudor,  fazem circular a mentira por uma comunicação social mercenária ao seu serviço.

Na CEE, os países que se sujeitaram às receitas das troikas, viram as suas dívidas em relação ao PIB aumentar exponencialmente entre 2007 e 2014. Irlanda 172%, Grécia 103%, Portugal 100%, Espanha 92%. A dívida mundial que em 2007 era de 57 biliões de dólares, em 2010 foi de 200 biliões de dólares, ultrapassando em muito o crescimento económico. Tendência que continua o seu caminho para o abismo, em benefício dos grandes grupos financeiros, entrincheirados nos chamados mercados. O chamado serviço da dívida, os juros, são incomportáveis. São esses os êxitos de uma política cega submetida à ganância usuária que não tem fronteiras ou qualquer ética.

Os governos deixaram de estar ao serviço dos seus povos, nem estão sequer dos seus eleitores. São correias de transmissão dos oligopólios financeiros que se subtraem a qualquer escrutínio democrático ou outro de qualquer tipo. Traçam um quadro legal que os suporta e legitima a ilegitimidade. A democracia é uma chatice, um entrave, um pauzinho nessa gigantesca engrenagem que nos atira barranco abaixo, com efeitos devastadores para a humanidade. Nada interessa a não ser o lucro de quem especula sem produzir nada. As pessoas são uma roda nessa engrenagem.

chaplin

Charlie Chaplin, TEMPOS MODERNOS

Quem não caminha ordeiramente nesse rebanho, quem se opõe, mesmo que mandatado e sufragado democraticamente, é considerado irresponsável, como disse o ogre Wolfang Schauble, ministro da economia da Alemanha, em relação à Grécia. As suas enormidades ecoam pela boca dos seus bufões, das suas monicas lewinskis por todos os cantos de uma Europa submissa aos diktats do bando de arruaceiros financeiros que rouba a tripa forra países e povos. Em Portugal, as nossas monicas lewinskis são mais fatelas, mais rascas com se tem visto e ouvido de Cavaco a Passos Coelho, de Portas a Pires de Lima mais a matilha dos seus sarnentos rafeiros de fila. Espumam raiva, ódio dos ecrãs televisivos às ondas radiofónicas. Quem se atreve a riscar, ainda que levemente, essa realidade em que nos enforcam é logo atacado e silenciado quanto baste por essa matilha de pensamento ulcerado.

Os burocratas europeus dogmáticos, leitores e intérpretes da cartilha neoliberal dizem que a realidade é assim mesmo! Será?

A realidade nunca é a realidade que nos querem impingir como Aragon tão bem descreveu. Há mais vida para lá desse biombo com que a querem esconder qualquer luz, mesmo bruxuleante, de esperança para a humanidade.

ISTO È UMA OVELHA,escultura de João Limpinho

 

AS REALIDADES

Era uma vez uma realidade

com as suas ovelhas de lã real

a filha do rei passou por ali

e as ovelhas baliam que linda ai que linda está

a re a re a realidade

Era uma vez noite de breu

e uma realidade que sofria de insónia

então chegava a fada madrinha

e placidamente levava-a pela mão

a re a re a realidade

No trono estava uma vez

um velho rei que muito se aborrecia

e pela noite perdia o seu manto

e por rainha puseram-lhe ao lado

a re a re a realidade

 

CODA: dade dade a reali

dade dade a realidade

A real a real

idade idade dá a reali

ali

a re a realidade

era uma vez a REALIDADE.

Aragon

(tradução António Cabrita)

ceci nést pas une pipe

pintura de Magritte

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economia, Geral

O INAUDITO REGRESSO AOS MERCADOS

SLAVE MARKET   Em Portugal ainda se vive a ressaca de ontem! Voltámos aos mercados! Ouviram bem, voltámos aos mercados, berrava e continua berrar a comunicação social estipendiada ao serviço dessa manobra de propaganda !!! Com tanta notícia, um frémito orgástico atravessou como um ciclone o país! Os mercados refastelavam-se pelas faldas das terras lusitanas abrindo as pernas sem pudor! Finalmente tinham voltado para grande alegria e festança governamental e dos seus patrões conhecidos e ocultos.

As notícias de alguns incidentes não ensurdeciam os acordes que se faziam ouvir anunciando a boa nova. Nem o desastre de um investidor enlouquecido de euforia a cavalgar os quinhentos cavalos do seu Ferrari rumo ao leilão de dívida pública a cinco anos colocada no mercado pelo governo português, que se despistou quando um cisco das faíscas provocadas pela actividade frenética despoletada por essa emissão nos mercados, lhe entrou olho dentro atravessando a cabeça, saindo disparada para o paraíso da especulação onde disparou o alarme da boa nova: Portugal tinha voltado aos mercados. Nem o gigantesco engarrafamento que provocou e impediu milhares de portugueses de chegarem a tempo de manifestarem a sua alegria no Terreiro do Paço.

Em São Bento o primeiro, com a sua voz de barítono hesitante, rezava acocorado debaixo da secretária: Mercados nossos, que estais algures; venham a nós os vossos investimentos; cobrem-nos os juros que quiserem, agora e sempre. Os investimentos de cada dia nos dai hoje; especulem o que puderem porque nós estaremos sempre de cu para o ar recebendo as vossas ordens de compra, não nos abandoneis mais nem nos livreis do vosso mal. Ámen que vou convocar um Conselho de Ministros de celebração e para saber o que andaram a fazer para comemorar tão magno acontecimento.

O ministro da Solidariedade e Segurança Social convocou uma marcha de todos os desempregados para irem a pé a Fátima, rezar no altar dos Mercados. A sua esperança era que sendo muitos e estando muito deles no limite do escanzelamento, os óbitos equilibrassem as contas cumprindo as metas do FMI. Nos gabinetes faziam-se previsões. Colocam-se as metas a atingir. Calculava-se que acelerando o passo o número de óbitos poderia ter um crescimento positivo na ordem dos 5 ou 6%. Transmitiam-se ordens para marcar o ritmo do andamento.

Ao Ministério da Saúde chegavam números promissores. A exaltação provocada pela chegada aos mercados provocara uma afluência inusitada nas urgências dos hospitais. Apoplexias, ataques cardíacos, violentas arritmias tinham originado essa correria. Muitos não seriam atendidos por não terem meios para pagar as taxas moderadoras. Os mortos juncavam as portas das urgências, O ministro pedia números para transmitir rapidamente aos seus pares para se fazerem os cálculos de quanto se ia, no imediato, poupar em pensões. Paralelamente arrepelava os cabelos. Tivesse tido a coragem de aumentar mais cinco cêntimos as taxas, os números seriam muitíssimo melhores.

O ministro da Economia e do Emprego estava descoroçoado. Os número diário das falências mantinha-se estável, perto de 65. Devia ter aumentado uns 2, 3% assim não tinha serviço para mostrar, uma chatice num momento daqueles em que todos os seus pares mostravam trabalho, empenho e sabiam de cor a cartilha do FMI. Sentia-se um cábula, ele professor emigrado numa obscura universidade, só não tão obscura por estar do outro lado do Atlântico.

No Terreiro do Paço a multidão era compacta. Nunca tanta gente, nem mesmo com o Tony Carreira, tinha acorrido aquele espaço para festejar o regresso aos mercados. A gritaria era mais que muita.

Mães elevavam as crianças nos braços para que os mercados as vissem e, se possível, as abençoassem. O ministro do Estado e das Finanças discretamente espreitava entrincheirando atrás dos cortinados o seu sorriso salazarento. Gaguejava telefonicamente o relato do estado de excitação da nação aos ouvidos do FMI, congratulando-se com o bom rumo dos acontecimentos que tornavam obsoleto o seu último relatório. A ida aos mercados alterara positivamente a situação, A confirmarem-se os números já disponíveis o número de pensionistas tinha baixado radicalmente tornando a segurança social quase sustentável. O número de utentes do SNS levara um corte substancial. Iam-se poupar milhões na saúde.

Com a festa que decorria à frente do seu ministério muitas mães e pais tomados de arrebatamento largavam crianças que caiam ao rio sem que ninguém ou quase ninguém desse por isso tal o alarido que fazia confundir os gritos de aflição com os de alegria. Mandara discretamente os seus assessores ao telhado do ministério para fazer uma estimativa das crianças que eram tragadas pelas águas. Iria comunicar o número ao Ministro da Educação do Ensino Superior e da Ciência para se avaliar quanto se iria poupar nos próximos anos com este sucesso, extensível a outras capitais de distrito, por informações filedignas que chegavam hora a hora ao seu ministério.

Todos esses acontecimentos davam grande satisfação a quase todos os governantes: Nem todos. Os moedeiros falsos que
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Ondes estavas tu entre 1985 e 1995? ou Um estigma chamado Cavaco

“Numa altura em que urge criar riqueza no país e gerar novas bases de crescimento económico, é necessário olhar para o que esquecemos nas últimas décadas e ultrapassar os estigmas que nos afastaram do mar, da agricultura e até da indústria”

O principal rosto do processo de destruição do aparelho produtivo nacional, dos incentivos à desindustrialização, ao abate à frota pesqueira, ao fim de explorações agrícolas, o homem que assumiu como seu o projecto europeu para Portugal que reduzia o País a turismo e serviços, tem de compreender que as suas palavras causam perplexidades, dúvidas e alguma vontade de rir (não fosse o caso tão grave).

A não ser que estejamos perante o reconhecimento dos graves erros e crimes cometidos pelos seus governos contra o País e o desenvolvimento, não é possível admitir a postura de superioridade moral e intelectual com que faz estas afirmações que, até ao momento, não passam de declarações vazias de qualquer significado prático.

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Política

Estarão as comadres zangadas?

As comadres andam zangadas, não se dão bem umas com as outras, têm difíceis reuniões de 20 horas, querem demitir-se, ameaçam que vão avaliar o seu papel no mundo, decidem não falar publicamente sobre o que lhes vai na alma, estão em permanente crise existencial.

Tudo isto é muito interessante para encher páginas de jornais e permitir belas primeiras páginas, como no exemplo.

Mas, a verdade é que enquanto não se consuma do divórcio, as comadres com caras feias ou alegres vão despejando a sua raiva contra os portugueses.

Não sabemos se a proposta de Orçamento do Estado 2013 é fruto do amor ou do ódio entre as comadres PSD e CDS, sabemos o quanto vai custar na vida de todos nós, na destruição da economia nacional, no aprofundar da crise, no empobrecimento do país.

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Um País para o Guiness

Um Relatório da CMVM mostra que 17 administradores acumulavam, cada um, lugares de gestão em 30 ou mais empresas em 2010. Dai para aqui o quadro não se alterou substancialmente.

Os administradores executivos das sociedades cotadas a tempo inteiro acumulavam, em média, lugares de administração em 12 firmas de dentro e fora do grupo da sociedade onde exerciam funções. Os dados constam do Relatório Anual do Governo das Sociedades cotadas, relativo a 2010, divulgado hoje pela CMVM.

O regulador identificou também que 17 administradores acumulavam lugares de administração em pelo menos 30 empresas, tendo registado também um caso de um gestor, que não é identifica, que tinha lugar na administração de 73 empresas.

O relatório também revela que a idade média dos administradores executivos desceu para 52,7 anos no final de 2010, quase menos um ano que a idade média identificada em 2009 (53,6 anos).

Os mesmos dados mostram que o mundo da gestão nas grandes empresas continua a ser um universo de homens, visto que apenas 5,9% dos cargos de administração das sociedades cotadas eram exercidos por mulheres, em 2010, o equivalente a apenas 26 cargos em 440. Se tivermos em consideração apenas os membros executivos, a percentagem desce para apenas 4% do total e o relatório revela ainda que nenhuma mulher desempenhava as funções de presidente da Comissão Executiva em termos efectivos.

A estas constatações acrescente-se que os gestores portugueses são dos mais ganham na Europa. Em média mais 15% que os alemães, mais 23% que os finlandeses, só para dar dois exemplos. E que há administradores não executivo a ganharem de senha de presença, quer dizer por sentar o seu delicado traseiro protegido por sofisticadas cuecas e calças dos melhores tecidos, 7000 mil euros para despejar umas canagifâncias nas sanitas das actas. Ou uns marmanjões, supostamente especialistas nos meandros futebolísticos recebem mais de 6000 euros mensais por uma hora de entretinimento semanal nos canais televisivos dando caneladas no português e na estupidez de quem perde tempo a ouvi-los. A todo isto, que não é pouco, acrescente-se o aturar os paralíticos mentais que nos governam a prometerem o que tornam impossível com a destruição contumaz que empreendem exibindo nas pantalhas televisas o seu fácies iluminado pela idiotia das teorias que debitam. Este conjunto de factores  fazem deste nosso Portugal um potencial recordista do Guiness, já com alguns êxitos registados.

Ainda por cima é esta gente que anda a perorar propondo baixas de salários, precaridade dse emprego, redução das indemnizações de desemprego, depois de já ter roubado os subsídios de férias e do 13º mês,  e mais outras malfeitorias a que chama de reformas estruturais.

Temos, com este quadro,  um garantido e destacado primeiro lugar entre os países dos ananases, orgulhosamente estamos na Europa, temos o direito de  reinvindicar um fruto mais raro e luxuoso para nos distinguirmos dos países das bananas, coisa do terceiro mundo. . Por isso os nossos governantes deveriam exibir uma bandeira de Portugal em que as quinas fossem substituídas pelo Galo de Barcelos, de preferência já envolto por rendas tricotadas pela nossa joaninha, a que anda a encher de lágrimas o bidé da Maria Antonieta em Versailles por uma das suas obras emblemáticas ter sido censurada em nome dos bons costumes, amputando um bibelô àquela exibição.

Raridades para o Guiness, que está nos céus para nos conceder mais uma graça. O Guiness é a nossa Bíblia, o nosso Alcorão. Sem o Guiness não existíamos, daí o andarmos nesta lufa-lufa de bater recordes. Os próximos serão os milhões de euros que se evaporaram nas negociatas bancárias. Abençoado país cuja honra está a ser incinerada numa lixeira mas concorre para ganhar  tantas distinções guinessianas!

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As Palavras Necessárias?

Segundo a revista alemã Der Spiegel, Merkel e a sua chancelaria têm preparado um plano de 6 pontos para as transcendentais “reformas estruturais” para a Grécia e outros países altamente endividados da UE. Segundo a Der Spiegel, constituirá a base para as negociações na chamada “cimeira de crescimento” da UE em finais de Junho.

A mesma revista escreve que Angela Merkel aproveitará o pedido de uma política de crescimento do recém-eleito presidente francês François Hollande “aplicando o princípio dos competidores de judo: empregar o ímpeto do oponente para montar o seu próprio ataque”.

Se a Merkel conseguir impor o plano,  o “crescimento”  vai ser obtido inteiramente através da intensificação da exploração dos trabalhadores e não através de qualquer plano para o renascimento económico ou um aumento dos gastos sociais.

Ela supõe que Hollande se mostrará aberto a estas propostas uma vez que a cimeira terá lugar após as eleições parlamentares francesas de 17 de Junho e o novo presidente francês já não se verá limitado pelas opiniões dos votantes ou das suas próprias promessas eleitorais.

O Governo alemão vai esforçar-se por impor níveis de exploração semelhantes aos que existem actualmente na Europa Oriental e em paraísos asiáticos de mão-de-obra barata como China e Vietnam.

O plano de seis pontos elaborado pela chancelaria é incompatível com a soberania nacional ou a democracia. O periódico Tagesspiegel entrevistou  vários peritos económicos alemães que foram brutalmente francos na expressão dos seus pontos de vista sobre as perspectivas para a Grécia.

Thomas Straubhaar, director do Instituto de Economia Internacional de Hamburgo, pediu que se estabelecesse um “protectorado europeu” sobre a Grécia. Disse que qualquer que seja o resultado das próximas eleições de 17 de Junho na Grécia, o país continua a ser um “Estado fracassado” carente da força para começar de novo por sua própria conta”.

O facto de que este termo seja recuperado no vocabulário oficial revela as intenções dos círculos governamentais da Alemanha e Europa. O debate sobre zonas económicas especiais e protectorados tem lugar ante o pano de fundo de uma crise económica que se agrava.

Como resultado do programa de austeridade imposto pela Troika –UE, FMI e  BCE – a economia grega encontra-se  em queda livre. O país está agora no seu quinto ano de recessão. Pequenas e médias empresas entram em falência. Só este ano, a associação empresarial espera o encerramento de 61.000 empresas, eliminando 240.000 postos de trabalho. A indústria do turismo, que representa um de cada cinco postos de trabalho, sofreu una baixa de 45% no ano passado. A fome instalou-se, as farmácias já não vendem medicamentos senão pagos integralmente pelos doentes, os suicídios continuam, já não há respostas em termos de serviços de saúde e a educação está toda estilhaçada, mas os desígnios do grande capital mantêm-se intactos.

A Grécia é o exemplo claro do que irá enfrentar a classe trabalhadora em toda Europa. As estructuras democráticas estão a colapsar e os representantes da elite financeira e corporativa defendem o seu domínio mediante intermináveis ataques  a salários, empregos e programas sociais.

Passos Coelho e os seus sequazes deixaram isso bem expresso quando fazem afirmações tais como: “Foram feitas reformas estruturais claríssimas, a nossa prioridade é acelerar o ritmo de execução das reformas estruturais, mas não disse o que a Comissão Europeia lhe recomendou que essas reformas incidam nos mercados de trabalho tendo em vista a sua redução de custos. Assim, o Borges veio dizer a verdade, verdadinha, quando referiu a urgência de baixar os salários.

Mas eles sabem  bem que essas reformas estruturais só as poderão levar a cabo se os trabalhadores e o povo permitirem. Assim, Passos referiu a necessidade da mobilização de cada vez mais portugueses “para o desígnio dessas transformações”, isto é, embarcarem Portugal no Titanic do XXI.

E, então, misturou perversamente amor ao próximo e amor à Pátria, espirito de sacrifício dos portugueses com as reformas estruturais que serão muito gravosas para os que trabalham em Portugal tal como o estão a ser para o povo grego, espanhol, italiano e povos dos países do leste europeu de que não se fala entre nós.

Passos Coelho quando fala em “reformas estruturais” pretende implantar a mais feroz exploração dos trabalhadores com a espoliação dos seus direitos laborais e sociais, reduzir ao mínimo os apoios sociais, aumentar a pobreza e a fome, as discriminações e as desigualdades económicas e sociais, tornando mais ricos os já muito ricos que colocam os seus dinheiros em países estrangeiros, em offshores e nada pagam pela crise que é, em última análise, uma criação e uma solução para o próprio capitalismo em crise.

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Governanças Formais e Informais

Os políticos, à míngua de ideias e projectos, ocupam o espaço público com espectáculos quase diários, sempre muito apregoados, mesmo quando estão completamente esvaziados de substância, embora prossigam sempre o mesmo objectivo: agravar a exploração dos que sempre foram explorados.

A comunicação social serventuariamente amplifica essas cenas. Hoje tem-nos sido servido, em doses reforçadas, mais uma dessas diversões em directo do Forte de S. Julião da Barra. Lá sai uma notícia para o ouvido do canto:
“No Conselho de Ministros informal, o Governo, diz o seu porta-voz na primeira das suas intervenções, definiu hoje os quatro principais pilares das reformas estruturais a realizar em 2012. Essas reformas passam pelo reforço da concorrência e da competitividade, articulação entre Estado e economia, valorização do capital humano e confiança.”


Nada de novo na frente ocidental. Nem o anticiclone dos Açores deu um ar da sua graça. Trocando por miúdos, decifra-se que, se o que já se sabe não é nada bom o que nos espera será ainda pior. Esta tropa fandanga a única coisa que sabe fazer é aumentar o buraco para onde está a conduzir o país, embrulhado em paleios que só enganam quem quer ser enganado.
Os próximos anos vão todos ser piores. A crise vai agravar-se, o desemprego aumentar, o ataque aos direitos sociais vão-se intensificar. Os pobres cada vez mais pobres, a classe média passada ferro, os ricos cada vez mais ricos. São as prometidas e sempre iguais reformas estruturais.
Estas teatradas bafientas lembram-nos o antes do 25 de Abril. As conversas em família. Já quase lá estamos novamente em questões dos direitos sociais e qualidade de vida. Resta-nos uma liberdade cada vez mais video vigiada.
O discurso dominante não muda. É o da impostura, da trapaça, sempre acenando as bandeirinhas dos superiores interesses nacionais, enquanto o Estado é paulatinamente destruído para ser posto ao serviço do grande capital.
É uma praga assola o país. Está a espoliar os portugueses do seu direito à vida. Há uma luta patriótica e de esquerda necessária e urgente que tem que continuar sem hesitações nem equívocos.

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A EDP NO SAPATINHO

Desde há vários anos que a cotação das acções do Grupo EDP não estava tão baixa, tendo atingido os 2,41 euros por unidade nos últimos dias e um volume de transacções mínimo. Em Janeiro de 2008 estavam cotadas nos 4,26 euros, cerca do dobro, portanto.

É do conhecimento público que o governo, na sequência do MoU – Memorando de Entendimento com a Troika, e fruto da sua própria urgência, quer vender a posição estratégica que detém neste importante grupo nacional, prevendo-se que, até 22 do corrente mês, seja anunciado qual é o comprador concorrente a quem vai sair a EDP no sapatinho.

Tudo indica que a brasileira Eletrobras terá ficado pelo caminho, no âmbito de um “concurso” internacional de que não são públicas as regras fundamentais de apreciação, posicionando-se para a aceleração final a alemã E. ON e a chinesa CTG – China Three Gorges.

Sabe-se que o primeiro-ministro português falou sobre o assunto com a chanceler alemã e não é difícil imaginar daquilo que trataram nessa conversa “de Estado”, que deverá ter acontecido no intervalo de uma reunião em que se analisava o estado precário em que Portugal se encontra no quadro de uma Europa comandada pela imperial Alemanha.

Se José Sócrates estivesse cá e o presidente Lula ainda o fosse, também falariam, com toda a certeza. E, quem sabe, falarão, mesmo nas actuais circunstâncias.

Conversas chinesas são o que não faltará.

Sente-se no ar a excitação vivida em gabinetes, salas e corredores, públicos e privados. Os gestores, ministros, assessores, conselheiros, correctores e jornalistas, gelados pela crise, confortam-se, à mesa de restaurantes e bares, com o combustível sagrado dos grandes negócios.

Contudo, nós, cidadãos consumidores e pagantes portugueses de uma electricidade caríssima, perguntamo-nos, pelo menos aqueles que ainda conseguimos ler as linhas dos jornais especializados e as entrelinhas das telegráficas declarações, por que razão se vai vender o que resta da posição estatal numa empresa estratégica portuguesa, à pressa e a preço de saldo?!

A mim, quando interpelei o agora primeiro-ministro, então candidato, dizendo-lhe que achava mal que fizessem privatizações nestas circunstâncias, porque, para além de razões de princípio, económicas e ideológicas, seria um mau negócio, foi-me respondido que tinha que ser, que não tínhamos dinheiro para aguentar as “empresas públicas”! Mas, então, a EDP que, de facto, já não é uma empresa pública há muitos anos, pode dar centenas de milhões de euros de lucros anuais aos seus accionistas privados, e o Estado, que até aqui tinha uma posição determinante, e que nunca actuou para moderar o regabofe, vai agora vender sob pressão financeira e com a EDP conjunturalmente desvalorizada?

Para além destas questões fundamentais, resta ainda analisar como se consumará o negócio.

Dizem os analistas que a chinesa CTG tem uma proposta financeira muito melhor do que a da E.ON.

Pelos números conhecidos parece-nos que sim. Desde logo porque assegurará, diz-se, o financiamento futuro das necessidades da EDP por vários anos e, além disso, tem vários aspectos económicos e de governação mais interessantes do que os apresentados pelos alemães.

Ou seja, se o problema é falta de dinheiro, como o governo diz, e a decisão fosse tomada com base em critérios económico-financeiros transparentes, as Três Gargantas chinesas ficariam com a pérola eléctrica lusa. Aliás, dizem os nossos antigos vizinhos orientais, que nem querem engolir a EDP.

Mas, pressente-se, a decisão de um país como tem sido o nosso nos tempos que correm, alinhadinho e bem penteado, irá no sentido de não desagradar à mestre-escola.

Uma nota final: já que estamos num mundo de negócios e influências, e dado que não parece ser possível travar a privatização, afigura-se interessante analisar a possibilidade de as organizações dos trabalhadores da EDP, em sintonia com os da REN, virem a interferir nas negociações, nas salas ou na rua, pressionando o governo no sentido que lhes parecesse melhor.

É que a chamada “paz social” pesa muito.

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Política

A Pergunta que deveria ter sido feita à Troika

Hoje, depois de a conferência de imprensa que a troika deu, mais uma vez, sem nada de interesse, Paul Thomsen, o representante do FMI na troika, foi à RTP 1 repetir o que já repetiu e continuará a repetir, com o ar de quem está a dar uma novidade. Nada de novo! Também daquelas cabeças não se espera algo de interessante ou inovador. Tudo requentado. Tudo a tresandar a bafio, a naftalina económica. A facúndia não quer nada com eles!

Por parte do jornalista igualmente nada de novo. No meio da cegarrega da converseta veio á baila, o corte dos subsídios. Claro que o troikano não podia estar mais de acordo. Só que o jornalista perdeu, há-de sempre perder não está lá para colocar questões de fundo e sérias, a oportunidade de perguntar porque é que estando calculada a receita, com o corte de subsídios de Natal e Férias em 700 milhões de euros, se não se poderia cortar metade das comissões que Portugal vai pagar à troika, pelo lindo serviço que andam a fazer – bem podiam limpar as mãos á parede – e , com essa poupança, pagar pagar um dos dois subsídios.

São 660 milhões de euros de comissões o que Portugal vai pagar à troika, 66 euros a cada português durante três anos. Esse dinheiro representa 7 222 222 euros por ano, 601 851 euros por mês de despesas com aqueles abencerragens, que, nos visitam regularmente. Pagamos a cada um por mês 200 617 euros, estejam em Portugal, na Grécia ou no grande raio que os parta! O taxímetro está sempre a contar!!!

Para aquela gente risível , o chamado Pacto de Assistência a Portugal, não é uma árvore das patacas, é uma floresta de árvores das patacas. É um roubo organizado e legalizado por uma quadrilha internacional , sobejamente conhecida, com ramificações nacionais, também bem conhecidas.

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Contra a Voz do Dono!

A fusão do Estado com o Poder empresarial não é democracia!

Chama-se FASCISMO!

Diz o comentador lúcido e bem informado, de que colocamos no final um link.

O fascismo só se torna terrorista quando necessário. Vai exercendo outras formas repressivas e legalizando-as. Mais de uma vez o dissemos e repetimos: entre a justiça e o direito, o quadro legislativo em que nos encerram, a relação é muito ténue. O direito é SEMPRE o direito do mais forte à liberdade, os mais fracos perdem-na progressivamente se não lutarem contra as leis que os violentam!

Outra realidade que se deve relembrar sempre é que o mercado livre é uma ficção! Por detrás da mão invisível dos mercados está sempre a mão visível do Estado. Quando o Estado se demite das funções sociais e se põe ao serviço do grande capital financeiro e especulativo perde autonomia, submete-se aos ditames dos chamados mercados, esse deus ex-machina do estado actual do capitalismo monopolista. Legaliza a especulação financeira. Permite a usura e a agiotagem. Basta dar uma olhadela para os juros especulativos que os mercados impõem e, sobretudo, deixam que eles imponham! Quando se apoia a banca com mais de quatro mil milhões de euros, (a tão falada dívida grega é 12,5% desse valor!!!) como Durão Barroso revelou, a juros praticamente zero, para a banca os ir emprestar aos Estados e às empresas a juros altíssimos e insuportáveis, fica tudo explicado. Como também se explica porque é que quase ninguém fala disso. É a manipulação diária e sistemática da opinião das pessoas para que aceitem uma inaceitável realidade que não corresponde à realidade. Continuar a ler

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economia

Menos Estado…quando convém

Quando as privatizações estão na ordem do dia, cumprindo o programa político-económico neoliberal da governança, argumentando com o corte de gorduras no Estado que, dizem, é urgente emagrecer, sem cuidar se não acabará por morrer anoréctico, nem isso interessa a quem está lá para favorecer o grande capital à conta de todo nós. Quando dizem, a torto e a direito, que o estado gere mal, não tem vocação empreendedora pelo que deve entregar aos privados empresas, escolas, hospitais, demais serviços públicos, tudo em que se vislumbre alguma hipótese de lucro, cai sobre os contribuintes os custos de tapar mais um buraco que a fina flor, o supra sumo dos empresários portugueses em geral e do norte em particular, o norte onde se trabalha sem os vícios de calaceirice que abundam no sul, durante anos alegremente cavaram: o Europarque.

Europarque, símbolo da visão e do arrojo que caracterizam a iniciativa privada, exemplo do rigor gestionário dos empresários e, de entre esses, dos melhores entre os seus pares, acumulou uma dívida de mais de 35 milhões de euros, pelo que vai ser accionado o aval que o Estado português lhe tinha concedido em 1996. Refiram-se para memória futura, alguns dos principais protagonistas dessa negociata: Ludgero Marques, presidente da AEP que, com o apoio de todas as associações patronais do norte teve essa iniciativa, Eduardo Catroga, ministro das finanças no governo de Cavaco Silva que concedeu o aval do Estado e o actual administrador do Europarque, Couto dos Santos, também ex-ministro no mesmo governo. Continuar a ler

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O Espectro do Referendo Grego assombra a Europa

A democracia ficou em sobressalto mal Papandreou anunciou que a Grécia iria referendar as novas e gravosas medidas de austeridade. O sexto pacote de austeridade que vem embrulhado na total perca de soberania orçamental, o que significa a submissão absoluta do povo grego aos ditames dessa coisa abstracta que dá pelo nome de mercados, através dos seus lacaios em Bruxelas, essa nomenclatura de comissários políticos que são conduzidos à trela pela Sra. Merkel e o seu criado Sarkozy.
Estão “consternados” (Sarkozy), “irritados e furiosos” (os alemães e o FMI), pela decisão de recorrer ao voto popular para que os gregos decidam democraticamente o seu futuro. Subitamente alarmam-se com o exercício da democracia. Democracia sim, mas só com os parâmetros e enquadramento que os favoreça. Os referendos são bons desde que não aconteça, como é previsível acontecer, que o povo grego diga legitimamente não contra os interesses dos mais fortes. dos que acham que só eles têm o direito à liberdade, a deles, e a fazer leis que a cimentem.

Do lado de Irlanda e Portugal podem dormir descansados, não haverá recurso a nenhuma prática democrática. O que as troikas decidirem está bem decidido. Ou em Portugal não tivéssemos dois ministros, fervorosos adeptos de Milton Friedman que, com os seus boys, pode fazer um exercício sem tropeços das suas teorias num Chile de democracia assassinada por Pinochet. Nada como não apagar a memória para nos lembrarmos a tempo que só assim, o barbarismo das teorias económicas dessa gente conseguiu ser posto em prática. Continuar a ler

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ROUBAM e MENTEM!

Esta gente que diz governar e que se comporta como chefes de secretaria da troika, no melhor estilo de alunos manteigueiros ou empregados bajuladores que fazem tudo e mais alguma coisa para se tornarem notados pela subserviência, pondo mesmo o rabo a jeito para levarem uns pontapés, bolaram um Orçamento de Estado criminoso em que só falta para resolver o défice cortar os portugueses às postas, embalando-os com ou sem sal e exportando-os. Deve ser mesmo o maior contributo para a recessão não ser ainda maior.

Apesar de todas as malfeitorias, todos eles, desde o atabalhoado Relvas, ao radiofónico Passos, do ga-gue-gan-te-vi-tor-gas-par ao gnomo Santos Pereira, apregoam a equidade fiscal do que aí vem.Os sacrifícios são distribuídos de forma equitativa, repetem sem uma ruga na voz!Mentem com todos os dentes que têm na boca, mais os futuros dentes quando esses apodrecerem, vítimas da putrefacção mental que os mina! Os mais ricos são os que mais beneficiam com as novas regras do IRS, como hoje um estudo de uma empresa de consultadoria demonstra, o que, com toda outra panóplia de medidas, evidencia claramente para quem trabalha esta gente: para o grande capital e para os grandes capitalistas!

Uns lacaios do sistema, lacaios de baixa extracção que estão a passar a ferro as classes média e trabalhadora para lhes extrair tudo o que puderem para drenar para os mais ricos e seus veículos financeiros toda a riqueza do país.

É preciso fazer um grande manguito e correr com essa gente o mais rapidamente possível!

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Abominações

É um tempo de abominações!
Ver Passos Coelho ladeado por um untuoso Relvas, saído das catacumbas dos milhares de facturas que tinha descoberto no Instituto do Desporto e que os seus carregadores transportaram para a Assembleia da República, acompanhados por música de pompa e circunstância em altos berros como convém, e que afinal não eram nada, coisa que não o incomodou porque está pronto para a próxima teatrada foleira, como o seu alçado principal e os seus escrúpulos democráticos recomendam, e um moedas engomado pelos cartazes que exibe por tudo e nada com as certezas astrológicas de excelência, como é adequado a tão proficiente fala barato, provoca imediata náusea.

Náusea maior quando Coelho defende, sem uma hesitação, que milhares de homens podem matar-se a trabalhar, à beira do colapso, no dia-a-dia da sua situação precária, mantendo os privilégios de uns tantos, poucos e raros, nacionais ou estrangeiros, que, eventualmente, poderão criar postos de trabalho para que mais umas centenas continuem a matar-se a trabalhar, vivendo dia a dia uma situação precária. Diz isto sem vergonha, querendo que sejamos cúmplices dessa situação que legitima uma morte silenciosa, que não lhe provoca uma linha de sobressalto. Prega a resignação dos conformistas quando o sacrifício não é seu, nem dos seus correligionários mais próximos, nem dos senhores do capital que puxam as cordas dos seus cérebros marioneta.

Náusea que se aprofunda ao limite ouvindo o ministro da Segurança Social que assume o pensamento transversal a este governo, em que os direitos sociais não são direitos porque a política social é uma política assistencialista,  de distribuir migalhas aos pobrezinhos possuidores de  cartõezinhos que certificam a pobreza. Sabem que, com as políticas que estão a praticar, os pobrezinhos serão cada vez mais.

Um nojo! Isto é de gente que está habituada a dar esmolas e que bem sabe que as esmolas não resolvem o problema da miséria. Só serve para dar conforto psicológico a quem dá a esmola e que espera que a esmola o livre de incómodos.
Esta é a coluna vertebral das políticas deste governo. Quem está neste governo está comprometido com esta filosofia que é a sua espinha dorsal e que se enraíza nas políticas económicas e financeiras que têm ao leme duas personagens do apocalipse neoliberal, o ga-gue-jan-te-vi-tor-gas-par e o silencioso, quando abre a boca é patético, álvaro. gente que nos garante, dia pós dia, a abjecção.

Desta gente nada há a esperar! Com eles qualquer esperança no futuro descarrega-se minuto a minuto num esgoto mal cheiroso e sem qualquer tratamento.

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Política

Procrusto, a Troika, o governo de Passos Coelho

Poul Thomsen, do FMI, Jurgen Kruger, da EU e Rasmus Ruffer, do BCE, voltaram a Portugal para verificar se o governo cumpre os seus ditames e não procrastina nenhuma das medidas que impuseram a Portugal. Estão bem treinados para representarem os seus papéis num espectáculo bastante entediante de tão repetitivo. É uma troupe de tecnocratas com sangue de barata, habituada a viajar pelo mundo, simulando fazer grandes análises e desenhar grandes modelos macroeconómicos onde quer que pousem, para tudo acabar na apresentação de uma bula com mais do mesmo, só variando nos números. No essencial, as medidas que preconizam são as mesmas que aplicam onde quer que desembarquem. Ao embrulho chamam reformas estruturais que acabam sempre com o mesmo resultado: o desastre económico e financeiro, o empobrecimento generalizado, o favorecimento dos mais ricos e poderosos, a corrosão brutal dos direitos sociais, a destruição do sector empresarial do Estado a favor da iniciativa privada e retirando-lhe o poder estratégico de intervenção. Continuar a ler

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Uma Questão de Dignidade!

(…) — Ensinei-te a roubar e agora vais usando o teu talento nos bairros finos, renegando o meio de onde vieste e desprezando o teu educador.Nós não somos da mesma laia. Agora já só te resta comprar um carro desportivo. Talvez então te possa admirar. De momento, pareces-me um pavão todo orgulhoso com as suas penas.
— Antes de ser preso, já te tinha explicado a razão de usar estas roupas.Operando em certos meios, vestido como estou, ninguém ousa confundir-me com um ladrão. Eliminei assim todos os riscos.
— É isso mesmo que te reprovo. Não há nada de mais imoral do que roubar sem riscos. É o risco que nos diferencia dos banqueiros e dos seus émulos que praticam o roubo legalizado com a cobertura do governo. Não te inculquei a minha arte para te tornares um ladrão de cinema cuja única preocupação é não desagradar ao seu público. (…)

In AS CORES da INFÂMIA, Albert Cossery, tradução Ernesto Sampaio,Edições Antígona, 2000

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Internacional, Política

Europa-América

Enquanto a Europa se desilude com uma esquerda que se rendeu às teses da supremacia do mercado, na América do Sul uma esquerda assumidamente ideológica e que aposta no combate à pobreza tem vindo a conquistar o sub-continente. A recente eleição de Ollanta Humala no Peru é mais uma demonstração desse vento que varre o sub-continente.

A América do Sul não faz parte das preocupações da maioria dos portugueses. Mais atentos aos lugares turísticos brasileiros e com a excepção do relato de alguns episódios da política brasileira, quase tudo o que se passa naquele sub-continente pouca relevância merece nos nossos media. Certamente resultado da ligação histórica que a generalidade daqueles países mantêm com Espanha.

Ao contrário da maré neo-liberal que varre a Europa e que tem vencido quase todas as recentes eleições no “velho continente”, no sul do continente americano (13 países, 357 milhões de habitantes em 2003) regista-se exactamente o movimento contrário. Com o final da guerra fria governos ditatoriais e de extrema-direita que dominavam numerosos países daquela parte do mundo, bem representados pelas sanguinárias ditaduras de Pinochet (Chile 1973-1990) e J. Videla (Argentina 1976-1983), foram paulatinamente arredados do poder.

Por via eleitoral Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia, Uruguai, Paraguai e Equador tem hoje governações politicamente à esquerda. Um processo iniciado com a eleição de Hugo Chávez em 1998 (e as importantes medidas que introduziu num país marcado por enormes contrastes) e extraordinariamente acelerado com a eleição do ex-operário Lula da Silva em 2003 para a presidência do maior país da América do Sul. Brasil cuja taxa de crescimento do PIB atingiu 7,5% em 2010. As opções “esquerdistas” dos eleitorados não parecem ter perturbado o crescimento das economias latino-americanas que, com excepção da Venezuela (-1,9%) atingem valores notáveis, 15% no Paraguai, 8,5% no Uruguai, 7,5% na Argentina.

O vento de mudança e de esperança que varre a Sudamérica representa um profundo corte com as imposições geoestratégicas que dominaram o sub-continente nos tempos em que era qualificado como o “quintal” dos Estados Unidos. No Peru (29 milhões de habitantes), com a recente eleição de Ollanta Humala, que há dias tomou posse, esse vento acaba de mais uma vez se fazer sentir. O Peru tem uma história repleta de desigualdades sociais, dramas e traumas tão perturbadores como a hiper-inflação de finais dos anos oitenta, as elevadas tensões sociais ou a sangrenta e feroz luta sem quartel e sem regras que opôs o Estado a grupos revolucionários radicais como o Sendero Luminoso e o Tupac Amaru durante a presidência de Alberto Fujimori.

Com uma América do Sul à esquerda e a crescer economicamente, os posicionamentos parecem referenciar-se a partir de duas principais fontes de inspiração, o Brasil de Lula da Silva (e agora da Dilma Roussef), apresentado como uma declinação reformista e de sucesso que procura garantir conquistas sociais numa economia de mercado, e a Venezuela de Hugo Chaves com a sua revolução bolivariana servida com políticas sociais dirigidas pelo Estado aos estratos mais baixos da população.

Como sempre a questão central do papel e da intervenção do Estado. Por isso o novo presidente peruano afirmou no seu acto de posse que “necessitamos de mais Estado”, tendo anunciado medidas de ataque à pobreza inspiradas nas experiências brasileira e venezuelana.

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Cultura, Política

Alienação

cartoon de João Abel Manta que foi objecto de censura e de um processo judicial pelo fascismo, só arquivado depois do 25 de Abril

No jornal Público, no fim de semana, duas páginas eram ocupadas por um anúncio da cadeia de supermercados Continente intitulado “Em cada Concerto um Sonho”. A parceiragem é entre as mercearias grande escala do Belmiro e a alforreca cantante Tony Carreira. Com tais sócios o sonho só pode ser fedorento. O primeiro passo de dança dessa dupla de sucesso foi dado em grande estilo na avenida da Liberdade, roubada aos lisboetas com o aval do Zé que faz uma falta do raio que o parta a Lisboa.

Este prólogo faceto serve de entrada ao que está na raiz desse emparelhamento.
Comecemos pela feira onde a incontinência da hipocrisia e do cinismo poluíam aquele espaço nobre de Lisboa. É um inultrapassável desaforo os supermercados Continente bancarem a cavaleiros da Távola Redonda dos produtores nacionais. Todo o mundo sabe que as grandes superfícies, com a complacência, para não dizer com a cumplicidade dos sucessivos governos, têm obrigado a que milhares de pequenos lojistas fechem portas por incapacidade de concorrerem com os gigantes do sector.

A posição imperial a que se alcandoraram Belmiro&Soares Santos, sempre activamente apoiada por governantes subservientes, fá-los dominar mais de 50% do mercado nacional de distribuição, um caso sem paralelo na UE. Essa situação possibilita-lhes que façam gato-sapato dos fornecedores, impondo-lhes condições de fornecimento e pagamento brutais e absolutamente execráveis. Preparam-se para estenderem os seus tentáculos às pequenas lojas de bairro que subsistem, abastecendo-as em condições leoninas.

São assim os nossos empresários de sucesso!

Aqui entram os concertos de sonho. Não é coisa inocente nem despicienda. Integra-se na lógica fanática e totalitária da nova ordem do capitalismo, em que os poderes tradicionais são exercidos por megapólos económico-financeiros. Para essa nova ordem capitalista são de importância equivalente o controlo da produção de bens materiais e o dos bens imateriais. É tão importante a produção de bens de consumo e de instrumentos financeiros como a produção de comunicação que prepara e justifica as acções políticas e militares imperialistas através dos meios tradicionais, rádio, televisão, jornais e dos novos, proporcionados pelas redes informáticas, como é igualmente importante a construção de um imaginário global com os meios da cultura mediática de massas, as revistas de glamour, a música internacional nos sentimentos e americana na forma, os programas radiofónicos e televisivos prontos a usar e a esquecer, o teatro espectacular e ligeiro, o cinema mundano medido pelo número de espectadores, a arte contemporânea em que a forma pode ser substituída por uma ideia e a personalidade do artista transformada numa marca garante do valor da mercadoria artística que atravessa fronteiras. Continuar a ler

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Política

Temos Ministro! Mais Um!!!

No debate do programa do XIX Governo, uma montra de banalidades a embrulhar a mais radical política liberal que alguma vez se propôs aplicar em Portugal, entre a tropa de ministros há um ministro em foco, sobre que recaem enormes expectativas, o ministro do Estado e das Finanças Victor Gaspar. Expectativas positivas por parte do grande capital, negativas por parte dos trabalhadores e dos pequenos e médios empresários. Nestes, alguns dos que ainda dão crédito, a curto prazo serão desenganados.

Victor Gaspar abriu a tenda e desembrulhou o tapete das políticas que, para mal de nós todos, se propõe pôr em prática.

Na fase das perguntas, Honório Novo, questionou o ministro sobre a privatização de empresas que dão lucro ao Estado, aquilo a que Jerónimo de Sousa, durante a campanha eleitoral, com toda a propriedade resumia num apotegma particularmente eficaz : o bife do lombo.

Víctor Gaspar, de certo ultra convencido das suas qualidades histriónicas, enraizadas numa suposta superioridade técnica, optou por um exercício de humor respondendo que a Microsoft também dá lucro e não é por isso que alguém pede a sua nacionalização.

Uma graçola pífia que passa ao lado da pergunta para falhar clamorosamente o alvo. O próprio deve ter sido o único que se riu com a pilhéria. Mesmo os colegas de bancada devem ter ficado interditos com o despropósito que nem o amarelo de um sorriso merece.

Lá que o homem transpira vaidade por todos os poros é visível a olho nu e não há desodorizante que lhe valha, mas com intervenções deste jaez, a que se soma o inscrito no programa do governo, certificou-se o que se pode esperar daquela cabecinha.

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