No sábado passado, pela manhã, fui ao mercado comprar peixe fresco para assar.
Foi em Setúbal, no Livramento, onde, além da habitual freguesia, deparei com uma clientela sazonal muito especial, à procura, não de carapau ou besugo, mas de votos: a campanha do PSD entrava em campanha eleitoral. Podia ter sido outra qualquer, mas foi, exactamente, a caravana laranja que encontrei a sopesar citrinos sucos no mercado local.
Às tantas, deparei, olhos nos olhos, com Passos Coelho que, aliás, conheço pessoalmente.
Não havia nenhum motivo ético, nem princípio político ou ideológico, para me furtar ao encontro e, por isso, cumprimentei-o dizendo-lhe, à cabeça, que lhe tinha corrido bem o debate da véspera (com José Sócrates). Depois, acrescentei, já em desacordo político, que quando “lá estivesse”, no poder, entenda-se, não deveria executar o programa de privatizações anunciado, porque, para além de diversos aspectos políticos e ideológicos, significaria um mau negócio para Portugal. De uma forma simpática, Passos Coelho entendeu por bem esclarecer-me acerca dos motivos que forçariam a necessidade de vendermos empresas e, destacando a TAP, sublinhou que o estado não tinha dinheiro.
Despedimo-nos, indo ele aos votos e eu ao peixe, antes que se fizesse tarde.
À noite, depois de ter que digerir (mal) o quarto triunfo do F. C. do Porto nesta época, fui forçado a tragar o licor amargo das diversas reacções motivadas por uma inesperada notícia que tinha sido passada pela SIC Notícias: eu, ex-presidente e ex-comunista, tinha-me cruzado com o candidato Passos Coelho e, diziam, apoiava-o! Ou seja, em quatro afirmações, duas eram falsas: ser ex-comunista e ser apoiante do PSD.
Fui, em tempo oportuno, avisado do que estava a correr, através de diversos amigos e amigas, dois deles da direcção do PCP, o que me possibilitou envidar esforços no sentido de desmentir e rectificar a aleivosia. Mas, não obstante o tal canal ter rectificado a falsa notícia (a partir das 23h30), todos sabemos, os que andamos nisto há uns tempos, que, uma vez lançada a atoarda, haverá sempre um lastro de dúvida especulativa que subsiste, manchando a honorabilidade de quem a pretende manter.
Nem sequer são os efeitos político-partidários e eleitorais o que conta no rescaldo deste episódio. De facto, não creio que o fait-divers tenha qualquer efeito sobre a votação da CDU ou do PSD, porque o assunto não chegou a ter relevância suficiente a esse nível. Contudo, a nível pessoal, e mais uma vez, a dúvida instalada em alguns espíritos, é-me adversa.
Não deixa de ser preocupante que haja, pelos vistos, tanta gente, e em particular “camaradas e amigos”, tão permeáveis a este tipo de contra-informação difamatória gerada no mau trabalho jornalístico. Digo-o, porque as principais reacções negativas que me chegaram, indirectamente, são desse sector de opinião!
Até parece que há quem deseje, há muitos anos, comprovar uma tese, sucessivamente demonstrada como falsa, segundo a qual eu seria um mau compagnon de route! O que será que esses “amigos” pretenderão demonstrar com as suas elucubrações precoces recheadas de críticas e reparos? E, por que razão o farão?
Bom, tenho que ser justo, também alguns socialistas se manifestaram incomodados com o meu suposto apoio ao Passos Coelho!
Há muitos anos, também com base numa notícia falsa escarrapachada num semanário, fui dado como rico e instalado em Moçambique, coisa de que nunca me apercebi. Nesse tempo, porém, ninguém me avisou desse e de outros boatos difamatórios e, assim, ainda hoje há pessoas que me julgam refastelado nos trópicos.
Agradeço, portanto, a amizade e a camaradagem de quem, desta vez, me alertou em tempo oportuno.
Só não prometo deixar de ir ao mercado a Setúbal : – É que, apesar de alguns dislates urbanos, há lá, de facto, bons produtos da terra e do mar.
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