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A cacofonia anti-Trump. Uma carta ao meu amigo Zé Teófilo

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Meu caro Zé

Andas muito activo na cacofonia anti -Trump, com galerias de fotos que enfim…umas acertam outras não. São os teus ódios de estimação com uma base errática de análise política. Trump é um protofascista, xenófobo, racista e sexista? É claro que é! Mas atiras ao lado quando te fixas nesses alvos e não olhas para os que são mais importantes. Já lá vamos de forma simplificada, embora te aconselhe a leres o texto do Pacheco Pereira, um homem que mesmo que não se concorde sabe pensar! Primeiro umas notas que considero importantes sobre o que tens escrito. Desde o principio da campanha eleitoral nos EUA, um circo longo que começa nas primárias, não vi um único texto teu, provavelmente porque estava distraído, sobre os golpes baixos da Clinton e da camarilha do jornalismo mercenário que a apoiava a mando de Wall Street e da alta finança, contra Bernie Sanders denegrindo-o desde o primeiro momento em que surgiu como alternativa. Nem um só texto sobre o papel da Hillary Clinton primeiro  como apoiante da invasão do Iraque, da agressão à Jugoslávia (um parenteses Milosevic o Carniceiro dos Balcãs foi absolvido por unanimidade pelo TPI dez anos depois de morrer nos cárceres desse mesmo TPI) e depois como secretária de Estado que comandou o ataque à Líbia, com os resultados que estão à vista e a frase grandiloquente embrulhada num rasgado sorriso “Viemos, Vimos e Matamos” celebrando a morte de Khadafi. Nem sobre o ataque à Síria, tentando repetir o “êxito” líbio, armando, treinando e financiando a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, no que foi travado pela intervenção da Rússia. Nem sobre  o seu apoio ao golpe de estado para-fascista na Ucrânia, com a actívissima sua colaboradora Vitória “Que se Foda a Europa” Nuland. Ucrânia onde combatem ao lado das milícias fascistas batalhões do Estado Islâmico. Nem um só texto sobre de denúncia às golpadas da sra Clinton que nos debates com Sanders sabia previamente as perguntas que lhe iam ser feitas e as que iriam ser feitas a Sanders ou as manobras miseráveis a seu favor da cambada que comandava a Convenção Democrática que a escolheu como candidata à corrida presidencial que foram tão escandalosas que os obrigaram a demitir-se deixando a máquina a funcionar, para mal do pobre Sanders que se contentou com essa demissão.

Também não vi uma só palavra de crítica e condenação a Madeleine Albright, uma grande apoiante “feminista” de Clinton que disse que “há um lugar especial no inferno para mulheres que não ajudam umas às outras!” , referia-se ás que apoiavam Sanders contra Clinton e que no programa 60 Minutes do canal CBS respondeu à jornalista que a questionou sobre a Guerra no Iraque: “Ouvimos que meio milhão de crianças morreu. Quer dizer, isso é maior do que o número de crianças que morreu em Hiroshima. E, enfim, será que o custo de uma guerra como essa compensa?.” respondendo prontamente: “Acho que é uma escolha muito difícil, mas o custo – nós consideramos que vale a pena arcar com ele.” Nós quem? Todos aqueles, a comunicação social estipendiada e a rapaziada que anda pela internet que se a frase tivessse sido dita, nem era preciso tanto só uns 10% daquela ignominia, por Putin ou pelo presidente do Irão em relação à guerra em curso contra o estado Islâmico na Síria e no Iraque teria caído o carmo e a trindade contra aqueles monstros frios e bárbaros.  Nem é preciso referir a diferença de tratamento mediático que se faz sobre as batalhas em curso em Mossul e Alepo, em que os civis de uma são usados como escudos humanos pelo EI e da outra como vítimas do exército sírio e dos russos! A falta de vergonha e decência é total e absoluta e os que não denunciam essa dualidade seus cúmplices. Mas claro, as clintons e as allbrights e já agora os obamas é que são os simbolos da democracia e do mundo livre.

Como tu são muitos os que centram a campanha anti-Trump no seu machismo, sexismo, xenofobia, misogenia, um erro só explicável por estrabismo político. Clinton era o paradigma da globalização Wall Street. Hillary Clinton era a candidata do complexo militar-industrial, do capital financeiro internacional. Cientes que ela iria colocar em prática os diktats de Wall Street apoiaram-na com entusiasmo. Derramaram meios financeiros brutais, puseram em marcha a comunicação social ao serviço da plutocracia. Gente que são o 1% dos que beneficiam dos contratos de armamento, dos acordos comerciais em curso. Contra isto os norte-americanos votaram em Sanders e Trump, lixando-se contra todos as sombras negras que envolvem Trump. Sanders foi trucidado, Trump venceu prometendo voltar a tornar a América grande. A abissal e incontornável diferença entre eles é que Trump tem a mesma raiz de Clinton. A árvore é a mesma, a poda é que é diferente. Os americanos votaram em Trump que não é Hitler. A história não se repete. E deve-se lembrar que o muro que prometeu construir a separar o México dos EUA começou a ser construído por Bill Clinton, se pensarmos num muro total podes verificar que mais de um terço já existe. Trump é perigoso? Claro que é mas não é nem mais nem menos perigoso do que Hillary Clinton. A sua vitória tem que ser vista como consequência do brutal declínio moral e intelectual do sistema político norte-americano que também contamina os sistema políticos europeus. Isto é que são os aspectos fundamentais e não o foco nas lutas ditas fracturantes que são importantes mas são adjacentes e parcelares da grande luta que tem que ser empreendida contra o sistema. Nos EUA, Sanders  à sua maneira e os outros candidatos de que ninguém fala, Jill Stein e Gary Johnson fizeram-no. O primeiro foi passado a ferro com os golpes mais sujos pelo sistema e na prática demitiu-se na Convenção dos Democratas, dos outros ninguém quase ninguém ouviu falar, o sistema silencia-os ab initio.

Há uma enorme dúvida: o que irá acontecer na casa Branca? Tudo o mundo se interroga e está em suspenso.

Por cá, a eleição de Trump pondo de lado as diatribes cacofónicas sobre a sua misogenia, racismo e xenofobia, tem efeitos curiosos. A direita que se demarcava, por causa desses traços de Trump, recicla-se a alta velocidade porque sempre defenderam, de forma clara ou surda, a destruição da legislação social, dos direitos sociais, a proibição do aborto, a igualdade de género, os direitos da comunidade LGBT e porque, lá bem no fundo, gostam dos tiques  autoritários de Trump. Lá chegará a altura de o defender abertamente, basta ler o Observador, esse farol da direita portuguesa, e atentar na evolução das notícias e comentários sobre as eleições nos EUA desde o principio.  Nas esquerdas pálidas e rasteiras fez com que muitos direitolas travestidos de esquerdinhas tirassem a cabeça de fora. É ler Rui Tavares, esse idiota útil, a defender com unhas e dentes a Nato e as suas políticas agressivas, no meio de delírios bálticos, o acordo de livre comércio  TTIP, a visão da Merkel e a consequente hegemonia alemã na EU. Um bródio.

Termino citando o lúcido artigo que Pacheco Pereira que subscrevo por inteiro:  A vontade de mudar, o elemento mais decisivo nestas eleições, foi parar às piores das mãos, mas foram as únicas que lhes apareceram. Quando Bernie Sanders, outro “antiquado”, cuja candidatura “falava” para estas mesmas pessoas, foi afastado – conhece-se hoje o papel de um conjunto de manobras dos amigos de Hillary Clinton no Partido Democrático –, ficou apenas Trump. E, como já disse, não tenho a mínima simpatia por Trump, a mínima. Mas tenho uma imensa simpatia pela vontade de mudar, que tanta falta faz nos dias de hoje nas democracias esgotadas na América e na Europa.»

Meu caro Zé Teófilo, um pouco mais de distanciamento e discernimento político nas análises o que fará baixar radicalmente o volume dos sound-bytes.

Se calhar irei publicar esta “carta” na praça do Bocage.

Amigos como sempre.

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Arroja, Comunicação Social, Direita e Esquerda, Ideologia de Direita, Machismo

A direita, o Machismo e o Arroja

Adão e Eva Lucas Cranach

Adão e Eva de Lucas Cranach

Com tanto ruído à volta, também fui ouvir Pedro Arroja. É miserável mas fiquei sem perceber porque é que o Bloco de Esquerda exige desculpas ao canal televisivo, por não se demarcar das declarações de Pedro Arroja. De que valem as desculpas que fossem dadas pelo Porto Canal? Têm o mesmo valor das desculpas que eventualmente os supostos isentos jornalistas que enxameiam os meios de comunicação social poderiam dar pela campanha de desinformação que todos os dias e a toda hora fazem, de forma directa ou indirecta, para alimentarem a campanha de direita. As graduações são evidentemente diferentes, mas o espaço concedido a Pedro Arroja é o mesmo que é concedido, por exemplo a Paulo Portas para repetir a cassete em que, com o descaramento conhecido, desmente o que disse há quatro anos sobre governos minoritários e maiorias parlamentares. Não há jornalista que o confronte com isso ou qualquer outra das suas afirmações irrevogáveis que alimentam a montanha russa de retórica de pacotilha, variável conforme as circunstâncias e os interesses momentâneos, que povoam a sua vida política. A complacência comparada com a agressividade que usam com outros passa sem reparo! Ontem, nos diversos canais de televisão os exemplos multiplicaram-se. Vão ser o pão nosso da mixórdia comunicacional de todos ps dias.

Há por aí quem escreva e diga que Pedro Arroja é conhecido pelas suas afirmações politicamente incorrectas. Curiosa forma de camuflar tudo o que é politicamente incorrecto na política de direita travestido de pensamento político que merece consideração. Poucos são os Heidegger ou os Raymond Aron. Muitos os Glucksmann e os Bernard-Henri Lévy. Poucos os Churchill e muitos os Reagan, os Blair, os Bush. Há um enxame de medíocres vespas asiáticas ao assalto em defesa de uma nova barbárie política económica e social totalitária que quer comandar o mundo escapando-se ao escrutínio democrático, através dos seus braços armados, com o FMI e o Banco Mundial na linha da frente e Bildeberg na retaguarda. A comunicação social anda por aí para os servir.

O Arroja não é mais nem menos do que uma dessas vespas zumbidoras a que a comunicação estipendiada dá voz quando acha conveniente.

O que ele agora disse só merece ser falado porque é um insulto a todos nós homens. Tem a virtude de colocar no terreno uma questão, essa sim fracturante. A ideologia burguesa de direita, que nunca se assume como ideologia por se pensar eterna e estar para lá do fim da história, considera que há territórios politica e ideologicamente neutros como os da cultura, dos direitos humanos ou, no caso, o do machismo. Territórios onde, aparentemente, direita e esquerda se podem encontrar sem conflito.

A realidade é outra. O Schubert ou o Wagner que eu ouço, o Erza Pound ou o René Char que eu leio, o Tartokvsky ou o Orson Welles que eu vejo não são os mesmos do que a generalidade dessa gente de direita, ouviu, leu e viu. Não são, nem nunca serão. Excepções haverá, nenhuma regra não tem a sua excepção. Há mesmo gente que politicamente se afirma de direita que ouvirá, lerá e verá essas obras com uma visão diversa que aprofunda a sua audição, leitura e visão.  Mas na generalidade nunca ouviremos, leremos e veremos o mesmo. Georges Steiner descobriu isso quando Lukács lhe disse que nos campos de concentração nazis Mozart nunca seria tocado. Admirou-se com afirmação tão peremptória. Confrontou-a com Benjamin Britten que, depois de uns quinze dias a rever Mozart, lhe telefona a dar razão a Lukács.

Ao ouvir Pedro Arroja, nós homens, devemos afirmar a nossa condição de homens, indignando-nos, mas afirmando que o machismo é um traço do pensamento da direita. Inscreve-se no pensamento de direita. Está em linha com o pensamento político, social e económico da direita. A luta pela igualdade de género, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres sempre foi uma luta da esquerda. Há homens que são ou militam nas esquerdas e têm atitudes machistas? Claro que há! Outra vez a questão da regra e da excepção. Mas nunca um homem de esquerda pode considerar que a mulher aparece de uma costela de Adão. Nunca um homem de esquerda pode esquecer que foi Eva que deu a maçã a trincar a Adão e lhe limpou o olhar animal, o tornou Homem para a história da Humanidade se iniciar com o trabalho histórico e social de trabalhar os sentidos, não só os sentidos físicos, como o ouvido ou o ver, mas os sentidos práticos como os da vontade, do amor, como Marx teorizou tão excelentemente

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