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A Peste Negra do Acordo Ortográfico

A peste negra ortográfica tinha começado a notar-se nas capas, nas páginas dos livros, para não referir a comunicação social onde um semanário dito de referência congratulava-se bacocamente por ter começado a poupar letras.

Agora, decretada a imposição de todos os documentos oficiais serem escritos pelas regras do Acordo Ortográfico, é dado o primeiro murro sério anunciando a conjugação dos golpes seguintes até ao KO final que atirará ao tapete o português, entre aclamações da turbamulta ignara e a indignação da gente de bem.

O disparate ortográfico que nenhuma ciência lógica sustenta de a grafia do português se normalizar pelo padrão do português-brasileiro, vai ser politicamente imposto pela camarilha que nos tem desgovernado há mais de trinta e cinco anos. É um acto dentro dos padrões de submissão antipatriótica e de direita que nos atirou para a crise económica social e política em que estamos mergulhados e para a perca de identidade cultural, de que o Acordo Ortográfico é a mais cabal demonstração.

Nada o justifica. Contra o Acordo Ortográfico, ultrapassadas todas as diferenças políticas, uniram-se as vozes mais representativas da cultura e da ciência nacional. O Acordo é um dislate sem par em qualquer parte do planeta que só existe por boçal vontade política. Basta olhar para o inglês para se verificar que as diferenças mais substanciais nos países onde é língua oficial se localizam exactamente na grafia. O mesmo sucede com o espanhol. Duas das línguas mais faladas no mundo.

Fica-se assolado quando se ouve o actual Secretário de Estado da Cultura afirmar, em recente entrevista, que “daqui a poucos anos o português de Portugal desaparecerá da internet, engolido pela variante mais forte, que é o português do Brasil. É preferível assumir que essa situação existe e tentar fazer o melhor”. Semelhante argumento só pode ser esgrimido por um inerme defensor da cultura, digno par dos outros governantes e subgovernantes. Faz-nos entender quão farsolas são quando afirmam o seu amor por Portugal e, no cume da hipocrisia, pelas tradições mesmo as que são estagnantes.

O da cultura, que quer meter a cultura no bolso das calças para a atirar na primeira papeleira que encontrar, é mais um entre o magote de escritores assim-assim, nacionais e estrangeiros, cruzados a soldo da “jihad” editorial que pretende colonizar o gosto e a qualidade rasourando-o pela bitola de um medíocre gosto mediano. Deve ler pouco, quando não saberia que na literatura portuguesa, só a literatura oriunda do Brasil alinha pela ortografia preconizada no acordo.

Com gente deste calibre que, com beócios pragmatismos, despreza o português como língua viva, dinâmica e esteio da identidade nacional, Portugal está no caminho do suicídio colectivo para onde as desgraçadas políticas económicas o empurram.

É um dever patriótico continuarmos a lutar contra o Acordo Ortográfico. Tentar por todos os meios que volte a estar na agenda da Assembleia da República. Iniciarmos a desobediência civil não escrevendo pelas regras desse aborto ortográfico. Lutemos contra mais este acto de servilismo!

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51 thoughts on “A Peste Negra do Acordo Ortográfico

  1. Lou diz:

    The brand new Orthographic Agreement (piece of shit) applyed in Portugal is something as if english people had to pronouce, for instance, LIK as LIKE, or SHIFF as CHIEF, and so on, you name it… disgusting, repulsive…

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  2. Luís diz:

    EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA, SEGUNDO O PENSAMENTO DE MAKAKA PASTELEIRO & ASSOCIADOS (Ou De como transformar o português numa língua ágrafa)
    Tudo, na língua, deverá tender para a simplificação. Primeiro atinge-se a vertente escrita da língua – lembremo-nos que o português é uma língua gráfica, designadamente, mutilando as palavras, destituindo-as quer da sua etimologia, quer da sua morfologia e desconsiderando os aspectos étnicos da construção dos fonemas.
    Eventualmente, acabar-se-á por, sempre na senda da simplificação, alterar a pronunciação das palavras, acabando por reduzir aquele que é um sistema relativamente complexo, como são as línguas (mais as gráficas do que as ágrafas, obviamente) a um sistema de sons à semelhança dos já existentes no mundo animal (v.g. linguagem dos primatas). Curiosamente, em Portugal (português europeu), tendemos a fechar as vogais em várias palavras e até para isso as consoantes mudas, que nem sempre são assim tão mudas, servem. E como tal, o português do futuro assemelhar-se-á mais a um grunhido mais ou menos eslavoide. Já, no caso do Brasil a “evolução” será da maior vocalização, quer falada, que rescrita (v. g. “uh uh ah ah”).
    Finalmente, como a língua escrita, por seu turno, também afectará a língua falada, acabaremos por alterar a fonação das palavras afectadas pela mutilação da novel pseudo-ortografia.
    Tomemos como exemplo a palavra DIRECTO – DIRETO (que se pronunciará dirêto) – DRETO – DRTO – DRT. Enfim, a certa altura, já não se distinguirá de outras palavras, algumas das quais nem sequer são da mesma família, como por exemplo, DIREITO, DIRECTOR, DORMENTE, DIRIGENTE, etc, etc.

    Obrigado, dr. Pasteleiro (e afins), estamos assim no bom caminho para “evoluirmos” para uma linguagem de macaco. Note-se que nada temos contra os animais, designadamente, os primatas, porém, há que considerar o adágio: “cada macaco no seu galho” e, pela nossa parte, não queremos regressar à pré-história, pese embora o facto de os governantes do mundo e, em coluio com eles, os nossos governantes domésticos, estejam a desenvolver todos os esforços no sentido da estupidificação do mundo. Por outro lado, não deixa de ser curioso que os defensores do Aborto Gráfico se digam ser “pelo progresso”! É preciso mudar, nem que seja para descer de cavalo para burro sarnento, o que importa é mudar! Infelizmente, há planos maquiavélicos nos cérebros doentios e viciados dos mandantes, mas disso, os carneirinhos obedientes quando se aperceberem já poderá ser tarde.

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  3. Já assinei a ILC há meses…espero que esta aberração do Ao seja mesmo revogada…por ser uma tristeza. Mas,principalmente depois de tudo o que aqui foi lido, os argumentos em defesa do mesmo AO, são mesmo muito fraquinhos e facilmente desmontáveis por pessoas que realmente “percebem da poda”.

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  4. Luiz Moita diz:

    Não vale a pena discutir mais ! Respeitemos democráticamente a opinião dos outros, reservando-nos o direito, também democrático, de manter a nossa. De facto com já alguém apontou, se as línguas tendessem para a oralidade o que seria feito do Inglês ( rough, S. Maugham, awfull , etc…), do alemão , do francês! Temos de reconhecer humildemente mais uma vez que este acordo é uma “bimbalhice” à boa moda portuguesa! Somos um país de “bimbos”, de “saloios” e inventamos aberrações como esta. Por isso também temos o governo e o Presidente da República que merecemos; e só mais uma vez : Nem a Inglaterra, nem a Espanha , nem a França alguma vez se lembraram de fazer “acordos ortográficos “. Aí somos os maiores : na parvoice!.

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  5. Ler tudo isto faz-me recordar os velhos do restelo, o porque não mudar ? O que vos apoquenta ? Não há protocolo que não seja revisto, e a língua Portuguesa não foge à regra. Num universo de cerca de 400 milhões de pessoas que falam Português diariamente nós somos uma minoria, sem falar no que a normalização ou standartização do protocolo(língua Portuguesa) representa (um claro e melhor entendimento entre todos aqueles que o utilizam)! Sejamos realistas e não fiquemos agarrados a conceitos antigos, vamos abrir a mentalidade e olhar para aquilo de bom que virá com tudo isto.

    Cumprimentos a todos, não pretendo ofender ninguém, apenas deixar um pouco de bom senso na discussão !

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  6. Carlos diz:

    Não percebo porque ainda insistem com o Sr. Jorge…
    Já foi dado aqui exemplo de tudo o que é disparatado, desde as gritantes imposições (sem correspondência no Brasil) até aos argumentos linguísticos mais complexos que justificam SEM margens para dúvidas o porquê de nunca devermos aceitar este acordo e o caro Sr. Jorge continua a “arrumá-los para canto” como se não tivessem validade.
    Aliás ficou bem patente nesta última tirada (“Gosta de escrever Domingo,Sábado etc? Não gosta de mudanças?). Não justificou qual o critério,não contrapôs,fez apenas aquilo que a generalidade dos “acordistas” faz quando confrontado com as EVIDÊNCIAS INATACÁVEIS (ou antes FACTOS) que mostram na categoria “2+2=4” o quão lamacentas são as bases do acordo – lançou uma qualquer crítica bacoca a tentar insultar quem ainda tem paciência para o ouvir…
    Não me explicou de onde vem o critério da fonética que elimina o “c” em acto e não o “h” em hórario.
    Também não explicou porque desaparece (em nome do acordo) o “p” em óptico, mas não em milhares de outras palavras que pelo mesmo critério também deveriam desaparecer (a dos verbos no infinitivo brasileiros foi perfeita)…
    Estou certo,não? Foi exactamente o que li por aqui abaixo.
    Conseguiu ainda a proeza de dizer que o acordo actual é que é fraco…
    Bem, Sr. Jorge, é inútil não é!?
    As palavras alteradas estão mesmo à sua frente, as regras estão mesmo à sua frente e mesmo assim tenta arranjar um argumento…
    Eu acho que você e, naturalmente, os seus semelhantes são um caso perdido,o tipo de pessoas que acha que se deve “mudar,só por mudar”, quem vai contra si “é antiquado,averso à mudança,preconceituoso” e (a minha favorita) “velho do Restelo”.
    Foi-lhe aqui demonstrado o porquê da idiotice e inconsistência do dito “critério da pronúncia” – foi-lhe demonstrado que só funciona para um lado e que só para situações específicas (mais concretamente para este nosso país). Demonstrado com PALAVRAS à sua frente. Exemplos gritantes. Mas não, isso não é razão…
    Foi-lhe demonstrada a utilidade assumida dessas consoantes no Português Europeu.
    Foi-lhe demonstrada que há regras que pura e simplesmente NÃO têm critério válido (dias de semana em letra minúscula?Meses?O problema não é o ser,mas antes o…PORQUÊ?).
    Foi-lhe demonstrado o porquê do acordo nem sequer servir para aquilo que se propôs (duplas grafias por todo o lado,A MAIORIA das quais NEM EXISTIA) . A maioria sem cabimento sequer.
    Não respondeu convenientemente a nenhuma,nenhuma que não tivesse uma resposta FACTUAL para lhe mostrar o contrário.
    Mas ainda assim insiste que os defensores do Português actual é que estão errados.
    O acordo é que é fixe…
    Bem, eu acho que você não vale a pena.
    Ou melhor,vale a pena,a minha pena.Tenho de facto pena.
    Acho que você é do estilo de pessoas que, se no Renascimento o próprio Galileu o tivesse levado para cima do Sol e MOSTRAR-LHE que a Terra gira à sua volta e não o contrário você defenderia com tudo o que tivesse o contrário…

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  7. Luiz Moita diz:

    “Nada o justifica. Contra o Acordo Ortográfico, ultrapassadas todas as diferenças políticas, uniram-se as vozes mais representativas da cultura e da ciência nacional. O Acordo é um dislate sem par em qualquer parte do planeta que só existe por boçal vontade política. Basta olhar para o inglês para se verificar que as diferenças mais substanciais nos países onde é língua oficial se localizam exactamente na grafia. O mesmo sucede com o espanhol. Duas das línguas mais faladas no mundo.”

    Este argumento do texto inicial de Manuel Augusto Araújo é tão claro, tão indiscutível, tão lógico e sobretudo tão real, (contra factos reais não há argumentos), que não se compreende quem ainda queira defender o novo acordo. Por favor ! Então o Inglês que é falado em países africanos, na Austrália e Nova Zelândia, no Canadá e nos EUA, no Oriente, nunca, mas nunca, precisou de acordos ortográficos e os britânicos estão-se borrifando para as diderenças do Inglês americano ou qualquer outro. E os Espanhóis limitaram-se a fazer um ” Grande Dicionário de la lengua Espanhola” onde aparecem os diferentes regionalismos.
    E nós, que abrimos os caminhos do Mundo à Europa e estamos agora reduzidos a este tristíssimo canto à beira do Atlântico com tantos e tantos problemas gravíssimos a resolver, políticos, sociais, económicos, ambientais o que fazemos ?
    Nada ! Fizemos o novo acordo ortográfico! Há palavras que me põem os olhos em bico : fatura??? o que é isto fâtura? Otimo ???? ôtimo ?

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  8. Expatriada diz:

    Carissímos,
    Estão a fazer uma tempestade num copo de água. Coletivamente lanço-vos o desafio de se atualizarem e de serem pragmáticos.
    Sejam os arquitetos da mudança e ajudem o País a modernizar-se.
    Cumprimentos,

    PS: Não sou brasileira, mas apenas alguém viveu noutros países, e que verificou que é normal as línguas modernizarem-se e aproximarem-se da oralidade.

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    • Nuno Ferreira diz:

      Arquitêtos da mudança? A as mulheres são as arquimamas… perdão… arquitêtas…
      É que tecto (da casa) e teta (da vaca) têm esta “subtil” diferença.
      Portanto agora teremos arquimamas a projectar edifícios.
      Acho bem.

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      • Nisha Ribeiro diz:

        Arquipatetas!!!
        A melhor compreensão do significado das palavras, pelas pistas etimológicas grafadas, agora consideradas “dispensáveis” iria desaparecer se o chamado acordo ortográfico vingasse. Pretendem os acordistas levar-nos pelo caminho do empobrecimento cultural, cavando um fosso entre os “eruditos” linguistas e os outros, o que seria um verdadeiro atentado contra a cultura geral dos portugueses.
        Ignore-se o AO.
        Os cães ladram mas a caravana passa.

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  9. José Luis Porfírio diz:

    Porque é que para o inglês há mais de uma dúzia de variantes, como muito bem diz e que no português se tende para zero?
    Por isso mesmo, porque nisso e em tudo se tende para zero
    “ou ainda menos”!

    J L P

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      • Amigo Jorge
        Hoje tentei responder-te mas o comentário evaporou-se. Agora lendo todas as intervenções pouco ou mesmo nada terei a acrescentar.
        Conhecendo-te desde os bancos da primária, fico um bocado abismado com alguns argumentos que aduzes. Acho mesmo extraordinário que lá porque a Profª Maria Helena da Rocha Pereira faz uma afirmação não a vás minimamente verificar, fazer uma amostragem, dar uma volta nos inúmeros textos publicados a favor e contra e por quem, para retirares a singular conclusão que “ao contrário do que o espalhafato mediático dos “resistentes” faz crer, o que acontece é ele ter sido aceite pela maioria dos vultos importantes da nossa cultura”. Bem podias estar quieto com os dedos e procurar saber quem apoiou e quem está contra o AO. É fácil e evitavas o dislate, adiante!
        O que não percebo de modo algum é que quem defende com tanto fervor e convicção o AO, mesmo que o argumentário não resista a uma análise mais funda, como os vários intervenientes julgo to terem demonstrado com clareza, e incorras até nalgumas contradições, vai reler tudo o que escreveste, continues a reger a sua escrita pela antiga ortografia, exibindo essa incongruência. Por onde anda a coerência, coisa que nunca te faltou? O Saramago, que invocas, recusava escrever alguma vez pelas normas do AO, porque estava em total desacordo com ele. Se apoias essa reforma faz o favor de começar a escrever em conformidade! A dona Alice não te marca os erros.
        Enganas-te mais uma vez e redondamente. Não tenho nenhum, mas mesmo nenhum complexo em relação aos brasileiros. Devias sabê-lo.
        Forte abraço

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      • Jorge diz:

        Olha, Manel
        se aquele “pouco ou mesmo nada” que teimosamente fizeste questão de acrescentar se tivesse de novo evaporado, creio que não teríamos perdido grande coisa…
        Achas “extraordinário” que se aceite a autoridade de alguém (MHRP) com o prestígio intelectual de que nem tu, nem muitos dos atacantes do AO gozam nem de perto? O que te hei-de fazer?
        Não percebes que quem aceita o AO (“defende com tanto fervor e convicção” é aldrabice tua) como instrumento de imposição internacional do português e portanto a ser ensinado às novas gerações, possa não alterar ipso facto como um autómato a sua maneira de escrever de sempre e só progressiva e parcialmente admita adoptá-la à medida da familiarização pelo hábito (como de resto está acontecendo um pouco por todo o lado)? Pois, que te hei-de fazer?
        Tenho-me enganado muita vez e pode ser esta mais uma, não sei. O que procuro evitar sempre é misturar alhos com bugalhos e confundir a análise com a cacetada.
        Mas, cada um é como é e eu gosto da tua maneira também!
        Abraço

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      • Caríssimo Jorge
        Quem começou a confundir alhos com bugalhos e desatar à traulitada logo nos primeiros dos inúmeros comentários que colocaste em defesa deste AO foste tu quando afirmas que «ao contrário do que o espalhafato mediático dos “resistentes” faz crer, o que acontece é ele ter sido aceite pela maioria dos vultos importantes da nossa cultura». Delicioso o pormenor dos resistentes entre aspas. Vai-se ver e o pau de que te socorreste para fabricares o cacete foi «apenas da informação que nesse sentido ouvi a Profª Maria Helena da Rocha Pereira prestar no programa dominical sobre Língua Portuguesa da Antena 2 de há algumas semanas» e aceitas isso como verdade inquestionável só pela «autoridade de alguém (MHRP) com o prestígio intelectual de que nem tu (eu), nem muitos dos atacantes (os “resistentes”) do AO gozam nem de perto?» O que te hei-de fazer? Devolvo-te o que escreveste, bem podias estar quieto para não dizeres inanidades desse jaez, só por não questionares se, apesar do prestígio, alguém (MHRP),não estaria a verbalizar uma inverdade. Até é fácil verificar quem está a favor e contra o AO. O prestígio de cada um é que é mais subjectivo, mas apesar disso…meu caro Jorge, se ficas assim de cerviz dobrado pela canga do prestígio da MHRP, o que te aconteceria se fosses contemporâneo do Nietzche quando ele se desentendeu com o Wagner e publicou vários textos em que, do alto da sua estatura e prestígio intelectual ( que a MHRP por mais trezentos que viva nunca atingirá ) defendia que o compositor vivo mais importante para a história da música não era Wagner mas Berlioz! Lá estarias tu ofuscado, positivamente esmagado pelo prestígio do Nietzche, na primeira fila dos propaladores de tamanha enormidade! Haja tento no que se diz e antes de o dizer verifique-se minimamente se corresponde à realidade, por maior que seja o prestígio do emissor.
        Essa atitude que, da tua parte, considero inesperada mas sempre possível, está em linha com o que se vai percebendo lendo a sequência dos teus comentários. Peneirando-os fico com uma séria dúvida. O que é que tu de facto leste ou seguiste nos vários e interessantes debates que existiram e existem entre os “resistentes” e os defensores do AO? Não te estarás a basear numa estreita informação que embebes num suposto bom senso para fazeres de um fósforo uma floresta a arder? Terias imenso proveito se consultasses os “link’s” que o Pedro Silva Coelho, de todos os intervenientes, na generalidade todos interessantes, o melhor e mais bem informado, te facultou e, sobretudo, os lesses. Sendo assunto que me interessa, em que não possuo conhecimentos que me permitissem formar uma opinião, segui com atenção o que foi publicado, alguns debates radiofónicos e televisivos. Garanto-te que aprendi coisas interessantíssimas, muita que desconhecia em absoluto. Com dúvidas fui falando com pessoas que são profundas conhecedoras do assunto, com o cuidado de também serem conhecedoras e interessadas em literatura. Sou frontalmente contra aquela teoria do português prático que vai retirando a literatura dos programas escolares e preconiza a sua simplificação com o concomitante empobrecimento do vocabulário. Uma atitude de classe, evidentemente, onde se alinham muitos dos arautos do AO, mesmo os que são ou dizem ser de esquerda.
        Poderás, agora, questionar as razões, o que me motivou a escrever e colocar um “post” com aquele teor. Explico-te. O que me moveu é o facto incontornável de o Acordo Ortográfico ter sido politicamente imposto, na base de argumentos economicistas quando o debate em geral http://www.goethe.de/ins/pt/lis/ver/pt8599040v.htm e o debate científico ainda estava em aberto, como ainda está. Este é um aspecto que acabou por ficar submerso nos comentários, extremamente interessantes, que o “post” suscitou. Só agora, nas suas últimas intervenções, o Pedro Silva Coelho o referiu.
        Mesmo nas inúmeras intervenções públicas de diversas personalidades sobre o Acordo Ortográfico, essa face teria ficado praticamente olvidada não fora Óscar Lopes (já agora, um “resistente“ que é um prestigiadíssimo linguista e um prestigiadíssimo estudioso e conhecedor da literatura, o que nem sempre acontece com muitos prestigiados linguistas) a equacionar, enumerando a relevância e as consequências económicas que teria a aceitação do AO.
        Se tiveres dúvidas em como os argumentos científicos foram submersos pelos «superiores interesses económicos da nação», vai ler os debates e as declarações de voto na AR sobre o Acordo Ortográfico. O PCP, tudo lido, não se percebe porque é que optou pela abstenção. Não faz o mínimo sentido, é mesmo um voto aberrante. O BE fica quase à beira de assumir o AO como uma causa fracturante e, claro, vota a favor com medo de perder o barco de uma mudança supostamente modernaça. O PS, PSD e CDS rendem-se às supostas vantagens económicas que advirão com a aprovação do AO.
        No imediato já se poderão analisar custos e lucros até agora auferidos pelas editoras (as grandes casas editoras, em todo o mundo, têm sempre uma forte actividade na edição escolar e cientifica) com as alterações obrigadas pelo AO, reeditando manuais escolares, dicionários, prontuários, literatura de todas as áreas científicas. No mundo editorial outros impactos eram previsíveis e já estão a acontecer http://www.publico.pt/Cultura/leya-despede-em-portugal-e-aposta-no-brasil-1527600 Nas outras áreas económicas serão sempre mais complexos de avaliar.
        Em síntese, o que me motivou foi insurgir-me contra uma imposição politica, por justificação económica, do AO sem que a discussão científica estivesse encerrada, sem uma fundamentação técnico-científica sólida, sem a comunidade científica ter alcançado um consenso estabilizado. A língua sempre foi e será um corpo dinâmico e a coluna vertebral da identidade nacional. É uma falácia, uma falácia indigente, afirmar que o AO reforçaria “ a importância internacional do português se essa norma fosse a mesma (AO) para Portugal, Brasil e os outros PALOP’s”. Os exemplos do inglês e do castelhano aí estão para o provar contra a ignorância ou aldrabice que te faz salientar “a vantagem dessa norma ser comum para todos os escreventes do português, coisa que nem o inglês, nem o espanhol (castelhano) têm necessidade de efectuar dada a relativa uniformidade da sua ortografia nos respectivos países.” É exactamente na ortografia no que mais divergem. Qualquer texto sobre esse assunto o sublinha. Mas tu só tens certezas, as dúvidas que dizes ter são para embrulhar e deitar fora.
        Para acabar de vez com a conversa. Como achas que baralho análise com cacetada, dou-te finalmente uma. Estás a pedi-la. Vai à internet e integra o corrector que, com as regras do Acordo Ortográfico, a Microsoft disponibiliza à borla. Ficas logo em linha com as normas do AO em vez de “não alterar ipso facto como um autómato a sua maneira de escrever de sempre e só progressiva e parcialmente admita adoptá-la à medida da familiarização pelo hábito”. Afinal, escreveste tudo o que escreveste de esferográfica em punho e depois digitalizaste os textos convertendo a tua letra para um tipo do word? Mesmo assim, o corrector entra sempre em acção pelo que se o actualizares ficas rapidamente familiarizado, saltando a etapa do hábito. Deixa-te de argumentos farsolas. Não há paciência para essas tiradas.
        Um forte abraço, amigos sempre!

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  10. Altino Mageste diz:

    Nao sou pelo Acordo nem pelo “desacordo”… sou a favor da Língua Portuguesa (sem acento porque meu teclado está configurado para a Língua Inglesa – da Inglaterra!!!) Maior que estas favas soltas nas bocas sem dentes dos “senhores da cultura” (sim podem rir!!!) é o nosso amor pela Língua Portuguesa! Portugal tem sua poesia, Brasil tem seus sons, os países lusofonos da Africa tem seu calor encantador para que mudar isso??? A Língua é patrimonio cultural…é raiz de toda uma populacao… e vai agora querer “impor” uma cultura??? Qual é a finalidade disso??? Eu me deito de fado… e me desperto de samba!!! Se esta mudanca nao é “pacífica”, é melhor que nao vá adiante. É na diferenca, na diversidade que está a beleza… isso nao é um problema!!! Abracos luso-brasileiros, Altino Mageste

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  11. Lilith diz:

    Jorge, há modificações que foram feitas ao longo dos anos que fazem sentido, como a substituição do PH pelo F, mas isso foi feito porque houve necessidades linguísticas.

    O facto é que a escrita é que deve ditar a oralidade, e não o contrário, como o acordo quer obrigar. Se nos surge pela frente uma palavra que não conhecemos, nós temos de a pronunciar como a escrita nos indica que ela é pronunciada. Se eu não conhecesse a palavra “perspectiva” e a mesma me aparecesse escrita como “perspetiva”, eu saberia que a sílaba tónica está no “ti”, e leria exactamente “perspetíva” e não “perspétíva”. Sem a consoante muda para abrir a vogal, não há como entender, da escrita, qual a pronúncia certa daquela palavra. E como esta há muitas outras.

    Se a reforma proposta (imposta) pelo acordo fizesse algum sentido em termos linguísticos, não haveria, certamente, tanta gente revoltada.

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    • Jorge diz:

      Não concordo que a oralidade tenha que seguir a escrita, nem isso me parece que historicamente seja o que tem acontecido.
      Talvez não haja tanta gente conhecedora “revoltada” como julga…

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    • SC diz:

      «substituição do PH pelo F, mas isso foi feito porque houve necessidades linguísticas.»

      Que necessidades? Em inglês é philosophy, em alemão é philosophia, em francês é philosophie.

      Não havia necessidade alguma. Foi uma mudança imposta por um governo ditatorial e maçónico em 1911, numa altura em que já se tinha compreendido que a ideia de uma «ortografia positiva» era um absurdo tão grande como a frenologia (o mesmo governo que impôs a mutilação da ortografia mandou medir os crânios dos padres jesuítas – quererão repetir?).

      Nos país cultos e sensatos a coisa não passou e, como sempre, cá estava um país com 75 % de analfabetos que acredita em tudo, como uma criança pequena.

      Já agora, a Prof. Maria Helena da Rocha Pereira, que fez parte da comissão que negociou o «acordo» e fala, por isso, em causa própria será a única intelectual que apoiou o «acordo» que o maçon Sarney impôs à maçonaria porttuguesa a que a Professora não será alheia.

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  12. Pedro da Silva Coelho diz:

    Caro Jorge,

    Aquilo que diz não podia estar mais longe da verdade. Nenhuma ortografia pode seguir critérios puramente “fonéticos”, usando a terminologia que escolheu. O alfabeto latino é ao mesmo tempo deficiente (na medida em não é capaz de representar todo o repertório de sons articulados) e superabundante (na medida em que dispõe de letras que podem representar o mesmo som, v,g,, j e g, o e u, etc.). A ortografia deve sempre aspirar à estabilidade, para que possamos aceder aos monumentos escritos deixados pelos nossos antecessores, condição essencial para o crescimento continuado do conhecimento humano; se corrêssemos atrás da “fonética”, os lisboetas teriam de escrever de forma diferente dos portuenses, estes de forma diferente dos açorianos, etc. Tomemos o exemplo das consoante r muda no final de palavra no Brasil: «andá» (andar), «comê» (comer) «ví» (vir); se o critério é a “fonética”, porque não caem estas consoantes no Brasil?

    Recomendo-lhe que leia o parecer do Prof. António Emiliano sobre o AO de 90, sito a páginas 197 do Relatório da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura a propósito da Petição 495/X/3.ª (http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6148523063446f764c3246795a5868774d546f334e7a67774c334a6c6243316d61573568624339594c314246564451354e5331594c5445794c5667756347526d&fich=PET495-X-12-X.pdf&Inline=true), Aí, nas palavras de um dos mais eminentes linguistas portugueses, verá de quantos erros graves enferma este acordo e como é impossível e perigoso tentar seguir a “fonética” na escrita.

    Não tome a resistência ao AO de 90 como pugna pela ortografia prévia à reforma de 1911 ou como conservadorismo reaccionário. É resistência a um péssimo conjunto de soluções que não só não aproxima o português de Portugal do do Brasil, como antes os afasta mais. O AO de 90, com todas as facultatividades que permite, consagra o desacordo ortográfico e mina a própria noção de ortografia. Nem sempre a mudança é boa. A mudar a ortografia, mude-se o que tem problemas e mude-se com fundamentação técnico-científica sólida.

    Um abraço,

    Pedro da Silva Coelho

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    • Jorge diz:

      Caro Pedro,
      remeto-o para a resposta que pude dar a Mário. É evidente que surgiram problemas com a adopção do acordo, toda a gente reconhece isso. Ao contrário do que o espalhafato mediático dos “resistentes” faz crer, o que acontece é ele ter sido aceite pela maioria dos vultos importates da nossa cultura, não por ser perfeito, mas por ser o possível e por ser aperfeiçoável.
      Cumprimentos

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      • Pedro da Silva Coelho diz:

        Caro Jorge,

        As consoantes que insiste em chamar de «mudas» têm uma importante função diacrítica: marcam a abertura tímbrica da vogal átona que as antecede. Assim sendo, não podem, se quisermos ser rigorosos, chamar-se de mudas. E essa função que acabo de citar é da maior importância. Porquê? Ora bem, a variante europeia do português é marcada por um processo gradual de redução das vogais em posição átona: em termos simples, designa isto a tendência de «á» aberto passar a «a» fechado (ou a nada, em fala rápida), de «é» aberto passar a «e» fechado (ou a nada, em fala rápida), de «ó» aberto passar a «u». Este processo, concordam os linguistas de forma geral, inclusivamente os favoráveis ao AO de 90, é o principal responsável pelo afastamento “fonético” entre as variantes europeia e brasileira e. como tal, pela dificuldade de compreensão das pronúncias portuguesas por parte dos brasileiros; aliás, já em várias declarações públicas a Prof.ª Maria Helena da Rocha Pereira (defensora do AO de 90) e o Prof. Malaca Casteleiro (este último, o principal responsável português pelo AO de 90) afirmaram isto mesmo, dizendo inclusivamente que «os portugueses deveriam abrir mais a boca quando falam». Tal processo verifica-se também no Brasil, mas limitado praticamente a vogais átonas em última sílaba. Por esta razão, nunca passará pela cabeça dos brasileiros suprimir. e.g., os érres nas terminações da forma infinitiva dos verbos, érres esse que são «mudos» (diacríticos), nas pronúncias brasileiras mais representativas (aquelas que dominam a comunicação social, tendentes a levar à uniformização das outras). Repito: «andá» (andar), «comê» (comer) «ví» (vir), por exemplo.
        Qual é, então, o resultado de dito processo? Pois bem, e sobretudo por influência da pronúncia da área dialectal que inclui Lisboa e suas cercanias, dominante que é nos meios de comunicação social, a variante europeia do português tem vindo a fechar-se, como anteviram os linguistas que reformaram a ortografia em 1911 e 1945. Como saberá, muitas consoantes «etimológicas» (termo impreciso) foram eliminadas em 1911, quando não proladas (pronunciadas) e sem o tal valor diacrítico de indicação do timbre da vogal antecedente, caso, v.g., de «funcção», «producção», «reducção» «predicção». Tal aconteceu, grosso modo, apenas quando a vogal antecedente era «i» ou «u», porque imunes ao processo de vocalismo átono. Cito, a título de excepção, palavras da família de «vaccina» (como sempre, há excepções à regra geral). Apesar de tudo e mesmo com as consoantes diacríticas, ocorreu fechamento de vogais átonas em palavras como «actual», «actualidade», etc., tem-se verificado fechamento das vogais (nas pronúncias de Lisboa e cercanias) em palavras como «actividade» e começa a verificar-se fechamento em palavras como «excepto» (“excêto”). A trapalhona eliminação destas consoantes irá, inexoravelmente, acelerar o processo de redução do vocalismo átono ao longo das gerações vindouras, afastando assim mais a variante europeia da variante brasileira do português. Tomemos o trio de palavras «recepção», «recessão» e «ressecção». Ao abrigo do AO de 90, poderão grafar-se, respectivamente, «receção», «recessão» e «resseção» (esta última, poderá também ser grafada «ressecção», consoante a vontade do freguês). Com o tempo, com a perda das consoantes que marcam o timbre das vogais e considerando a potente acção do processo de vocalismo átono, acabarão todas por ser pronunciadas da mesma forma, i.e., como a palavra «recessão», o que será, por certo, um grande ganho para a clareza da língua. Muito mais do a ortografia, são certos aspectos sintácticos e a oralidade que nos afastam do Brasil. Esta reforma ortográfica, caso não seja abandonada, acelerará o afastamento entre as variantes, contrariando o objectivo primordial do acordo ortográfico. Tome nota que, numa série de produção luso-brasileira (“Equador”), as vozes dos actores portugueses foram dobradas por actores brasileiros aquando da sua difusão no Brasil.

        Para além desta função, tais consoantes têm importantes funções na manutenção da coesão de famílias de palavras e na distinção entra froams homófonas (pronuciadas da mesma forma. A propósito desta última função, cito o caso de «óptica» (de olho) e «ótica» (de ouvido): ao abrigo do AO de 90, “óptica” passará a grafar-se “ótica”, mais uma vez com grande ganho para a clareza da língua.

        Caro Jorge,

        Chega de se fazerem coisas só para se dizer que se fazem, sem pensar no que se faz. A simplificação em nome da simplificação não é um bem. A linguagem e a comunicação são complexas, e não é com abstrusas simplificações ortográficas (que, na verdade, o não são, porque, e.g., as regras de hifenização do AO de 90 são mais complexas e difíceis do que as do AO de 45) que se faz com que as pessoas dominem melhor a língua. Portugal tem um sistema ortográfico bem concebido e essencialmente estável há 100 anos, o qual foi sendo modificado de forma bastante razoável até agora. O AO de 90 é um amontoado de más soluções técnicas que irá lesar gravemente a língua portuguesa e, por isso, o rejeito. Estou aberto a modificações ortográficas bem pensadas e fundamentadas que resolvam os problemas do sistema ortográfico e não à criação de novos e graves problemas.

        Um abraço,

        P.S.: Não sei como chegou à sua conclusão de que o AO de 90 terá sido aceite pela maioria dos «vultos importantes da cultura portuguesa»… Será apenas uma impressão subjectiva? O que é um «vulto importante da cultura portuguesa»? Gostaria de sabê-lo e que fizesse o favor de citá-los. Eu desconheço se foi a maioria ou uma minoria dos «vultos importantes da cultura portuguesa» que aceitou o AO de 90. Será José Saramago um «vultos importante da cultura portuguesa»? Será António Lobo Antunes um «vultos importante da cultura portuguesa»? Será Óscar Lopes um «vultos importante da cultura portuguesa»? Sê-lo-ão Vítor Aguiar e Silva, Vasco Graça Moura, Ricardo Pais, Vasco Pulido Valente, Rui Ramos, José de Almeida Moura, João Andrade Peres, António Emiliano, Desidério Murcho, Pedro Mexia, Isabel Pires de Lima, Inês Pedrosa, Fernando Venâncio, José Pacheco Pereira, João César das Neves, etc.? Pois nunhum deles o aceita. Comparar colecções de cromos de pouco ou nada serve. Só a refelxão cuidadose e ponderada é útil. Após me informar exaustivamente, após ler centenas de páginas de pareceres e artigos de opinião emitidos por defensores e detractores, cheguei à conclusão de que os argumentos dos detractores são muito superiormente fundamentados e razoados e de que os defensores não mais querem fazer doq eu construir castelos de areia.

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      • Jorge diz:

        Caro Pedro Coelho,

        talvez não mereça o cuidado que pôs na sua resposta, pois não tenho a qualificação necessária para uma discussão aprofundada do assunto. Rejo-me apenas por aquilo que julgo ser algum bom senso.
        Compreendo bem as suas considerações sobre a função das consoantes diacríticas, de resto frequentemente invocada para a sua manutenção. Só não compreendo porquê foi no Brasil onde delas se prescindiu que a redução do vocalismo átono não ocorreu e porquê tal fenómeno se verificou em Portugal, exactamente onde a sua presença o deveria ter evitado. Quase diria ser esta uma evidência que coloca reservas ao bem-fundado dessa sua hipotética função e que abre a porta à procura de outra explicação para o fechamento vocálico de que sofremos.
        Sou favorável à existência de uma norma para a escrita da língua, como toda a gente (?). Parece-me que só reforçaria a importância internacional do português se essa norma fosse a mesma (AO) para Portugal, Brasil e os outros PALOP’s. Não acredito que a competência dos linguistas que durante vários anos trabalharam para esse efeito possa ser qualificada de “trapalhona” ou “abstrusa”, ou posta em dúvida no plano da honestidade intelectual. Rejeito totalmente o patrioteirismo histérico e quase sempre mal informado da “resistência” ao AO a que assistimos nos media e na internet e discordo absolutamente do enquadramento político que o MAA lhe desenvolve neste artigo do blog.
        Como deve perceber não tenho dados suficientes para por mim próprio poder ter chegado à conclusão de que o AO foi aceite pela maioria da pessoas de cultura no nosso país. Socorri-me apenas da informação que nesse sentido ouvi a Profª Maria Helena da Rocha Pereira prestar no programa dominical sobre Língua Portuguesa da Antena 2 de há algumas semanas. Não se trata de uma pessoa qualquer…

        Grato pela atenção que a minhas opiniões lhe mereceram.

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      • Pedro da Silva Coelho diz:

        Corrigenda:

        As passagens que se seguem continham gralhas e devem ler-se como abaixo se reproduz:

        (…)

        «Para além desta função, tais consoantes têm importantes funções na manutenção da coesão de famílias de palavras e na distinção entra formas homófonas (pronunciadas da mesma forma. A propósito desta última função, cito o caso de «óptica» (de olho) e «ótica» (de ouvido): ao abrigo do AO de 90, «óptica» passará a grafar-se «ótica», mais uma vez com grande ganho para a clareza da língua.»

        (…)

        «Após me informar exaustivamente, após ler centenas de páginas de pareceres e artigos de opinião emitidos por defensores e detractores, cheguei à conclusão de que os argumentos dos detractores são muito superiormente fundamentados e razoados e de que os defensores não mais querem fazer do que construir castelos de areia.»

        As minhas desculpas pelas gralhas.

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      • Pedro da Silva Coelho diz:

        Corrigenda II:

        «Pois nenhum deles o aceita. Comparar colecções de cromos de pouco ou nada serve. Só a reflexão cuidadosa e ponderada é útil.»

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      • Pedro da Silva Coelho diz:

        Caro Jorge,

        Merece, concerteza, todo o cuidado que tento ter nas minhas respostas e mais, pois, no fim de contas, esta é uma questão da maior importância. As razões de ser da diferente extensão e intensão (no sentido de força) do processo de vocalismo átono em Portugal e no Brasil serão difíceis de apurar: é difícil saber por que razão fenómenos colectivos como este seguem num ou noutro sentido. O certo é que os brasileiros, sabendo das tendências evolutivas do português no Brasil, sabiam que podiam abdicar dessas consoantes diacríticas sem risco de induzir uma deriva da pronunciação dessas palavras. Em casos em que o abdicar de consoantes diacríticas poderia induzir deriva da pronúncia, mantiveram-nas, como no caso que referi dos érres nas formas infinitivas dos verbos. Em Portugal, os nosso linguistas sabiam das tendências evolutivas do português em Portugal, pelo que mantiveram essas consoantes onde consabidamente necessário. Essa manutenção tem funcionado, pois na maioria dos casos, tem evitado o fechamento dessas vogais. O problema é que, eliminando-as, remove-se aquele que é, provavelmente, o mais eficaz obstáculo a esse fechamento. Este fenómeno existia já antes das reformas ortográficas e estas foram feitas com o cuidado de tentar contê-lo e minimizá-lo.

        Acresce que, no Brasil, a eliminação dessas consoantes se fez, não tanto por desnecessárias, mas primordialmente por questões de nacionalismo linguístico, como poderá ler nas palavras de um reputado filólogo brasileiro em http://www.filologia.org.br/revista/artigo/5(15)58-67.html. Mais lhe digo que, o nacionalismo linguístico na Brasil é muito mais forte do que em Portugal e radica numa aversão ao passado colonial de Portugal no Brasil, do qual a marca mais forte é a língua.

        A importância internacional de uma língua não depende da ortografia, vide o caso da língua inglesa. Essa é uma falsa questão. As pequenas (mas importantes) diferenças entre a norma euro-afro-asiático-oceânica e a norma brasileira não diminuem o seu prestígio, não obstam à intercompreensão nem à sua difusão. Imagine-se quão gravemente lesada seria a projecção internacional da língua inglesa se as comunidades linguísticas inglesas se lembrassem agora de fazer reformas ortográficas profundas (que fariam mais sentido no caso do inglês que no do português).

        Caro Jorge,

        Eu não alinho em patrioteirismos. Eu acredito na reflexão ponderada e informada e gosto de inovação linguística, se benéfica. A ortografia deve ser o mais estável possível e evoluir no sentido de resolução de problemas e não da sua criação.

        Como sabe, nem sempre pessoas aparentemente competentes fazem coisas bem feitas e intelectualmente honestas, especialmente se pressionadas por forças políticas e interesse financeiros. A propósito do carácter trapalhão e abstruso desta reforma peço-lhe encarecidamente que leia o parecer que previamente lhe citei (parecer do Prof. António Emiliano sobre o AO de 90, sito a páginas 197 do Relatório da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura a propósito da Petição 495/X/3.ª [http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6148523063446f764c3246795a5868774d546f334e7a67774c334a6c6243316d61573568624339594c314246564451354e5331594c5445794c5667756347526d&fich=PET495-X-12-X.pdf&Inline=true]. Permita-me que lhe peça que o faça tendo em consideração a importância da questão e o respeito e o cuidado que demonstrámos um pelo outro nesta nossa troca de ideias e argumentos.

        Um abraço,

        Pedro da Silva Coelho

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      • Jorge diz:

        Caro Pedro da Silva Coelho,
        tomei nota de boa parte das suas reflexões, havendo uma em especial com a qual estou totalmente de acordo: “a ortografia deve ser o mais estável possível”. Não quererá isso dizer que não possa ser reformável, quando razões fortes o aconselhem. Acredito, pelos argumentos que já me conhece, ter sido agora uma dessas ocasiões e 66 anos não me parece um lapso de tempo tão curto que signifique instabilidade. Ao fim e ao cabo, a última reforma aconteceu passados apenas 34 anos da anterior…
        Não consigo ler o parecer cuja leitura me recomenda. Pela forma como o faz, não tenho porém dúvidas quanto à sua pertinência.
        Chegados, contudo, onde chegámos, acredita mesmo ser uma boa ideia deitar todo o trabalho do AO borda fora e voltar ao ponto zero ou pura e simplesmente aniquilá-lo como projecto? Imagine que tal era possível. Não lhe parece que aquele mesmo princípio de estabilidade que tanto prezamos o que aconselharia agora, em vez dessa radicalidade de “terra queimada”, seria estudar a forma de solucionar os problemas onde eles surgiram, salvaguardando todo o património de harmonização que o AO permitiu?
        Penso francamente que já temos problemas que cheguem como nação para estarmos a inventar mais um desta monta…
        Com sincera consideração,
        Jorge Vasconcelos

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      • Pedro da Silva Coelho diz:

        Caro Jorge Vasconcelos,

        Não creio que existam razões fortes para reformar a ortografia neste momento, talvez com a excepção das regras de hifenização.
        Sessenta e seis anos não chega a ser o tempo de vida de uma pessoa, não chega sequer a ser três gerações (se considerar vinte e cinco anos como equivalente a uma geração). Como tal, creio ser tal período um período curtíssimo. Ademais, o tempo decorrido entre reformas deve ser considerado à luz da quantidade de alterações introduzidas por ditas reformas. E esta última introduz alterações «em barda».
        O período de trinta e quatro anos entre as reformas de 1911 e de 1945 terá de ser interpretado à luz de circunstâncias políticas, nomeadamente, do constante aceita-para-depois-recusar que foi a posição do Brasil quanto a essas reformas (relembro-lhe que o Brasil aceitou a de 1911 em 1915, recusando-a depois, e aceitou a de 1945, para a recusar em 1950).
        Como já referi, os sistemas ortográficos devem almejar à estabilidade, devem ser bem desenhados à partida e alterados apenas para resolver problemas, os quais deverão ser mínimos logo aquando da instituição de ditos sistemas. A ortografia de 1945 foi uma tentativa profundamente bem razoada de unificar as duas normas (creio apenas que não deveria ter consagrado a abolição do trema, que tem uma função de grande utilidade) e foi recusada no Brasil, não pela sua qualidade técnica, mas devido à força do nacionalismo linguístico no Brasil.
        O argumento de «terra queimada» não colhe. O AO de 90 começou a ser aplicado há muito pouco tempo, pelo que custaria menos dinheiro e daria menos trabalho parar a sua aplicação agora do que continuar a sua aplicação: a maioria da população não saberá ainda as novas regras, a maioria do material impresso está grafado de acordo com o AO de 45… Se parássemos agora a sua aplicação, as bibliotecas públicas, as bibliotecas escolares, as bibliotecas pessoais deixariam de estar em processo de obsolescência e manteriam a sua actualidade. Os editores e livreiros poderiam escoar o relativamente pouco material que têm que respeita o AO de 90 sem problemas, com excepção do material escolar. Mas, como os grandes «acordistas» já falam abertamente da necessidade de rever o AO de 90 (vide Prof. Evanildo Bechara, vide D’Silvas Filho [http://www.ciberduvidas.pt/controversias.php?rid=2377]), caso o AO de 90 não seja suspendido, pode já contar, para breve, com outra ronda de obsolescência de materiais impressos, com necessidade de novos manuais escolares, nove substituição de formulários na Administração Pública, novas revisões de materiais tipográficos, novas acções de formação para professores, funcionários públicos… E se forem as mesmas pessoas que conceberam algo de tão defectivo a revê-lo, provavelmente iremos necessitar de novas revisões… e assim sucessivamente, ad nauseam.
        O AO de 90 não permitiu harmonização nenhuma (vide facultatividades à vontade do freguês, grafias duplas geograficamente restritas, etc.), só consagrou o desacordo. Em muitas famílias de palavras de uso muito frequente introduziu divergências que não existiam entre Portugal e Brasil, e.g. (forma portuguesa/forma brasileira), «receção/recepção», «perceção/percepção», «conceção/concepção» «aspeto/aspecto», «detetar/detectar», «perspetiva/perspectiva», «recoleção/recolecção», «cato/cacto» e todas as centenas/milhares de palavras dessas famílias, etc. ad nauseam. Aconselho-lhe a visitar a base de dados Mordebe e ver com os seus olhos a chusma de divergências introduzidas pelo AO de 90.(http://www.portaldalinguaportuguesa.org/vop.html). Diga-me Jorge: por razão acha que divergências como (forma portuguesa/forma brasileira) «acção/ação», «direcção/direção», «projecção/projeção», etc., são mais desagregadoras que as novas divergências (vide supra)? Chama a isto harmonização? Não vejo como. Não vejo mesmo como.

        Com sincera consideração,

        Pedro da Silva Coelho

        P.S.: Acabo de tentar abrir a hiperligação para relatório de apreciação da petição que lhe dei e, apesar de o ficheiro levar bastante tempo a ser importado, ele acaba por abrir-se. Talvez se lhe der um pouco mais de tempo. Deixo-lho uma vez mais (http://app.parlamento.pt/webutils/docs/doc.pdf?path=6148523063446f764c3246795a5868774d546f334e7a67774c334a6c6243316d61573568624339594c314246564451354e5331594c5445794c5667756347526d&fich=PET495-X-12-X.pdf&Inline=true) e um outro (http://www.fcsh.unl.pt/docentes/aemiliano/AOLP90/EMILIANO-CESC.pdf).

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      • Jorge diz:

        Caro Pedro,
        não sei como lhe agradecer. Sinto-me um pouco “asfixiado”, mas espero dar conta do essencial da avalanche produzida pelo António Emiliano.
        Apanhada um tanto a eito, que pensar da citação pessoana que ele coloca numa das epígrafes (pergunto):
        “Como o indivíduo, o Estado —que em certo modo é também um indivíduo— adopta a —e uma só— ortografia, boa ou má, que entende, e impõe-a onde superintende.»
        (Fernando Pessoa, A Língua Portuguesa, Assírio & Alvim, Lisboa, 1997, 23 – 4) ?
        Por esta não esperava…
        Abraço
        JV

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    • Pedro da Silva Coelho diz:

      Caro Jorge,

      Nada tem a agradecer-me. O meu propósito foi (e é) apenas o de informar. Infelizmente, foi negada à sociedade portuguesa a possibilidade de discutir publica- e profundamente esta reforma antes da sua apressada aplicação. Os pertinentes pareceres (concretamente os posteriores a 1990) que encontrou no repositório criado por António Emiliano foram ocultados pelas estruturas do estado, tendo sido tornados públicos apenas por insistência da deputada Zita Seabra. A minha rejeição da reforma ortográfica de 1990 não resultou de um «parti pris». É uma decisão informada, tomada após leitura atenta de todos esses referidos documentos. Como pessoa interessada nesta importante questão, e imbuído de um espírito de cidadania activa, gostaria que o Jorge divulgasse esse documentos através dos meios ao seu dispor. Se tal fizer, serei eu quem lhe ficará grato. Seja-se a favor ou contra a reforma, que tal decisão seja tomada de forma ponderada e na posse de informação adequada. Esse é o meu propósito.

      Repare quantas linhas gastámos a discutir apenas os dígrafos que contêm consoantes impronunciadas com função diacrítica. Ora, esse é apenas um dos numerosos pontos profundamente criticáveis da reforma.

      Quanto a Fernando Pessoa: como saberá, ele opôs-se ferozmente à reforma ortográfica de 1911. No entanto, mantinha quanto à «questão ortográfica» uma posição intelectualmente honesta. Fernando Pessoa cria que o estado não deveria patrocinar situações de caos ortográfico, posição que reputo de razoada e sábia. Infelizmente, o estado decidiu agora (consciente ou inconscientemente) adoptar uma reforma ortográfica que consagra a indisciplina gráfica, a heterografia, o caos ortográfico. É contra isso que luto e foi por isso que subscrevi a Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990, para a qual tenho procurado recolher assinaturas na esperança de fazer chegar o pertinente projecto de lei à sede da nossa democracia. Acredito que conseguiremos e espero que os nosso deputados tenham o bom senso de dar um passo atrás e ver que esta reforma necessita de ser profundamente revista.

      Um abraço,

      Pedro da Silva Coelho

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      • Jorge diz:

        Caro Pedro Coelho,
        é um facto que gastámos muitas linhas à volta de apenas um ponto, o qual, se não é único, não é dos menos debatidos na opinião pública.
        Honestamente lhe digo que não fiquei convencido, como terá depreendido de um dos comentários em que, face ao que se passou cá e no Brasil, pus em dúvida a validade da função das consoantes diacríticas na abertura das vogais.
        Tenho falado com amigos e a conversa pouco varia: é o “espetador”, é o “egípcio”, é o “facto”, enfim os estafadíssimos exemplos do anedotário em torno do AO. Oposição de fundo encontro menos do que aceitação deste acordo como coisa natural e naturalmente corrigível. Fico também intrigado por que razão obscura terá o “Jornal de Letras” adoptado a nova grafia. Serão “ignaros”, “beócios”, “inanes”, “farsolas”, como alguém gosta de carimbar quem de si discorda?
        Sempre me desagradou o tom virulento com que muitos críticos do AO defendem os seus pontos de vista (V. Graça Moura à cabeça, parecendo deixar escola mesmo onde não esperaríamos) e espanta-me por outro lado toda esta aflição em rebater agora à lufa-lufa aquilo que desde 1990 é conhecido (mal sabendo eu que tanto erro e tão grave é afinal tão antigo), .
        A minha vida não é esta e o interesse por este assunto tem muitos outros ao lado e até à frente. Vou procurar ir lendo com tempo o material que me enviou.
        Lamento não poder corresponder pelo menos por agora ao seu convite.
        Com todo o respeito pelas suas convicções,
        Jorge Vasconcelos

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  13. Eu já iniciei a desobediência civil e procuro que todos os meus amigos o façam ( e, felizmente, o meu corrector do Word ainda está pela grafia anterior ao acordo… )!
    ( gostei dessa da “…de submissão antipatriótica e de direita…,” por oposição a “patriótico e de esquerda”)

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    • Bst diz:

      Só se pode desobeder a um comando legítimo.
      O «acordo» não está em vigor, já que não foi ratificado por todos os estados. E mesmo que estivesse, nunca seria legítimo.
      Por isso, não desobedece a uma lei: apenas não segue ideias tristes 🙂

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  14. Mário diz:

    Caro Jorge,

    só com uma dose generosa de boa-vontade é que podemos considerar que o critério fonético está na base do Acordo Ortográfico de 1990.

    O Jorge, observando calmamente, certamente terá dúvidas fonéticas na leitura das seguintes palavras, simples exemplos, fáceis de assimilar, mas que pessoalmente me têm causado muitas dúvidas quanto ao célebre critério fonético:

    Açores, actores, atores;
    Adoçar, adoptar, adotar;
    Soturno, nocturno, noturno;
    Colete, colecta, coleta;
    Coreto, directo, direto;
    Carreto, correcto, correto;
    Setembro, sector, setor;
    Fartura, factura, fatura;
    Receber, recepção, receção;
    Espeto, aspecto, aspeto;

    E por aí adiante, sem ter que falar no pára e no para, porque também aqui, veja lá, me sinto muito confundido.

    Refiro isto, a título de exemplo, porque os critérios fonético e etimológico foram balanceados na norma anterior a esta (sim… não vamos desconversar, puxando à liça as orthographias de antanho, não seria sério, e do ponto de vista da discussão, abriria uma outra porta, para ter que lhe explicar porque é que o ph desapareceu, em deterimento do f, ou o y, do i).

    Bom, se o meu caro Jorge me conseguir explicar (sem recorrer à fuga do argumento do contexto) onde está o critério fonético nos exemplos que escrevi acima, garanto-lhe que adoptarei a nova grafia (melhor, adotarei), lanço-lhe o desafio, com a maior das boas-vontades (boasvontades, segundo o AO), espero que aceite.

    Cumprimentos,

    M.

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    • Jorge diz:

      Diga-me por favor se diz (pronuncia), respectivamente:
      “àquetores”
      “adòpetar”
      “nòqueturno”
      “coléqueta”
      “diréqueto”, etc.
      Não fala dessa maneira e por isso aquelas consoantes (mudas, o que tem a ver com a fonética) desapareceram. Foi uma simplificação permitida pelo abandono do critério etimológico que as justificava.
      Dúvidas fonéticas sempre as houve, não vejo que sejam novidade:
      actor e maior
      colete e raquete
      coreto e neto, etc.
      Passando por alto o seu lapso do “deterimento”, acrescento que a minha aceitação deste acordo segue a mesma lógica da aceitação do anterior, que é a aceitação de uma norma para a escrita da língua (os prontuários etc.) e da vantagem dessa norma ser comum para todos os escreventes do português, coisa que nem o inglês, nem o espanhol (castelhano) têm necessidade de efectuar dada a relativa uniformidade da sua ortografia nos respectivos países.
      O que me confunde é os críticos deste acordo se terem dado tão bem com aquele que até aqui vigorava…
      (Como deve ter reparado, escrevo como escrevia. Tal como o Saramago, é já tarde para “voltar à escola”. Ninguém é perseguido por escrever como escrevia. Apenas reconheço que as novas gerações de lusófonos só têm a ganhar em aprenderem a escrever do mesmo modo).

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      • SC diz:

        «O que me confunde é os críticos deste acordo se terem dado tão bem com aquele que até aqui vigorava…»

        Acha que se deram bem? 20% de analfabetos em Portugal e 75% de analfabetos classicos e funcionais no Brasil?

        São números vergonhosos, diria mesmo criminosos. Se pensar que o pretexto para as mutilações foi o de de que seria mais fácil a aprendizagem (outra ideia caduca, que as ciências cognitivas demonstraram ser erróneas)

        Claro está que é mais fácil cortar umas consoantes do que melhorar o ensino.

        Já agora, o Castelhano vai repôr, por assim o quererem os utentes, as sequências de consoantes gregas. Assim, Sicologia vai voltar a ser Psicologia.
        Como sempre, o pobre Portugal e o Brasil – a tal potência mundial com sérios problemas de fome – estão na direcção errada.

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  15. Jorge diz:

    Não concordo nada com o escrito, nem é verdade que nenhuma “ciência lógica” sustentou o Acordo, se com isso queres dizer “critério linguístico”. Houve sim: é o critério fonético a substituir-se ao antigo critério etimológico. Ou será que ainda pugnas pela velha “orthographia”?
    Abraço

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    • Ricardo diz:

      Meu caro Jorge, não vejo qual é o critério fonético que justifique a mudança de Janeiro para janeiro, ou de “História de Portugal” para “história de Portugal”.

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      • SC diz:

        O critério é simples: calhou um brasileiro ter grafado os meses com minúsculas, talvez por imitação dos franceses, talvez por engano. A coisa ficou e deram a ordem.
        É interessante ver quem tenta dar razões às modificações do «acordo» quando o próprio malaca diz que:
        “É que isto não é uma questão linguística, é uma questão política, uma questão muito importante do ponto de vista da política de Língua no âmbito da Lusofonia”, sublinhou Malaca Casteleiro, membro da classe de Letras da Academia de Ciências de Lisboa.
        É política. O problema é que é política brasileira.

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      • SC diz:

        De resto, em democracia, quem propõe é que tem o ónus de justificar. A lei não serve para satisfazer caprichos.
        Talvez por isso, as modificações de ortografia em Portugal e no Brasil tenham sido obra de ditaduras e da maçonaria e o digno acordo da Língua Castelhana – embora apenas mude 7 ou 8 palavras (mesmo!) seja facultativo, por respeito para com os cidadãos.

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    • SC diz:

      «ortographia»? como orthography? como orthographie?
      Pois é, os países anglo-saxónicos, de língua alemã ou francófonos são muito atrasados!
      Parece que vão começar a ir estudar ao Brasil. Harvard e Oxford ou a Sorbonne e Heidelberg têm os dias contados perante a pujança das universidades brasileiras.
      E Coimbra também está cheia de candidatos daqueles países, desgostosos com a velha ortografia dos seus países.

      Será que está tudo doido?

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      • Carlos diz:

        Esqueça…Aqui o Sr. Jorge é daqueles que acha que escrever “chímica” era uma estupidez,mas que quando passou a “química” é que foi moderno (note que o “c” e o “h” de chimica APENAS mudaram a sua orientação,pois continuam lá,apenas “virados ao contrário”).
        Fico surpreendido é de não o ver a defender que com o acordo deveria ser escrito “kímica” ,já que a vogal muda “u” não é pronunciada.
        Parece que o critério só funciona para algumas palavras…ups…

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