Cultura, Geral

Um olhar pessimista sobre o mundo

Theo Angelopoulos antes de se tornar realizador de cinema, deambulou pelo curso de Direito a que se seguiu Literatura para, finalmente,  se envolver com o cinema, iniciando, em Paris os seus estudos. Não foi um percurso pacífico mas, apesar de ter entrado em conflito com os professores, acabou por o concluir com quase trinta anos. Regressou à Grécia onde começa a trabalhar como crítico de cinema, num jornal de esquerda “Mudança Democrática”. Com o golpe militar de 1967, fica desempregado. Apesar disso consegue em 1968, realizar o seu primeiro filme, “A Emissão”, uma curta-metragem. Continuou a filmar e a sua terceira longa-metragem em 1975, “A viagem dos Comediantes” traz-lhe reconhecimento internacional e vários prémios o que culminou em 1998, no festival de Cannes, com a atribuição da Palma de Ouro, a “A Eternidade e Um Dia”.

Theo Angelopoulos era um pessimista, afirmava-se um pessimista. Os seus filmes são conhecidos pelas longas cenas sem cortes em plano-sequência, pelas paisagens sombrias, o ritmo lento, os longos períodos sem qualquer fala, pelas alegorias e referências mitológicas. As suas temáticas percorrem melancolicamente os caminhos da civilização moderna. As bandas sonoras que Eleni Karaindrou, criou para os seus filmes acentuavam esses ambientes.Normalmente considera-se a sua obra dividida em duas fases: a primeira que alguma crítica classifica de marxista-brechtiana, e a segunda, a partir de “Viagem a Citera”, com abordagens mais emocionais e subjectivas.

Por terminar ficou a sua trilogia sobre a Grécia e o século XX. O primeiro filme, “The Weeping Meadow”, saiu em 2004, e remontava a 1919, com a chegada à Grécia dos refugiados de Odessa, terminando em 1949, no rescaldo da II Guerra Mundial.

Theo Angelopoulos, com 76 anos, foi ontem atropelado por um motociclo no Pireu, quando andava à procura de localizações para o seu próximo filme, um reflexão sobre a crise da Grécia e o seu futuro. Levado para o hospital, acabou por não resistir aos múltiplos ferimentos sofridos no acidente, tendo falecido horas depois.

Quase se pode afirmar que o seu atropelamento teve uma dimensão simbólica.

Para sempre fica a melancolia do seu sombrio olhar sobre a história, o mundo, o quotidiano.

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4 thoughts on “Um olhar pessimista sobre o mundo

  1. Não almejo bens materiais ( talvez viver um pouco melhor… nunca vivi tão mal! ) , mas, quem me dera ter apenas uma parte de tua cultura quer geral quer em em várias áreas concretas, caro Manuel Augusto. É raro não aprender algo novo contigo. Já houve um tempo em que fui sócio do cineclube Imagem, onde vi inúmeros filmes que não corriam nos circuitos habituais. Todavia, nunca me deparei ( que me lembre) com Theo Angelopoulos nem com a sua obra. Pela curta amostra que anexas vê-se que é pessoa de sensibilidade e criatividade e que domina as ferramentas do ofício. Vou tentar estar atento e, quando puder, acompanhar o que produziu.
    Obrigado, amigo.

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