Os Estados Membros das Nações Unidas, – ONU – reconhecendo que as crianças, independentemente da raça, cor, sexo, religião e origem nacional ou social, necessitam de cuidados e atenções especiais, precisam de ser compreendidas, preparadas e educadas de modo a terem possibilidades de usufruir de um futuro condigno e risonho, propuseram o Dia 1 de Junho, como Dia Mundial da Criança. Isto foi em 1950.
Avançou-se muito em matéria de direitos da criança, mas entre a teoria e a prática a distância é muito grande e as desigualdades entre países e mesmo continentes são abissais.
Pois bem, 600 milhões de crianças do mundo vivem na pobreza, 250 milhões, entre 5 e 14 anos de idade, trabalham em países do chamado Terceiro Mundo e 130 milhões deles não recebem qualquer tipo de educação.
Neste 1 de Junho, 6 milhões de crianças sofrem de lesões limitantes causadas pelas guerras ou conflitos armados e a cada 24 horas, 8 mil e 500 jovens contagiam-se com el VIH-SIDA.
Com a actual situação na UE, existe o perigo real do retorno do trabalho infantil.
O jornal Le Monde da semana passada trazia uma notícia a que não podemos ficar indiferentes.
Com o título Trabalho infantil re-emerge em Nápoles, o artigo descreve como milhares de crianças têm sido forçadas a abandonar a escola e a procurar trabalho para ajudar a alimentar as suas famílias nas cidades do sul da Itália. Em 2011, 54 mil crianças deixaram a escola na região da Câmpania entre 2005 e 2009. Destas crianças, 38% tem menos de 13 anos. O artigo refere ainda que o vice-prefeito de Nápoles disse que com 10 anos há crianças a trabalhar 12 horas por dia!!!
Mas… o trabalho infantil não é um problema só da Itália! Estende-se a toda a Europa e é uma denúncia da política neoliberal/capitalista que está a ser levada a cabo num ataque cerrado aos direitos humanos e, neste caso, aos direitos da criança. Vampiros nunca satisfeitos, exigindo sempre mais, porque a sua sede de lucro é infinita!
Portugal foi considerado pela OIT um caso exemplar na Europa na luta contra o trabalho infantil, mas o acentuar da crise coloca preocupações acrescidas com a vulnerabilidade das crianças quando a estabilidade das famílias é afectada, como já o está a ser em muitos milhares delas.
Com o contínuo aumento do desemprego e com a diminuição dos apoios sociais levada a cabo pelo PSD/CDS, com o silêncio, senão cumplicidade do PS, é de temer que a situação regrida e se venha a agravar com a pobreza infantil a atingir números preocupantes e com repercussões no futuro difíceis de contabilizar. (a falta de protecção e segurança, o abandono escolar, a ausência de um desenvolvimento infanto-juvenil adequado, as humilhações, o confronto com a desigualdade, as condições de trabalho feito na clandestinidade). Porque o sofrimento, esse, não se mede, porque é individual, intransmissível e irremediável.
A que ponto iremos chegar? Aos tempos do século XIX em que surgiram as primeiras leis a proibir o trabalho infantil? Aos meninos que não tiveram infância?
A luta anda aí nas empresas, nas escolas, nos transportes, nas ruas, mas tem de ser intensificada cada vez mais pelo futuro das crianças e dos jovens, pelo presente dos idosos e pelos sonhos amputados dos adultos.