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Abrir os Armários

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Eles aí estão a sair do armário!!!

Toda essa gentalha que estava fechada no armário da democracia, salta para o pântano da mais farfalha reaccionarice, para combater o fantasma de um governo de esquerda.

Invadem o terreno dos meios de comunicação social que há muito anos ocupam com maior ou menor parcimónia, com maior ou menor descaramento, com a maior ou menor inabilidade, onde mentem com contumácia sobre a realidade para construírem uma realidade que nos vendem como verdadeira.

Agora depois dos resultados eleitorais em que, mentindo com todos os dentes que têm,, recuperando mesmo os cariados que foram arrancados e substituídos por próteses, a coligação PSD/CDS com alianças declaradas ou sornas nos media, é minoritária e há a possibilidade de um governo de esquerda, ainda que seja para já tão provável como a aparição de D. Sebastião numa manhã de nevoeiro, salta do armário esse exército que reúne dos mais ultramontanos direitinhas aos mais esclerosados democratas.

Curiosamente o argumentário é, no seu essencial, o mesmo quando se vislumbra uma sombra que pode ameaçar o Portugal deles, o Portugal destruído por quarenta anos de políticas de direita, submetido aos ditames do capital e dos seus braços armados. Uma hipotética coligação de esquerda fá-los perder a cabeça e saltar dos armários. Uma dessas avantesmas ficou tão aterrorizada que até entreviu Estaline a ressuscitar em pleno Terreiro do Paço pronto para tomar o poder. Diz essa alarvidade sem que ninguém o contradiga ou diga que está louco. Os outros, que se querem fazer passar por mais credíveis, não perdem tempo em agitar os fantasmas do Prec, da democracia, a deles evidentemente, à beira do abismo em 1975, mais a parafernália de argumentos que foram buscar à arca da contra-revolução que começou na primeira hora do triunfo do 25 de Abril. Estão ajoelhados na grande Meca do capital, aos ditames da União Europeia, às virtudes do Tratado Orçamental e das políticas de austeridade, à NATO e ao seu combate cínico aos talibãs, Al-Qaeda e Estado Islâmico que ela e seus aliados no terreno armam e financiam, às hordas nazi-fascistas que proliferam na Europa e estão no poder na Ucrânia.

No meio dessa farândola, vendendo rifas dessa quermesse de mentiras maiores ou menores, sorridentes serpentes saem do ovo para mostrar a sua perplexidade. Um deles interroga-se porque é que na Constituição Portuguesa os partidos nazi-fascistas são proibidos e os leninistas (sic) não o são. Isto é dito pelo inefável Lobo Xavier na Quadratura do Círculo. Fê-lo com o sinistro cuidado de ser o último a falar, de o dizer a fechar o programa. Esperemos que na próxima edição Pacheco Pereira ou mesmo Jorge Coelho não deixem passar em claro essa abominação já que do moderador nada há a esperar. É mais um daquela turbamulta etiquetada de jornalistas que mais não são que caixas de ressonância do pensamento único.

Se Lobo Xavier, com evidentes saudades salazarentas, foi mais longe insinuando a possibilidade de proibir o PCP, os outros não ficam pelo caminho. Basta lê-los ou ouvi-los, mesmo na diagonal. Para nos limitarmos a um jornal que usa todos os arautos para se proclamar de referência, também não se sabe qual o padrão a que se refere, é ler da anémona Henrique Monteiro, que cola um sorriso estanhado no alçado principal para se fazer passar por inteligente, ao cruzado da pequena e média-burguesia, também ele empunhando um sorriso gambrinus, Martim Avilez. De cabeça perdida, de norte desbussolado fazem strip-tease dos adornos democráticos, não se escusam a escrever blasfémias à inteligência!

Já se sabia que essa armada de traficantes junta em tropel as hostes sempre que os interesses do grande capital se sintam ameaçados. O que talvez não fosse previsível é que com sinais ainda tão fracos fossem tão rápidos a terçar armas. Sinal que o mundo deles está muito corroído apesar da gigantesca burla que é vendida urbi et orbi como verdade única. O ambiente de alarme pós-eleitoral é sintomático, despe-os na praça pública de toda a conversa fiada com que vão entretendo o tempo, enquanto afiam as facas para defenderem os seus amos. Julgam-se uma armada invencível. De facto têm um poderosíssimo armamento à sua disposição para não deixarem dissipar o negrume da gigantesca fraude que dá corpo a um fascismo pós-moderno que marcha pelo mundo disparando a esmo as bombas de fragmentação com as mentiras com que o manipulam.

O que se está a viver em Portugal, desde que conhecido o resultado das eleições e independentemente do que resultar delas. escancara as janelas para uma realidade insidiosa que se vive dia a dia. Que nos é servida em doses perigosas: das pequenas às grandes mentiras que tendem a formatar a opinião das pessoas, para que o verdadeiro poder dominante nos continue a governar.

Contra eles recorde-se George Orwell: “num tempo de fraude universal contar a verdade é um acto revolucionário”

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Geral, Política

O tratado orçamental e os cidadãos

Mantendo a péssima prática de não consultar os portugueses, que desde o início do projecto de integração europeia tem norteado o percurso do país, os partidos do auto designado “arco governativo” preparam-se para ratificar na Assembleia da República um tratado orçamental europeu com profundo impacto na vida do país e dos cidadãos.

A inscrição nas constituições nacionais, ou noutras leis “reforçadas”, de um limite de 0,5 % de défice estrutural e de uma dívida pública sempre abaixo dos 60% do Produto Interno Bruto, foi a resposta à crise das dívidas soberanas encontrada pela UE no Conselho Europeu de Janeiro passado. Um pacto inter-governamental que agora se pretende elevado à categoria de tratado e que traduz uma opção política condicionada pela direita agrupada no PPE e conduzida pela dupla germano-francesa Merkozy. Aos países incumpridores estão reservadas pesadas “consequências automáticas” em que se incluem elevadas penalizações pecuniárias. De fora ficaram Reino Unido e a República Checa.

Não é difícil perceber o previsível impacto deste tratado numa economia como a portuguesa que, no último trimestre do ano passado, atingia os 110,1% na relação da dívida com o PIB, traduzindo um aumento de 18% face a 2010. A tentativa de cumprimento dos critérios deste tratado não deixará de se traduzir em menor investimento público, na retirada de mais prestações sociais e num fortíssimo condicionamento ao desenvolvimento do país.

Por detrás do pacto está uma ideologia néo-liberal de laissez faire lassez passer, anti keynesiana, que tudo pretende entregar ao livre funcionamento dos mercados, fazendo vista grossa da origem da presente crise das dívidas soberanas na crise financeira de 2008.

Já algum dos nossos governantes tentou sequer explicar qual a vantagem para o país em subscrever um tratado com aspectos tão brutais para uma economia em recessão e uma população em rápido empobrecimento? É que se trata de regras que se irão incorporar de forma permanente e definitiva no funcionamento do Estado, do país e das pessoas e não de meras medidas conjunturais.

Lateralizando a questão para a definição do nível de inscrição jurídica – inscrever na Constituição, como pretendem os “bons alunos” sediados na maioria PSD-CDS, ou em lei de enquadramento orçamental, como defendem os socialistas -, esquece-se o principal: o assunto diz respeito a todos nós e a sua discussão não se pode circunscrever ao plenário da Assembleia da República.

Tal como em anteriores fases da integração europeia, o actual Governo recusa-se a levar o debate junto do público. De que um referendo seria a melhor e mais democrática forma. Prometendo uma coisa na oposição e fazendo o seu inverso quando chegam às cadeiras do poder, os partidos do centrão, ou do famoso “arco governativo”, versão ampliada para incluir o CDS-PP, a omissão de consulta ao eleitorado apenas fragiliza o processo de integração europeia. É que afasta e desresponsabiliza os cidadãos de processos da maior importância nacional.

A não realização de um referendo apenas demonstra o medo de ouvir o eleitorado, porventura receando uma opinião contrária aos grandes planos delineados por dirigentes mais condicionados com as flutuações dos mercados financeiros do que com os seus próprios povos. E, no nosso caso, acentua uma “construção europeia” em que sucessivamente se tem cedido importantes parcelas de soberania (agora a orçamental) sempre sem ouvir os interessados.

A realização de um referendo nacional é o mínimo exigível. A Irlanda vai fazê-lo e também está sob “resgate” financeiro…

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