1. Angela Merkel e Wolfang Schaulbe têm um número treinado, bem afinado conhecido há séculos. O do pide bom e do pide mau, com a experiência gestapo. Está em cartaz há vários anos na Europa Connosco. Torturam os povos europeus por interpostos governantes submissos. Sujeitam os recalcitrantes para tudo andar pelos carris das suas ordens.
2. Hollande, Renzi acreditam na primavera merkelliana. Opõem-se até cederem e cedem sempre. Na última representação do teatro de sombras que são as reuniões dos governantes europeus, ficaram muitos satisfeitos por evitar o grexit. A que custos para os gregos e para quê? Salvar o euro que não a Grécia. Remendar os buracos do pano de cena que oculta o palco onde, em sessões contínuas, está em cartaz a comédia-dramática Os Últimos Dias da Europa.
3. Pedro, o Super-Homem de plástico, teve uma ideia e salvou a Europa. Primeira nota, o Pedro também tem ideias, o que o deve deixar exausto, pior do que estar exposto a kriponita. Segunda nota ter ideias para ajudar ao saque e ao esbulho não honra ninguém, mesmo um Passos Coelho.
4. Marisa Matias tinha a mão no tapete, mas não o puxou com a ilusão que o Syriza e o seu querido Tsipras conseguiriam que a sua (má) proposta fosse aceite pela Alemanha e seus submissos pares europeus. Nada melhor do que ter fé! Depois de Fátima há que acreditar em milagres mesmo contra todas as evidências! E agora, Marisa?
5. A mulher de Alexis Tsipras vai pedir o divórcio? Divorciado do povo grego e de todas as esperanças que andou a espalhar pela Europa já ele está. Merkel e Schaulbe estriparam-nas a sangue frio. Esquecem-se, Tsipras também, que há sempre alguém que resiste.
6. 6. Nas estratégias militares às vitórias de Pirro adicionou-se um novo paradigma: as derrotas de Pirro.
7. No horizonte da Europa anuncia-se um futuro radioso. Depois da derrota do III Reich, o triunfo do IV Reich. Em marcha a transferência efectiva de Bruxelas para Berlim. Os países que não se declararem aliados serão submetidos e transformados em protetorados. A Grécia foi o primeiro. Outros se seguirão. A Solução Final avança!
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vigaristas,aldrabões e todos os outros ões
Desta gente espera-se tudo! mesmo tudo! já nada nos devia espantar! A realidade ultrapassa sempre a ficção.
Ontem Paulo Portas, à boleia da crise grega, faz um discurso nas Jornadas parlamentares PSD/CDS digno de um vendedor da banha da cobra! Hoje ouve-se Passos Coelho tirar da cartola este coelho com mixomatose: “O discurso do medo era o trunfo do governo, os gregos destrunfaram esta maioria”
Nenhuma evidência trava esses vigaristas intelectuais, esses vendedores de vigésimos premiados que todos os dias vendem nos meios de comunicação social. Claro que o pano de fundo da comédia grotesca que essa gente caricata escreve, encena e representa, é o imenso fracasso das suas políticas austeritárias que nos empurram para o buraco grego. A transpiração de medo que a solução que for encontrada para crise grega, qualquer que seja, ainda que contra a vontade dos burocratas com sangue de barata instalados em Bruxelas, será a negação do que andaram a vender nos últimos quatro anos. O relatório do FMI, que tentaram esconder, aponta nessa direcção. Mesmo que seja insatisfatória a solução, não deixará de haverá uma reestruturação da dívida e medidas para ultrapassar ima austeridade estúpida. Quem vende gato por lebre convencido que nunca será descoberto, continuará a palavrear de mentirolas quase inocentes a gravosas e enormes mentiras. Há gente presa, há gente interdita por muito menos. A realidade é que haverá sempre gente que ainda compra a esses Oliveiras da Figueira (o homem que vendia frigorificos aos esquimós e sobretudos aoa congoleses) um automóvel em primeira mão. O pior é que é garantido que o carro não tem motor e a carroceria é de baquelite!
Mesmo o mais medíocre farsante, como são estes senhorecos, terá sempre espectadores, neste Portugal do Burro em Pé(*) . O Portugal visto tal e qual é. Uma sociedade desapiedada em que os pobres são abandonados, em que as crianças passam fome, em que os velhos são mesmo tratados como trapos. O Portugal de antanho que Passos Coelho e Paulo Portas revisitaram e ressuscitaram.
Espera-se, deseja-se que a lucidez conquiste cada vez mais portugueses!
(*) Burro em Pé, José Cardoso Pires, publicado em Dezembro de 1979, pela Moraes Editores, ilustrada com pinturas de Júlio Pomar e capa de Sebastião Rodrigues.
Uma bomba de relógio ameaça a europa e a democracia
É miserável o espectáculo das negociações entre a Grécia e a CEE, BCE e FMI, as reuniões do Eurogrupo e dos primeiros ministros. Uma comédia cínica em que a tragédia grega se consome. Um banquete mal encenado de abutres que em público se disfarçam de pelicanos, com a comunicação social domesticada a sustentá-los, de forma directa ou sinuosa. Nós, portugueses, somos enxovalhados e envergonhados pelas declarações da múmia paralítica que habita em Belém, do texugo Passos Coelho com as suas frases estereotipadas e fedorentas da assexuada pinguim Maria Luís Albuquerque (concorrer com a Merkel não é fácil!) a grasnar inanidades. Todos com a mesma contumácia com que aqui dentro mentem, cometem os maiores desaforos. Olham e lêem a realidade com os seus olhinhos infantis de bandido, a ver se a miséria que plantam, o ogre que alimentam, continuam à solta. Os últimos anos de roubos ao povo português, os rombos no erário público, a venda ao desbarato dos bens públicos, resultaram num enorme e rotundo fracasso. Um gigantesco e assustador monolítico avança a grande velocidade para Portugal, ameaçando-nos: a dívida já é 130% do PIB, há quatro anos era 95%! Os cofres voltaram a estar cheios, mas agora de passivos, de dívidas! A economia continua em coma! A dívida, o serviço de dívida continua imparável, foi empurrado para mais longe! É o caminho certo para o desastre! No horizonte, se não se mudar de política, o caminho de pedras dos gregos.
Cá como lá , a questão de fundo não é económico-financeira! É política! Olhe-se para a Grécia, os números já pouco interessam. Como já tem pouco interessa que a Grécia tenha chegado ao fundo do buraco onde está pela mão do PASOK e da Nova Democracia que, durante seis anos, aplicaram o receituário da troika que provocou a catástrofe actual. Nem interessa se as estratégias negociais da Grécia/Syriza foram incipientes e, por isso, as negociações se complicaram por erros de encenação e representação no teatro de sombras da diplomacia. Nem sequer o mais importante do que está em jogo são os milhões que a Grécia tem que receber para não entrar em bancarrota. Há argumentos que banzam pela falsidade, pela perfídia. Agora, sendo difícil continuar a apoiar as exigências das instituições, apareceu uma nova cáfila de comentadores e jornalistas que dizem compreender a inflexibilidade do FMI, por não ser um organismo político (esta é de morrer a rir!) e por o dinheiro do FMI ser duzentos países, pelo que deve ser seu guardião e defensor. O FMI enquanto ameaça a Grécia se não pagar dois mil milhões de euros, empresta mais 40 mil milhões, a somar a um primeiro empréstimo de 15 mil milhões, à Ucrânia já depois da Rada, o parlamento desse país dirigido por uma camarilha corrupta nazi-fascista, ter aprovado uma lei em que se decreta o não pagamento aos credores! A Ucrânia está e declara-se em bancarrota, o FMI, a CEE e os EUA continuam despreocupadamente a conceder-lhe créditos, sem uma carquilha de hesitação.
É falso que a dimensão da crise grega seja principalmente económica e financeira. A Grécia representa menos que 2% do PIB da CEE. Uma irrelevância! Discutir e encharcar os noticiários com danças e contradança dos números e das medidas propostas ée contrapropostas, é falsear a realidade. A crise grega é uma crise política! A humilhação que a matilha neoliberal quer infligir à Grécia é para que a Grécia se torne um exemplo de como a democracia só existe, só interessa e é aceite se cumprir as regras impostas pelos mandaretes do grande capital, a direita e seus aliados, os socialistas tipo Hollande ou Blair e outros, conjunturalmente mais moderados na via da infidelidade à sua matriz. A esquerda que, mesmo timidamente e sempre de cedência em cedência, ousou enfrentar esses padrões está condenada ao ostracismo. Um aviso aos eleitores dos outros países europeus, votem, votem sempre para fingir que a democracia é um valor universal da civilização ocidental. Se votarem num partido mais à esquerda ficam condenados a serem excluídos da nossa grande famíglia, que procura que o modelo eleitoral se vá apurando até alcançar a grande mistificação do modelo norte-americano em que se escolhe entre hilarys e bushes. Para essa gente o voto só é válido se legitimar o trânsito entre uns e outros, outros e uns que só se diferencia nos pormenores. A máfia democrática o que quer , humilhando o povo grego, a sua vontade expressa nas urnas é condicionar a liberdade de escolha, a liberdade de voto, violar a consciência cívica e política dos cidadãos. O que se quer impor é uma democracia fortemente vigiada. A democracia do campo de concentração do grande capital, a ditadura dos mercados. Nada disto devia ser inesperado. Se o Syriza acreditava que a Europa iria aceitar a vontade do povo grego, que a solidariedade europeia era mais que uma declaração inscrita num papel é porque não estava preparado para enfrentar a Europa.
Foi armado de slogans, atirar-se ao mar de tubarões que a Europa é com os seuss dirigentes marionetas dos grandes grupos financeiros. A crise grega, estes últimos cinco meses, contém grandes ensinamentos e deve provocar grandes preocupações na Esquerda. O Syriza, enredado nos seus ziguezagues ideológicos, está a perder uma oportunidade histórica com uma política de sucessivos recuos, sem ter cavado uma trincheira bem armada onde pudesse resistir e, eventualmente, contra-atacar. A derrota do Syriza, como se está a desenhar, é uma derrota para toda a esquerda, sem poupar nenhuma força de esquerda, das mais coerentes ás mais vacilantes. Do ponto de vista prático não se percebe como é que o Syriza assim que foi empossado não tomou medidas para evitar a fuga de capitais, chegaram aos mil milhões por dia. Como não nacionalizaram bancos, deixando-os em roda livre em conluio com o BCE. Conluio alargado ao Banco Central da Grécia. Sem ferramentas financeiras os 50 000 milhões que existiam no tesouro, nos bancos e nos depósitos, quando formaram goiverno, começaram a desaparecer, antes de mais para pagar a dívida que tonitruantemente diziam não ir pagar ou não pagar com as condições que até aí tinham sido impostas. O plano anti-austeridade do Syriza foi sendo ruidosamente roído pelas instituições, até se chegar a este beco. Deixaram que os recursos que inicialmente dispunham, fossem pilhados pela União Europeia e seus comparsas, o BCE e o FMI. Enquanto isso, julgavam que a Europa se preocupava com o efeito da saída da Grécia no euro? Ou, do ponto de vista político, que a Europa se assusta com um possível reforço da Aurora Dourada, que Tsipras e Varoufakis a espaços, acenaram? Pensavam que as instituições se comoveriam com o voto do povo grego num programa que punha em causa, a austeridade, apesar de, em muitos pontos, ser evasivo? Depois de a banca privada, sobretudo a alemã e a francesa, ter ficado a salvo de possíveis incumprimentos gregos, para isso serviram os últimos empréstimos e não para apoiar a Grécia a sair do ciclo vicioso que a tritura à meia década, atingido esse desiderato, era previsível que a troika apertasse os cordões à bolsa, continuando a apertar o garrote com medidas de estruturais que são a pirataria mais descarada da economia, das infra estruturas, da já depauperada soberania dos países a bem dos mercados e do capital financeiro.
O maior peso da direita mais radical até ao nazi-fascismo na Europa, mesmo no mundo, não é coisa que cause grande preocupação, tal como num passado ainda recente, aos corifeus europeus. O grande capital europeu e trasantlântico foram grandes suportes da subida de Hitler ao poder, enquanto a esquerda se dilacerava. A história tem sempre lições que não devem ser esquecidas. Para essa gente a vontade de um povo é zero se não estiver em consonância com o poder político a mando do capital financeiro. Não é surpreendente que o Syriza, tal como o Podemos, em Espanha, o Cinco Estrelas, em Itália e o mais que aparecer por essa Europa sempre que necessário, tenha sido acarinhado como uma alternativa à esquerda classificada de tradicional O que não deixa de ser surpreendente é que se descredibilize por culpa própria e seja descredibilizado de maneira tão rápida. Perderam utilidade para os mandatários e ideólogos do pensamento único. Num primeiro momento ainda devem ter calculado que, ao aliarem-se com um partido de direita xenófoba, o ANEL, acabariam por ser aceites. Nos primeiros meses, tudo parecia correr de feição, enquanto o Syriza ia deslocando as suas linhas vermelhas até à beira do abismo de perderem completamente a confiança do povo grego, sobretudo os seus votantes. Terá acreditado o Syriza que a troika se comoveria com a vontade do povo grego e que havia um ponto em que, depois de tantas cedências, aceitaria um programa completamente desfigurado, mas que mesmo assim, não correspondia totalmente às suas exigências? Aparentemente foi o caminho que seguiram em cinco meses de negociações que lhes demonstravam o contrário. A inépcia política, os princípios cambaleantes, os radicalismos de pacotilha, são o caldo de cultura para, quando chega o momento das decisões estratégicas, seguir sempre o caminho da colaboração, muitas vezes já sem regras, que acaba por deixar os povos sem alternativa.
A Europa range os dentes ao referendo que é a tábua de salvação de um Syriza, de uma certa esquerda, perante um naufrágio anunciado. O referendo é o último recurso para voltarem a ter algum crédito. O problema é que podem ganhar o referendo mas se continuarem pela mesma via a derrota do povo grego está garantida.
A grande ilusão que os Syrizas espalham, que a Grécia demonstra de forma ineludível, é que quando um governo de esquerda chega ao poder tem que assumir medidas para ter poder real. Está condenado à derrota se não as assume. Poder real que só se consegue com o controle, ainda que parcial, do poder económico, com o controle das alavancas essenciais do poder económico para terem poder político. Sem armas para controlar ou fortemente influenciar o complexo financeiro- industrial, o grande comércio, a grande agro-indústria, os meios de comunicaçâo social, que dominam o aparelho de Estado, ficsm de mãos atadas. Ao não assumir essa frente de luta o Syriza começou por ser saudado, nos grandes órgãos de comunicação social da Europa de da América do Norte, pelo seu realismo político. Os elogios ampliaram-se quando enfrentou internamente, dentro da sua coligação, as tendências de esquerda (Plataforma de Esquerda, Tendência Comunista, Ambientalistas) em nome de um acordo com a Europa, justificando cedências consideráveis, sem perceber, por inépcia política e débil preparação ideológica, que a Europa, tinha por único objectivo prolongar, continuar os programas de austeridade que tinham arrasado a Grécia, atirando-a para níveis de pobreza inimagináveis. O realismo político de Tsipras, o marxismo errático e libertário de Varoufakis, passeando essa nova política de reunião em reunião, de concessão em concessão, foram demonstrando que o que havia de facto de novo era o sem-gravatas, as fraldas da camisa de fora.
A inefável Europa Connosco, através da crise grega, está a enviar um sério aviso aos povos europeus. Deixem-se dessa treta da democracia, da vontade popular. Não podem votar em quem, mesmo que timidamente, belisque os interesses do grande capital. Não se tolerará nem sequer um Syriza! Em Portugal, para esses ditadores de fachada democrática, votar no Partido Comunista Português e seus aliados ou no Bloco de Esquerda só será aceite se a discriminação for garantida. Se forem encerrados num ghetto onde podem esbracejar, vociferar desde que não saíam do ghetto por o ghetto estar bem cercado. Gente avisada, a gente gira de o Livre/Tempo de Avançar preparou-se para a bênção da farsa democrática. Já fez a primeira comunhão. A comunhão solene seguir-se-á. Sabem que Bruxelas, atenta à voz de Berlim, recompensa os traidores.
A derrota do Syriza, por mais fortes e justas críticas que se lhe façam, será uma derrota para toda a Esquerda, não só na Europa mas no mundo. A Esquerda, sem ter que alinhar com o Syriza mas serm necessariamente excluir o Syriza, vive um momento histórico na luta contra a direita de fachada democrática e seus aliados do centro e de uma esquerda latrinária que de esquerda só tem o nome. A procura de alianças à esquerda, por mais difícil e dolorosa que seja, é necessária, sem quebras de princípios fundamentais, com o objectivo bem definido de enfrentar e derrotar a direita e seus comparsas. Tendo bem claro que o poder abstracto, não escrutinado do capital financeiro ocupa largos territórios, que a sua ditadura é bárbara e totalitária. Que já tem, nas linhas recuadas, o nazi-fascismo perfilado no horizonte. Cresce em toda a Europa. Já está no poder, de facto ou lateralmente, na Hungria, na Croácia, na Polónia, nos países bálticos, na Ucrânia. O ovo da serpente está a ser chocado. A luta vai ser áspera e muito dura. A esquerda tem que se realinhar. Será que a lição do Syriza será aprendida? As ilusões espalhadas por esse revisionismo de esquerda, pagam-se caro, e são pagas por toda a esquerda.
As ilustrações utilizadas, do grande artista que foi John Heartfield, devem ser olhadas com a devida distanciação histórica, apesar da sua actualidade
A Portugal (…ainda o Dia da Poesia)
A Portugal
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido dela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada.
Torpe dejecto de romano império;
babugem de invasões; salsugem porca
de esgoto atlântico; irrisória face
de lama, de cobiça, e de vileza,
de mesquinhez, de fátua ignorância;
terra de escravos, cu pró ar ouvindo
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto;
terra de funcionários e de prostitutas,
devotos todos do milagre, castos
nas horas vagas de doença oculta;
terra de heróis a peso de ouro e sangue,
e santos com balcão de secos e molhados
no fundo da virtude; terra triste
à luz do sol calada, arrebicada, pulha,
cheia de afáveis para os estrangeiros
que deixam moedas e transportam pulgas,
oh pulgas lusitanas, pela Europa;
terra de monumentos em que o povo
assina a merda o seu anonimato;
terra-museu em que se vive ainda,
com porcos pela rua, em casas celtiberas;
terra de poetas tão sentimentais
que o cheiro de um sovaco os põe em transe;
terra de pedras esburgadas, secas
como esses sentimentos de oito séculos
de roubos e patrões, barões ou condes;
ó terra de ninguém, ninguém, ninguém:
eu te pertenço. És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração.
Eu te pertenço mas seres minha, não
Jorge de Sena (1919 – 1978)
Araraquara Dezembro 1961, publicado in “Quarenta Anos de Servidão” (1979)
Banais e Onzeneiros
Em Bruxelas a Maga Patalógica mete na ordem
Dupond e Dupont! Puxa orelhas. Dá umas palmadas nos rabiosques e promete que se portarem bem ainda lhes dá uma chucha em segunda mão!
Em Lisboa, longe do olhar perfurante da mandona, Milou ladra prometendo que vai ajudar os velhinhos a atravessar a rua.
As cenas destas pranchas de péssima banda desenhada estão prontas para, de uma vez por todas, Portugal ir ao fundo, enquanto nos entretemos em as colorir.
Analistas, comentadores e jornalistas bilram rendas de chacha.
As peixeiradas e as intrigalhadas de salão continuam enquanto o povo esfaima.
Infortunada pátria minha que tão fatelas filhos dá ao mundo.
Lisboa é Portugal e o resto é paisagem…
O bem-estar, se traduzido em poder de compra, está cada vez mais concentrado nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e em poucas outras zonas mais. Não é nada que não soubéssemos já, mas ganha outro valor quando o vimos traduzido numa demonstração estatística. Segundo o INE, aquelas áreas congregam nove dos 15 concelhos portugueses com maior poder de compra do país: seis em Lisboa (Lisboa, Oeiras, Cascais, Alcochete, Montijo e Almada) e três no Porto (Porto, S.João da Madeira e Matosinhos). Faro, Porto Santo, Coimbra, Funchal, Aveiro e Sines integram também a lista dos 15 +.
Esta lista dos “mais ricos” é semelhante há de 2007. Neste ano apenas 39 dos 308 concelhos do país superaram o poder de compra per capita médio nacional. Ou seja, cerca de 13%. Ainda naquele ano houve 21 municípios em que esse indicador foi inferior a 50% da média nacional. Se a média nacional já é baixa, estando mesmo 22% abaixo da média europeia (18ª posição em 27 países), veja-se o que é estar abaixo dos 50% dessa média! São concelhos situados nas regiões Norte (Tâmega, Douro e Alto Trás-os-Montes) e Centro (Beira interior norte e Dão-Lafões)
Os factos vêm realçar um aparentemente inexorável processo de concentração no país: população que continua a migrar para as áreas metropolitanas ou para o estrangeiro, prosseguindo o ciclo de abandono, envelhecimento e desertificação, que se traduz na continuada diminuição do poder de compra nas restantes regiões. Uma tendência que se arrasta há décadas e que não se vê como inverter, passada que está a crença de que as ligações rodoviárias rápidas (auto-estradas, IP’s) iriam resolver esse problema. Há que concluir que não resolveram e as duas grandes áreas metropolitanas do litoral continuaram a “sugar” o resto do país.
Mas as discrepâncias no interior das regiões são também particularmente interessantes. O
concelho de Setúbal, por exemplo, apesar de ultrapassar o poder de compra médio nacional, fica abaixo da média, se considerado no contexto na sua Região (Lisboa, que ultrapassava, em 2007, a média nacional em 36,9 pontos) e tendo por companhia Loures, Mafra, Vila Franca de Xira, Amadora, Almada, Barreiro, Palmela e Sesimbra. Segundo os dados agora divulgados pelo INE, é mesmo possível constatar que, no interior da região, se encontram alguns concelhos que estão abaixo do nível médio nacional, casos de Odivelas (98,7), Sintra (98,2), Seixal (96,1) e Moita (84,0). Se nos lembrarmos que estão ali bem perto, às vezes ao lado, de cinco dos mais ricos…
Dia de Portugal
Nas comemorações oficiais do Dia de Portugal estão muitos dos que, nos últimos anos, foram os comandantes, directos e indirectos, que ao leme das políticas económicas nos levaram ao descalabro actual. Os que não estão lá fisicamente estão lá espiritualmente.
São eles, que andaram nos gabinetes e nos corredores do poder desde há mais de trinta anos, os responsáveis por Portugal se tornar quase completamente dependente das importações para viver. São eles os responsáveis por em 2009, 93% das importações se reportarem à agricultura, à pesca, à indústria extractiva e às indústrias transformadoras.
É assustador o que esta gente, que continua a debitar sentenças, fez ao tecido produtivo nacional.
Em 1975, o ano do PREC, o ano em que fizeram as nacionalizações e a Reforma Agrária, importávamos 20% do que se comia. Em 2009 importamos 75% do que comemos.
Em 1986 a indústria representava 28,3% do PIB, hoje 14,3%. A agricultura 9,9% hoje 2,5%. As actividades imobiliárias e mobiliárias 10,1% hoje 15,3%.
A leitura destes números é clara! Essa gente é cúmplice de um crime lesa pátria, um dia a história os julgará pelo que andaram a fazer, por mais condecorações que tenham espetadas no peito.
Podem fazer os discursos mais patrioteiros. Podem dizer com a voz embargada por lágrimas de crocodilo “ esta é a ditosa pátria minha amada”.
O pouco crédito que têm está a esfarelar-se.
Viremos costas a essas arengas que, no dia de hoje, são uma maneira de ganhar tempo na esperança de nas próximas semanas, com a bola a saltar de um lado para o outro nos ecrãs das televisões, folguem as costas. O Dia de Portugal deles não é o nosso Dia de Portugal.
Contra eles, vamos assumir um pequeno compromisso patriótico. Não resolve a crise mas é um sinal, um acto consciente contra esses beatorros do livre funcionamento dos mercados, contra as leis que pretensamente regulam os mercados: Vamos comprar produtos produzidos em Portugal e rir dos anúncios farisaicos encomendados pelos mesmos que a única coisa que fazem em Portugal são buracos e mais buracos.
Ver sempre no código de barras os três primeiros números: 560 é o código correcto que certifica que foi produzido em Portugal.