Geral

OXI

Não! Não, os gregos não querem morrer de pé!

Querem viver de pé!

OXI

Grande lição de dignidade e de democracia que a Grécia deu a uma Europa pantanosa que vende honra, dignidade e princípios na mesa do orçamento, na contagem dos euros!

Em que um país, a Alemanha, o maior incumpridor de dívidas no século XX, que tem dívidas por saldar a vários países que saqueou, destruiu e roubou, dá ordens a uma Europa Connosco submissa e sem vergonha!

No dia seguinte ao OXI, não vamos fazer grandes divagações políticas, registe-se a perplexidade e a estupidez contumaz dos mangas-de-alpaca europeus. A Grécia, o povo grego resistiu a todas as miseráveis chantagens, ao aperto do garrote que durante uma semana aumentaram exponencialmente.

As declarações que se ouvem, alguns de tão engulhados ainda nem sequer abriram a boca, desnudam a abjecção que os corrompe como um vírus. Entre todos ouça-se com desprezo as declarações do periquito e da pinguim reunidos de emergência em Paris, enquanto Varoufakis sai de cena de pé e pelo seu pé.

Por cá, muitos dos nossos comentadores alinham com aquele contabilista anão que debita números e inanidades (um tal José Gomes Ferreira, quando escrevo este nome fica à beira da maior náusea em memória desse enorme intelectual, escritor e poeta de cujo nome ele se apropria, devia ser proibido de o usar com tal propositada coincidência!) e os nossos governantes, primeiro-ministro e vice primeiro-ministro, na primeira linha, iguais a si-próprios e ao “seu” Portugal

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

 

linda vista para o mar,

 

Minho verde, Algarve de cal,

 

jerico rapando o espinhaço da terra,

 

surdo e miudinho,

 

moinho a braços com um vento

 

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

 

se fosses só o sal, o sol, o sul,

 

o ladino pardal,

 

o manso boi coloquial,

 

a rechinante sardinha,

 

a desancada varina,

 

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

 

a muda queixa amendoada

 

duns olhos pestanítidos,

 

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

 

o ferrugento cão asmático das praias,

 

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

 

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

 

de plástico, que era mais barato!

 

                             Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

 

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

 

não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,

 

galo que cante a cores na minha prateleira,

 

alvura arrendada para ó meu devaneio,

 

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

 

 

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

 

golpe até ao osso, fome sem entretém,

 

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

 

rocim engraxado,

 

feira cabisbaixa,

 

meu remorso,

 

meu remorso de todos nós…(*)

Não, basta! Não seremos feira cabisbaixa, nem Portugal será o nosso remorso!

Seremos tão gregos, quanto os gregos são portugueses!

(*) Ó Portugal se fosses só três sílabas, Alexandre O’Neil

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Internacional, Política

A Nova Alemanha

Longe vão os tempos em que os dirigentes alemães primavam pela discrição com que lideravam um país que cumpria pena por ter provocado um conflito mundial de que resultaram milhões de mortos, uma destruição inaudita e um novo mapa da Europa. Esses tempos fazem parte do passado e os actuais governantes alemães assumem sem complexos o poder político que o peso da sua economia lhes confere. A Europa, a olhar para a história, assusta-se com o renascer germânico. Alemanha que seria também mais sensata se recordasse a essa mesma história, a mais recente e a mais longínqua.

Com o fim da guerra fria e a reunificação alemã, a França e o Reino Unido deixaram de ser as maiores potências do lado ocidental do continente. Pequenos e médios poderes tiveram que começar a conviver com o crescente poderio do gigante alemão, inicialmente só na economia, mas mais recentemente também na política. Como não lembrar agora o quão premonitório foi, em 1992, o papel decisivo desempenhado pela Alemanha no desmembramento definitivo da antiga Jugoslávia, forçando a então CEE a reconhecer a separação croata?

Generosamente imbuídos no sonho europeu do tempo das “vacas gordas”, a maioria dos poderes nacionais da comunidade europeia apoiaram, quase sem hesitações, a unificação alemã e financiaram-na. Foi, diga-se, uma tarefa hercúlea, aquela a que a Republica Federal Alemã (RFA) deitou então mãos ao absorver a esfacelada RDA. Mas foi uma tarefa em que não esteve só e em que foi generosamente apoiada pelos fundos europeus. Contaram com a simpatia e o apoio dos outros povos europeus, que fizeram vista grossa à memória de episódios históricos não muito longínquos como a guerra franco-prussiana (1870-71) ou os dois conflitos mundiais da primeira metade do seculo XX.

Com uma parte muito significativa da Europa em crise e afundada na recessão, a Alemanha emerge como o país vencedor da década do euro. Sendo já de per si um mercado de importante dimensão (82 milhões de habitantes e um PIB per capita de 44.555 dólares), a  União Europeia sucessivamente ampliada transformou-se numa extensão desse mercado, consumindo os produtos e as mercadorias produzidos pela eficaz indústria alemã. Mérito alemão? Certamente. Mas não só.

As recentes declarações da chanceler alemã, a democrata cristã Angela Merkel e do social-democrata, também alemão, Martin Schulz, Presidente do Parlamento Europeu, mostram o quanto se transferem para o espaço público opiniões que antes os altos responsáveis apenas segredavam nos bastidores da política. E mostram a displicência com que se permitem tratar um país, em situação difícil, mas parceiro numa mesma comunidade de Estados.

As declarações da chanceler alemã são desfasadas no tempo e pouco inteligentes. Não foi a aplicação dos fundos europeus efectuada na Madeira (como noutras regiões europeias) ao longo de décadas o resultado de opções políticas europeias? Que incentivaram as infra-estruturas, nomeadamente rodoviárias, agora consideradas erradas mas aprovadas pelos mesmos que continuam a decidir os destinos nos dias que correm?

Quanto a M. Schulz, mais analítico e prospectivo, resolve de uma assentada classificar a opção angolana de Portugal com o recurso à novela do ex-colonizador, ignorando que as relações entre povos transcendem questões políticas. Que lição quis ele dar aos portugueses? Que estamos condenados a “comer da mão” dos grandes da Europa? Claro que imagem do Portugal bom aluno da troika fica manchada com estas aventuras africanas em demanda de capitais, aparentemente mal vistas pelo directório europeu. Mas o bom aluno é pobre e os seus vizinhos europeus não facilitam a vida.

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