Li no meu “smartphone” um comentário de Manuel Rodrigues ao meu post “O Califado Islâmico e os Estados Unidos da América”. Queria-o aprovar para lhe responder. Por um lapso e pouca destreza nessas manipulações, são dois “botões” Aprovar/Spam,contíguos, carreguei em spamj. Apaguei, contra vontade, o comentário de Manuel Rodrigues. Tentei em vão recuperá-lo. Por outras actividades fui adiando a resposta que, hoje faço por considerar importante esclarecer alguns pontos.
O comentário de Manuel Rodrigues, cito de memória,me cingindo-me ao essencial do seu comentário tem dois pontos centrais:
1- Michel Chossudovsky, seria um louco com a mania da perseguição e por isso foi demitido da universidade
2- A foto que anexei de John McCain, em que também figurava Abu Bakr al-Baghdadi, o actual proclamado Califa do Estado Islâmico era uma hoax, pelo que eu deveria ter , no futuro cuidado com as minhas fontes de informação.
-
Michel Chossudovsky, foi demitido da Universidade onde ensinava por causa de se opor ao pensamento dominante nas suas múltiplas faces e intervenções, não por ser “louco” nem ter “a mania da perseguição”. È por essa ser a prática comum, normal, regular das universidades norte-americanas e canadianas, quando se ultrapassam as linhas consideradas admissíveis, pela “democracia”, num determinado momento histórico. Alain Badiou, num seminário sobre Platão, na École Normale Superieur, em 2008, fez uma interessantíssima consideração sobre esse tema:”O objectivo da propaganda inimiga não é aniquilar uma força existente (função que em geral é confiada às forças da polícia) mas antes aniquilar uma possibilidade desapercebida da situação”. Por isso a propaganda inimiga de uma política emancipatória ou que ponha em causa alguns dos seus aspectos estruturais , que coloquem em questão as suas acções, as suas estratégias que visam perpetuar o eatado das coisas, uma convicção resignada de que o mundo em que vivemos, sem ser o melhor dos mundos, é o único possível. Quando se ultrapassam as linhas demarcadas, põe-se em marcha sistemas de força, em último recurso o uso das forças policiais. Quando consideraram que Michel Chossudovsky tinha ultrapassado o ponto em que já não era só perigoso quanto baste, demitiram-no, o primeiro passo da intimidação. O processo é conhecido, lembre-se Norman Finkelstein, também professor emérito, demitido da universidade onde ensinava, State University of New York por ter enfrentado o poderosíssimo lobie judaico dos EUA, publicando o livro “ A Indústria do Holocausto- Reflexões sobre a Exploração do Sofrimento dos Judeus”. Filho de sobreviventes do gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazis, anti-sionista convicto, faz uma fundamentada denúncia dos mecanismos de que os sionistas se servem para retirar proveitos tanto económicos como políticos. do Holocausto. É mais um judeu a quem a direita, a extrema direita judaica e os seus aliados não perdoam, como não perdoaram a Hanna Arendt e a Michel Chossudovsky. Uma longa linhagem de académicos, jornalistas, políticos que o Império e seus aliados pretendem silenciar, usando dos arsenais de que dispõem, usando-os nas doses que consideram necessárias em cada caso.
Manuel Rodrigues deveria ler “Globalização da Pobreza” de Michel Chossudovsky. Leia a entrevista que deu ao I avisando para os perigos de uma 3ª guerra mundial. Verá que louco não tem nada. Agora, até Paul Craig Roberts, antigo membro do governo Reagan, considera a 3 ª Guerra Mundial, uma possibilidade real. Mais real, quando o dólar perde terreno aceleradamente. Na última semana mais um país deixou de comerciar com a China em dólares, a Alemanha. A lista começa a ser extensa e a atingir insuspeitos países. O desmoronar do império , assente no petrodolar, no dolar como moeda de troca e de reserva mundiais, está cada vez mais iminente. Demorará anos, quantos será díficil prever. Só que o império é a maior potência militar, dispondo de uma extensa rede de bases militares espalhadas por todo o mundo.
-
As minhas fontes de informação são variadas. Achei interessante e bem sintetizada a situação nos 26 pontos em que por Michel Chossudovsky as fixou. Acabam por estar todos contidos nos artigos publicados no The Independent de Robert Fisk, provavelmente o mais bem informado jornalista e comentador político em questões do Médio Oriente. Não sei se algum daqueles pontos lhe merece contradita, ou mesmo todos, o que se pode pressupor do modo como classifica o autor, arrumando de uma penada o assunto.
-
A foto de John McCain, não foi logo denunciada como uma montagem. O primeiro passo foi o do senador, meios próximos do senador, alegavam que nessa e outras fotos, como outra onde figura Mohammad Nour,, da Frente Tempestade do Norte ,da Al-Nosra, a Al-Qaeda da Síria, se terem infiltrado e John McCain não os conhecia. Vamos admitir que essa versão é verdadeira. John McCain poderia não os conhecer mas as fotografias foram publicadas na sequência de reuniões com o estado maior do Exército Sírio Livre (ESL) organizadas pela Syrian Emergency Task Force (SETF), curiosamente uma organização sionista dirigida por um funcionário palestino Mouaz Moustafa, um perito do Washington Institute for Near East Policy, uma das várias organizações criadas AIPAC, o lobie pró-israelita nos EUA.
John McCain foi, ilegalmente à Síria, a convite SETF, reuniu-se, nos arredores de Idleb, em 27 de fevereiro o estado-maior do chamado Exército Sírio Livre. O comandante era o general Salim Idriss, um dissidente do regime de Assad. Nessa altura faziam parte desse estado- maior, o braço sírio da Al Qaeda e do EIL. Todos figuram nessa fotografia agora “denunciada” como montagem. O que seria muito estranho é que os membros do estado-maior do Exército Sírio Livre não participassem nessa reunião. John McCain, na sequência dessa reunião afirmou que os responsáveis do Exército Livre da Síria, “eram moderados em que se podia confiar”(…)”a organização era composta exclusivamente por sírios, que combatiam pela liberdade contra a ditadura alauíta”. Isto numa altura em que já era claro que brigadas de jihadistas, cometiam barbaridades na luta contra as forças governamentais da Síria.
Refira-se que, embalados pelo apoio e financiamento dado pelos EUA directa e indirectamente ao Estado Islâmico, a Arábia Saudita, segura, forte e antiga aliada dos EUA na região, reivindicou, no seu canal público de televisão, Al-Arabiya, que o Emirado Islâmico estava colocado sob a autoridade do príncipe Abdul Rahman al-Faisal, irmão do príncipe Saud al Faisal (Ministro dos Negócios Estrangeiros) e do príncipe Turki al-Faisal (embaixador saudita nos Estados Unidos e no Reino Unido). Agora também se demarcam.
Sublinhe-se que um mês antes, Ibrahim al-Badri, com o nome de guerra Abu Bakr al-Baghadi, tinha criado o estado Islâmico do Levante (EIIL) , continuando a pertencer ao “muito moderado” estado-maior do Exército Sírio Livre. Sublinhe-se também que desde 4 de Outubro de 2011, Ibrahim al-Badri, também conhecido por Abu Du’a, figura na lista dos cinco terroristas mais procurados pelos EUA, que ofereciam uma recompensa de 10 milhões de dólares a quem ajudasse à sua captura. Nem o Exército Sírio Livre, nem a Syrian Emergency Task Force, nem o senador nem os seus acompanhantes reclamaram a recompensa. Pelo contrário cosnspiravam contra o regime sírio com esse membro efectivo do “muito moderado” estado maior do ESL.
Mais tarde, John McCain numa entrevista à Fox News admite estar em permanente contacto com as forças que combatem Bashar al-Assad. nomeadamente o EILL. Dá o exemplo da sua experiência no Vietname, para reforçar a ideia que se deve continuar a apoiar todas as forças rebeldes no terreno, que lutam contra a República Síria. Será uma montagem da Fox News?
-
John McCain, candidato derrotado por Obama em 2008, agora como seu opositor, tem a melhor cobertura que poderia ter. Continua a viajar por todo o mundo, excepto países onde por causa das suas actividades a sua entrada está interdita trabalhando de facto como um agente da política de Washington. É o homem político dos EUA que mais viaja. Está em todas, seja na Venezuela num falhado golpe de estado contra Hugo Chavez, na Ucrânia com um bem sucedido golpe de estado contra Vytor Yanukovych, seja nas “primaveras árabes”
É presidente do International Republican Institute (Instituto Republicano Internacional-ndT) (IRI), uma ONG que é o ramo republicano do NED/CIA , desde Janeiro de 1993. Essa pretensa «ONG» foi criada, oficialmente, pelo presidente Ronald Reagan para alargar certas actividades da CIA, em cooperação com os serviços secretos britânicos, canadianos e australianos. Contrariamente às suas alegações é, de facto, uma agência inter-governamental. O seu orçamento é aprovado pelo Congresso, numa rubrica orçamental dependente da Secretaria de Estado Homem sem escrúpulos, e um consumado manipulador, Se os seus interlocutores aprovam as políticas da Casa Branca, promete-lhes auxílio, se as combatem, atira as responsabilidades para cima do presidente Obama.
A sua ligação à Síria, não sendo recente, tem um ponto próximo importante em 4 de Fevereiro de 2011 quando se reuniu, no Cairo, para apoiar o eclodir das primaveras árabes na Líbia e a Síria. Foi um dos destacados participantes nesse encontro, presidindo a algumas sessões desse simpósio. Entre outros destacados participantes estava Mahamoud Jibrill, antigo número dois do governo de Kadhafi, e uma larga delegação da oposição síria no exílio.
A 22 de Fevereiro estava no Líbano com membros da Corrente do Futuro, partido de Saad Hariri que encarregou de supervisionar as transferências de armas para a Síria. Foi inspeccionar a fronteira libanesa-síria. Escolheu Ersal e algumas outras aldeias para servirem de base da retaguarda da guerra que se ia desencadear.
-
Nos tempos mais próximos o califado apelida o senador McCain de “inimigo” e “cruzado”. O senador contra atacou rapidamente, publicando um comunicado em que qualifica o Emirato de ser “o mais perigoso grupo terrorista do mundo”. Dessas cambalhotas John McCain tem vasta experiência. Ontem inimigos, hoje amigos, amanhã, novamente inimigos, depois de amanhã logo se verá.
No Cairo, a regar e adubar as primaveras árabes, também esteve reunido com dois membros do International Republican Institute, John Tomalaszewki e Sam LaHood, que tiveram que se refugiar na embaixada dos EUA acusados de pertencerem ao comité, em que participavam os Irmãos Muçulmanos, que preparou o golpe que derrubou Hosni Mubarak. Foram libertados por Mohamed Morsi, quando este se tornou presidente e antes de ser preso e dos Irmãos Muçulmanos serem agora podados de terroristas. Não conhecemos nenhuma declaração de John McCain declarando os Irmãos Muçulmanos terroristas.
A galeria entretém-se com estes inquietantes espectáculos públicos e gratuitos que levantam nuvens de areia para os palcos onde movem os peões dos tabuleiros geo estratégia do império que não têm quaisquer escrúpulos ou ética.