Política, Setúbal

Descubra as diferenças II

Descubra as diferenças entre o que a presidente da Câmara do Montijo disse à TSF sobre o encerramento nocturno das urgências pediátricas do Hospital do Barreiro, no dia 9 de Junho [aqui], e o que disse no dia 14 (terceiro registo; os dois primeiros são de Maria das Dores Meira) [aqui], à mesma rádio, depois de saber que a ARSLVT tinha recuado na decisão de encerramento.

Chama-se a isto corrigir a pontaria. Ou coisa pior…

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Política, Setúbal

Vale sempre a pena lutar!

Uma das ideias mais complexas que se desenvolveu na sociedade portuguesa nos últimos anos, motivada, em grande parte, pela inoperância dos poderes públicos, foi a de que não vale a pena fazer seja o que for para resolver problemas, porque nada se resolve. Ou, numa versão mais aprofundada desta ideia, que não é com manifestações que os problemas se resolvem, que não é por vir para a rua protestar que algo muda. Isto num país que, nos últimos vinte anos, aprendeu a protestar e reclamar, por tudo e por nada, nos serviços públicos e nos serviços privados, a recorrer a livros de reclamações, a petições online, a cartas aos órgãos de soberania…

A ideia de que não é com manifestações, greves e outras formas de protesto que podem e devem ser usadas como último recurso que as coisas se resolvem é, aliás, talvez uma das maiores conquistas do capitalismo das sociedades europeias, embora com variações de país para país que importa destacar. Em Portugal, a ideia de que protestar e lutar nada resolve ganhou uma notável dimensão que muito convém a quem nos governa por estes dias e a quem nos poderá governar em breve. É pena, ainda que se assistam a movimentos que podem, talvez de forma surpreendente, contrariar esta tendência.

O que se passou hoje com o recuo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo na decisão de encerrar no período nocturno as urgências pediátricas dos hospitais de Setúbal e do Barreiro, concentrando-as apenas no Garcia de Orta, em Almada, evidencia que mesmo a ameaça de protesto, como a que sucedeu, com a marcação de uma vigília para as 19h00 de hoje, em frente ao hospital de Setúbal, pode surtir efeitos. O papel das redes sociais na mobilização para esta vigília foi, aliás, de uma importância enorme e demonstra como estas redes podem ser um instrumento de primeira linha no combate às injustiças, à irresponsabilidade e à insensibilidade. O que é fundamental é que as pessoas se unam para defender os seus interesses e o manifestem publicamente. Numa palavra: que lutem!

Há que não ter medo das palavras. O recuo da ARSLVT foi resultado de uma luta bem sucedida, de um protesto que ganhou dimensão porque as pessoas compreenderam imediatamente o que estava em causa: a saúde dos seus filhos.

Pena é que os únicos que não compreenderam isto tenham sido aqueles que mais deveres tinham: os médicos que dirigem a ARSLVT.

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Política, Setúbal

O fantástico Ramalho e as urgências pediátricas

Vítor Ramalho, o fantástico líder da Federação Distrital de Setúbal do Partido Socialista, demonstrou hoje, num comunicado publicado no jornal «O Setubalense», a propósito do encerramento nocturno das urgências pediátricas do Hospital de São Bernardo, que os interesses da população do distrito pouco ou nada lhe dizem. O mesmo já tinha feito a presidente socialista da Câmara Municipal de Montijo, para quem a decisão de encerrar as urgências pediátricas do Hospital do Barreiro é absolutamente normal.

A notícia do «Setubalense» vai abaixo reproduzida na íntegra porque que vale a pena perceber a que ponto chegou a falta de vergonha do PS e dos seus líderes. Leiam então:

«O presidente da Federação Distrital de Setúbal do Partido Socialista, Vítor Ramalho considera que “esta medida está a ser tomada com a finalidade de salvaguardar a qualidade dos cuidados de saúde a prestar às crianças, uma vez que no período de férias há uma redução efectiva de recursos humanos, repudia-se qualquer aproveitamento político-partidário demagógico”.

Em comunicado, Vítor Ramalho salienta que tomou esta posição “face às especulações fomentadas por alguns partidos políticos relativamente à suspensão temporária das Urgências Pediátricas no Hospital S. Bernardo – Setúbal e Hospital Nossa Senhora do Rosário – Barreiro e a sua centralização no Hospital Garcia de Orta – Almada”.

O presidente da Federação Distrital de Setúbal do Partido Socialista considera que “não é sério falar em encerramento das urgências pediátricas nos respectivos Hospitais, quando de facto se trata apenas da suspensão temporária, à noite, durante o período de Verão – 15 de Junho a 15 de Setembro, da meia-noite às 9 horas”.

O dirigente socialista acrescenta que “as crianças que derem entrada nas urgências dos respectivos Hospitais, da sua área de residência, terão transporte e acompanhamento profissional imediato e adequado até ao Hospital Garcia de Orta – Almada”.

Os socialistas têm, nos últimos anos, aprimorado bastante as capacidades linguística, produzindo enunciados que dizem exactamente o contrário do que se passa na realidade, na tentativa de convencer (enganar seria um termo mais apropriado…) as pessoas de que as medidas que adoptam em matéria de saúde (e outras) são decididas apenas para melhor servir as populações e que nada têm a ver com uma visão meramente economicista do funcionamento do Estado.

Repare-se como Vítor Ramalho afirma, certamente sem pestanejar, que o encerramento das urgências visa apenas «salvaguardar a qualidade dos serviços dos cuidados de saúde a prestar às crianças», isto depois de a Administração Regional de Saúde ter produzido aquela pérola da «operacionalização» dos serviços que se pretende alcançar com a concentração das urgências nocturnas no Hospital Garcia de Orta. Melhor ainda foi o Ministério da Saúde afirmar que o Hospital de Almada está apenas a cinquenta quilómetros de Setúbal ou do Montijo, o que significa apenas meia hora de autoestrada… Esqueceram aqueles que vêm de Sines, Santiago, Grândola, Alcácer, para quem chegar a Almada não são 50 quilómetros, mas sim mais 50 quilómetros a somar às dezenas que percorreram para chegar a Setúbal. Isto só pode querer dizer que o país, visto de Lisboa, é muito mais pequeno.

O líder socialista não hesita sequer em referir aproveitamentos «político-partidários demagógicos», como se a indignação das pessoas fosse apenas resultado de uma qualquer manipulação partidária. Basta ver a quantidade de iniciativas que surgiram no Facebook e a velocidade com que ganharam adeptos em meia dúzia de horas para se perceber que a indignação não resulta do que Ramalho gostaria que resultasse, apenas para agitar o papão comunista, embora seja justo afirmar e notar que os comunistas são aqueles que estão sempre na primeira linha da defesa dos interesses das populações. A declaração de Ramalho sobre os «aproveitamentos» constitui um óbvio atestado de estupidez a todos aqueles que se sentem lesados por estas medidas absurdas, apenas motivadas pela incapacidade e por uma visão economicista da gestão da saúde.

Ramalho converte-se, assim, em mais um dos spin doctors que pululam pelas bandas socialistas, ignorando ostensivamente os interesses daqueles que devia defender. É uma vergonha!

Como se não bastasse todo o absurdo deste caso de insensibilidade e incompetência, transformado numa «operacionalização» que visa, nas palavras dos dirigentes socialistas, a «salvaguarda da qualidade dos serviços de saúde a prestar às crianças», surgem agora os pediatras do Hospital de Setúbal a comunicar que estão disponíveis para, com sacrificios pessoais, assegurarem as urgências nocturnas.  São os próprios pediatras que desmentem a versão apresentada pela ARS que indicava que poucas crianças eram atendidas no período nocturno, argumento que serviu de justificação ao encerramento, mesmo se já se sabia que o problema residia, sim, na falta de pessoal médico.

A única conclusão possível, perante o que se vai sabendo sobre este caso, é que o Ministério da Saúde, a ARS e Vítor Ramalho estão a mentir. Tal como Sócrates mentiu ao país em relação ao negócio PT/TVI. Há aqui um padrão que é impossível ignorar e que evidencia que este PS apodreceu e sem recuperação possível. Está na hora de mudar, mas mudar a sério!

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Setúbal

Setúbal sem urgência pediátrica nocturna?

A ironia não podia ser maior. Passada que está uma semana sobre o Dia Mundial da Criança, o Ministério da Saúde apronta-se para encerrar definitivamente a urgência externa pediátrica nocturna do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, segundo notícia do jornal “24 horas” de hoje. Prevê-se que os utentes que procurem aquele serviço hospitalar, entre a meia-noite e as nove da manhã, sejam encaminhados para o Hospital Garcia de Orta, em Almada.

A concretizar-se tal decisão, será mais uma má notícia para Setúbal e a região do Sado. Segundo a mesma notícia o hospital setubalense recebe anualmente cerca de 30.000 crianças nas urgências pediátricas, das quais cerca de um terço, 10.000, em período nocturno. Atente-se que o Hospital de São Bernardo atende as populações de uma área que inclui, para além dos concelhos de Setúbal e Palmela, toda parte sul do distrito, Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines, num total superior a 250 mil habitantes.

Muito mal vão as coisas quando a medida é justificada com falta de meios humanos. Estando Setúbal a meia hora da capital, onde se concentram importantes recursos clínicos, não se compreende a dificuldade em dotar o Hospital de São Bernardo com médicos daquela especialidade no período nocturno. Os responsáveis pelos serviços públicos de saúde estão pois a dever-nos uma explicação.

Esperemos que partidos políticos, deputados do distrito e responsáveis autárquicos dos municípios abrangidos por tão danosa medida não deixem de fazer ouvir o seu protesto. É que, com alguma frequência, decisões de tão elevada importância para a qualidade de vida das populações são tomadas sem que quase ninguém se aperceba delas.

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