Geral, Política

A Historia não parou…

jose_eduardo_dos_santosA querela aí está. José Eduardo dos Santos pôs o governo português em sentido e a desfazer-se em mil desculpas com afirmações que, por vezes, raiam um tremendo ridículo.

Não vou andar à volta do CASO, porque talvez não valha mesmo a pena. José Edurado dos Santos irá certamente estender uma mão aos portugueses numa atitude de grand seigneur. Pois claro, porque sê-lo-á numa relação diferente daquela que durante séculos Portugal teve para com os angolanos.

A História não parou; bem gostariam muitos que ela tivesse parado. Quem sabe mesmo se os imperiais romanos não pensaram que o seu Imperio era imorredouro e que poderiam continuar a oprimir, explorar, humilhar e fazer passar fome o resto do mundo ocidental da altura que se desenvolvia em torno do Mediterrneo e ia até Inglaterra.

A História levou o seu tempo; os povos lutaram mesmo nesses tempos mais recuados, mas no século passado, em poucos anos, todos os impérios coloniais maiores ou menores, foram varridos e os povos colonizados havia séculos libertaram-se do jugo colonial e conquistaram a ferro e fogo a sua independência e soberania.

Já estão a fazer a sua própria história. E também a estudar e a dar a conhecer a história desse passado iniquo e sinistro em que foram mantidos.  A propósito disto recordo o romance extraordinário de Vargas Llosa O Sonho do Celta baseado na vida de Roger Casement onde o autor nos faz uma denúncia terrivel de factos passados sob os colonialismos belga e inglês em África e na América Latina. E ainda muito há para contar e conhecer. Aconselho vivamente a leitura do livro O Fantasma do Rei Leopoldo – Adam Hochschild, Caminho, entre outros.

Certamente que José Eduardo dos Santos tem hoje consciência do seu poder; tudo não passará de uma simples ameaça ou bluff para levar a água ao seu moínho e que moínho!

A Historia foi avançando como irá avançar e trará mudanças profundas e reais aos povos que hoje são dominados pelos banqueiros mundiais, pela finança global que impõe “regras” de exploração e de empobrecimento aos povos da europa e de outros continentes em conluio com as grandes empresas multi e transnacionais! Há mudanças que são já visiveis com os povos a dizerem não à exploração, à opressão, ao empobrecimento; a pouco e pouco a quantidade irá crescer e dar origem à qualidade e um dia o mundo pulará e avançará e o sonho tornar-se-á realidade.

Bem gostariam muitos que a História parasse por aqui, mas foram sempre os povos que decidiram as grandes fracturas, as roturas com um mundo anquilosado que já não permitia o progresso.

A História não parou para os angolanos também. Irão desbravar o seu próprio caminho e conquistar a libertação de outros opressores e exploradores tal como o conseguiram há cerca de 40 anos.

Vivam os Povos de todo o Mundo!

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Política

NÃO aos Buracos Negros da História

O presidente do Irão, Ahmadinejad atreveu-se na ONU a dizer o que há muito e muito gente questiona sobre os atentados de 11 de Setembro. Disse-o até de maneira moderada, à luz de outras suas declarações, ao contrário do que muitos jornais, mais papistas que o papa, noticiaram. Fê-lo contra-atacando quando o Irão tem sido, contínua a ser, alvo de ameaças de sanções por causa do programa nuclear que afirmam ser pacífico, contra a opinião, liderada pelos EUA, que duvida dessas boas intenções e procura demonstrar que o que Irão pretende tornar-se numa potência nuclear.

Ahmadinejad aproveitou a Assembleia Geral da ONU para dizer que o governo norte-americano não deve esperar que outros acreditem nas suas declarações enquanto não eliminarem todas as dúvidas dos que se interrogam sobre a autoria dos atentados de 11 de Setembro. Vai ao ponto de reclamar a composição de uma comissão de inquérito independente para analisar o que realmente aconteceu. Sem isso, todas as hipóteses são possíveis, sempre considerando que o 11 de Setembro foi trampolim para as guerras no Médio Oriente, em curso Iraque e Afeganistão e as que se preparam. O Irão considera-se um dos alvos. Cuidadosamente, não foi peremptório a acusar os EUA nem sequer lembrou precedentes, conhecidos de todo o mundo, que colocam em causa a credibilidade dos norte-americanos. Entre muitos, poderia ter dado o exemplo da explosão nunca explicada do cruzador USS Maine, em 1896, no porto de Havana. Morreram mais de trezentos marinheiros norte-americanos e foi o pretexto para os Estados Unidos declararem guerra a Espanha, de que Cuba era colónia. Ou os bombardeamentos, em 1964, dos contratorpedeiros USS Turner e USS Maddox no Golfo de Tonquim forjado pela administração Johnson para justificar o envolvimento directo dos EUA na guerra do Vietname para bombardear barbaramente o Vietname do Norte. Essa sangrenta farsa ficou incontestavelmente provada com documentos dos arquivos norte-americanos. A abertura dos arquivos mesmo controlada é perigosa, daí o nervosismo instalado com os documentos que a WikiLeads tem vindo a publicar sobre a guerra do Afeganistão.

Ahmadinejad levantou dúvidas, escudado nos muitos cientistas que, desde o primeiro momento, puseram em causa a implosão das Torres Gémeas. Principal argumento, a impossibilidade de um avião desenvolver energia térmica capaz de derreter a estrutura de aço das torres e a analise do padrão do seu desmoronamento. Em relação ao Pentágono, a ausência de destroços do avião que teria embatido no edifício. Tinha o objectivo evidente de por em causa a credibilidade dos EUA. A resposta foi imediata, os diplomatas estado-unidenses, acompanhados pelos diplomatas da União Europeia, abandonaram a sala em sinal de protesto.

Atitude interessante sobretudo se nos lembrarmos de como estiverem sentados, atentos e obrigados a ouvir a exposição de Colin Powell (na imagem deste post) quando munido de abundante material fotográfico e cinematográfico, espessos relatórios rigorosamente fundamentados, depoimentos peremptórios, etecetera e tal demonstrou inequívoca e irrefutavelmente a existência no Iraque de uma vasta rede de fábricas de armas de destruição maciça, com relevo para as biológicas e que foi o motor de arranque da invasão. Foram longas horas mostrando o que as tropas aliadas invasoras nunca iriam encontrar no terreno. Ninguém se levantou ou mesmo se atreveu a bocejar. Agora até parece que hoje ninguém se lembra dessa sessão espectacular que deixou o mundo e arredores paralisado de terror com tão séria ameaça.

Momento que aqui se lembra para iluminar as teias com que se fabrica a história e os buracos negros que depois se procuram implantar na memória.

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Cultura

Recordar e Ocultar: como a História se reescreve todos os dias

A televisão pública tem critérios de programação, no mínimo, estranhos. Agora, aos sábados exibe, em sequência, dois filmes que pertencem à história maior do cinema. Durante a semana vão passando coisas assim-assim ou assim assado, do bom ao sofrível, até que ao sábado têm um sobressalto e zás catrapus: duma vezada dois filmes que, quem gosta de cinema vai rever e quem começa a gostar de cinema devia ver! Aqui estamos todos de acordo, os sábados de cinema da RTP 2 abrangem um público que vai dos neófitos aos velhos cinéfilos. Com o que já não concordamos é que se faça uma sessão de cinema que começa às 22h40 e acaba, na melhor das hipóteses, às 2h00 da madrugada. Uma violência cultural. Se calhar anda por lá um sadomasoquista programador à solta que tem por princípio que a cultura se deve sofrer.

No sábado passado, homenagearam João Benard da Costa, um cinéfilo assumido. Na base dois programas, um em que várias pessoas eram convidadas a escolher o filme da sua vida, algumas tiveram que ultrapassar o problema do filme da sua vida já ter sido escolhido por outro, e um programa realizado pelo próprio João Benard da Costa, com uma selecção de filmes que considerava os mais decisivos na história do cinema. O filme da sua vida foi Johnny Guitar. Um dos filmes da vida de muita gente. Da minha também e lá estive sentado em frente ao ecrã da televisão, bebendo um bom cognac e fumando um belo charuto, (repararam que o Benard da Costa quando dissertava sobre o segundo filme da noite, Intriga Internacional, fumava e bebia uísque, bons tempos ainda não gangrenados pela mediocridade do politicamente correcto) a ver o filme pela décima vez, será mesmo décima? Isso pouco interessa, sigo o conselho que Séneca dava a Lúcio “lê, portanto, constantemente autores de confiança e quando sentires vontade de passar a outros regressa aos primeiros”. Como Benard da Costa, já sei, eu como milhares em todo o mundo, alguns diálogos de cor. São diálogos geniais que não caem no esquecimento. Já conheço o filme de fio a pavio e nunca o conheço de fio a pavio.Estou sempre a encontrar uma imagem, um plano que me deslumbra mais que numa das vezes anteriores.

Vem tudo isto a propósito do que João Benard da Costa disse na apresentação de Jonhy Guitar. Brilhante como sempre, a falar do que sabia e do que gostava. Desta vez houve um pormenor em que não tinha reparado quando isso foi exibido na primeira vez. Refere que o filme, entre muitas coisas, é também uma metáfora ao macartismo. Até aqui tudo bem, mas logo a seguir, para precisar o que tinha dito, foi esclarecendo que Nicolas Ray, o realizador, teve, e não poucos, problemas com o tenebroso senador. No entanto, o mais perseguido era o guionista, Philip Yordan, que, além de ir  parar à lista negra, teve mesmo que se exilar na Europa. Benard da Costa conta isso e diz que Philip Yordan era um homem de esquerda. Porque não disse claramente que ele era um activista do Partido Comunista Americano? Mesmo homens com a estatura intelectual de João Benard da Costa adquirem naturalmente esses vícios de linguagem, correntes numa sociedade como a nossa! Fê-lo sem qualquer malévola intenção. Fê-lo,  provavelmente como qualquer um de nós, descuidadosamente, o faria, sem perceber que, objectivamente, estava a colaborar com enciclopédias,  “papers”, teses e outras aparições que estão diariamente a reescrever a história, a rasurar ou a distorcer factos, amaciando terminologias, enevoando ilações, todo um arsenal que usa projecteis variegados dos mais aparentemente inócuos aos mais brutalmente eficazes. Tudo o que está à mão e pode produz efeitos é usado. Assim se vai reconstruindo a história com essas brancas, em que escorregamos por vezes sem dar conta que estamos a colaborar, involuntariamente, com um projecto, complexo e deliberado, de apagamento da memória.

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