Geral

OS OLHOS DAS CRIANÇAS

Atrás dos muros altos com garrafas partidas
bem para trás das grades do silêncio imposto
as crianças de olhos de espanto e de medo transidas
as crianças vendidas alugadas perseguidas
olham os poetas com lágrimas no rosto.

Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem é que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas.

Sidónio Muralha

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Geral

SOS crianças!

Mark Sedwill, alto responsável civil da NATO, garante que as crianças estão mais seguras em Cabul que em Londres.

Nós acreditamos piamente em tão preclaro técnico e propormos que todos os bons pais, amantes dos seus filhos, encarem racionalmente a realidade e enviem os seus filhos para o Afeganistão, ultrapassando a dolorosa emotividade dessa decisão. Tudo o que fazemos pelas nossas crianças nunca é demais, por mais difíceis que sejam as opções.

Portugal, depois de evidenciar os seus dotes de organizador de eventos sociais, como demonstrou na organização da cimeira da NATO, uma instituição atolada na massa cinzenta de técnicos tão brilhantes quanto o citado, tem agora a oportunidade de dar continuidade a essa sua vocação: organizar uma ponte aérea para as principais cidades do Afeganistão transportando crianças de todo o mundo que ficarão ao abrigo dos perigos que as perseguem. As crianças portuguesas terão evidentemente prioridade.

Pela amostra, com técnicos deste nível, o futuro da NATO é resplandecente e

Portugal, com esta iniciativa, estará sempre na primeira linha dos conceitos estratégicos.

Bem aventuradas cabeças, é delas o reino dos céus.

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Cultura

O estranho caso do dicionário com palavrões

O agrupamento de escolas Cetóbriga, de Setúbal, viu-se subitamente nas bocas do mundo mediático devido à indicação de um dicionário de português (o Dicionário Básico de Língua Portuguesa, da Porto Editora), para os seus alunos do 1º ciclo de ensino básico.

O caso é quase ridículo. Fica por perceber se os espíritos mais vigilantes da conformidade com os antigos “bons costumes”, ficaram ofendidos pelo facto de o dicionário recomendado conter expressões vulgarmente conhecidas por “palavrões”, como “co–“ ou “fo—“ ou se foram espicaçados pela notícia impressa no DN e amplificada pelas televisões.

Trata-se de expressões que qualquer criança certamente ouve – mesmo que não na sua casa ou no seu ambiente mais próximo. Porventura importante será explicar às crianças o valor e o impacto desse tipo de expressões. E as proibições que lhes devem estar associadas em face dos contextos específicos em que sejam utilizadas. Seguramente que as crianças do 1º ciclo já o poderão entender.

Ninguém vai ler um dicionário. O dicionário é um livro de consulta e certamente que um miúdo irá ao dicionário quando não sabe o significado de uma ou outra palavra” como disse Edviges Ferreira, da Associação de Professores de Português, à RTP. Acrescentando, como se pode ler no DN (23/09) que “ Uma das regras básicas de um dicionário é incluir palavras desde que estejam consagradas na língua portuguesa. Até mesmo para os miúdos saberem o seu significado. Já Gil Vicente e Camões as escreveram”.

Estranha-se a dimensão que o caso tomou nos media. Arrisco que é, mais uma vez, a atracção pelo bizarria e a vertigem com que o discurso desses media procura culpados – neste caso os professores, o Agrupamento – para um caso em que não há, nem crime, nem culpa.

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