O agrupamento de escolas Cetóbriga, de Setúbal, viu-se subitamente nas bocas do mundo mediático devido à indicação de um dicionário de português (o Dicionário Básico de Língua Portuguesa, da Porto Editora), para os seus alunos do 1º ciclo de ensino básico.
O caso é quase ridículo. Fica por perceber se os espíritos mais vigilantes da conformidade com os antigos “bons costumes”, ficaram ofendidos pelo facto de o dicionário recomendado conter expressões vulgarmente conhecidas por “palavrões”, como “co–“ ou “fo—“ ou se foram espicaçados pela notícia impressa no DN e amplificada pelas televisões.
Trata-se de expressões que qualquer criança certamente ouve – mesmo que não na sua casa ou no seu ambiente mais próximo. Porventura importante será explicar às crianças o valor e o impacto desse tipo de expressões. E as proibições que lhes devem estar associadas em face dos contextos específicos em que sejam utilizadas. Seguramente que as crianças do 1º ciclo já o poderão entender.
“Ninguém vai ler um dicionário. O dicionário é um livro de consulta e certamente que um miúdo irá ao dicionário quando não sabe o significado de uma ou outra palavra” como disse Edviges Ferreira, da Associação de Professores de Português, à RTP. Acrescentando, como se pode ler no DN (23/09) que “ Uma das regras básicas de um dicionário é incluir palavras desde que estejam consagradas na língua portuguesa. Até mesmo para os miúdos saberem o seu significado. Já Gil Vicente e Camões as escreveram”.
Estranha-se a dimensão que o caso tomou nos media. Arrisco que é, mais uma vez, a atracção pelo bizarria e a vertigem com que o discurso desses media procura culpados – neste caso os professores, o Agrupamento – para um caso em que não há, nem crime, nem culpa.
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