Geral

Grécia, a morte anunciada

OXI

O que, de certo modo pelo andar dos acontecimentos, seria expectável aconteceu. O Syriza abandonou a sua fachada de esquerda que a conservadora e reaccionária Europa adjectiva de radical, para assumir a sua matriz social-democrata.

Depois de fazer um referendo em que os gregos disseram claramente NÃO, Tsipras e o Syriza, a maioria do Syriza, aceitaram tudo, quase integralmente tudo o que a troika exigia. Aumento do IVA, grandes cortes nas reformas, privatização dos transportes, dos portos e dos aeroportos, etc. Uma capitulação em toda a linha, submetendo-se a todas as medidas que dizia rejeitar, depois de ter sido eleito com um programa em que afirmava que nunca iria aceitar. No Parlamento grego faz um discurso vergonhoso, trocando os pés pelas mãos, numa releitura miserável do resultado do referendo. Votaram NÃO às propostas da troika, mas NÃO votaram a favor da saída do euro. Para não sairmos do euro, temos que aceitar as medidas contra as quais se votou no referendo. Para a miséria moral, a vigarice intelectual ser completa, faz uma pirueta e inventa uma nova treta “este acordo levará a um programa europeu. O FMI terá apenas papel de consultor técnico. A troika, como a conhecemos, chegou ao fim.”. Para o quadro das tretas, mentiras e mentirolas ficar completo orgulha-se de evitar o grexit e de se ir discutir pela primeira vez a sustentabilidade da dívida, quando todo o mundo sabe que a dívida grega é impagável

Com o que vai desabar novamente sobre a Grécia, sem que o problema estrutural da dívida seja resolvido, o país vai entrar nos cuidados paliativos, com a morte anunciada. Ficará para sempre a lição de dignidade do povo grego que, contra todas as miseráveis  e violentas chantagens, votou NÃO, uma lição de democracia, de luta contra os poderes dominantes! O povo não cedeu. Cedeu o governo e o partido em que o povo tinha confiado.

Para uma certa esquerda que embandeirou em arco com o Syriza, as esperanças que se iria mudar a face política da Europa esfumaram-se com o desabar do castelo de cartas do programa Syriza. Esperanças infundadas se tivessem olhado atentamente as práticas do governo de Tsipras que nada fez para adquirir força nas negociações, Se atentassem ao seu demissionismo que os fez não se dotar com as ferramentas mínimas que seriam uma base, mesmo frágil, para reverter a situação catastrófica em que a Grécia estava mergulhada. Ferramentas e meios que tinham quando assumiram o governo e que desprezaram por vício ideológico, como referimos aqui no blogue.

Para a direita e direitinhas, o grande gozo de terem quebrado o Syriza. Verem-no de braço dado com a direita e centro-direita grego, a Nova Democracia, o Pasok, o To Potami, além do Anel, com quem já estavam coligados. É a alegria do triunfo da Europa, afirmando-se como um espaço não democrático. Da exibição pública de uma Europa subordinada ao grande capital e aos seus interesses financeiros, especulativos.

O Syriza colocou a Grécia em estado de coma profundo, ligada à máquina. Um dia, não será muito longínquo, a máquina será desligada para mal do povo grego. Farfalharem esperanças numa nova política que nunca existiu por não terem dado um passo, um só passo firme nessa direcção. Uma política de muitas parras sem um bago de uva, para entretém das hostes de esquerda por esse mundo fora. Uma política que enganou sem absolvição o povo grego, comprometendo o seu futuro. A História não lhes perdoará a traição.

Para a esquerda no seu todo, da mais firme à mais vacilante, é uma derrota. Para uns, o Syriza anunciava uma grande vitória sobre a Europa de burocratas sem alma nem sentido político, guiados por falsos pragmatismos que os transformam em eunucos de guarda ao harém do grande capital. O que não aconteceu, nem aconteceria. Para outros o abrir de uma pequena brecha na cidadela política e ideológica da CEE, do BCE, do FMI, fazendo entrever uma vereda no beco sem saída em que está estacionado em estado agónico o mundo actual. O que poderia ter acontecido.

Estes seis meses de tropeções, ambiguidades, vacilações Syriza, as ilusões que borboletearam, demonstram a actualidade do Radicalismo Pequeno Burguês de Fachada Socialista, de Álvaro Cunhal. Impõem-se reler a sua Introdução de uma meridiana clareza na análise ideológica e política que faz da emergência desses grupos, nos seus aspectos positivos e negativos.

Para a esquerda, para as esquerdas, analisar, estudar e perceber as lições syrizas é trabalho urgente. A História também não lhes perdoará se não o fizerem.

PS. Por cá, os porcos refocilam no chiqueiro. Numa das linhas da frente um idiota contabilista que agora julga que o decorrer dos sucessos lhe dão razão. Publica um tweet de um amigo o aconselhava a mudar de opinião em relação à Grécia. O amigo é um tonto como ele. Ele não mudou, nunca mudaria, nem mudará. A noz de massa cinzenta que lhe ocupa o crânio não lhe dá hipótese. Para ele um tweet: Zé, li o teu tesxto a agradecer o pacote de austeridade ao Syriza. Continuas estúpido como sempre! Nem vale a pena recordar-te que a dívida grega é impagável A dívida grega como a portuguesa, são impagáveis! É a verdade, estúpido! Impagáveis e com as políticas do PSD/CDS/PS/SYRIZA/PASOK/NOVA DEMOCRACIA ou outros quejandos, a agravar a vida de portugueses e gregos! A economia nunca sairá da cepa torta! As tuas contas são uma merda! Tentas enganar o pagode! Nem para isso tens jeito! Se tivesses alguma vergonha e um minimo sentido de auto-crítica já tinhas deixado de debitar parvoidades! O Brassens é que te topa , a ti e aos teus parceiros de ginjeira! 

Advertisement
Standard
Geral

A Tragédia Grega e a Miséria Moral da Europa

471324 (1)

Cada dia, cada hora mostra a duplicidade, o cinismo, a falta de ética dos mangas-de-alpaca europeus e da sua aliada no FMI. A miopia política é agravada pela miséria moral que anda à solta nos corredores de Bruxelas.

As últimas declarações de vários responsáveis europeus, em particular de jean-Claude Juncker são a demonstração mais acabada do estado de podridão intelectual dessa gente.

Juncker tem o supremo desplante de se apresentar como vítima da intransigência do governo grego. Diz-se traído nos seus esforços, dele e da camarilha que o rodeia, em manter a Grécia no euro, para bem do grande capital. Sabe muitíssimo bem que a troika, agora chamada de instituições, foi encostando o governo grego à parede, obrigando-o a ir de cedência em cedência até a um ponto em que era impossível ao governo do Syriza recuar mais sem perder totalmente a credibilidade que lhe restava depois de terem ultrapassado todas as linhas vermelhas, todas bem longe do inscrito no programa de Tessalónica, a base do seu programa eleitoral que foi sufragado pelo povo grego nas últimas eleições. As cedências do governo do Syriza riscaram muitas das medidas proclamadas, reformularam outras até as tornar irreconhcíveis, atiraram outras tantas para as calendas numa tentativa de se manter “ na sua casa comum, a Europa”, Foi o governo do Syriza que foi adequando a sua proposta inicial às do nefando memorando da troika. A sua promessa de romper com os memorandos, como tinha gritado alto e bom som, já nem era um eco a soar frágil entre as colunas do Partenon. O relato que Varoufakis publicou no seu blogue sobre a reunião de 27 de Julho, sobre o rompimento das negociações, evidencia a torpeza do Eurogrupo e o desespero do Syriza em não romper com a Europa, rasgando muito, quase todo, o seu programa eleitoral. O mandato que o povo lhe conferiu. Nada comoveu e demoveu a voracidade das instituições a mando do grande capital.

O referendo que vão realizar é de facto um novo programa eleitoral em que aceita quase tudo o que lhe foram impondo. Desde as primeiras propostas até às que hoje foram conhecidas o Syriza foi atirando para a fogueira europeia  s suas promessas eleitorais, mostrando a sua debilidade ideológica, a fragilidade dos seus príncipios. Quem não recua praticamente nada é a troika, como se pode ler na sua última proposta.

Apesar diso tudo a inefável Europa continua a chantagem contra o referendo. Na primeira linha Jean Claude Juncker, um tipo sem vergonha au vem a público desnudar o seu cinismo, a sua doblez que não tem fronteiras, não tem limites. Diz-se traído, puxa dos seus galões de europeísta convicto, pronto a sacrificar-se no altar da Europa Comum. É o mesmo Juncker que traíu os seus parceiros da europeus quando, primeiro-ministro do Luxemburgo, fez acordos por baixo da mesa com  mais de 300 grandes empresas desviando milhares de milhões de euros do tesouro de vários países, Grécia incluída, que fugiam ao fisco através desse paraíso fiscal no centro da Europa, um Luxemburgo membro desde a primeira hora da Europa Connosco. Candidato a presidente da Comissão Europeia, justificou as suas patifarias, um modo delicado de as classificar, com a sua legalidade. Não haviam de ser legais! Era ele que as tornava legais, promulgando as leis. O que só pode fazer inveja aos Al Capones que não podendo fazer leis, eram “obrigados” a  impô-las recorrendo às bala. A diferença está no armamento de que cada um dispunha. É este Juncker, agora presidente da Comissão Europeia que continua a brandir a bandeira da solidariedade, da firmeza nos príncipios.  È este Juncker que tem o desplante de dizer “sinto-me traído porque os meus esforços e o de outros não foram tidos em conta” (…) “ não propusemos cortes nos salários e nas pensões” uma mentira tão descarada que foi a própria Comissão Europeia que imediatamente o desmentiu, chamaram rectificação! Um nojo!

Os outros não enojam menos. O presidente do do grupo parlamentar do PPE vem a terreiro gritar que “ Tsipras devia abandonar os jogos florais e assumir as suas responsabilidades perante o povo grego” Pois devia , devia. Os jogos florais de Tsipras são o atirar para o lixo o programa eleitoral pelo que o povo grego o elegeu. Essa é que é a sua grande responsabilidade e não a que está implicita na crítica desse mandarete.

Outro descarado sem-vergonha é Schaulbe que diz ter pena do povo grego! Esse carsa-de-pau que na Europa, depois da II Guerra Mundial a Alemanha é a campeã dos incumprimentos, das reestruturações e dos perdões da dívida. Que nãom indmenizou a Grécia, dos roubos e da destruição que fez na Grécia!

É esta a Europa, os dirigentes europeus que temos que dão ordens, que escrevem e impõem leis para tornar legais os seus desmandos.

A Europa está podre! A miséria moral, a hipocrisia, a sua conduta contra os povos, ao serviço dos mercados andam à rédea solta com os meios de comunicação social pela trela.

À Grécia um último rasgo de dignidade, votando NÃO no referendo, com a incerteza ou com a quase certeza, que as medidas anti-populares, contra o povo grego, não as originais da troika em linha com as que durante seis anos, com os governos PASOK e Nova Democracia implementaram com os resultados que estão à vista do mundo,  mas outras igualmente duras, vão continuar,  que é o que as cedências das novas propostas do governo Syriza anuncia. O mau é sempre mau, mesmo que não seja o pior, porque pior é sempre possível. Uma tragédia em que a luz da esperança é fraca e bruxeleante no meio do pantano desta degradação. Seremos os condenados da terra a esta danação? Ontem como hoje a evidência da necessidade e a urgência dos povos de todo o mundo se unirem contra a ditadura bárbara e totalitária dos mercados!

Standard
Geral

A Grécia, a CEE os seus mandantes, seus mandaretes e monicas lewinskis

A ESPERA DOS BÁRBAROS

— Que esperamos na ágora congregados?

 

Os bárbaros hão-de chegar hoje.

Porquê tanta inactividade no Senado?

Porque estão lé os Senadores e não legislam?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje.

Que leis irão fazer já os Senadores?

Os bárbaros quando vierem legislarão.

 

Porque se levantou tão cedo o nosso imperador,

e está sentado à maior porta da cidade

no seu trono, solene, de coroa?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje.

E o imperador espera para receber

o seu chefe. Até preparou

para lhe dar um pergaminho. Aí

escreveu-lhe muitos títulos e nomes.

 

— Porque os nossos dois cônsules e os pretores

saíram hoje com as suas togas vermelhas, as bordadas

 

porque levaram pulseiras com tantas ametistas,

e anéis com esmeraldas esplêndidas, brilhantes;

porque terão pegado hoje em báculos preciosos

com pratas e adornos de ouro extraordinariamente cinzelados?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje;

e tais coisas deslumbram os bárbaros.

 

– E porque não vêm os valiosos oradores como sempre

para fazerem os seus discursos, dizerem das suas coisas?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje;

e eles aborrecem-se com eloquências e orações políticas.

 

– Porque terá começado de repente este desassossego

e confusão. (Como se tornaram sérios os rostos.)

Porque se esvaziam rapidamente as ruas e as praças,

e todos regressam as suas casas muito pensativos?

 

Porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.

E chegaram alguns das fronteiras,

e disseram que já não há bárbaros.

 

E agora que vai ser de nós sem bárbaros.

Esta gente era alguma solução.

                                                               Konstandinos Kavafis

(tradução Joaquim Manuel Magalhães/Nikos Pratsinis)

ovelhas

 

Os cônsules, pretores que entre dois partidos sozinhos ou coligados, se sucediam na Grécia, impondo ao povo grego as soluções dos bárbaros foram democraticamente derrotados. As iníquas reformas estruturais, um saco de mentirolas que nada reestrutura e tudo destrói,  que garrotavam a economia, aumentavam a dívida, mantinham os privilégios da oligarquia, aprofundavam  a corrupção, atiravam cada vez mais gregos para a miséria e o desemprego, foram democraticamente derrotadas. Quem venceu pelo voto, propõe outro caminho para sair da crise, caminho dentro do quadro político, económico e social dos bárbaros. Nem isso os bárbaros aceitam. Inquietam-se porque não querem que seja sequer possível pensar que há outras saídas para a crise económica dos países que se debatem com dívidas que são impagáveis, consequência da crise mais geral da Europa tatuada no sistema que se arrasta agónico mas que se julga eterno, sem alternativas.

Governantes e seus sequazes querem ditar, impor as suas leis sobre os países devastados por uma estúpida cegueira que alimenta os oligopólios financeiros, promove uma crescente desigualdade social, instala um desastre económico e social de proporções inquietantes. Mentem manipulando as estatísticas para travestir o desastre. Mentem. mentindo sempre e, sem pudor,  fazem circular a mentira por uma comunicação social mercenária ao seu serviço.

Na CEE, os países que se sujeitaram às receitas das troikas, viram as suas dívidas em relação ao PIB aumentar exponencialmente entre 2007 e 2014. Irlanda 172%, Grécia 103%, Portugal 100%, Espanha 92%. A dívida mundial que em 2007 era de 57 biliões de dólares, em 2010 foi de 200 biliões de dólares, ultrapassando em muito o crescimento económico. Tendência que continua o seu caminho para o abismo, em benefício dos grandes grupos financeiros, entrincheirados nos chamados mercados. O chamado serviço da dívida, os juros, são incomportáveis. São esses os êxitos de uma política cega submetida à ganância usuária que não tem fronteiras ou qualquer ética.

Os governos deixaram de estar ao serviço dos seus povos, nem estão sequer dos seus eleitores. São correias de transmissão dos oligopólios financeiros que se subtraem a qualquer escrutínio democrático ou outro de qualquer tipo. Traçam um quadro legal que os suporta e legitima a ilegitimidade. A democracia é uma chatice, um entrave, um pauzinho nessa gigantesca engrenagem que nos atira barranco abaixo, com efeitos devastadores para a humanidade. Nada interessa a não ser o lucro de quem especula sem produzir nada. As pessoas são uma roda nessa engrenagem.

chaplin

Charlie Chaplin, TEMPOS MODERNOS

Quem não caminha ordeiramente nesse rebanho, quem se opõe, mesmo que mandatado e sufragado democraticamente, é considerado irresponsável, como disse o ogre Wolfang Schauble, ministro da economia da Alemanha, em relação à Grécia. As suas enormidades ecoam pela boca dos seus bufões, das suas monicas lewinskis por todos os cantos de uma Europa submissa aos diktats do bando de arruaceiros financeiros que rouba a tripa forra países e povos. Em Portugal, as nossas monicas lewinskis são mais fatelas, mais rascas com se tem visto e ouvido de Cavaco a Passos Coelho, de Portas a Pires de Lima mais a matilha dos seus sarnentos rafeiros de fila. Espumam raiva, ódio dos ecrãs televisivos às ondas radiofónicas. Quem se atreve a riscar, ainda que levemente, essa realidade em que nos enforcam é logo atacado e silenciado quanto baste por essa matilha de pensamento ulcerado.

Os burocratas europeus dogmáticos, leitores e intérpretes da cartilha neoliberal dizem que a realidade é assim mesmo! Será?

A realidade nunca é a realidade que nos querem impingir como Aragon tão bem descreveu. Há mais vida para lá desse biombo com que a querem esconder qualquer luz, mesmo bruxuleante, de esperança para a humanidade.

ISTO È UMA OVELHA,escultura de João Limpinho

 

AS REALIDADES

Era uma vez uma realidade

com as suas ovelhas de lã real

a filha do rei passou por ali

e as ovelhas baliam que linda ai que linda está

a re a re a realidade

Era uma vez noite de breu

e uma realidade que sofria de insónia

então chegava a fada madrinha

e placidamente levava-a pela mão

a re a re a realidade

No trono estava uma vez

um velho rei que muito se aborrecia

e pela noite perdia o seu manto

e por rainha puseram-lhe ao lado

a re a re a realidade

 

CODA: dade dade a reali

dade dade a realidade

A real a real

idade idade dá a reali

ali

a re a realidade

era uma vez a REALIDADE.

Aragon

(tradução António Cabrita)

ceci nést pas une pipe

pintura de Magritte

Standard
economia, Internacional, Política

Negócios da grécia

Da Grécia contaram-se e contam-se as mais mirabolantes histórias para demonstrar como os trabalhadores eram uns privilegiados, os serviços públicos e as empresas estatais primavam pela má gestão e por dar benefícios extraordinários aos seus funcionários. Todos se lembram dos celebrados 15 meses de ordenado, que supostamente os assalariados gregos recebiam e que afinal mais não era que o subsídio de férias ser cumprido em duas faias iguais. Histórias não faltaram na comunicação social para demonstração urbi et orbi de que o povo grego era preguiçoso e andava a viver à tripa forra, era o grande culpado do défice público que colocara a Grécia á beira da bancarrota. Esse jornalismo estipendiado e mercenário existe para prestar serviço ao poder do capital. Aliás deve-se consultar quem são os accionistas da comunicação social para percebermos o que é a liberdade de imprensa e para que servem os critérios jornalísticos. As montagens noticiosas constroem imagens falsas para fazer uma barragem de fumo sobre a realidade. Se a queremos conhecer, ainda que parcialmente, temos que respigar por todo o lado para construir um puzzle que nos aproxime dela.

Em relação à Grécia o que é actualmente relevante, demonstrador do enorme cinismo dos que lêm impões pacotes de austeridade sobre pacote de austeridade, é que, submetida a um apertado controlo da troika, com a imposição de um brutal empobrecimento e de perdas de direitos  que atingem o povo grego sem dó nem piedade, continuem a ser feitas despesas que agravam  o endividamento enormemente. Num país a sofrer uma crise tão desmesurada, é autorizada a compra, aos EUA, de 400 tanques Abrams e de três fragatas à França , para grande raiva da Alemanha que, depois de vender dois submarinos (nos últimos anos tem vendido mais uns tantos) se vê preterida neste negócio da grécia. Continuar a ler

Standard
economia, Internacional, Política

A Ganância da Usura

Na Grécia o número de suicídios aumentou 40%!!!

SUICIDA, escultura de Virgílio Domingues, poliester e acrílicolhes

São vítimas da crise, das políticas de governantes cegos à vida humana e subservientes à usura dos mercados e seus braços armados, o FMI, o BCE, a EU, e tropa de choque, as agências de notação financeira.
Ao terrorismo financeiro dos chamados investidores que ganham de forma desproporcionada sem nada produzirem, explorando despudoradamente situações de necessidade com a maior impunidade, sem nada acontecer. A lei prevê punir com prisão quem fizer da usura modo de vida. Uma lei para punir os pequenos usuários quando esse é o modo de vida natural do capital financeiro.

“Os comportamentos ética e criminalmente punidos tratando-se de comuns cidadãos deixam de o ser no caso de grandes usurários internacionais que ‘fazem da usura modo de vida’ e dos seus cúmplices em instituições e governos europeus, e quando o devedor é, não apenas um, mas todos os cidadãos de um Estado.” (Manuel António Pina)

Comportamentos assassinos. Comportamentos que matam a sangue frio, sem precisarem de armas, sem que as mortes lhes sejam assacadas, nem lhes pesem na consciência, coisa que não têm. Agora já não é um bando de tratantes que governa o mundo. É um bando de tratantes assassinos, movidos pela ganância da usura que cilindra a felicidade, que garrota a dignidade, que liquida a vida. Continuar a ler

Standard
Política

Procrusto, a Troika, o governo de Passos Coelho

Poul Thomsen, do FMI, Jurgen Kruger, da EU e Rasmus Ruffer, do BCE, voltaram a Portugal para verificar se o governo cumpre os seus ditames e não procrastina nenhuma das medidas que impuseram a Portugal. Estão bem treinados para representarem os seus papéis num espectáculo bastante entediante de tão repetitivo. É uma troupe de tecnocratas com sangue de barata, habituada a viajar pelo mundo, simulando fazer grandes análises e desenhar grandes modelos macroeconómicos onde quer que pousem, para tudo acabar na apresentação de uma bula com mais do mesmo, só variando nos números. No essencial, as medidas que preconizam são as mesmas que aplicam onde quer que desembarquem. Ao embrulho chamam reformas estruturais que acabam sempre com o mesmo resultado: o desastre económico e financeiro, o empobrecimento generalizado, o favorecimento dos mais ricos e poderosos, a corrosão brutal dos direitos sociais, a destruição do sector empresarial do Estado a favor da iniciativa privada e retirando-lhe o poder estratégico de intervenção. Continuar a ler

Standard
economia, Política

Acabar com a Hidra

Reformas estruturais foi o que mais houve em Portugal desde que aderiu à União Europeia e, sobretudo, desde que aceitou fazer parte da moeda única trocando o escudo pelo euro, que já era um erro tornou-se um erro ainda maior com uma cotação disparatada, em que o escudo foi sobreavaliado. Nessa altura por onde andava a tropa fandanga que agora desfila nos meios de comunicação social a aplaudir o programa imposto pela chamada troika? Embandeirava em arco, primeiro com a adesão à CEE, depois com a adesão à moeda única. Sempre munidos com a sapiência técnica de quem não percebia que a partir desse momento tínhamos o destino marcado a caminho da forca. Quem apontava os riscos, enunciava os perigos era objecto dos piores anátemas por não apoiar esses passo a caminho do apocalipse que eles confundiam com o caminho para a modernidade. O resultado está-se agora a ver.

Depois da adesão à União Europeia o nosso, frágil, tecido produtivo além de perder competitividade, foi paulatinamente destruído. Indústrias, agricultura e pescas foram arrasadas seguindo cegamente as políticas europeias sectoriais que sempre protegeram os mais poderosos em detrimento dos mais fracos, a quem atiravam uns sacos de euros para os manterem em silêncio, acelerando a transferência para os privados dos bens públicos. Essas sim, foram reformas estruturais que as bestas apocalípticas trombeteavam como o caminho triunfal da Europa connosco.

V iu-se ao que conduziu essa auto-estrada de regresso ao passado. Quando a crise económica era mais visível, lá vinha a ladainha das reformas estruturais, como se elas não estivessem de facto a acontecer com a desindustrialização, com os campos ao abandono distribuindo subsídios para que deixassem de ser cultivados, com o abate da quase totalidade da frota pesqueira, isto num país que tem um uma área de águas territoriais incomparável em relação à sua superfície territorial, com privatizações que só não eram selvagens porque se faziam leis à medida.

Até que, à beira da bancarrota, se foi pedir ajuda a quem nunca ajudou nada nem ninguém. Só tem agravado a crise económica dos países por onde tem passado, espalhando pobreza e reforçando o capital e a especulação financeira. Para sair do túnel onde nos meteram não foram em direcção à bruxuleante luz que havia lá no fundo, abriram caminho para outro túnel sem fim à vista. Qualquer um, por mais leigo que seja percebe o enorme buraco em que estamos metidos e no maior buraco em que vamos cair.

O pacote da dita ajuda só apoia com mãos cheias de euros a banca, o capital financeiro. Dos 78 mil milhões de euros previstos mais de 15% são oferecidos à banca, um saco que pode engordar até quase 45%! Um escândalo!!!
Enquanto a generalidade da população é condenada ao empobrecimento, a banca e as grandes fortunas continuam intocáveis.

Enquanto se dão todas as condições para o capitalismo monopolista acelerar a sua reconstituição, promove-se o declínio do que resta do nosso tecido produtivo.

A essas reformas estruturais somam-se o tornar mais fácil e barato despedir, reduzir os apoios sociais, encarecer o acesso à saúde e ao ensino.

Reformas estruturais que, somadas às anteriores, vão aumentar o desemprego, conduzir portugal para sucessivos anos de recessão.

Os partidos responsáveis pelas políticas que, em mais de trinta anos, nos conduziram a esta situação, atirando Portugal para a miséria, são os mesmos que descobrem que afinal o programa de ajuda não vai ser tão doloroso como se previa, que acham que existe margem de manobra para ainda piorar o que já está muito mal ou que estão dispostos a dar contribuições positivas para que nada nos desvie do caminho do desastre.

São esses políticos lerdos e seu séquito que, hidra de sete cabeças, buzinam a toda a hora nos meios de comunicação social com a inevitabilidade das soluções para os problemas de que eles e só eles são responsáveis, enquanto praticamente silenciam a voz de quem denuncia que vamos saltar da frigideira para o fogo.

É urgente que se façam sacrifícios, mas sacrifícios para sairmos desta situação. Para que se destruam essas reformas estruturais e se façam por reformas estruturais de facto, que coloquem nas mãos do estado as ferramentas essenciais para que Portugal caminhe para o progresso.

Enquanto as comadres se zangarem e acusarem-se em grande alarido para enganarem o Zé Povinho para o jogo das cadeiras continuar, não vamos lá!

Chega de mudar de governações! O que é necessário e urgente é mudar de políticas!

Standard
Política

FÁBULA PASCAL – 2ª edição revista e aumentada

Os três da vida airada, cocó, ranheta e facada, estão hoje e amanhã de papo para o ar nos seus hotéis de luxo, intervalando nas malfeitorias que irão reiniciar mal o senhor ressuscite para ascender aos céus, abençoando aquela gente que finge produzir qualquer coisa de jeito a trabalhar afincadamente, prescindindo da tolerância de ponto e andando num virote na 6ª feira santa, para gáudio de um jornalismo fedorento e políticos de filibata que logo apontaram o dedo aos mandriões do costume que não querem fazer nada a não ser abocanhar essas benesses.

Este é um tempo de fingimentos e para fingirem mal e porcamente que trabalham à séria, os super merceeiros querem acabar já com o próximo 1ºde Maio, esse dia amaldiçoado, os banqueiros arrotam postas de pescada à mesa do orçamento para não se ouvir o farfalhar dos milhões nos seus bolsos a abarrotar, os três da vida airada fingem transpirar abundantemente a copiar as receitas que já estavam escritas ainda eles não eram nascidos, os coelhos passam pelas gateiras de portas carunchosas para tasquinhar relvas intragáveis, os sócrates debitam sentenças que fazem o borda-d’água corar de inveja, o cavalo de pau passeia nos jardins de belém relinchando em surdina, os velhadas do restelo babam manifestos de boas intenções de que o inferno está cheio, as bruxas lêem o futuro nas sondagens adivinhando que tudo irá de mal a pior se isto continuar assim, um tonto que apareceu no vinte de abril a dizer disparates perdeu o pouco do norte que ainda tinha, os morangos com açúcar continuam a sua saga foleira, o país é cada vez mais uma lixeira de parvoidades e de cassandras que preconizam a inevitabilidade de apertar o cinto depois de andarem anos a dar colo e carinhos aos que termitavam o tecido produtivo enchendo-o de buracos para deixar passar a luz do sol do euro que iluminava o deserto que ia crescendo, atravessado por auto estradas que não levavam a lado nenhum.

Foram avisados e bem avisados da peste que plantavam e contaminava o país. Agora dizem que é tarde e que não há nada a fazer se não estender a mão para receber o que nos quiserem dar e por o cu a jeito para levar uns pontapés. Fazem tudo e mais alguma coisa para não perderem muitos dos privilégios que foram sacando, ano após ano, à nossa conta.

Há que agarrar na vassoura para vassourar sem dó nem piedade as teias de aranha de servidão económica e mental que prenderam trinta sete anos de liberdade.

Vai ser difícil? Vai!

Vamos viver uns anos ainda pior do que já vivemos agora? Vamos!

Não podemos desistir de fazer pela vida uma nova vida, de recuperar o orgulho de ter as mãos limpas pelo trabalho honrado e livre dessas térmitas, de fabricar o sol da canção dos amanhãs que cantam, enquanto eles grunhem chafurdando em ideias velhas e relhas.

Mãos à obra!

Standard