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Terrorismos

SATURNO

Saturno devorando o seu filho, pintura de Goya

Há dezenas de anos que a barbárie terrorista campeia pelo mundo. Manifesta-se das mais variadas formas e com as mais diversas vítimas. Sejam humanas ou materiais. Agora, a memória do atentado ao Charlie Hebdo ainda não faleceu,  mais de cem mortos em Paris,há um mês mais de 250 pessoas num avião que foi sabotado,as duzentas crianças recentemente massacradas na Síria pelos mesmos bárbaros que todos ou quase todos os dias rebentam bombas, disparam indiscriminadamente no Iraque, na Síria, no Iemen, no Afeganistão, no Líbano. Por todo o Médio-Oriente e África. Também não devem ser esquecidos os Budas dinamitados no Afeganistão ou a destruição que tem sido efectuada na cidade de Palmira.

Os estados emocionais que provocam são variáveis. Não o deviam ser, para que a condenação e a memória não se torne flutuante. Todos nos devemos defender do terrorismo que o terrorismo origina. Com o medo que esse terrorismo brutal provova, dissemina~se o terrorismo xenófobo, aduba-se a sua retórica. Suporta-se e aceita-se  o aumento de políticas securitárias a caminho de um novo maccartismo. Dois terrorismos, ou se quiserem as dezenas de terrorismos de fardas e emblemas diversos, acabam por se alimentar  uns aos outros, com a fúria de devorarem a liberdade, as liberdades. O pavor, o medo que espalham tem efeito perverso e muitísimo perigoso, se a isso não estivermos atentos. Querem que nos tornemos autofágicos das nossas próprias liberdades.

Não é por ser aqui ao lado em Paris, nem por o número de vítimas ser superior a uma centena, de se quantificar e qualificar os atentados que deve aumentar a temperatura da nossa indignação e condenação. Deve ser a mesma se tivesse sido no deserto de Gobi e vitimado uma só pessoa. A barbárie é a mesma e deve ser combatida com igual determinação.

Nos últimos anos o terrorismo com a bandeira islâmica é real, a mais vísivel e tem aumentado. Também tem sido utilizado, armado e financiado ao sabor de conveniências e oportunismos políticos  que não se devem esquecer ou travestir. Causa alguma perplexidade ouvir as condolências e a condenação dos atentados em Paris feito por Erdogan que tem treinado, armado e financiado, directamente ou indirectamente o Estado Islâmico, deixando que a Turquia seja a principal rota do petróleo contrabandeado pelo Estado Islâmico, uma das suas principais fontes de rendimento.. Ou ouvir o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita enviar condolências aos framceses declarando que os atentados de Paris contradizem todas as normas éticas e morais, assim como as leis de todas as religiões, quando no seu país quem entre com uma bíblia, mesmo para uso pessoal, é preso. Um país que tem um sistema judicial pior que medieval em que se chicoteia, degola, crucifica em nome da religião e onde a sharia é lei. São desse calibre os aliados do ocidente conduzido pelos EUA, em diversas aventuras no Médio Oriente, para manterem a hegemonia política enquanto a económica se esboroa. A brutalidade da barbárie terrorista, a sua dimensão e extensão são alarmantes. Não só na Síria e Iraque que estão mais na ordem do dia, é bom não esquecer que na Ucrânia há batalhões de jihadistas a lutar em coordenação com as mílicias nazi-fascistas, que é altamente intranquilizante. O nível de preparação militar e organização política que crescentemente demonstram, tornam o combate a essa horda de uma urgência que deve, devia ultrapassar divergências e cálculos políticos a qualquer prazo, numa luta comum que é uma luta civilizacional.

Não se deve perder memória de como tudo isto foi avançando passo a passo. Com que cumplicidades se cimentou. Mas a gravidade da situação é tal que não se pode perder tempo com recriminações. O tempo que se perde a apontar o dedo para esses factos, que são reais e não devem ser rasurados, é tempo que se perde na luta urgente de arrancar pela raiz o mal que, de um ou outro modo, mais longe ou mais perto nos cerca, nos assalta. O inimigo é letal, tem um objectivo que persegue cegamente e sem grandes hesitações. É um animal raivoso e determinado que ataca mesmo as mãos que, directa ou indirectamente, o alimentam ou o alimentaram. O recente atentado em Ankara, com centenas de vítimas, é a mais clara demonstração disso.

O risco que ocorram mais golpes terroristas, cada vez  mais bem planeados e executados, mais dificeis de prevenir é um facto.. A curto prazo, mesmo a muito curto prazo, o maior risco é esse terrorismo alimentar o terrorismo de uma direita ultra momtana, de raiz nazi-fascista, que tem crescido a olhos vistos na Europa Uma direita que se vai  impondo  sentada ao colo do nosso medo e das irracionalidades que origina, escamcarando as portas para os ódios mais primários, mesmo paradoxais. Não podemos deixar que a história se transforme numa pintura negra em que, por temor ou omissão colaboramos, quase sem darmos por isso. Combater e condenar o terrorismo é o mesmo combate de combater todas as políticas de cariz fascista que o dizem combater impondo outro terrorismo.

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Políticas Criminosas

Palmira

Com algumas da últimas notícias vindas da Síria, estava a organizar um texto sobre o tema. Além de algumas notas que acrescento o que iria escrever está  melhor escrito e documentado pelo José Goulão no seu blogue Mundo Cão, e neste outro post. É necessário repor a verdade contra a imensa fraude que tem sido a luta pelos direitos humanos e a democracia na Síria. Assad é um ditador? É, claro que é pelos padrões da democracia ocidental. Mas é um democrata comparado com os ditadores da Arábia Saudita, Qatar e outros, grandes aliados e amigos das democracias ocidentais! Com a ofensiva que a Rússia está a realizar contra os terroristas na Síria, Estado Islâmico, as variantes da Al-Qaeda e, colateralmente, essa ficção que é o Exército Livre da Síria, uma tropa de alguns sírios e muitos mercenários que repetidamente se tem passado de armas e bagagens para um dos grupos terroristas como aconteceu recentemente nos finais de Setembro, os terroristas têm sofrido grossas perdas em homens, equipamentos, logistica estando a recuar as suas linhas da frente, empurradas no terreno pelo exército sírio e mílicias apoiantes. Nalgumas semanas a Rússia causa perdas muitíssimo maiores aos grupos terroristas que a famosa coligação ocidental anti terrorista liderada pelos EUA durante um ano. Quem se alarma com o êxito do combate aos terroristas? Os EUA, a NATO, os seus aliados regionais, Turquia, Arábia Saudita,Qatar e Israel !!! A máquina de propaganda ocidental foi a primeira a abrir fogo e, como é habitual, continua manobras de desinformação sistemáticas. Noticiou que os os bombardeamentos russos tinham causado grandes perdas civis quando ainda nem um avião russo tinha levantado voo! Uma das fontes mais citadas é o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma instituição pouco credível financiada pela Irmandade Muçulmana, agora também reactivada e que já notíciou ataques aéreos que nunca se realizaram, como um bombardeamento a Palmira. Os Estados do Golfo,anunciam que, por causa da ofensiva russa, vão entregar misseis anti-tanque e mesmo terra-ar ao Exército Livre da Síria. Todo o mundo sabe que o destino final é o Estado Islâmico e a Frente Al-Nusra, que sempre foram apoiados financeira e militarmente pela Arábia Saudita e o Qatar. Que fazem os EUA, os fornecedores dessas armas aos seus aliados do Médio-Oriente? Através da NATO dão ordens aos aviadores da coligação para no espaço aéreo iraquiano atacarem, sempre que se sentirem ameaçados, os aviões russos! É este o calibre, a estatura política.a ética dos líderes ocidentais! Fazem orelhas moucas mesmo aos apelos dos patriarcas católicos e ortodoxos na Síria que apelam, através do Vaticano, para que o Ocidente acabe com as políticas desastrosas de armar os terroristas e armam-nos contra quem os combate. É o desvairo, sobretudo de Obama e Cameron,  por começarem a sentir aquela região que dominavam a seu bel-prazer com o seu aliado Israel a fugir da sua esfera de influência.
O seu interesse no combate ao terrorismo é uma ficção. O Iraque olha para o que se está agora a passar na Síria no combate ao terrorismo e interroga-se, com razão, sobre o porquê da ineficácia, da inoperância  da tão propalada coligação de forças lideradas pelos EUA, Os bombardeamenos efectuados pelos norte-americanos e tem tido paradoxalmente acções mais eficazes contra quem trabalha no terreno contra os efeitos ds guerras como o recente bombardeamente pelos EUA a um Hospital dos Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão, destruindo-o completamente e causando centenas de vítimas. Aliás eles já estão habituados a ser bombardeados pelas forças democráticas  como acontece sistematicamente na Palestina.

Há que parar esta gente, que é gente muito perigosa para a paz e para o futuro do mundo.

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Os Valores Democráticos

Papel higiénicoÉ extraordinário o coro ocidental de elogios ao falecido rei Abdullah da Arábia Saudita que descobrem como um dos seus. Um defensor dos valores democráticos, coisa que ele nem sabia o que seria, como o secretário -geral da ONU, Ban Ki Moon, teve o cuidado de recordar. Provavelmente têm razão, os valores democráticos do Ocidente são uma tábua de logros, pronta a usar para os passar a ferro conforme as conveniências de momento. Só assim se podem compreender os encómios a semelhante personagem.

Descobrem qualidades democráticas de envergadura na sua governação como rei absoluto de um país onde a pena de morte está sempre no horizonte de quem ousa desafiar um poder discricionário que se rege pela sharia aqui, pelos vistos, abençoada e tolerada pelo ocidente dito democrático que a condena noutras paragens do Médio Oriente.

Não é preciso recuar muito no tempo para se tirar a temperatura democrática da Arábia Saudita. Recentemente um crítico da Casa Saud e mitigadamente da fé islâmica. Foi condenado a dez anos de prisão e a sofrer 1000 chibatadas em doses públicas de 50 chibatadas durante 20 semanas, depois das orações de 6º feira, para tudo ficar na graça de Alá. Um feito, entre muitos outros, que fazem Abdullah ser lembrado como um rei democrata não só pelo secretário-geral da ONU, mas também por John Kerry e, como tal, com direito a bandeiras a meia haste no Reino Unido.

Aliado de sempre do Ocidente, ou não fosse ele o elo mais seguro da ligação intima entre o dólar e o preço do crude, os celebrados petrodólares que vão sustentando a mentira da economia norte-americana, conhecido financiador de grupos islamitas radicais, da Al-Qaeda ao Estado Islâmico apesar de uma lei promulgada em 2013, proibindo o financiamento de grupos terroristas, para aliados se calarem. Todo o mundo sabe que a Casa Saud, seguidora e impulsionadora do radicalismo wahabita, continua a despejar centenas de milhares de dólares nos bolsos dos radicais islâmicos. É por este tirano que os sinos ocidentais dobram!

Vale tudo para essa gentalha ocidental sem qualquer dignidade ou princípios. É assombroso, nauseante, se alguma coisa ainda nos possa espantar do cinismo e hipocrisia dos países defensores dos valores democráticos ocidentais, que Christine Lagarde, se una a esse coro apologético, para lembrar Abdullah como um defensor dos direitos das mulheres! Isto num país onde as mulheres são proibidas de conduzir, têm o direito a voto muitíssimo controlado, onde mesmo quatro das filhas de tão democrático monarca foram condenadas a catorze anos de reclusão porque ousaram reivindicar um mínimo de direitos, nessa sociedade duramente tutelada pelos homens.

O próprio Abdullah ao ouvir essas louvações deve dar voltas e reviravoltas no túmulo. Não vai ter mais descanso!

Morre agora esse contumaz violador dos direitos humanos, amortalhado por valores democráticos que nunca defendeu em vida. Um imundo e pestilento espectáculo que diz tudo sobre os dirigentes do mundo ocidental e da sua corte.

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John McCain, O Estado Islâmico, O Comentário de um leitor

McCain

Li no meu “smartphone” um comentário de Manuel Rodrigues ao meu post “O Califado Islâmico e os Estados Unidos da América”. Queria-o aprovar para lhe responder. Por um lapso e pouca destreza nessas manipulações, são dois “botões” Aprovar/Spam,contíguos, carreguei em spamj. Apaguei, contra vontade, o comentário de Manuel Rodrigues. Tentei em vão recuperá-lo. Por outras actividades fui adiando a resposta que, hoje faço por considerar importante esclarecer alguns pontos.

O comentário de Manuel Rodrigues, cito de memória,me cingindo-me ao essencial do seu comentário tem dois pontos centrais:

1- Michel Chossudovsky, seria um louco com a mania da perseguição e por isso foi demitido da universidade

2- A foto que anexei de John McCain, em que também figurava Abu Bakr al-Baghdadi, o actual proclamado Califa do Estado Islâmico era uma hoax, pelo que eu deveria ter , no futuro cuidado com as minhas fontes de informação.

  1. Michel Chossudovsky, foi demitido da Universidade onde ensinava por causa de se opor ao pensamento dominante nas suas múltiplas faces e intervenções, não por ser louco” nem ter “a mania da perseguição”. È por essa ser a prática comum, normal, regular das universidades norte-americanas e canadianas, quando se ultrapassam as linhas consideradas admissíveis, pela “democracia”, num determinado momento histórico. Alain Badiou, num seminário sobre Platão, na École Normale Superieur, em 2008, fez uma interessantíssima consideração sobre esse tema:”O objectivo da propaganda inimiga não é aniquilar uma força existente (função que em geral é confiada às forças da polícia) mas antes aniquilar uma possibilidade desapercebida da situação”. Por isso a propaganda inimiga de uma política emancipatória ou que ponha em causa alguns dos seus aspectos estruturais , que coloquem em questão as suas acções, as suas estratégias que visam perpetuar o eatado das coisas, uma convicção resignada de que o mundo em que vivemos, sem ser o melhor dos mundos, é o único possível. Quando se ultrapassam as linhas demarcadas, põe-se em marcha sistemas de força, em último recurso o uso das forças policiais. Quando consideraram que Michel Chossudovsky tinha ultrapassado o ponto em que já não era só perigoso quanto baste, demitiram-no, o primeiro passo da intimidação. O processo é conhecido, lembre-se Norman Finkelstein, também professor emérito, demitido da universidade onde ensinava, State University of New York por ter enfrentado o poderosíssimo lobie judaico dos EUA, publicando o livro “ A Indústria do Holocausto- Reflexões sobre a Exploração do Sofrimento dos Judeus”. Filho de sobreviventes do gueto de Varsóvia e dos campos de concentração nazis, anti-sionista convicto, faz uma fundamentada denúncia dos mecanismos de que os sionistas se servem para retirar proveitos tanto económicos como políticos. do Holocausto. É mais um judeu a quem a direita, a extrema direita judaica e os seus aliados não perdoam, como não perdoaram a Hanna Arendt e a Michel Chossudovsky. Uma longa linhagem de académicos, jornalistas, políticos que o Império e seus aliados pretendem silenciar, usando dos arsenais de que dispõem, usando-os nas doses que consideram necessárias em cada caso.

    Manuel Rodrigues deveria ler “Globalização da Pobreza” de Michel Chossudovsky. Leia a entrevista que deu ao I avisando para os perigos de uma 3ª guerra mundial. Verá que louco não tem nada. Agora, até Paul Craig Roberts, antigo membro do governo Reagan, considera a 3 ª Guerra Mundial, uma possibilidade real. Mais real, quando o dólar perde terreno aceleradamente. Na última semana mais um país deixou de comerciar com a China em dólares, a Alemanha. A lista começa a ser extensa e a atingir insuspeitos países. O desmoronar do império , assente no petrodolar, no dolar como moeda de troca e de reserva mundiais, está cada vez mais iminente. Demorará anos, quantos será díficil prever. Só que o império é a maior potência militar, dispondo de uma extensa rede de bases militares espalhadas por todo o mundo.

  2. As minhas fontes de informação são variadas. Achei interessante e bem sintetizada a situação nos 26 pontos em que por Michel Chossudovsky as fixou. Acabam por estar todos contidos nos artigos publicados no The Independent de Robert Fisk, provavelmente o mais bem informado jornalista e comentador político em questões do Médio Oriente. Não sei se algum daqueles pontos lhe merece contradita, ou mesmo todos, o que se pode pressupor do modo como classifica o autor, arrumando de uma penada o assunto.

  3. A foto de John McCain, não foi logo denunciada como uma montagem. O primeiro passo foi o do senador, meios próximos do senador, alegavam que nessa e outras fotos, como outra onde figura Mohammad Nour,, da Frente Tempestade do Norte ,da Al-Nosra, a Al-Qaeda da Síria, se terem infiltrado e John McCain não os conhecia. Vamos admitir que essa versão é verdadeira. John McCain poderia não os conhecer mas as fotografias foram publicadas na sequência de reuniões com o estado maior do Exército Sírio Livre (ESL) organizadas pela Syrian Emergency Task Force (SETF), curiosamente uma organização sionista dirigida por um funcionário palestino Mouaz Moustafa, um perito do Washington Institute for Near East Policy, uma das várias organizações criadas AIPAC, o lobie pró-israelita nos EUA.

    John McCain foi, ilegalmente à Síria, a convite SETF, reuniu-se, nos arredores de Idleb, em 27 de fevereiro o estado-maior do chamado Exército Sírio Livre. O comandante era o general Salim Idriss, um dissidente do regime de Assad. Nessa altura faziam parte desse estado- maior, o braço sírio da Al Qaeda e do EIL. Todos figuram nessa fotografia agora “denunciada” como montagem. O que seria muito estranho é que os membros do estado-maior do Exército Sírio Livre não participassem nessa reunião. John McCain, na sequência dessa reunião afirmou que os responsáveis do Exército Livre da Síria, “eram moderados em que se podia confiar”(…)”a organização era composta exclusivamente por sírios, que combatiam pela liberdade contra a ditadura alauíta”. Isto numa altura em que já era claro que brigadas de jihadistas, cometiam barbaridades na luta contra as forças governamentais da Síria.

    Refira-se que, embalados pelo apoio e financiamento dado pelos EUA directa e indirectamente ao Estado Islâmico, a Arábia Saudita, segura, forte e antiga aliada dos EUA na região, reivindicou, no seu canal público de televisão, Al-Arabiya, que o Emirado Islâmico estava colocado sob a autoridade do príncipe Abdul Rahman al-Faisal, irmão do príncipe Saud al Faisal (Ministro dos Negócios Estrangeiros) e do príncipe Turki al-Faisal (embaixador saudita nos Estados Unidos e no Reino Unido). Agora também se demarcam.

    Sublinhe-se que um mês antes, Ibrahim al-Badri, com o nome de guerra Abu Bakr al-Baghadi, tinha criado o estado Islâmico do Levante (EIIL) , continuando a pertencer ao “muito moderado” estado-maior do Exército Sírio Livre. Sublinhe-se também que desde 4 de Outubro de 2011, Ibrahim al-Badri, também conhecido por Abu Du’a, figura na lista dos cinco terroristas mais procurados pelos EUA, que ofereciam uma recompensa de 10 milhões de dólares a quem ajudasse à sua captura. Nem o Exército Sírio Livre, nem a Syrian Emergency Task Force, nem o senador nem os seus acompanhantes reclamaram a recompensa. Pelo contrário cosnspiravam contra o regime sírio com esse membro efectivo do “muito moderado” estado maior do ESL.

    Mais tarde, John McCain numa entrevista à Fox News admite estar em permanente contacto com as forças que combatem Bashar al-Assad. nomeadamente o EILL. Dá o exemplo da sua experiência no Vietname, para reforçar a ideia que se deve continuar a apoiar todas as forças rebeldes no terreno, que lutam contra a República Síria. Será uma montagem da Fox News?McCainObama

  4. John McCain, candidato derrotado por Obama em 2008, agora como seu opositor, tem a melhor cobertura que poderia ter. Continua a viajar por todo o mundo, excepto países onde por causa das suas actividades a sua entrada está interdita trabalhando de facto como um agente da política de Washington. É o homem político dos EUA que mais viaja. Está em todas, seja na Venezuela num falhado golpe de estado contra Hugo Chavez, na Ucrânia com um bem sucedido golpe de estado contra Vytor Yanukovych, seja nas “primaveras árabes”

    É presidente do International Republican Institute (Instituto Republicano Internacional-ndT) (IRI), uma ONG que é o ramo republicano do NED/CIA , desde Janeiro de 1993. Essa pretensa «ONG» foi criada, oficialmente, pelo presidente Ronald Reagan para alargar certas actividades da CIA, em cooperação com os serviços secretos britânicos, canadianos e australianos. Contrariamente às suas alegações é, de facto, uma agência inter-governamental. O seu orçamento é aprovado pelo Congresso, numa rubrica orçamental dependente da Secretaria de Estado Homem sem escrúpulos, e um consumado manipulador, Se os seus interlocutores aprovam as políticas da Casa Branca, promete-lhes auxílio, se as combatem, atira as responsabilidades para cima do presidente Obama.

    A sua ligação à Síria, não sendo recente, tem um ponto próximo importante em 4 de Fevereiro de 2011 quando se reuniu, no Cairo, para apoiar o eclodir das primaveras árabes na Líbia e a Síria. Foi um dos destacados participantes nesse encontro, presidindo a algumas sessões desse simpósio. Entre outros destacados participantes estava Mahamoud Jibrill, antigo número dois do governo de Kadhafi, e uma larga delegação da oposição síria no exílio.

    A 22 de Fevereiro estava no Líbano com membros da Corrente do Futuro, partido de Saad Hariri que encarregou de supervisionar as transferências de armas para a Síria. Foi inspeccionar a fronteira libanesa-síria. Escolheu Ersal e algumas outras aldeias para servirem de base da retaguarda da guerra que se ia desencadear.

  5. Nos tempos mais próximos o califado apelida o senador McCain de “inimigo” e “cruzado”. O senador contra atacou rapidamente, publicando um comunicado em que qualifica o Emirato de ser “o mais perigoso grupo terrorista do mundo”. Dessas cambalhotas John McCain tem vasta experiência. Ontem inimigos, hoje amigos, amanhã, novamente inimigos, depois de amanhã logo se verá.

    No Cairo, a regar e adubar as primaveras árabes, também esteve reunido com dois membros do International Republican Institute, John Tomalaszewki e Sam LaHood, que tiveram que se refugiar na embaixada dos EUA acusados de pertencerem ao comité, em que participavam os Irmãos Muçulmanos, que preparou o golpe que derrubou Hosni Mubarak. Foram libertados por Mohamed Morsi, quando este se tornou presidente e antes de ser preso e dos Irmãos Muçulmanos serem agora podados de terroristas. Não conhecemos nenhuma declaração de John McCain declarando os Irmãos Muçulmanos terroristas.

    A galeria entretém-se com estes inquietantes espectáculos públicos e gratuitos que levantam nuvens de areia para os palcos onde movem os peões dos tabuleiros geo estratégia do império que não têm quaisquer escrúpulos ou ética.

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O CALIFADO ISLÂMICO e os ESTADOS UNIDOS da AMÉRICA

Michel Cossudovsky, Professor Emérito da Universidade de Otava, Canadá, destacado economista, escritor e investigador, professor convidado em universidades de todo o mundo, conselheiro de governos de países em desenvolvimento é, desde 1999, um activo participante na Fundação Transnacional para a Luta pela Paz. Em 2001 fundou o Centro de Investigação da Globalização (CIG). Em Portugal tem um livro editado A Globalização da Pobreza, a Nova Ordem Mundial.

Agora, no âmbito da sua actividade no CIG, publicou na página da internet desse instituto um estudo sobre a relação entre o Estado Islâmico (EI) e os Estados Unidos da América (EUA), que sintetizou em 26 itens-conceitos, em que expõe com clareza os factos que fundamentam a sua opinião

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O ESTADO ISLÂMICO (EI)

  1. A Al Qaeda e as organizações a que deu origem, foram apoiadas pelos EUA durante quase quarenta anos, quando se iniciou a guerra afegã-soviética (1979-1989)

  2. num período de dez anos, entre 1982-1992, crca de 35 000 jihadistas, oriundos de 43 países, foram recrutados para a jihad afegã e trinados nos campos de treino da CIA no Paquistão. Milhares de anúncios, pagos pelos EUA, foram colocados em meios de comunicação social de todo o mundo, motivando os jovens para a jihad.

  3. A universidade de Nebraska (EUA) publicou livros de promoção do jihadismo, que foram distribuidos nas escolas do Afeganistão, daquela época

  4. Osama bin Laden, o terrorista “número 1” para os EUA, foi recrutado pela CIA em 1979, quando se iniciou a guerra jihadista patrocinada pelos EUA contra a União Soviŕtica no Afeganistão.Teria 22 anos quando terminou o seu treino no campo de guerrilhas da CIA

  5. Ronald Reagan, quadragésimo presidente dos EUA, chamou aos terroristas da Al Qaeda de “combatentes da liberdade”. O governo dos EUA forneceu armas às brigadas islâmicas para a sua luta contra a União Soviética. A mudança de regime no Kremlin, levou ao fim do regime secular no Afeganistão.

Reagan

Ronald Reagan reunido com os “combatentes pela liberdade”antes de serem “terroristas” parsa voltarem a ser “combatentes pela liberdade” e novamente “terroristas” e novemente…

  1. O Estado Islâmico (EI)começou por ser uma entidade filiada na Al Qaeda, criada pelos serviços secretos norte-americanos, com ao apoio do MI6 britânico , a Mossad israelita e os serviços secretos do Paquistão e da Arábia Saudita.

  2. As brigadas do EI pariciparam com o apoio dos EUA e da NATO na guerra civil na Síria contra o governo de Bashar al Assad.

  3. A NATO e altos funcionários turcos foram os responsáveis pelo recrutamento dos militantes do Estado Islâmico e da al-Nusra(grupo radical islâmico) desde o inicio do conflito na Síria em 2011.

  4. Nas fileiras do EI há uma representação do exército e dos serviços secretos ocidentais. Por isso o MI6 britânico participou no treino dos rebeldes em território sírio.

  5. Num noticiário da CNN de 9 de dezembro de 2012, um alto funcionário dos EUA e vários diplomatas de topo, admitiram que os EUA e alguns aliados europeus enviaram militares especializados em armas químicas, para treinarem os rebeldes sírios a usarem as armas quimicas dos arsenais da Síria.

  6. A prática do EI de decapitações faz parte do treino e dos programas de treino dos jihadistas por especialistas da Arábia Saudita e Qatar

  7. Ã Arábia Saudita, aliado de primeira linha dos EUA, libertou das suas prisões milhares de condenados com a condição de se juntarem às fileiras da EI, pra lutarem contra Assad na Síria.

  8. Israel apoiou as brigadas do EI e da al-Nusra nos Montes Golã, um território disputado pela Síria e por Israel (que o ocupou de pois da guerra dos seis dias). Em fevereiro de 2014, o primeiro ministro israelita, Benjamin Netanyahu, visitou um hospital na fronteira e apertou as mãos de rebeldes sírios feridos.

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O primeiro-ministro israelista Benjamin Netanyahu desejando as melhoras a um “terrorista”quando  voltou a ser um “combatente pela liberdade”

SÍRIA e IRAQUE

  1. O EI funciona como guarda avançada militar dos interesses dos EUA e seus aliados, provocando o caos político e a destruição económica da Síria e do Iraque

  2. O actual senador dos EUA John Mccain teve uma reunião com os líderes terroristas jihadistas militantes do EI, na Síria.

  3. O Estado Islâmico, que supostamente resiste aos bombardeamentos da coligação liderada pelos EUA, continua a receber ajuda militar secreta dos EUA

  4. Os bombardeamentos dos EUA e seus aliados têm sido mais dirigidos às infraestruturas económicas, particularmente fábricas e refinarias petrolíferas.

  5. O projecto do Califado integra-se perfeitamente na agenda da política externa dos EUA, que desde há muitos anos tem o objectivo de retalhar o Iraque e a Síria, em três territórios separados, uma República Curda, um Califado Islâmico Sunita e uma República Xiita.

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O senador John McCain, em 2012, reuniu-se na Síria com os “combatentes pela liberdade”,dando-lhes total apoio. Entre eles Abu Bakr al-Baghdadi, antes de ser proclamado califa.O apoio do senador deve ter sido decisivo para esse”combatente pela liberdade” assumir esse cargo de um estado, por enquanto, “terrorista”

A GUERRA CONTRA O TERRORISMO

  1. A guerra contra o terrorismo, uma campanha iniciada em 2011 pelos EUA e outros membros da NATO apresenta-se como um “choque de civilizações”, quando na realidade persegue objectivos económicos e estratégicos.

  2. Os EUA apoiou secretamente entidades filiadas na Al-Qaeda no mMédio Oriente, África Sudsahariana e Ásia para criar conflitos internos e destabilizar paises independentes

  3. Entre esses grupos estão o Boko Haram na Nigéria, o Grupo de Combate Islâmico na Líbia, o Jemaah Islamiya na Indonésia

  4. As organizações filiadas na Al Qaeda na região autónoma de Xinjiang Uigur na China, também recebem apoio norte-americano. O objectivo declarado das organizações jihadistas é estabelecer um califado islâmico no oeste da China.

  5. O paradoxo consiste em que enquanto o EI cresceu graças ao apoio norte-americano, o objectivo estratégico dos EUA, é a luta contra o islamismo radical do grupo jihadista.

  6. A ameaça terrorista é uma criação puramente dos EUA, promovida por outros governos ocidentais e pela comunicação social. O suposto objectivo da protecção da vida dos cidadãos, promove uma violação maciça das libardades civis e da privacidade pessoal.

  7. A campanha antiterrorista contra a Al Qaeda e o Estado Islâmico tem contribuído para a demonização dos muçulumanos que são associados às inomináveis crueldades dos jihadistas

  8. Quem questionar a “guerra contra o terrorismo” é declarado terrorista ao abrigo das numerosas leis aprovadas na úlktima década nos EUA.

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Política

E se chega à Arábia Saudita?

O movimento de derrube de ditadores e poderes autoritários tem contado com uma generalizada simpatia um pouco por toda a Europa. Mas, à medida que os países produtores de petróleo da região são afectados por esse fogo incontrolável, começa-se-nos a formar um nó na garganta sempre que nos anunciam os novos preços dos combustíveis.

Um fogo ameaça uma região do planeta, o Magrebe e a península arábica, onde se concentram oito dos maiores exportadores mundiais de petróleo, com uma fantástica capacidade conjugada de 17.309 milhões de barris/dia (dados de 2008).

Os acontecimentos na Líbia começaram por beneficiar da simpatia geral. Mas, conforme nos vamos apercebendo das suas consequências, internas e externas, podemos perceber que estamos perante uma das mais importantes mudanças estratégicas das últimas décadas. Se a Tunísia e o Egipto não são relevantes para o abastecimento de hidrocarbonetos à Europa (desconte-se a importância estratégica do canal de Suez na sua circulação), já o mesmo não se passa com a Líbia. O sector petrolífero líbio exportou, em 2008, 1,597 milhões de barris/dia (sendo então o 12º exportador mundial), produto que é responsável por 95% das exportações deste país.

Da Líbia, em caso de derrota de M. Kadaffy, é previsível que resulte a fragmentação do país. As estruturas institucionais do Estado, pouco consolidadas, não parecem poder resistir à guerra civil instalada. Sem um exército unificado (ao invés do que aparenta ser a situação egípcia) as perspectivas de evolução serão muito escassas. O espectro da desagregação ocorrida na Somália não é de excluir. A agravar-se a actual desgraça líbia, resultarão problemas como refugiados, a desagregação do Estado, a “balcanização” de diversas áreas do país e o controlo do acesso ao petróleo e gás… isto sem contar com a destruição e morte que parecem estar em curso e cujo desfecho será ditado pelas armas e não pelo bom senso político – que, apesar de tudo, imperou, com danos relativos, na Tunísia e no Egipto. Continuar a ler

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