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Refugiados, Europa, EUA, NATO, Teoria do Caos

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OS REFUGIADOS E A UNIÃO EUROPEIA

A crise desencadeada na Europa pelas sucessivas vagas de refugiados, provocada pelo caos político e económico que foi instalado no norte de África, na África subsahariana e no Médio Oriente é gravíssima. É um drama humanitário brutal, com uma dimensão inusitada, de enormes consequências ainda não totalmente mensuráveis.

Todos os dias notícias e imagens registam episódios alarmantes desse exodo que parece não ter fim. A Europa, a União Europeia começou por não se aperceber da real dimensão da crise dos refugiados. Com o aumento do afluxo diário de homens , mulheres e crianças, com a evidência dos perigos e das mortes provocadas pelas precárias condições que enfrentam os que fogem às guerras e à desordem instalada pela guerra nos seus países de origem, a coesão e solidariedade europeias estalaram o verniz que escondia o que, de facto, não existia na Europa Connosco já bem vísivel nas políticas de austeridade impostas pela Alemanha por interposta Comissão Europeia e suas extensões. Julgavam mal e, vamos dar-lhes o benefício da dúvida, ingenuamente os europeístas mais convictos que os países da UE partilhariam auas responsabilidades a que a pertença ao espaço comunitário automaticamente obrigaria. Toda a história, sobretudo a mais recente, demonstra que essa partilha de responsabilidades no espaço comunitário é uma quase ficção, digna de romances policiais. As disputas económico-financeiras entre os países comunitários, nos mais diversos níveis, são o palco onde essa solidariedade é traída e assassinada com requintes de tragédias shakespereanas.

Em relação à vaga de refugiados acabou por se estabelecer um regime de quotas que só abrange 66 mil desses refugiados, adiando-se para um futuro próximo o destino de outros tantos que, teoricamente serão sujeitos às mesmas regras de proporcionalidade. A aprovação dessa medida vinculativa para os 28 ignorou a oposição às quotas propostas por Bruxelas dos que votaram contra: Eslováquia, Roménia, República Checa e Hungria, a Finlândia absteve-se. No passo seguinte Robert Fisco, primeiro-ministro eslovaco, disse logo que não aceita qualquer imposição da UE relativamente ao acolhimento de refugiados e que irá violar as regras europeias. Disse o que outros pensam e irão certamente fazer, apesar das ameaças, muito pouco diplomáticas do ministro do Interior alemão de cortar fundos comunitários aos países que não acolhessem refugiados. Sanção aos que recusassem aceitar os fugitivos, ao arrepio da súbita generosidade de Ângela Merkel, que abre o coração aos refugiados com a mesma facilidade com que o fechou a cadeado aos gregos. Mistérios pouco misteriosos para quem estiver atento às declarações da confederação patronal germânica. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Órban nunca escondeu ou disfarçou a sua convicção que os refugiados são uma ameaça para a Europa e sempre agiu em conformidade. O partido de Órban integra o Partido Popular Europeu, a que pertencem a CDU de Angela Merkel, o PSD e o CDS, eles que se entendam como se têm entendido em relação às políticas de austeridade. Os já referidos europeístas gostariam que dentro do PPE se demarcassem os campos em relação a essa questão. Um modo de salvar a face democrática na defesa dos chamados valores da civilização ocidental. Um processo também de distrair o mundo sobre as reais razões que provocaram esta crise dos refugiados, de não assumir as responsabilidades sobre o desencadear desta crise, de ocultar as políticas que conduziram a esta crise, em que a Europa comunitária é sujeito activo e passivo.

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A TEORIA DO CAOS

Não é de estranhar que no meio da lava noticiosa que se derrama sobre o mundo, pouco ou mesmo nada se refira sobre o que provocou esta hetacombe. Mesmo as notícias da actualidade sobre a Síria, um dos maiores contribuintes para a onda de fugitivos, mascaram a realidade. Se desde o principio o objectivo de derrubar Assad, em nome dos direitos humanos e da democracia, era de uma hipocrisia extrema e escondia o verdadeiro objectivo de os EUA redesenharem o mapa do Médio Oriente para o submeterem totalmente aos seus interesses geo-estratégicos e conómicos. Assad é um ditador, a Síria não é uma democracia como o Ocidente a entende, mas Assad é, se comparado com aliados árabes dos EUA, quase um democrata. Por esse caminho, estamos conversados. A guerra civil instalada na Síria pela mão dos EUA, NATO e seus aliados árabes e turcos foi montada com exércitos mercenários que rapidamente se passaram com armas e bagagens para a Al-Qaeda e para o Estado Islâmico. Nos últimos dias os soldados treinados, financiados e municiados pelos EUA, para engrossarem as fileiras de um suposto exército de libertação da Síria afecto à oposição “moderada” ao regime de Assad, mal passaram a fronteira turca-síria foram, versão oficial estadodinense “capturados” pela frente Al-Nostra, a Al-Qaeda síria, o que é contrariado por uma mensagem no twitter de um homem forte dessa Frente, Abou Fahd al-Tunis: “o novo grupo da Divisão 30 que entrou na Síria ontem (dia 21) emtregou todas as suas armas à Frente Al-Nostra. Entregaram uma grande quantidade de munições, armas e pick-ups artilhadas.” Todos os antecedentes tornam a versão oficial rísivel e dão razão a Putin e às suas propostas de combate ao Estado Islâmico, a que os EUA fazem orelhas moucas.

Esse é mais um episódio de uma estratégia que vem de longe e que teve os seus últimos desenvolvimentos no Afeganistão, Balcãs, Iraque, Líbia, Síria, Iemen, Ucrania, para referir os teatros de guerra mais sangrentos. Estratégia que se desenhou há dezenas de anos. As estratégias são desenhadas a longo prazo os desnvolvimentos táticos é que são diversos. É a Teoria do Caos imposta pelos neo-conservadores, os neo-cons, que se instalaram no poder nos anos Reagan e Georges W. Bush. Tem sido, com geometrias variáveis, posta em prática pelos sucessivos inquilinos da Casa Branca, uma demonstração das virtualidades da bipolarização, da transmissão de poderes entre os partidos ditos do arco governativo como se pode apreciar em todo o mundo.

A Teoria do Caos que tem por mentor intelectual Leo Strauss. Foi iniciada nos anos 90 a seguir ao desmembramento da União Soviética., a sua teorização é muito anterior e surge em paralelo com a entrada em cena dos neoscons. O acento tónico é colocado na política externa dos EUA para manter a supremacia mundial como superpotência. Vem de mais longe, já em 1979 Irving Kristol, um intelectual e jornalista ex-trotskista, foi o primeiro a afirmar-se como neoconservador e explicou ao que vinha numa artigo com o sugestivo título “Confessions of a True, Self-Confessed ‘Neoconservative”, nas entrelinhas podia-se advinhar o que aí viria.

O grande teórico dessa política pós-moderna neoconservadora é Leo Straass que tem uma enorme influência nesse poderoso grupo da inteligentsia norte-americana. Encapota-se e é apresentado como um demoliberal, um defensor da democracia liberal. Uma leitura, mesmo rápida, do seu livro mais famoso e mais difundido, Direito Natural e História (Edições 70/2009), revela que ele considera que as massas não são capazes de aceitar a verdade, nem de ser livres e que entregar esses valores ao vulgo é quase como atirar pérolas a porcos. Que a condição natural humana não é a liberdade mas a subordinação, o serem conduzidos por políticos sábios. O direito natural é o direito das mentes superiores e esclarecidas governarem os inferiores, dos empreendedores sobre os empregados, mesmo dos maridos sobre as esposas. Leo Strauss, democrata? Com uma enviesada concepção de democracia. Mas não ficam por aqui os teoremas de Strauss. Como admirador de Maquiavel, vai além de Maquiavel. Os meios justificam os fins mas é imperioso o mais completo segredo para proteger as élites de possíveis dúvidas e/ou represálias. As mentiras são necessárias sempre que os resultados as justifiquem. Claro que Leo Strauss não nega as mentiras que explicaram a invasão do Iraque. Achou correcto que a administração Bush as utilizasse para mudar o regime iraquiano. Christopher Hitchens, um seguidor de Strauss, na primeira linha dos defensores da invasão do Iraque, escreveu um artigo com um título que não deixa lugar a dúvidas  Machiavelli in Mesopotamia. Leo Strauss um demoliberal? Uma maquiavélica mentira.

É nesse caldo de cultura, nessa escola intelectual de Leo Strauss, que se formam os neoconservadores e parte substancial da administração norte americana, democrata ou republicana. É aí que se encontram as raízes das teorias de Fukuyama, O Fim da História e o Último Homem (Gradiva/1999) Um dos seus mais destacdos representantes é Paul Wolfowitz, embaixador dos EUA na Indonésia na altura da invasão de Timor que aprovou os massacres em Dili, poderoso Secretário da Defesa do governo de Georfes W. Bush, mais tarde governador do Banco Mundial. Um defensor acérrimo da supremacia militar norte-americana, opõe-se decidamente a todas as potências rivais, nomeadamente a aliada União Europeia.

Aqui entra Teoria do Caos. Em que é que a União Europeia pode comstituir um perigo para a supremacia dos EUA? Firme aliado e seguidor das políticas atlantistas, a UE inventa uma moeda, o euro, que vai concorrer com o dolar. Faça-se uma rápida e sintética revisão histórica. No fim da Segunda Guerra Mundial , na  Conferência de Bretton-Woods, julho de 1944, foi imposto o padrão dolar-ouro. Nessa conferência foram criados o  Banco Mundial, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o GATT( Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras). Os objectivos eram estimular o desenvolvimento capitalista, bem como a reconstrução e estabilidade económica global. Nos anos 60 a economia dos EUA tem sinais de crise. A Guerra Fria, o desenvolvimento económico de outros países, nomeadamente do Japão e da Alemanha, o crescente endividamento começam a preocupar a administração dos EUA. Sinais que se foram agravando ao longo da década. Nos finais dos anos 60, a libra esterlina, ainda usada, embora residualmente, como moeda nas trocas internacionais sofre um forte ataque especulativo, deprecia-se e desaparece de cena. Estão criadas todas as condições para Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos em 15 de agosto de 1971, acabar com a paridade dólar-ouro, decisão ratificada, oytra coisa não seria de esperar, pelo FMI em 1973. Dali por diante, a moeda norte-americana seria apenas uma “fiat currency” ou seja, o ouro não seria mais o garante do valor do dólar, seria , foi substituído pela palavra do governo americano, respaldada no seu tesouro nacional. Essa manobra possibilitou uma outra de ordem contabilistica que, de uma assentada, reduziu em 35% a dívida dos EUA. O dolar, depois os petrodolares, estavam com o campo livre e aberto para todas as manobras financeiras, a maior das quais a de obrigarem indirectamente os países do mundo inteiro a financiarem o seu endividamento crescente, que atinge hoje números astronómicos: 60 biliões de dolares, um quarto da dívida mundial.

O euro surge como uma ameaça para o império do dolar. Ameaça agora agravada pelo progressivo abandono do dolar como moeda de troca no comércio internacional. Dos dois maiores pilares em que assenta a política de supremacia mundial dos EUA, o poder militar e a moeda, um está em risco, em rico muito sério de um dia vermos a nota verde com o valor das notas do jogo do monopólio.

Para continuar a manter essa supremacia mundial, Strauss e os seus seguidores neocons, estabelecem que a forma mais eficaz dos EUA defenderem os seus interesses, garantindo o acesso regular às matérias primas, à definição do seu preço de mercado e ao domínio dos mercados mundiais é pelo cerco a esses países ou blocos de países, instalando o caos nas suas fronteiras.

Wolfowitz, apurou essa teoria, defende que a defesa supremacia global norte-americana exige o controlo militar, político e económico sobre a União Europeia, para que esta não se torne uma potência capaz de rivalizar com os Estados Unidos. Um aliado para trazer pela trela. É pela mão de Wolfowitz que se tramam as invasões do Afeganistão e Iraque, sempre com a NATO implicada, com ou sem apoio legitimado pela ONU. Vale tudo mesmo as cenas patéticas de Colin Powell a ver se endrominava o Conselho de Segurança com mapas falsificados. Nada, nem nenhum vício lógico, trava essa gente. Depois dele todos os outros, de Condoleza Rice a John Kerry passando por Hilary Clinton, têm semeado o caos nos Balcãs, na Somália, na Líbia, no Mali, na Nigéria, na Síria, no Iémen, na Ucrânia.

Quem ainda possa pensar que a Teoria do Caos de Strauss e a sua sucessora delineada por Wolfowitz, são delírios conspirativos na base de um quadro mental que só consegue olhar com desconfiança para os beneméritos democratas norteamericanos, devia por um minuto desligar a cabeça para a reactivar emergindo da ganga propagandistica amestrada e difundida pelas inúmeras agências dos EUA, o seu braço armado NATO, os seus aliados que prestam um inestimável serviço aos desígnios estratégicos do império.

A hetacombe que desaba na Europa, com toda a tragédia humana que provoca, o caos que se vive na Europa que está e atravessa as suas fronteiras associado a um perigosíssimo recrusdecismento da xenofobia e do terrorismo nazi-fascista é real. Vê-se á vista desarmada e só quem é ignorante ou ingénuo ou se quer fazer passar por ignorante ou ingénuo é que não vê que os resultados beneficiam o complexo militar, político, económico e financeiro que domina o mundo sob as bandeiras dos Estados Unidos e da NATO.

A Teoria do Caos não é um mito. Existe, está escrita e teoricamente desenvolvida para quem a quiser ler. Alguns dos seus escaninhos mais tenebrosos até já foram parcialmente revelados em artigos publicados no New York Times e no Washington Post, na base de alguns documentos desclassificados. Uma conspiração secreta ameaça o mundo. Os sinais são cada vez mais evidentes.

Uma terceira guerra mundial está em marcha por interpostos países. Até o Papa Francisco já denunciou, na Semana Santa, que se está a viver uma Terceira Guerra Mundial em pedaços.

Não denunciar este estado de coisas, pensar que são delírios conspirativos, é caminhar num barranco de cegos. Ser cúmplice mesmo que com alma sangrando ao ver fotos de crianças mortas nesta fuga desesperada.

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A Europa Connosco em 7 pontos

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1. Angela Merkel e Wolfang  Schaulbe têm um número treinado, bem afinado conhecido há séculos. O do pide bom e do pide mau, com a experiência gestapo. Está em cartaz há vários anos na Europa Connosco. Torturam os povos europeus por interpostos governantes submissos. Sujeitam os recalcitrantes para tudo andar pelos carris das suas ordens.
2. Hollande, Renzi acreditam na primavera merkelliana. Opõem-se até cederem e cedem sempre. Na última representação do teatro de sombras que são as reuniões dos governantes europeus, ficaram muitos satisfeitos por evitar o grexit. A que custos para os gregos e para quê? Salvar o euro que não a Grécia. Remendar os buracos do pano de cena que oculta o palco onde, em sessões contínuas, está em cartaz a comédia-dramática Os Últimos Dias da Europa.
3. Pedro, o Super-Homem de plástico, teve uma ideia e salvou a Europa. Primeira nota, o Pedro também tem ideias, o que o deve deixar exausto, pior do que estar exposto a kriponita. Segunda nota ter ideias para ajudar ao saque e ao esbulho não honra ninguém, mesmo um Passos Coelho.
4.  Marisa Matias tinha a mão no tapete, mas não o puxou com a ilusão que o Syriza e o seu querido Tsipras conseguiriam que a sua (má) proposta fosse aceite pela Alemanha e seus submissos pares europeus. Nada melhor do que ter fé! Depois de Fátima há que acreditar em milagres mesmo contra todas as evidências! E agora, Marisa?
5. A mulher de Alexis Tsipras vai pedir o divórcio? Divorciado do povo grego e de todas as esperanças que andou a espalhar pela Europa já ele está. Merkel e Schaulbe estriparam-nas a sangue frio. Esquecem-se, Tsipras também, que há sempre alguém que resiste.
6. 6. Nas estratégias militares às vitórias de Pirro adicionou-se um novo paradigma: as derrotas de Pirro.
7. No horizonte da Europa anuncia-se um futuro radioso. Depois da derrota do III Reich, o triunfo do IV Reich. Em marcha a transferência efectiva de Bruxelas para Berlim. Os países que não se declararem aliados serão submetidos e transformados em protetorados. A Grécia foi o primeiro. Outros se seguirão. A Solução Final avança!

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Uma bomba de relógio ameaça a europa e a democracia

heratfield É miserável o espectáculo das negociações entre a Grécia e a CEE, BCE e FMI, as reuniões do Eurogrupo e dos primeiros ministros. Uma comédia cínica em que a tragédia grega se consome. Um banquete mal encenado de abutres que em público se disfarçam de pelicanos, com a comunicação social domesticada a sustentá-los, de forma directa ou sinuosa. Nós, portugueses, somos enxovalhados e envergonhados pelas declarações da múmia paralítica que habita em Belém, do texugo Passos Coelho com as suas frases estereotipadas e fedorentas da assexuada pinguim Maria Luís Albuquerque (concorrer com a Merkel não é fácil!) a grasnar inanidades. Todos com a mesma contumácia com que aqui dentro mentem, cometem os maiores desaforos. Olham e lêem a realidade com os seus olhinhos infantis de bandido, a ver se a miséria que plantam, o ogre que alimentam, continuam à solta. Os últimos anos de roubos ao povo português, os rombos no erário público, a venda ao desbarato dos bens públicos, resultaram num enorme e rotundo fracasso. Um gigantesco e assustador monolítico avança a grande velocidade para Portugal, ameaçando-nos: a dívida já é 130% do PIB, há quatro anos era 95%! Os cofres voltaram a estar cheios, mas agora de passivos, de dívidas! A economia continua em coma! A dívida, o serviço de dívida continua imparável, foi empurrado para mais longe! É o caminho certo para o desastre! No horizonte, se não se mudar de política, o caminho de pedras dos gregos.

Cá como lá , a questão de fundo não é económico-financeira! É política! Olhe-se para a Grécia, os números já pouco interessam. Como já tem pouco interessa que a Grécia tenha chegado ao fundo do buraco onde está pela mão do PASOK e da Nova Democracia que, durante seis anos, aplicaram o receituário da troika que provocou a catástrofe actual. Nem interessa se as estratégias negociais da Grécia/Syriza foram incipientes e, por isso, as negociações se complicaram por erros de encenação e representação no teatro de sombras da diplomacia. Nem sequer o mais importante do que está em jogo são os milhões que a Grécia tem que receber para não entrar em bancarrota. Há argumentos que banzam pela falsidade, pela perfídia. Agora, sendo difícil continuar a apoiar as exigências das instituições, apareceu uma nova cáfila de comentadores e jornalistas que dizem compreender a inflexibilidade do FMI, por não ser um organismo político (esta é de morrer a rir!) e por o dinheiro do FMI ser duzentos países, pelo que deve ser seu guardião e defensor. O FMI enquanto ameaça a Grécia se não pagar dois mil milhões de euros, empresta mais 40 mil milhões, a somar a um primeiro empréstimo de 15 mil milhões, à Ucrânia já depois da Rada, o parlamento desse país dirigido por uma camarilha corrupta nazi-fascista, ter aprovado uma lei em que se decreta o não pagamento aos credores! A Ucrânia está e declara-se em bancarrota, o FMI, a CEE e os EUA continuam despreocupadamente a conceder-lhe créditos, sem uma carquilha de hesitação.

É falso que a dimensão da crise grega seja principalmente económica e financeira. A Grécia representa menos que 2% do PIB da CEE. Uma irrelevância! Discutir e encharcar os noticiários com danças e contradança dos números e das medidas propostas ée contrapropostas, é falsear a realidade. A crise grega é uma crise política! A humilhação que a matilha neoliberal quer infligir à Grécia é para que a Grécia se torne um exemplo de como a democracia só existe, só interessa e é aceite se cumprir as regras impostas pelos mandaretes do grande capital, a direita e seus aliados, os socialistas tipo Hollande ou Blair e outros, conjunturalmente mais moderados na via da infidelidade à sua matriz. A esquerda que, mesmo timidamente e sempre de cedência em cedência, ousou enfrentar esses padrões está condenada ao ostracismo. Um aviso aos eleitores dos outros países europeus, votem, votem sempre para fingir que a democracia é um valor universal da civilização ocidental. Se votarem num partido mais à esquerda ficam condenados a serem excluídos da nossa grande famíglia, que procura que o modelo eleitoral se vá apurando até alcançar a grande mistificação do modelo norte-americano em que se escolhe entre hilarys e bushes. Para essa gente o voto só é válido se legitimar o trânsito entre uns e outros, outros e uns que só se diferencia nos pormenores. A máfia democrática o que quer , humilhando o povo grego, a sua vontade expressa nas urnas é condicionar a liberdade de escolha, a liberdade de voto, violar a consciência cívica e política dos cidadãos. O que se quer impor é uma democracia fortemente vigiada.  A democracia do campo de concentração do grande capital, a ditadura dos mercados. Nada disto devia ser inesperado. Se o Syriza acreditava que a Europa iria aceitar a vontade do povo grego, que a solidariedade europeia era mais que uma declaração inscrita num papel é porque não estava preparado para enfrentar a Europa.

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Mudam as marionetas, não mudam os bonecreiros

Foi armado de slogans, atirar-se ao mar de tubarões que a Europa é com os seuss dirigentes marionetas dos grandes grupos financeiros. A crise grega, estes últimos cinco meses, contém grandes ensinamentos e deve provocar grandes preocupações na Esquerda. O Syriza, enredado nos seus ziguezagues ideológicos, está a perder uma oportunidade histórica com uma política de sucessivos recuos, sem ter cavado uma trincheira bem armada onde pudesse resistir e, eventualmente, contra-atacar. A derrota do Syriza, como se está a desenhar, é uma derrota para toda a esquerda, sem poupar nenhuma força de esquerda, das mais coerentes ás mais vacilantes. Do ponto de vista prático não se percebe como é que o Syriza assim que foi empossado não tomou medidas para evitar a fuga de capitais, chegaram aos mil milhões por dia. Como não nacionalizaram bancos, deixando-os em roda livre em conluio com o BCE. Conluio alargado ao Banco Central da Grécia. Sem ferramentas financeiras os 50 000 milhões que existiam no tesouro, nos bancos e nos depósitos, quando formaram goiverno, começaram a desaparecer, antes de mais para pagar a dívida que tonitruantemente diziam não ir pagar ou não pagar com as condições que até aí tinham sido impostas. O plano anti-austeridade do Syriza foi sendo ruidosamente roído pelas instituições, até se chegar a este beco. Deixaram que os recursos que inicialmente dispunham,  fossem pilhados pela União Europeia e seus comparsas, o BCE e o FMI. Enquanto isso, julgavam que a Europa se preocupava com o efeito da saída da Grécia no euro? Ou, do ponto de vista político, que a Europa se assusta com um possível reforço da Aurora Dourada, que Tsipras e Varoufakis a espaços, acenaram? Pensavam que as instituições se comoveriam com o voto do povo grego num programa que punha em causa, a austeridade, apesar de, em muitos pontos, ser evasivo? Depois de a banca privada, sobretudo a alemã e a francesa, ter ficado a salvo de possíveis incumprimentos gregos, para isso serviram os últimos empréstimos e não para apoiar a Grécia a sair do ciclo vicioso que a tritura à meia década, atingido esse desiderato, era previsível que a troika apertasse os cordões à bolsa, continuando a apertar o garrote com medidas de estruturais que são a pirataria mais descarada da economia, das infra estruturas, da já depauperada soberania dos países a bem dos mercados e do capital financeiro.

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A coluna vertebral é a mesma, os protagonistas é que mudam

O maior peso da direita mais radical até ao nazi-fascismo na Europa, mesmo no mundo, não é coisa que cause grande preocupação, tal como num passado ainda recente, aos corifeus europeus. O grande capital europeu e trasantlântico foram grandes suportes da subida de Hitler ao poder, enquanto a esquerda se dilacerava. A história tem sempre lições que não devem ser esquecidas. Para essa gente a vontade de um povo é zero se não estiver em consonância com o poder político a mando do capital financeiro. Não é surpreendente que o Syriza, tal como o Podemos, em Espanha, o Cinco Estrelas, em Itália e o mais que aparecer por essa Europa sempre que necessário, tenha sido acarinhado como uma alternativa à esquerda classificada de tradicional O que não deixa de ser surpreendente é que se descredibilize por culpa própria e seja descredibilizado de maneira tão rápida. Perderam utilidade para os mandatários e ideólogos do pensamento único. Num primeiro momento ainda devem ter calculado que, ao aliarem-se com um partido de direita xenófoba, o ANEL, acabariam por ser aceites. Nos primeiros meses, tudo parecia correr de feição, enquanto o Syriza ia deslocando as suas linhas vermelhas até à beira do abismo de perderem completamente a confiança do povo grego, sobretudo os seus votantes. Terá acreditado o Syriza que a troika se comoveria com a vontade do povo grego e que havia um ponto em que, depois de tantas cedências, aceitaria um programa completamente desfigurado,  mas que mesmo assim, não correspondia totalmente às suas exigências? Aparentemente foi o caminho que seguiram em cinco meses de negociações que lhes demonstravam o contrário. A inépcia política, os princípios cambaleantes, os radicalismos de pacotilha, são o caldo de cultura para, quando chega o momento das decisões estratégicas, seguir sempre o caminho da colaboração, muitas vezes já sem regras, que acaba por deixar os povos sem alternativa.

A Europa range os dentes ao referendo que é a tábua de salvação de um Syriza, de uma certa esquerda, perante um naufrágio anunciado. O referendo é o último recurso para voltarem a ter algum crédito. O problema é que podem ganhar o referendo mas se continuarem pela mesma via a derrota do povo grego está garantida.

A grande ilusão que os Syrizas espalham, que a Grécia demonstra de forma ineludível, é que quando um governo de esquerda chega ao poder tem que assumir medidas para ter poder real. Está condenado à derrota se não as assume. Poder real que só se consegue com o controle, ainda que parcial,  do poder económico, com o controle das alavancas essenciais do poder económico para terem poder político. Sem armas para controlar ou fortemente influenciar o complexo financeiro- industrial, o grande comércio, a grande agro-indústria, os meios de comunicaçâo social, que dominam o aparelho de Estado, ficsm de mãos atadas. Ao não assumir essa frente de luta o Syriza começou por ser saudado, nos grandes órgãos de comunicação social da Europa de da América do Norte, pelo seu realismo político. Os elogios ampliaram-se quando enfrentou internamente, dentro da sua coligação, as tendências de esquerda (Plataforma de Esquerda, Tendência Comunista, Ambientalistas) em nome de um acordo com a Europa, justificando cedências consideráveis, sem perceber, por inépcia política e débil preparação ideológica, que a Europa, tinha por único objectivo prolongar, continuar os programas de austeridade que tinham arrasado a Grécia, atirando-a para níveis de pobreza inimagináveis. O realismo político de Tsipras, o marxismo errático e libertário de Varoufakis, passeando essa nova política de reunião em reunião, de concessão em concessão, foram demonstrando que o que havia de facto de novo era o sem-gravatas, as fraldas da camisa de fora.

A inefável Europa Connosco, através da crise grega, está a enviar um sério aviso aos povos europeus. Deixem-se dessa treta da democracia, da vontade popular. Não podem votar em quem, mesmo que timidamente, belisque os interesses do grande capital. Não se tolerará nem sequer um Syriza! Em Portugal, para esses ditadores de fachada democrática, votar no Partido Comunista Português e seus aliados ou no Bloco de Esquerda só será aceite se a discriminação for garantida. Se forem encerrados num ghetto onde podem esbracejar, vociferar desde que não saíam do ghetto por o ghetto estar bem cercado. Gente avisada, a gente gira de o Livre/Tempo de Avançar preparou-se para a bênção da farsa democrática. Já fez a primeira comunhão. A comunhão solene seguir-se-á. Sabem que Bruxelas, atenta à voz de Berlim, recompensa os traidores.

A derrota do Syriza, por mais fortes e justas críticas que se lhe façam, será uma derrota para toda a Esquerda, não só na Europa mas no mundo. A Esquerda, sem ter que alinhar com o Syriza mas serm necessariamente excluir o Syriza, vive um momento histórico na luta contra a direita de fachada democrática e seus aliados do centro e de uma esquerda latrinária que de esquerda só tem o nome. A procura de alianças à esquerda, por mais difícil e dolorosa que seja, é necessária, sem quebras de princípios fundamentais, com o objectivo bem definido de enfrentar e derrotar a direita e seus comparsas. Tendo bem claro que o poder abstracto, não escrutinado do capital financeiro ocupa largos territórios, que a sua ditadura é bárbara e totalitária. Que já tem, nas linhas recuadas, o nazi-fascismo perfilado no horizonte. Cresce em toda a Europa. Já está no poder, de facto ou lateralmente, na Hungria, na Croácia, na Polónia, nos países bálticos, na Ucrânia. O ovo da serpente está a ser chocado. A luta vai ser áspera e muito dura. A esquerda tem que se realinhar. Será que a lição do Syriza será aprendida? As ilusões espalhadas por esse revisionismo de esquerda, pagam-se caro, e são pagas por toda a esquerda.

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Só não vê o perigo quem não quer ver

As ilustrações utilizadas, do grande artista que foi John Heartfield, devem ser olhadas com a devida distanciação histórica, apesar da sua actualidade

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