Cinismo, Comunicação Social, Confinamento Social, Covid-19, Festa do Avante, Geral, Pandemia, PCP

Uma Festa do Avante! em tempos de crise

A Festa do Avante! desde sempre foi o centro de ataques de outras forças políticas que não têm capacidade político-cultural, e muito menos de militância, para arquitectarem uma Festa como esta

Os cerrados ataques à edição deste ano da Festa do Avante! iniciaram-se quando ainda o PCP avaliava se haveria ou não condições para a realizar, com os óbvios constrangimentos que o combate à pandemia Covid-19 iria impor e para seguir estritamente as normas que a DGS considerasse necessárias para a viabilizar. Fazem parte do arsenal onde se escolhem as armas para atingir, desde a sua fundação, o Partido Comunista Português. Ao longo dos seus quase cem anos de existência, que serão celebrados no próximo ano, muito têm variado, em sintonia com as relações de força existentes em tão longo período de tempo histórico. Não sendo comparáveis as dos tempos da ditadura fascista-salazarista com as actuais, vividas em democracia, visam o mesmo objectivo: combater a resistência e a influência política social e ideológica da única força de esquerda que considera contingente a realidade histórica do capitalismo, por mais consistente e hegemónica que essa realidade se apresente como sucede na actualidade, nunca a aceitando como definitiva. Esse é o nó górdio que os reaccionários dos mais variegados matizes incapazes de o cortar tentam por todos os meios desatar.

Demarcação de distâncias sanitárias no espaço da Festa do Avante!, na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal, a 3 de setembro de 2020. A Festa do Avante! decorre entre 4 e 6 de Setembro. CréditosJosé Sena Goulão / LUSA

A Festa do Avante! desde a sua primeira edição, em 1976 na Feira das Indústrias, esteve sempre na mira das forças reaccionárias. É de lembrar que que essa primeira Festa foi alvo de um atentado bombista que fez explodir uma cabina eléctrica de transformação, deixando às escuras toda a zona do Alto de Santo Amaro e Belém. Só não a inviabilizou porque, com enorme esforço e determinação, esse posto de transformação foi substituído, o que evidenciou grande capacidade de resolução dos problemas. Os tempos são outros, às bombas materiais sucederam-se as imateriais visando menorizar, mesmo denegrir a Festa do Avante!, que logo se impôs como o único e maior evento político-cultural em Portugal, pelo que teve sempre que enfrentar os sucessivos obstáculos que lhe foram sendo colocados. Nos anos seguintes foi obrigada a mudar de lugar, do Vale do Jamor para o Alto da Ajuda, até que Krus Abecassis com argumentos espúrios, em 1987, não cedeu esse espaço, o que inviabilizou pela primeira e única vez a sua realização, originando a campanha de fundos com que se adquiriu a Quinta da Atalaia, onde se fixou.

Outros atentados foram postos em marcha, com destaque para Cavaco Silva, que queria que na lei de Financiamento dos Partidos ficasse expresso que toda e qualquer forma considerada financiamento fosse feita por cheque, contemplando expressamente a Festa do Avante! como incluída nesse quadro, o que faria com que a venda de uma imperial, em qualquer dos sítios da Festa, fosse feita por cheque!!! Também queria que se estipulasse um limite ao financiamento, pelo que a Festa fechava portas atingido esse tecto. O mesmo Cavaco que despudoramente concedeu reformas a Pides e recusou a Salgueiro Maia uma pensão «por serviços excepcionais e relevantes». O objectivo era óbvio, atingir o PCP por interposta Festa do Avante!, sabendo até bem de mais que o PCP se financia com o esforço dos seus militantes e com as suas iniciativas e não com outros dinheiros que, por portas esconsas, escapam a esses rigorismos de pacotilha. Paralelamente a comunicação social corporativa ignorava ou apoucava a forte vertente cultural da Festa que, à sua escala, realizava um programa de democratização da cultura, com a participação de milhares de pessoas, com a qualidade e diversidade dos espectáculos musicais, destaque-se, pela diferença introduzida, o concerto sinfónico que desde 2004 é imagem de marca da abertura, o cinema, o teatro, as exposições de artes plásticas, as manifestações de cultura popular portuguesa e internacional. O que essa comunicação social contra todas as evidências procurava transmitir era de ser uma festa de comes e bebes onde, por vezes, aconteciam coisas pouco recomendáveis, a par de uns espectáculos. A miséria do jornalismo mercenário em todo o seu esplendor.

Painel «Coronavírus não mata direitos», no espaço da Festa do Avante!, na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal, a 3 de setembro de 2020. A Festa do Avante! decorre entre 4 e 6 de Setembro. CréditosJosé Sena Goulão / LUSA

A capacidade de mobilização, militância e imaginação dos comunistas para efectivarem as sucessivas Festa do Avante!, este ano na sua XXIII edição, elogiada mesmo por quem nada tem a ver com o PCP mas não se cega voluntariamente ao que é irrefutável, sempre provocou os mais variados ranger de dentes e foi sempre um alvo a abater. Este ano, a Covid-19 foi a bomba que lhes caiu ao colo. Como nenhum vício lógico os trava, desmultiplicaram-se em argumentários estrepitosos, misturando alhos com bugalhos para demonstrarem que era impossível realizá-la no contexto da crise provocada pela pandemia, dentro das normas genéricas impostas pela DGS para a generalidade dos espectáculos, comparando o que é incomparável, esquecendo-se de referir os vários festivais que aconteceram, muitos escapando a essas normas, nunca referindo que desde a primeira hora o PCP tinha afirmado que só haveria Festa do Avante! se fosse possível cumprir com toda a segurança e rigor a distanciação social exigível e todas as outras condições sanitárias que fossem necessárias. Uma campanha tão intensa e tão bem orquestrada a plantar sorna ou altissonantemente dúvidas e interrogações a par de mentiras sabe, até bem demais, que a propalação de dúvidas, interrogações mesmo que se lhes responda cabalmente e as mentiras sejam desmentidas sem margem para manobras, deixam sempre um rasto que não se apaga.

Nas redes sociais, há mesmo quem apele a que infectados com Covid-19 vão à Festa para deliberadamente infectarem os participantes. Nos comentários e likes, muitos se insurgirem contra tão infame apelo, mas o que parece ser doentiamente excepcional adquire volume pelo número de apoiantes recebido pelo que não se deve menorizar esse item. O que é de estranhar é que essa gente não seja imediatamente alvo de processos jurídicos por, objectivamente, apelarem à propagação de uma doença contagiosa conhecendo os seus devastadores efeitos, o que é um crime. A prole tão preocupada com os perigos de contaminação que existirão na Festa nem isso refere, entrincheirando-se na desvalorização desse rogo como se fosse um desvario descabelado. Na realidade será, mas também é o relógio de uma bomba ainda bem enterrada mas à qual há que rapidamente retirar a espoleta, para não vir à superfície, emparceirando com outras que já têm bastante visibilidade.

Preparação de espaços seguros de refeição, no espaço da Festa do Avante!, na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal, a 3 de setembro de 2020. A Festa do Avante! decorre entre 4 e 6 de Setembro. CréditosJosé Sena Goulão / LUSA

O confluir de tantos e tão diversificados ataques não desarmam os intelectualmente pervertidos detractores da Festa. Se não conseguissem o objectivo principal, proibir a Festa, o que urgia era radicar a qualquer preço o medo e dar voz a esse medo, por mais irracional que seja, para bater tambores nos media, insinuando junto da opinião pública que, neste processo, há uma troca de favores entre o PCP de um lado, o Governo e a DGS do outro. Essa gente não tem nem nunca terá uma ruga de vergonha, um pingo de pudor e continuará a bradar mesmo depois de a DGS publicar um conjunto de normas incomparavelmente mais restritivas dos que as que foram aplicadas a outros eventos, com o pretexto da complexidade da Festa do Avante!. Nem se calará nem comparará a realidade da desmesurada discrepância com o número de espectadores autorizados noutros espectáculos. Um exemplo, no concerto do Bruno Nogueira e Manuela Azevedo Deixem o Pimba em Paz, estiveram 2000 pessoas em 1250 metros quadrados em espaço fechado, compare-se com as autorizadas 2000 em 16 mil metros quadrados no palco 25 de Abril, em espaço ao ar livre da Festa do Avante!. Se o critério espaço útil/pessoa fosse uniforme aquele «excelente teste para os espectáculos» – António Costa dixit – só poderia ter tido 156 pessoas, mais primeiro-ministro e família; ou, inversamente, 25 600 no Palco 25 de Abril, quase o dobro das 16 mil pessoas que vão poder estar na Festa do Avante!.

A DGS admitiu o que rapidamente se deduz ao ler o seu parecer, que a Festa adquirira «um carácter excepcional, não do ponto de vista técnico mas de impacto social e mediático». Traduzindo, o ponto de vista técnico foi condicionado pelo impacto social e mediático. Diz o secretário de Estado da Saúde que «as competências da DGS são técnico-normativas, não têm decisões de carácter político». É um facto, mas outro facto é o de não existirem pareceres tecnicamente neutros, qualquer que seja a área em que incidam. Pareceres ou estudos imunes à política, às políticas económicas dominantes, a pressões políticas e mediáticas. A questão da neutralidade tecnocrática, como se as técnicas fossem um placebo, tem sido objecto de muitos debates, com alguns grupos a brandir a racionalidade técnica para conseguirem influência e mesmo alcançarem poder de decisão, o que foi sempre contestado pelos mais destacados filósofos marxistas e não-marxistas.

Trabalhador passa ao lado do mural «A Festa é.», no espaço da Festa do Avante!, na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal, a 3 de setembro de 2020. A Festa do Avante! decorre entre 4 e 6 de Setembro. CréditosJosé Sena Goulão / LUSA

Será útil reler Henri Lefebvre em Contra os Tecnocratas, (Moraes Editores, 1969) que desmonta essas teses. Eles, os tecnocratas, «executam ordens, ordens do poder político que organiza as “variáveis estratégicas” dos seus estudos e pareceres. O poder impõe aos tecnocratas à sua disposição as opções decisivas. Eles – os tecnocratas – propõem soluções para os problemas oficialmente reconhecidos e formulados, o poder de Estado escolhe entre elas (…) A pretensa tecnocracia é nociva, não tanto pela sua imagem real, como pela imagem que oferece de si-própria e da sociedade. Segundo essa imagem, a racionalidade social, finalmente amadurecida, já reina ou irá reinar em breve. Esta crença divulgada na opinião resulta de uma propaganda: é uma ideologia. Tal ideologia é o produto mental da tecnocracia, a sua justificação, a compensação da sua impotência e incapacidade, o seu contributo real para a acção do poder». É por esta lente, que nega a ficção da técnica pura, que se devem ler quaisquer pareceres técnicos. Há, no entanto que dar razão ao secretário de Estado da Saúde num dos seus considerandos: a Festa sempre teve um carácter excepcional, pelo que desde sempre foi o centro de ataques das outras forças políticas que não têm capacidade político-cultural e muito menos de militância para arquitectarem uma Festa como esta.

Várias são as condicionantes na Festa deste ano, com óbvios reflexos não só na sua implantação mas na programação política e cultural reorganizada de modo a não perder a sua identidade. A primeira é do número máximo de participantes limitado a 16 mil, apesar da área ter sido ampliada em 10 mil metros quadrados, para um total de 30 mil. Cerca de um sexto do número máximo dos anos anteriores, 100 mil participantes, curiosamente o mesmo do Rock no Rio, que ocupa 2 mil metros quadrados na Bela Vista. As normas de segurança podem ser vistas num vídeo que o PCP colocou no seu site, na página dedicada à Festa, o que essa gente, se tivesse um mínimo de seriedade, poderia ter visitado e até criticado. Mas isso seria exigir o que não se lhes pode exigir, passe o pleonasmo.

As recomendações sanitárias são uma constante por todo o espaço da Festa do Avante!, na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal, a 3 de setembro de 2020. A Festa do Avante! decorre entre 4 e 6 de Setembro. CréditosJosé Sena Goulão / LUSA

Muitas são as medidas que asseguram as condições sanitárias para a Festa se realizar. Refira-se que todos os palcos, este ano limitados a três, serão ao ar livre com lugares marcados para cumprir a distanciação social exigida. Outras manifestações, como teatro e o cinema acontecerão ao ar livre o que limitou drasticamente os seus programas e horários. A Festa do Livro será também ao ar livre com espaços sombreados. A Bienal de Artes Plásticas sofrerá um interregno, adiada para o próximo ano já que naturalmente teria que decorrer em espaço fechado.

As limitações logísticas vão-se repercutir em muitas das manifestações culturais que estavam perspectivadas adiando expectativas para o próximo ano. O que não fica, nunca ficará adiado é o real contributo da Festa do Avante! para a democratização da cultura nas suas mais diversas vertentes.

(publicado em AbrilAbril https://www.abrilabril.pt/)

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AS TROMBETAS DO APOCALIPSE NAS MARCHAS ANTICOMUNISTAS

Fotomontagem de John Hearfield, Agosto1934 . Friedich Ebert, (1871-1925) presidente do Partido Social/Democrata da Alemanha, Chanceler da Republica de Weimar. um dos responsáveis pelo assassinato dos dirigentes comunistas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. A Fundação do Partido Social/Democrata da Alemanha ostenta o seu nome, bem conhecida pelo apoio que dado aos partidos socialistas e sociais/democratas da Internacional Socialista. Paul von Hinderbug,(1897-1934) presidente da Republica da Alemanha que nomeou Hitler chanceler

O anticomunismo exibe-se abundantemente na comunicação social corporativa nas mãos da plutocracia nacional que se estende à comunicação social dita de serviço público com o seu longo rol de serventuários do pensamento dominante. Ainda existem umas cada vez mais raras excepções que passam pelas malhas da censura mascarada de critérios jornalísticos ou ainda com mais descaro na apregoada qualidade e independência jornalística coisa que nessas redacções até já foi removida dos caixotes de lixo.

O anticomunismo exibe-se de formas variegadas, nos últimos tempos tem sido um ver que te avias. A Festa do Avante! anunciada para Setembro deste ano num contexto complexo tem sido o grande bombo dos arraiais noticiosos. Vale tudo desde o ser uma fonte de sistemáticos prejuízos (Expresso) até ser a segunda maior fonte de receitas do PCP (Sic). O mesmo Expresso utiliza foto de montagem da festa para ilustrar uma notícia sobre o Covid-9. De repente uma festa em que, nos noticiários dos anos anteriores, era um resíduo cultural entre garfadas dos restaurantes onde as provectas idades eram o traço geral de gente a sonhar com os amanhãs que cantam ( que quer essa malta que os amanhãs façam? que ladrem, uivem juntando-se aos seus afinados coros?) desagua num mar de milhares de pessoas todas potencialmente portadores do coronavirus, pior de coronavirus vermelhos muitíssimo mais potentes.

Esse anticomunismo alarve de antanho, de hoje e dos dias seguintes refina-se num anticomunismo envernizado mais subtil mas igualmente activo. Conhecido o das adjectivações que se colam aos militantes comunistas e aos ex-comunistas. Mesmo os que abandonaram o Partido ficam classificados em duas categorias que vão variando com o correr do tempo: aqueles em que a antiga militância comunista ainda está dentro do prazo e aqueles em que essa militância já está fora de prazo, em conformidade com as aleivosias dos contextos das artigalhadas.

Na área das subtilezas pouco subtis (passe o pleonasmo) as fúrias dessa gente a agitar as bandeiras anticomunistas é contumaz. Vulgar, vulgaríssimo são as iniciativas legislativas do PCP na Assembleia da República serem preteridas a favor do Bloco de Esquerda. Já se chegou ao cúmulo de para justificar uma iniciativa legislativa do PCP, não se ouvir nenhum deputado comunista mas a coordenadora do BE que não tendo apresentado nenhuma proposta de decreto-lei estaria na disposição de votar favoravelmente. Então quando são iniciativas similares mesmo que as do Partido tenham antecedido as do BE é um ver que te avias, a maioria das vezes nem referem as do P.

Mais sornas são outras manobras. Recentemente quando Rita Rato foi seleccionada por um júri para dirigir o Museu do Aljube a sua militância no PCP era impressa em todas as insidiosas notícias que inundaram os media com um anticomunismo larvar, agora quando morre Fernanda Lapa a militância no PCP é rasurada na palidez esquálida do activismo em defesa do teatro, das mulheres, da dignificação humana. Conforme lhes dá jeito rasgam o cartão aos militantes do Partido para os fazer passar por activistas de causas sem filiação partidária o que está na moda e dentro dos padrões da democracia liberal. Não é um acaso os activismos de vários géneros serem largamente subsidiados pelas Fundações Soros, Rockfeller, Ford, Bill Gates, etc. Apagar a militância comunista da Fernanda Lapa em favor do activismo é também uma forma de ocultar as lutas por uma mudança social radical que não se reduz a mudanças de atitude social, por mais importantes que sejam.

Essa gente dos media não têm uma gota de honestidade, uma ruga de moral e ainda tem o desaforo, o imenso descaramento de se escudarem na pretensa ausência de novidades nas áreas do PCP (esta das novidades tem muito que se lhe diga. Lembre-se como um dia Álvaro Cunhal na televisão com o seu imenso humor desmontou essa farsa montada por uma jornalista que insistia em saber alguma coisa da sua vida pessoal « mas o quer saber? Se coso os botões das minhas camisas?») para justificar o PCP, os seus dirigentes e militantes ocuparem um substancial menor número de horas nos noticiários, mesmo contando com as horas em que se destila anticomunismo.

No horizonte, o fascismo mesmo que seja um fascismo de tipo novo numa deriva do totalitarismo invertido um sistema em que esta comunicação social, a clássica e a nova através da internet e das redes sociais, e pelas indústrias culturais e criativas que são dos seus pilares mais importantes e que se caracterizam por uma progressiva concentração. Um sistema, repita-se e sublinhe-se as vezes que forem necessárias esses seus traços nucleares, que se apura para que os cidadãos sejam totalmente impotentes e a alienação global seja uma alienação consentida. É o que Sheldon Wollin classifica de “totalitarismo invertido” que não tem rosto, é anónimo corporizado por dirigentes políticos que são marcas comerciais dos Estados completamente enfeudados às grandes empresas, em que há uma crescente indiferenciação ideológica e programática entre partidos de sectores das esquerdas tradicionais revisionistas e de direita que reduzem a sua acção e medem a sua representatividade pelos resultados da competição eleitoral em que a democracia representativa deixou de ser lugar de debate ideológico. «O governo não precisa acabar com a dissidência. A uniformidade da opinião pública imposta através da media corporativa faz um trabalho muito eficaz» escreve Wollin esclarecendo que «as elites, especialmente a classe intelectual, foram compradas por meio de uma combinação de contratos governamentais, fundos corporativos e fundações, projetos conjuntos envolvendo pesquisadores universitários e corporativos. Com doações de indivíduos muito ricos, universidades (especialmente as chamadas universidades de pesquisa), os intelectuais, os estudiosos e os pesquisadores foram perfeitamente integrados ao sistema (…) Nenhum livro é queimado, nenhum Einstein permanece na condição de refugiado (…) mas no totalitarismo invertido, o inverso é verdadeiro, a economia domina a política e com essa dominação surgem formas diferentes de crueldade (…) Os Estados Unidos tornaram-se a vitrine de como somos tolerados como cidadãos, apenas enquanto participamos da ilusão de que vivemos numa democracia participativa. No momento em que nos rebelamos e nos recusamos a participar dessa ilusão, o rosto do totalitarismo invertido parecerá o rosto dos sistemas totalitários do passado.» Já Orwell tinha avisado que «para sermos corrompidos pelo totalitarismo não temos de viver num país totalitário»

Essa gente que pulula na comunicação social são os mercenários das oligarquias, os serventuários dos plutocratas a abrir caminho para os novos fascismos por mais que desfraldem ao vento as esfarrapadas bandeiras da liberdade e da independência jornalística ao serviço do totalitarismo invertido. Honra ainda a quem, contra os critérios dominantes, ainda consegue fazer investigação séria, que só vê a luz do dia quando interessa dar credibilidade ao lixo dominante.

Fotomontagem John Heartfield, marco 1934 O slogan do partido nazi Sangue e Aço
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"geringonça", Bartolomeu Cid dos Santos, BE, CDS, CDU, Comunicação Social, demagogia, Geral, Independência da Comunicação Social, Jessye Norman, Jornalismo, Legislativas 2019, Maioria de Esquerda, Media, PAN, PCP, PEV, populismo, PS, PSD

Celebrar Jessye Norman em Dia de Eleições

Hoje, dia de votar e vou votar bem embora com algum alarme pelos resultados que ao fim do dia se saberão. Alarme com as votações que alguns partidos poderão alcançar obtendo-as com os populismos mais rascas, com a mão sempre no gatilho das fraudes políticas e intelectuais disparadas a torto e a direito, a exploração sem freio do que está a dar vendendo vigésimos premiados em directo e on-line com incursões pelas ruas ou ruminando vitualhas suspeitas de contaminações pós-modernas. Para não haver margem para dúvidas, se é que ainda as havia, refiro-me sobretudo ao PAN, embora esteja bem acompanhado. Alarme pelo que isto evidencia de como a estupidez adubada pelo marketing facilmente explora a ignorância e a desinformação que a comunicação social com contumácia propala, confortada pelo adormecimento generalizado que os programas televisivos ditos de divertimento expandem, abrindo caminho aos pan’s. Alarme por esta ser uma realidade bem evidente que, no estado actual do panorama informativo e das redes sociais, obriga a um árduo combate. Além das armas serem desiguais, a estupidez é sempre mais facilmente triunfante porque como Musil escreveu no Homem sem Qualidades: ”se de dentro a estupidez não se assemelhasse tanto à inteligência, se de fora não pudesse passar por progresso, génio, esperança, aperfeiçoamento ninguém quereria ser estúpido e a estupidez não existiria. Ou pelo menos seria mais fácil, combate-la”.

Antes de ir votar estive a ouvir Jessye Norman, essa extraordinária soprano que morreu na quarta-feira, dia 30. Tinha um timbre riquíssimo e uma excepcional amplitude de voz que a faziam conseguir os registos de meio-soprano e contralto, o que é raro. Estive a ouvir não uma das excelentes interpretações que a notabilizaram no universo da música sinfónica, bem expressos na sua imensa discografia.

Mencionem-se Ariadne, Ariadne de Naxos / Richard Strauss; Cassandra, As Troianas / Berlioz; Sieglinde, As Valquírias / Wagner; Dido, Dido e Eneias / Purcell; Alceste / Alceste / Gluck; Armida, Armida / Haydn; Judith, Castelo do Barba Azul / Bartok. Uma enumeração rápida para sublinhar a sua versatibilidade. Refira-se que Jessye Norman apesar do seu notável percurso na ópera é nos lieds que tem o seu terreno de eleição. Entre as muitas e magníficas interpretações das Quatro Últimas Canções de Richard Strauss e dos Ruckert Lieder de Mahler as de Jessye Norman não podem são estar ausentes de alguma estante.

Não foi nenhuma dessas gravações que fui ouvir. Fui ouvi-la num cd duplo intitulado Roots:My Life, My Song em que ela diz que fez uma selecção das “páginas que fazem parte do meu universo pessoal e que permitem aos meus pares músicos e a mim-própria explorar e desenvolver a nossa própria língua musical, rendendo homenagem às figuras tutelares que criaram esta música que celebramos e amamos. Um caminho que nos conduz dos tambores de África até ao Novo Mundo.” São vinte e duas canções, introduzidas por uma evocação dos tambores de África, que nos deslumbram e que ouvimos como nunca as tínhamos ouvido.

Enquanto a ouvia lembrei-me de uma saborosa história que o meu sempre bem lembrado amigo Bartolomeu Cid dos Santos me contou com o humor que o caracterizava, não sei quem lha teria relatado. Jessye Norman vivia num dos bairros mais chiques de Londres de casas dos séculos XVIII e XIX recuperadas em luxuosos apartamentos a que se acede por ruas discretas, habitadas por gente de grandes posses económicas. Era esse bairro de vez em quando assaltado por uma gritaria que os incomodava e sobressaltava. Alguém seu vizinho, pela voz do sexo feminino, dava durante largos períodos de tempo, normalmente pela manhã, uns guinchos inacreditáveis que até poderiam pressupor cenas de violência doméstica ou exercícios sado-masoquistas.

Num bairro com aquele estatuto, os silêncios que marcam os compassos das distâncias sociais eram de quando em quando estraçalhados por um dilúvio de berros que deixava os seus habitantes emudecidos, paralisados de estupefacção. Até que um dia o mistério se resolveu: a senhora que gritava desinquietando todo o bairro era Jessye Norman que quando estacionava na sua casa londrina ensaiava a sua fabulosa voz.

Ouvido Roots, agora vou votar, apelando ao voto para que os populistas sejam menorizados, evitar, entre outros males, que o PS tenha a tentação de tirar a chave da fechadura da gaveta onde o seu o pai fundador meteu o socialismo.

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Artes, artes visuais, Exposição Mundo Português, Geral, Luísa Duarte Santos, Mário Dionísio, Museu do Neo-Realismo, PCP, Portinari, Raquel Henriques da Silva

Portinari em Portugal

CAFÉ

 

Na celebração do seu 11.º aniversário, o Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira apresenta a Exposição Cândido Portinari em Portugal.

O principal destaque desta Exposição é sem dúvida a mítica obra Café, cedida pelo Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, que regressa ao nosso País 78 anos depois de estar exposta pela primeira vez em 1940, no Pavilhão do Brasil na “Exposição do Mundo Português”.

Portinari teve uma enorme influência nas artes visuais em Portugal, no movimento neorrealista.

É de recordar que a “Exposição do Mundo Português” foi uma exposição de carácter eminente fascista “um olhar lançado sobre o passado, não terá um carácter exclusivamente erudito e muito menos arqueológico. Deverá ser ao contrário, uma lição de energia, uma perspectiva do génio português através de todos os estímulos de grandeza, um balanço de forças espirituais”(António Ferro) onde entra um inesperado e muito menos desejado Cavalo de Troia. No Pavilhão do Brasil, projecto de Raul Lino, o mais tradicionalista dos arquitectos que trabalharam na Exposição, que “exprimia o glorioso prolongamento da nossa civilização atlântica”, a pintura que dominava um conjunto desinteressante de pinturas académicas era Café, de Portinari, uma grande tela de 1,30 por 2,00 de denúncia das condições de exploração dos trabalhadores braçais negros e mestiços colhendo e carregando sacos de café, na época a principal exportação do Brasil.

Os jovens artistas que se oponham ao fascismo salazarista integrando o movimento de unidade democrática, animado pelo Partido Comunista Português, tiveram a possibilidade de ver, sem ser mediado por reproduções, uma obra representativa do realismo revolucionário que se praticava nas Américas do centro-sul. A influência de Portinari mais se reforçará com as duas entrevistas que Mário Dionísio lhe faz, não era ele “o grande pintor que amávamos há tantos anos?”, e sobre quem mais tarde publicará um livro, Portinari. A influência do pintor brasileiro e dos muralistas mexicanos com destaque para Orozco que Cesariny afirma ser “um homem que desdobrava os caminhos do futuro” e Pomar “ser um dos precursores da cultura vindoura” nos pintores neorrealistas é bem visível sobretudo nos mais destacados Pomar e Vespeira.

É esta pintura que agora se pode novamente ver nesta exposição, organizada por Raquel Henriques da Silva , directora científica do Museu, e Luísa Duarte Santos, que apresenta todas as obras de Cândido Portinari que existem em Portugal e que, à volta de Café, permitirão celebrar esse relevante pintor, numa exposição de grande qualidade e de dimensão internacional, com pinturas e desenhos cedidos pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (Lisboa), Museu Nacional Soares dos Reis (Porto), Museu Calouste Gulbenkian (Lisboa), Casa da Achada – Centro Mário Dionísio (Lisboa), Museu Ferreira de Castro (Sintra) e Fundação Millennium BCP (Lisboa), para além de importantes fundos documentais do próprio Museu do Neo-Realismo.

A exposição é inaugurada no dia 20 de Outubro e pode ser visitada até 3 Março de 2019.

(publicado em Avante! nº2342 / 18 Outubro)

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"geringonça", António Costa, Anticomunismo, Assunção Cristas, BE, Bolha Imobiliária, Catarina Martins, CDS, CDU, Cidade-Neoliberal, Comunicação Social, Eurocomunismo, Geral, lisboa, Maioria de Esquerda, Mário Soares, Media, NATO, Neo Liberalismo, PCP, Pedro Santana Lopes, PS, PSD, Ricardo Robles, Rui Rio

ROBLES, DO OUTRO LADO DO ESPELHO

O que está verdadeiramente em causa é o saudosismo nada ocultado pela governação Passos-Portas, o seu autoritarismo, a sua subordinação aos interesses do capital, o seu desprezo pelo mundo do trabalho.

Robles

O caso Robles tem empapado noticiários, redes sociais, internet. A esmagadora maioria dos comentários navega na espuma dos factos variando entre os das esquerdas que, fazendo contorcionismos quase impossíveis, tentaram e tentam desresponsabilizar o dirigente do BE, aos de outros que, com o oportunismo que caracteriza a direita, agitam as bandeiras de princípios morais que nunca tiveram, para o condenar e por arrasto condenar o BE, não por causa do BE mas visando mais longe para tentarem acertar na «geringonça» que eles bem sabem ter tido o seu tiro de arranque por iniciativa do PCP (o que tem sido ocultado em benefício do BE), como foi esclarecido, certamente não por acaso, preto no branco, por António Costa, num dos últimos debates na AR, depois de afirmar ter a «geringonça» na cabeça e no coração – o que será comprovado nos tempos próximos.

Uma insanável contradição ética

Robles não cometeu nenhuma ilegalidade, nem cometeu nenhum crime económico. Envolveu-se num negócio imobiliário especulativo que se inicia quando participa num leilão em que o Estado aliena património público ao desbarato. Para quem diz defender políticas públicas de habitação esse foi o primeiro passo para se negar, adquirindo para si um património que devia pugnar para que se mantivesse público. Os passos sequentes estão em conformidade.

Na recuperação do imóvel os apartamentos variam entre os 30 e os 25 metros quadrados, segundo a descrição do anúncio que o colocava no mercado. Robles poderá não ter noção do que é uma habitação de 30, 25 metros quadrados. Poderá não ter, mas certamente saberá quantos metros quadrados tem a sala da casa onde vive e não é de crer que tenha menos de 20 metros quadrados, o que já lhe dá um razoável padrão comparativo.

Há ainda outro aspecto no projecto de recuperação do imóvel que, aparentemente, viola o PDM, artigo 42-3 d, em que «se admite o aproveitamento da cobertura em sótão e a alteração da configuração geral das coberturas, desde que contida nos planos a 45 graus passando pelas linhas superiores de todas as fachadas do edifício, não seja ultrapassada a altura máxima da edificação, seja assegurado o adequado enquadramento urbanístico». Pelas fotos divulgadas, o aproveitamento da cobertura não cumpre essa norma, com largo benefício para a sua área útil. Robles disso não se deve ter apercebido. Deve desconhecer o PDM ou leu-o na diagonal, 45 graus é um ângulo estranho que deve ter dificuldade em calcular. Sendo vereador na CML e defendendo publicamente, com grande alarde, políticas urbanísticas não especulativas deveria, no entanto, cuidar-se para não incorrer em riscos suplementares aos riscos de se ter enredado no processo em que se envolveu.

 

Robles e a campanha da direita

 

Os oportunistas de direita não perderam tempo a colocar a prancha na crista da onda e o BE, pouco habituado a maus tratos comunicacionais, andou aos zigues-zagues. Também houve quem aproveitasse a balbúrdia para atirar umas pedras ao PCP, nada inesperado nem inusual. Não sendo essa a questão central, a direita por interposto Robles apontava o dedo às esquerdas partindo do princípio de que quem é de esquerda tem que fazer votos franciscanos. Um equívoco idiota. Quem é de esquerda, no contexto desta sociedade, pode ser rico, Engels era, o que não limita a capacidade de intervenção social e política, de lutar ao lado dos trabalhadores desde que não se ofenda quaisquer princípios éticos nem deixe de defender essas frentes de luta mesmo que os seus bens patrimoniais sejam atingidos. A direita, com o seu oportunismo contumaz, confunde moralismo, ética e ilegalidade. Tem outro problema, a corrupção, os crimes políticos e económicos, os que estão escrutinados e alvo de processos judiciais mais os que andam a pairar ou estão submersos em nuvens de suspeição, são praticamente um exclusivo do PS, do PPD e do CDS. Têm a seu favor a artilharia jurídica, sabendo-se que entre a justiça e o direito o abismo não é pequeno e que o direito é o direito do mais forte à liberdade. Robles era um alvo à sua medida mesmo sabendo-se que não tinha cometido nenhuma ilegalidade. Tinha incorrido numa fortíssima e insanável contradição ética.

A campanha que decorreu e continua a decorrer é da baixa politiquice, prenhe de truques xico-espertos e populistas que procuram ocultar a dura realidade das inquietações que assaltam os grandes interesses económicos e os políticos que os representam.

A questão central da direita é a necessidade, até urgência, em romper com a convergência que parlamentarmente tem sustentado a solução governamental que, desde as últimas eleições, foi encontrada. Pressionados pelo grande poder económico e politicamente desorientados, fazem esses fogachos enquanto não encontram líderes capazes de a romper. Rui Rio não os satisfaz por parecer estar mais interessado em ressuscitar um bloco central, o sonho desejado por Marcelo, que desde o seu primeiro dia de presidência o tinha colocado por debaixo da mesa em que discutia os problemas do dia-a-dia governativo com António Costa. Assunção Cristas é aquela coisa que abana a cabeça de um lado para o outro sem uma ideia consequente. Aparecem agora um ressuscitado Pedro Santana Lopes que tem ideias que sem o concurso dos concertos de violino de Chopin não consegue afinar. Pedro Duarte a saltar pimpão para o palco, faltando saber se tem estaleca para enfrentar Rio e é capaz de corporizar os desejos não ocultos do grande capital.

A direita, atarantada por estar longe de exercer o poder e de no horizonte próximo essa possibilidade se configurar difícil, fragmenta-se, o que não significa que não continue a ser perigosa. Os comentadores que lhe são afectos e que dominam o panorama dos meios de comunicação social, da estipendiada propriedade dos plutocratas ao chamado serviço público – com destaque para a televisão onde se encontram bem representados –, aproveitam o caso Robles para colar pedaços e atacar sem detença a «geringonça» de caras ou de cernelha, como o têm feito desde o primeiro momento em que se percebeu que poderia haver uma solução governativa PS com apoio parlamentar do PCP, BE e PEV. Esse o alvo e o grande objectivo.

Alvos: entre o preferencial e o interposto

Num primeiro momento, de forma continuada, o PCP foi o alvo preferencial, em linha com que sucede desde o pós Revolução de Abril. O PCP abrir a porta para esta solução governativa destruía a velha e relha tese do PCP «na sua lógica imutável do “quanto pior, melhor”». Uma cassete da direita adoptada por muitos que se dizem de esquerda mas alinham sistematicamente com a direita. O PCP, na sua longa história, não teve nem tem vistas curtas pelo que nunca poderia pensar que as crises abrem necessariamente mais espaço à esquerda.

As lutas pelos direitos políticos e sociais não se reforçam com as crises, que alargam sempre o fosso entre ricos e pobres. Quem se reforça são os populismos de todos os matizes. Quando as crises rebentam as pessoas interrogam-se sobre o dia de amanhã. A reacção mais imediata, espontânea e humana é o receio pelo seu futuro. As pessoas que vivem pior e enfrentam situações que precarizam a sua vida estão humanamente mais fragilizadas, mais vulneráveis. Se num primeiro impacto os princípios da sociedade podem e devem ser postos em causa, a seguir regressam em força, pela mão dos agentes mais violentos do capitalismo. O colar o «quanto pior melhor» ao PCP é uma ideia feita da direita e de malta dita de esquerda formatada e em deriva ideológica. Esse bordão tinha ficado em estilhas, pelo se entrincheiraram nos desvios do PCP «à fidelidade de princípios». O que muito os incomodava, porque seria a única virtude que reconheciam a esse partido, ainda que essa virtude representasse para eles um claro sinal de envelhecimento. Para quem não tem, nunca teve, nem nunca terá princípios de qualquer género, para quem os princípios são instrumentais, ter princípios e a eles não falhar é qualquer coisa incompreensível, inaceitável. Esbarrava essa argumentação no empenho negocial do PCP em dar continuidade à «geringonça» sem recuar em nenhuma luta e nas críticas às vacilações das políticas sociais e económicas do governo, sem deixar de condenar a sua subordinação aos ditames da UE e à política belicista da NATO.

Com o BE, a questão era outra. Desde o anúncio da sua formação o BE beneficiou de desvelados carinhos mediáticos. Largos espaços de antena, dos jornais às televisões lhe foram concedidos, muitas das suas mais conhecidas individualidades foram e continuam a ser recrutadas para comentadores, mesmo os que saíram do BE para o Livre não perderam essas sinecuras, o que torna, curiosa mas não inesperadamente, o Livre num partido de quase nula expressão a ter desmesurada presença nos media. O BE alimentava a esperança de uma movida política, de ser o anticiclone dos Açores a impulsionar o ar fresco que varreria um PCP que não abdicava da sua identidade ideológica, reconfigurando o lado esquerdo do espectro político em Portugal, normalizando-o. O BE foi incapaz de cumprir esse desiderato. Desde a sua fundação andou sempre a balançar entre a recuperação aggiornata dos ideais dos primeiros sociais-democratas, para quem a democracia era o território da luta de classes pacífica, e um difuso eurocomunismo pop em que se começa pelos fins e se acabam os princípios. O seu modelo anda aos solavancos entre os Verdes alemães, o Syriza grego, o Podemos espanhol. As cenas de namoros com esses partidos têm vários episódios, alguns tornaram-se pouco recomendáveis. De qualquer modo continuava e continua a beneficiar da complacência mediática em larga escala e num amplo espectro.

O caso Robles abriu uma fissura e a oportunidade para os comentadores da direita mais reaccionária iniciarem uma campanha de descredibilização do BE, que as tergiversações de Catarina Martins & companhia facilitaram. É gato escondido com o rabo todo de fora. Há que sublinhar a traço muito grosso que o alvo dessa campanha era a «geringonça» por interposto BE, em que visionavam uma inevitável ruptura nos seus equilíbrios internos e as dificuldades que o BE teria na lógica da aspiração das suas elites intelectuais em participar num futuro governo, no que concorrem com os seus ex-militantes agora enfileirados num Livre eleitoralmente irrelevante mas muito activo nos tabuleiros desse mercado.

 

O saudosismo descarado da direita

 

O que está verdadeiramente em causa é o saudosismo nada ocultado pela governação Passos-Portas, o seu autoritarismo, a sua subordinação aos interesses do capital, o seu desprezo pelo mundo do trabalho, o ódio à peste grisalha, o ataque desenfreado aos direitos sociais e laborais, o acentuar os desequilíbrios entre a remuneração ao capital e ao trabalho, o atribuir qualquer sucesso económico, por menor que fosse, ao mundo empresarial e nunca aos trabalhadores, o dividir os portugueses entre empreendedores, sempre altamente beneficiados, e os «piegas» que se queixavam das cada vez mais duras condições de vida e de trabalho e da deterioração das relações laborais. O ódio aos sindicatos que conseguiram travar com êxito muitas lutas para que o pior não fosse ainda pior. O elogio do empobrecimento da generalidade dos portugueses enquanto a minoria dos mais ricos continuava a enricar a galope. Em simultâneo também estavam confortáveis com um PS e um BE que muito os criticavam e diziam que o país estava péssimo, mas não saíam das variantes de jogos de salão.

O PSD, com golpes populistas, ganha as eleições mas perde a maioria parlamentar e os alarmes disparam quando, à saída de uma reunião entre o PCP e o PS, Jerónimo de Sousa diz que «o PS só não será governo se não quiser». Não era só o tradicional e bafiento arco governativo que estava em causa, era sobretudo o PS abrir um interregno na sua matriz soarista-reaccionária e haver a possibilidade de um entendimento à esquerda.

Desde que esse entendimento se concretizou os ataques tem sido uma constante. O caso Robles deu-lhes um novo impulso sobretudo agora que a legislatura se aproxima do fim e se vai discutir o seu último orçamento. O único objectivo desta campanha é minar os possíveis e nada fáceis entendimentos à esquerda para, num primeiro passo, reduzir e, a médio prazo, anular o peso político do PCP, do BE e do PEV nas acções do Estado, desbravando as veredas por onde a direita mais reaccionária possa avançar. Atacar a «geringonça», até, se possível, torná-la inviável, é também dar força dentro do PS aos saudosos do soarismo-reaccionário que odeiam militantemente a esquerda e aos que estão contrafeitos na barca da «geringonça».

O capital está inquieto com a possibilidade de haver uma reedição dos entendimentos à esquerda. Por isso avança todos os seus peões nesta altura, que não é um momento qualquer. As tensões comerciais internacionais multiplicam-se e têm desenvolvimentos imprevistos. Advinha-se uma nova crise económica mais devastadora do que de 2008, a qual politicamente favoreceu a expansão dos populismos e dos autoritarismos. A frágil economia portuguesa é e será muito sensível às variações internacionais e, enquanto não recuperarmos muita da soberania que alienámos, ainda mais expostos estamos. Com o governo PS subordinado à UE e à Nato o caminho de recuperação de independência nacional está adiado e as medidas socialistas não saíram de gaveta fechada a sete chaves, ainda que se tenha metido uma chave na fechadura. Neste contexto as questões que se colocam à esquerda não são nada fáceis, confrontada como está entre a renovação ou não de um acordo semelhante ao que está em vigor, conhecendo as habituais flutuações do PS, as suas sujeições à UE e NATO, o polme dos seus militantes sempre prontos a se deixarem fritar em conjunto com a direita, a qual, mesmo a que aparenta ser mais civilizada, não perde os genes seláquios.

As alternativas são fáceis de desenhar no actual contexto nacional e internacional e a bem visível voracidade da direita não deixa margem para dúvidas. O saudosismo pelas celebradas medidas estruturais que mais não são que o ataque desenfreado a todos os direitos que ao longo destes 44 anos foram conquistados e defendidos, não é iludível. O governo Passos-Portas foi uma variante dura dos anos cavaquistas e soaristas. O que se pode prever nos actuais desentendimentos da direita, que são mais concorrência interpares do que divergências de fundo, é que uma próxima oportunidade de um governo dessa gente será ainda pior. A leitura do seus arautos é esclarecedora. É com essa realidade que a esquerda tem de se confrontar, que tem de enfrentar, com coragem e audácia, para continuar as batalhas pela reconquista dos direitos políticos, sociais e económicos que, por mais magroas que sejam, são conquistas que têm revertido, ainda que muitas vezes insatisfatoriamente, o caos insalubre que a direita tinha implantado.

(publicado em AbrilAbril,  http://abrilabril.pt 10 de Agosto 2018)

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Autárquicas 2017, BE, CDS, CDU, Eurocomunismo, Geral, Partidos Socialistas, PCP, PEV, PS, PSD, Social Democracia

Uma Leitura das Autárquicas 2017

autárquicas 2017

 

Ler, mesmo na diagonal as leituras que se fazem das eleições autárquicas 2017, na comunicação social e nas redes sociais é exercício acabrunhante, mesmo que se coloque à margem o que se escreve e diz sobretudo sobre os resultados eleitorais de Almada, em que existe uma exaltação pelo aparente ar fresco (o que é que isso quererá dizer?) soprado  por uma Inês Medeiros que não tem deixado marcas notáveis pelos lugares por onde deambulou mas que, nos delírios provincianos e serôdios que por aí se plantam, fará renascer em solo luso uma rive gauche se não defunta pelo menos moribunda no seu local de origem. Depois,  Lisboa onde iremos ter, para alegria dos sitcoms turísticos e da especulação imobiliária, a continuação, agora talvez um pouco mais mitigada pela perca de maioria absoluta, de uma cidade que está a ser virada do avesso por Manuel Salgado, com Medina a fazer de presidente, em linha com os modelos das cidades neoliberais (*), que vai tentar continuar o seu curso numa Lisboa enquanto “ cidade pensada a preço por metro quadrado, como um realista tabuleiro de monopólio, pronto a servir para a monocultura de hotéis e luxury apartments (**). Haveria ainda a referir, sem necessidade de comentários, o exemplo exemplar de Oeiras.

Saltando ao eixo sobre esses três sucessos, outros se poderiam alinhar, cai-se nas leituras que estão a ser feitas extrapolando os resultados autárquicos para o plano nacional. Uma decifração excessiva, tenham o peso que tiverem nos partidos que se confrontaram, mesmo sem iludir o efeito que a persistência mediática em transformar as eleições locais em eleições nacionais possa ter tido. A leitura das votações nas autárquicas deve ser feita autarquia a autarquia. Votar numa lista de candidatos para uma Câmara Municipal, uma Assembleia Municipal, uma Assembleia de Freguesia é bem distinto de votar para as legislativas. Só a comparação dos resultados obtidos no mesmo concelho por cada um dos partidos, coligações ou candidaturas ditas independentes a essas autarcias é elucidativa.

Um tema tem sido dominante entre os supostamente preclaros plumitivos: o efeito que o mau resultado da CDU, com a perca de dez câmaras, terá na relação existente entre os parceiros do acordo parlamentar, cuja efectivação sublinhe-se foi impulsionada pelo PCP o que é sistematicamente esquecido porque coloca em causa a generalizada tese de os comunistas perfilharem o quanto melhor pior. Uma tese falsa, a roçar a aleivosia. O PCP, pela sua grande proximidade com as populações, sabe melhor que ninguém que o quanto pior melhor, tanto afecta trabalhadores como as classes médias. Que quando as crises rebentam as pessoas humanamente interrogam-se sobre o dia de amanhã. A reacção mais imediata e espontânea é o receio pelo seu futuro, pelo que as lutas pelos direitos políticos e sociais não se reforçam com as crises, que alargam sempre o fosso entre ricos e pobres. Quem se reforça são os populismos de todos os matizes, tanto de esquerda como de direita, em particular da extrema direita.

Os maus resultados do PCP nas autárquicas devem ser analisados pela lente, cada caso é um caso, das deficiências na gestão e como o trabalho realizado foi comunicado em cada uma das dez câmaras perdidas, pelas escolhas eventualmente erradas nos candidatos, o que nem sempre será certo, nas propostas feitas aos eleitores, no trabalho e empenho nas campanhas eleitorais. Esses são os pontos nucleares em que se devem centrar os questionamentos internos no PCP o que, como seria expectável, são estranhos aos escreventes tanto da direita mais encortiçada como das esquerdas saltitantes.

Uns e outros, por razões diversas, mas não conflituantes, esperam que os acordos estabelecidos, por muito ainda estar por cumprir, sejam fissurados ou mesmo quebrados por o PCP recear uma perca imediata de influência o que o faria engrossar a voz para não sofrer “o abraço de urso” que foi dado aos partidos comunistas na Europa quando fizeram acordos com partidos socialistas. Esquecem, com pertinácia nada virginal, que o abraço era dado a um urso de pelúcia com quase todo o seu miolo esvaziado. Teses simplórias que incorrem no erro original de meter os partidos comunistas no mesmo saco como se os partidos comunistas, em particular o de França e Itália, não tivessem entrado em autofagia ideológica, denegando e destruindo princípios para supostamente atingirem uns fins que não se diferenciavam dos revisionistas sociais-democratas, ficando incapazes de ver que o conflito central continua a ser o da luta entre o trabalho e o capital, que a  proletarização, ainda que  encapotada, avançava e continua a avançar  a passo largo em todo o mundo. Que esses partidos foram invadidos pelo eclectismo político, um forte aliado do capital e da burguesia, que já tinha inundado essas outras esquerdas. São expressão do triunfo ideológico da direita bem patente nos defuntos eurocomunismos, nas variegadas terceiras vias que colonizaram e colonizam os partidos socialistas e sociais-democratas. Outro aspecto nada despiciendo desse estado de coisas é a tónica das lutas ter sido deslocada para as mudanças de atitude social desprezando qualquer alteração do quadro social dominante. Não é que se deva ficar alheio a essas lutas ditas fracturantes. O equívoco é fazer a exaltação das diferenças ocupar lugar central em vez do lugar secundário que justamente devia ter, confundindo lutas por mudanças de atitudes sociais com lutas por mudanças sociais de fundo.

Poderão os resultados positivos da governação PS, ter algum efeito de erosão nos votantes CDU. Não será isso que fará o PCP recuar na sua de sempre linha política que, por ter viabilizado o governo, fragilizou de maneira contundente a direita, melhorou, ainda que de forma insuficiente, a vida dos trabalhadores, pensionistas e da classe média, fez com que muitas das políticas vacilantes do PS se orientassem para a esquerda, no que nem sempre tem tido êxito. As lutas do PCP continuarão esse e não outro rumo. Jerónimo de Sousa coerentemente deixou isso muito claro, quando afirma que “o que determinará o futuro do Governo do PS está nas mãos do próprio PS”, “tudo depende da continuação — ou não — do caminho começado há dois anos, com a reposição de rendimentos e de direitos”. Reafirma: “estamos nesta nova fase da vida política nacional, num processo onde repor, devolver até a esperança, leva o PCP a não perder nem uma oportunidade materializar esses avanços” o que aliás está em linha com o que disse há dois anos “o PS só não será governo se não quiser”, abrindo caminho para a solução política actual.

Os cálculos políticos da direita, da mais obnóxia à mais porosa, da esquerda, da mais recalcitrante com o rumo actual à mais performativa, todos agitados pelo cheiro do couro dos cadeirões do poder, são de curto prazo depois de terem perdido todos e quaisquer horizontes ideológicos, alguns nem nunca os tiveram. A sua única visão foca-se em futuras contagens de votos porque são máquinas eleitorais que medem exclusivamente a sua força pelas percentagens que alcançam para servir interesses económicos que lhes dão apoio variável. É a transposição para Portugal do que está a acontecer em todo, quase todo o mundo, numa extensão do sistema norte-americano, dentro do quadro do pensamento da ortodoxia de direita que está triunfante e que inquina generalizadamente as análises políticas, mesmo as que se lhe opõem quando decalcam argumentários que se desgastam por repetitivos. Por muito que o neguem e disfarcem estão amarrados aos pelourinhos do TINA (There Are No Alternative) ou perdidos nos seus labirintos.

É ler e ver o que passeia destrambelhadamente pela comunicação social e pelas redes sociais, da direita a uma certa esquerda, todos muitos excitados com a perca de autarquias pela CDU e pelo que daí pode advir, como se as lutas estivessem dependentes de outros cálculos que não fossem os que as motivam. Nos graneis das direitas estão preocupadíssimos com a crise aberta no PSD, em que o presidente não se demite, mas não se recandidata, rezando à Senhora de Fátima para que apareça um Macron lusitano no nevoeiro do próximo congresso, a Cristas faz figas para que tal milagre não aconteça. Espreitam pelos buracos de todas as fechaduras para o que supostamente se passa debaixo do tampo da mesa em que Marcelo e Costa reúnem, sonhando com a ressurreição do bloco central e suas alternâncias pouco substantivas, ainda e mesmo que com uns berloques de esquerda a reboque. Os cenários multiplicam-se cada cor seu paladar. Acabam sempre com os olhos em bico a ler os astros para fazer previsões na base de contagens de cruzes que as massas populares irão um dia inscrever nos boletins de voto, para no outro dia acordarem como sempre sem nenhum amanhã.

Há outros mundos e que quem lute por outros mundos para lá desses pequenos mundos sem horizonte, com isso eles não sonham, mas conhecem quem porfie nessa luta, o que muito os desassossega.

(Publicado em AbrilAbril)

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Geral, Guerra, Jugoslávia, PCP

Ainda sou do tempo…

sarajevowar

(Odd Andersen/AFP)

Ainda sou do tempo em que, em Portugal, o PCP era uma voz praticamente isolada a contestar as teses, a propaganda e a manipulação informativa sobre a chamada guerra da Bósnia.  Do tempo em que jornalistas, comentadores e especialistas diversos em Relações Internacionais, conflitos armados, política internacional e afins, dedicavam algum do seu saber nas televisões, rádios e jornais, para manifestar total incompreensão pelo posicionamento do PCP, só justificável, diziam eles, à luz de um anacrónico alinhamento com posições russas ou, mais cruel e desumano, com a apologia de todo e qualquer mal que fizesse frente aos EUA e à UE.

Aliás, se se quiser aprofundar mais o tema, podem ser lidos diversos textos sobre o tema, publicados no Avante, no Militante, nas Resolução Política dos Congressos, em intervenções na Assembleia da República (como aqui e aqui, a título de exemplo) ou quem quiser um olhar mais aprofundado sobre o posicionamento dos vários partidos políticos portugueses perante a guerra da Bósnia-Herzegovina (1992-1995), pode ler este artigo, de Ana Rocha Almeida, publicado na Revista Portuguesa de História, da Universidade de Coimbra.

20 anos depois, com o que a história já nos contou, com o Tribunal Penal Internacional da a ex-Jugoslávia, em Haia, a reconhcer que Slobodan Milosevic não teve responsabilidades em crimes de guerra, começa a ser possível ouvir e ler testemunhos e análises que confirmam a ingerência externa das grande potências na desestabilização e desmembramento da Jugoslávia, a manipulação da informação feita através dos principais órgãos de comunicação que cobriram o conflito, o papel da NATO e a parcialidade com que actuou (e para a qual foi criado) o Tribunal Internacional Penal.

Esta notícia do Expresso sobre o lançamento do livro do major-general Carlos Branco, “A Guerra nos Balcãs. Jihadismo, Geopolítica e Desinformação”, é disso exemplo.

Mas agora que já não é só o PCP a denunciar estas situações, onde estão os fabricantes de notícias, os especialistas e os comentadores que fizeram o serviço sujo de manipulação das opiniões com vista a justificar a guerra? Onde andam eles e como convivem com as suas responsabilidades?

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Alexandre Soares dos Santos, BE, capitalismo, CDS, Comunicação Social, economia, Geral, GOVERNO PSD-CDS, Maioria de Esquerda, PCP, PEV, PS

Patrioteiros

bandeira portuguesa

Alexandre Soares dos Santos, com Américo Amorim e Belmiro de Azevedo, é um dos homens mais ricos de Portugal. Esses três da vida airada detém um valor pessoal equivalente a 8,5% do PIB, Alexandre Soares dos Santos é regular e subservientemente ouvido no jornalismo económico. Os seus bitaites são recolhidos com unção pelos josegomesferreiras com o deslumbramento pacóvio que os distingue.

Na semana passada Alexandre Soares dos Santos foi à Sic Negócios (passe a publicidade a programa tão medíocre e manipulador) juntar a sua voz à algazarra que por aí se ouve contra as medidas do governo que tendem, com grande precaução reduzir o enorme fosso entre os ricos e os pobres de Portugal. País da União Europeia em que mais se tem agravado a distância entre os mais ricos e os mais pobres, em particular nos últimos quatro anos de governo PSD-CDS, o que coloca Portugal no ignominioso primeiro lugar dos países da EU em que os ricos são e estão  cada vez mais ricos e os pobres mais pobres. Para essa luminária “o governo de António Costa anda a comprar votos”, Não é mal dito por quem nas empresas do seu grupo e na Fundação Manuel dos Santos “compra” por atacado think tank’s à escala nacional, à direita e numa esquerda manhosa, que fazem lobying em seu proveito, Prática verificável no trânsito entre empresas privadas de todo o género e o aparelho de Estado, em que brilhava, mas nunca esteve sozinho, o Grupo Espírito Santo. Práticas usuais de empresas e empresários que vivem encostados e amparados pelo Estado enquanto fazem grande alarido propugnado menos Estado. Uma ópera buffa que se canta adrede nos cantos e recantos dos media.

Avisa contra os perigos do aumento das importações que o magro poder de compra agora recuperado, vai provocar. Também não é mal dito por quem tem no Pingo Doce o sexto maior importador nacional, atrás da Petrogal, Galp, Repsol, Volkswagen e SIVA e, entre os maiores grupos de distribuição do país, está na linha da frente dos que garrotam a produção nacional com práticas comerciais que asfixiam os produtores.

No fim faz uma profissão de patriotismo, exercício da maior hipocrisia e cinismo por quem deslocalizou para a Holanda a Sociedade Francisco Manuel dos Santos SGPS, SA, que concentra as acções através das quais a família Soares dos Santos controla empresas como o Pingo Doce, via Jerónimo Martins, para pagar menos impostos em Portugal. Isto apesar dessa mesma empresa ser a que mais tem recebido benefícios fiscais por parte do Estado, em particular do governo PSD-CDS,  o mesmo Estado que esmaga os portugueses com uma carga de impostos brutal. Os últimos números conhecidos cifram-se em 79 900 000 (setenta e nove milhões e novecentos mil euros) o equivalente a mais de 150 mil salários mínimos já actualizados.

São assim os nossos patrioteiros. Só lhe falta andar de bandeirinha na lapela. É assim talhada essa gente que range os dentes e conspira, ainda em surdina, mas de vozear crescente e com erupções fedorentas que a comunicação social estipendiada acolhe na sua cruzada contra o governo de centro esquerda do PS, de maioria de esquerda apoiado parlamentarmente pelo PCP, Bloco de Esquerda e PEV-Verdes.

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BE, CDU, Comunicação Social, Edgar Silva, Eleições Legislativas 2015, Eleições presidenciais 2016, Geral, PCP, Política

Arrancar olhos

olhos

Na sequência das últimas eleições presidenciais, a pretexto do resultado de Edgar Silva, candidato apoiado pelo PCP, ter ficado aquém das expectativas, a direita lançou um novo ataque ao PCP, desta vez acrescentando o ingrediente de tentar criar divisões nas forças que viabilizaram o actual governo PS.

Estranho, ou talvez não, é que alguns, dentro destas forças, provavelmente por terem uma longa tradição e vasta experiência em atacar o PCP, tenham servido de amplificadores de tal ataque.

Nos últimos dias, foi possível assistir a uma série de notícias e artigos de opinião que conseguiram misturar o veneno anti-comunista com as habituais doses de mentira, deturpação e caricatura, o cocktail do costume servido pelos melhores especialistas em cozinhar verdades laboratoriais sobre o PCP.

À semelhança do que era escrito em 1989, voltam a anunciar o fim do PCP, a erosão fatal do eleitorado comunista, o acumular de derrotas, a perda de influência política e social.

Analisam o PCP da mesma forma que analisam qualquer outro partido, sem compreender que para o PCP a participação em actos eleitorais não esgota a sua intervenção e acção política.

Mas, mesmo olhando só para as eleições, falham, porque analisam a participação do PCP em actos eleitorais, não à luz dos resultados reais, mas dos seus desejos e leituras que a partir deles fazem.

Por exemplo, falam em derrotas eleitorais sucessivas (há mesmo que consiga ver que o PCP perdeu votos nas últimas legislativas) quando o PCP, desde 2002, sucessivamente, vê o seu resultado em eleições legislativas melhorar, esquecem que o PCP tem vindo a aumentar a sua influência autárquica (veja-se o vómito de Vasco Pulido Valente que em sóbria e lúcida análise vê o PCP a perder influência desde o fim da II Guerra Mundial), sendo a força política com maior número de presidências de Câmaras Municipais na Área Metropolitana de Lisboa, ou que o PCP nas últimas eleições para o Parlamento Europeu elegeu mais um eurodeputado.

Mas na sequência dos resultados das eleições presidenciais, novas teses vêm juntar-se à do fim próximo do PCP, entre elas as que referem que o eleitorado do PCP castigou o Partido pela viabilização do Governo PS ou que o PCP terá de fazer prova de vida e, portanto, sair para a rua, rasgando a posição conjunta assinada com o PS, fazendo oposição ao Governo.

Tamanha preocupação com o PCP chega a ser comovedora, provando que temos muitos e bons amigos, sempre disponíveis nas ocasiões mais difíceis para dar um conselho sábio.

Sei que no domínio das ciências ocultas, a PCêpologia é uma das mais rentáveis e decretar o óbito do PCP, pelo menos, uma vez por mês faz parte do contrato de muitos analistas e comentadores encartados, mas desta vez surpreendem pela criatividade, pela manipulação de resultados eleitorais, pela criação de uma competição virtual entre PCP e BE (a mesma competição que não viram quando o BE quase desapareceu do mapa), pela confusão entre eleições legislativas e presidenciais, pela ideia de que a viabilidade do Governo pode estar comprometida por causa do resultado do candidato apoiado pelo PCP nas presidenciais.

De facto, para analisar o PCP tudo é permitido, todos os argumentos são válidos (mesmo os falsos), vale tudo, até arrancar olhos!

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Comunicação Social, Critérios Jornalisticos, Geral, PCP

Somos um grande colectivo, mas…

Jornalistas, comentadores, opinadores, analistas, bloggers, todos têm direito à sua identidade, ao seu nome, muitas vezes acompanhado da sua profissão ou formação académica. Como sabemos, muitos são simpatizantes, militantes ou até destacados dirigentes de partidos políticos sem que isso seja expressamente referido. Não é sentida essa necessidade, falam em seu nome, exprimem o seu pensamento e convicção, não falam em nome do todo.

No entanto, isto já não acontece se forem simpatizantes, militantes ou dirigentes do PCP, porque, nesse caso, não são eles que falam, não é a sua opinião, mas de todo o Partido, é o pensamento e a acção do “PC” que estão em causa.

Como se sabe os comunistas não têm vontade, nem pensamento próprio, concessionaram-nos ao Partido, só voltando a readquiri-los plenamente quando e se passarem a essa categoria superior e vitalícia de «ex-comunistas».

Por muito que custe a compreender a alguns, um artigo de opinião no Avante! não é a opinião de todo o Partido, o texto de um comunista num blogue não foi aprovado em reunião do Comité Central.

Não negamos, somos, de facto, um grande colectivo, mas esse colectivo é feito de pessoas, de indivíduos que contribuem com a sua experiência de vida, com o seu saber e sentir para a construção do Partido, indivíduos que não se sobrepõem ao colectivo, mas que também não se deixam sobrepor por ele.

Já agora, repare-se como a comunicação social nos apresenta os candidatos presidenciais: o Marcelo, o Nóvoa, a Marisa e o candidato apoiado pelo PCP.

E eu que pensava que a «despersonalização» era uma ferramenta de perigosos regimes totalitários…

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capitalismo, CDS, Cinismo, economia, Geral, GOVERNO PSD-CDS, Ideologia de Direita, paulo Portas, PCP, PS, PSD

A BANCA JÁ É DO ESTADO

EUROS

Com o Banif em chamas, as questões relativas à banca em Portugal, ao Banco de Portugal e às moscambilhas, nesse sector em particular, do Governo Passos Coelho/ Paulo Portas voltam à ordem do dia.

Comece-se por uma curiosidade. Brada a rapaziada, sem idade nem sexo, da direita nacional contra o objectivo do PCP de nacionalização da banca. Num dos debates eleitorais Paulo Portas, arvorando aquele ar de xico-esperto vendedor de vigésimos premiados, calculava que as nacionalizações propostas pelo PCP custariam ao país cerca de vinte mil milhões de euros. Uma brutalidade para o erário público. Dizia isto com ar sério parecendo preocupado com o erário público. Dizia isto escondendo que o governo de que era vice-primeiro ministro entregou à banca 19,5 mil milhões de euros, o que equivale a que cada português tenha emprestado à banca, nos últimos anos,  1 950 euros, quase quatro salários mínimos!!! O equivalente a 11,3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB).

Mesmo o mais que insuspeito Banco Central Europeu, liderado por Mário Draghi, critica particularmente a actuação das autoridades portuguesas por terem falhado na recuperação das ajudas, muitas delas injecções de dinheiro, disfarçadas de empréstimos por conta de activos bancários ilíquidos ou sem quase valor. O que a actual crise do Banif veio, mais uma vez, demonstrar em toda a sua brutalidade. Primeira coisa a reter é a vigarice do raciocínio e dos números de Paulo Portas e sequazes, o que de tão vulgar quase deixa de ser notícia, mas não deve ser deixado passar em claro porque esconde outra realidade.

Quando o PCP reclama a nacionalização da banca está a ser redundante. De facto, desde 2011 a banca já está de facto nacionalizada! A Caixa Geral de Depósitos, o único banco de facto nas mãos do Estado, recebeu um empréstimo de 900 milhões de euros e aumentou o seu capital, totalmente subscrito pelo Estado em 750 milhões de euros. Do empréstimo não devolveu um euro. O Banif recebeu 1 100 milhões de euros dos quais 700 milhões foram directos para o capital ficando o Estado com um pouco mais de 60% do capital, portanto ficou maioritário, mas deixou a administração na mão dos privados, e emprestou 400 milhões que anda por lá por paga e ninguém acredita que paguem.. No Novo Banco é o que se sabe 3 900 milhões do Estado de um Fundo de Resolução de 4 900, em que todos dizem sem o menor pingo de vergonha ir ser pagos pelos outros bancos que só entraram com 1 000 milhões. E dizer entrar é outra rábula já que o dinheiro dos bancos no Fundo de Resolução sai dos impostos que têm que pagar ao Estado. Vão ser precisos, a curto prazo, um mínimo de 1 500 milhões de euros. Já se sabe de onde virá esse dinheiro do Estado, de nós todos contribuintes o que vai fazer que os 1 950 euros que cada português emprestou até hoje à banca vá ultrapassar os 2 000 euros, e ainda não se sabe quanto vai custar a aventura do Banif. A todos esses milhões há que acrescentar 3 000 milhões emprestados ao BCP que já pagou metade, mas está em grossas dificuldades para pagar o que falta!  O único que pediu emprestadoe já pagou, foram 1 500 milhões,  foi o BPI.

Em resumo, como os bancos não pagam os chamados empréstimos, transformam-se esses empréstimos em capital. Com estas manobras a maioria da Banca portuguesa, dos maiores bancos nacionais, ainda está por se conhecer a verdadeira situação do Montepio, estão de facto nacionalizados! Finge-se é que não estão e deixa-se que o dinheiro dos contribuintes continue a alimentar as derivas privadas. Urgente é estancar essa sangria dos bens públicos para os privados! Assumir a realidade que é a do Estado ser hoje proprietário, dono, de mais de 40% do sistema bancário! Amanhã ou depois de amanhã essa quota vai aumentar, e não pouco, por via do Banif, do Novo Banco e de um aumento inevitável de capital na Caixa Geral de Depósitos.

É uma piada grossa dos vigaristas encartados do PSD, CDS e mais os inúmeros comentadores que agitam o espantalho da nacionalização da banca que o PCP diz querer e Bruxelas repudia. Andam a gozar com a malta! Chega de mentiras! As contas dessa gentalha está furada! Nacionalizar a banca tem custo zero! Só não é feita por principio ideológico.

Nota final. Seria bom saber quanto ganham os senhores administradores do Banif, os Tomés e Amados! Se calhar ainda ganharam prémios pelo trabalho (mal) feito! Pelo andar da carruagem desse outro vendedor da banha da cobra Sérgio Monteiro, 30 mil euros/mês, livre de impostos e custas da segurança social, deve ser uma conta calada sempre à nossa conta. Sem esquecer as vigarices do BPN, BPP, BES curiosamente tudo malta de direita, PSD, CDS e ainda a acoitada no PS. Será por acaso? Ah! Ah! Ah! Quem acredita nisso? As tecnoformas foram feitas para os treinar, moldar e encher os bolsos. Afinar o vício lógico argumentativo, torna-los em experimentados vigaristas com os truques de todos os vigaristas que se não são simpáticos e convictos não conseguem vigarizar e vender votos.

O que se deve exigir já é que devolvam a banca ao Estado! Ela já é de facto do Estado!

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Algo de Novo

RR Bandeira Vermelaa

Com a entrada em funções do XXI Governo Constitucional do PS com apoio parlamentar do PCP, BE e PEV, a direita ficou desorientada porque vivia no conforto de julgar que pelo capitalismo actual se pensar definitivo, não fazia sentido a distinção entre direita e esquerda, pelo principio de a esquerda ter sido inapelavelmente encerrada num ghetto. Ou que a reivindicação de se ser de esquerda era uma bandeira empunhada por radicais que viviam fora da realidade, sendo a realidade confundida com as bases teóricas e práticas intransformáveis do capitalismo.

Ancorados nessa convicção, radicalizaram a exploração de todos os recursos fossem humanos, sociais, ambientais, culturais ou económicos com a fé totalitária de que os mecanismos do sistema capitalista ultrapassariam todas as crises em que se afunda. Não conseguiam, nem conseguem, nem conseguirão perceber que nenhuma realidade por mais hegemónica e aparentemente consistente que seja, como é o capitalismo na actualidade, pode ser considerada definitiva. Muito menos quando para o capitalismo terminal em que barbaramente tudo, a começar pelo ser humano, foi esvaziado de qualquer valor a não ser o seu valor de mercadoria. As chamadas reformas estruturais têm esse sentido e objectivo, o de desumanizar a sociedade tornando-a num gigantesco mecanismo de produção e reprodução de mercadorias, aumentando exponencialmente as desigualdades em nome do lucro. É essa a lógica intrínseca do sistema capitalista como se não estivesse dependente, na sua substância e de modo crucial de uma coisa chamada lei da queda tendencial da taxa de lucro, como Marx bem explicou, mas que essa turbamulta de publicistas económico-financeiros do capitalismo parece desconhecer, mesmo quando a sucessão de crises, com ciclos cada vez mais curtos e profundos, o demonstra à saciedade.

A fé, como bem se sabe é cega e estúpida, torna essa gente autista. O espectáculo do debate na Assembleia da República na apresentação do programa do XXI Governo Constitucional, foi a demonstração que a direita nunca perceberá que para a esquerda a realidade histórica do capitalismo tem um caracter contingente, mesmo dentro de um quadro em que o capitalismo continua a ser o sistema dominante. O que a torna incapaz de entender o funcionamento da democracia, da democracia burguesa sublinhe-se, cujos valores hipocritamente usam na lapela dos seus casacos de marca. Por isso não perceberam, nem nunca perceberão o alcance e o significado dos acordos que viabilizaram este governo. Não entendem, nem nunca conseguirão entender o que significa ser de esquerda no século XXI. Muito menos como a praxis teórico-política da esquerda arranca de princípios sólidos na legibilidade da realidade, para actuar sobre a transformação dessa realidade mesmo em bases mínimas, para por fim à aniquilação das pessoas e da sua individualidade. Por fim aos sistemáticos assaltos à nossa inteligência  à nossa vidae aos nossos bolsos.

Os acordos que viabilizaram parlamentarmente o XXI Governo Constitucional colocaram um travão a fundo ao rol dos desvarios mais insanos, das mentiras mais descaradas da direita em nome da sustentabilidade de um sistema de exploração brutal em benefício do grande capital. Foram quatro anos de assalto a todos os que tinham menos armas para se defender, os que estavam mais desmunidos, porque esta direita é rancorosa, não tem escrúpulos e é cobarde.

Também é estúpida, profundamente estúpida e por isso vivia na ilusão que o apartheid parlamentar era durável. Não tinha fim. A realidade ultrapassou-os. Atirou-os para onde sempre estiveram, no caixote de lixo da história. Daí não enxergam o valor simbólico dos acordos que a esquerda alcançou com o PS, para por um ponto final, melhor um ponto e vírgula ou mesmo uma vírgula,  no autoritarismo ideológico de que não havia alternativa. Havia, há e haverá sempre alternativas, isso distingue fundamente a esquerda da direita. Como essa alternativa ou essas alternativas vão funcionar é o centro de gravidade dos próximos tempos com uma certeza: a hegemonia de um sistema que dominou os últimos quarenta nos da vida política portuguesa acabou. Esse ficou definitivamente enterrado.

(na imagem pintura de Rogério Ribeiro/Elegia I/1989)

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capitalismo, Comunicação Social, economia, PCP

Truques

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O Expresso não espera e já começa a fazer os truques habituais.

O jornal do miltante n.º 1 do PSD não brinca em serviço e mostra àqueles para quem trabalha que continua desempenhar o seu papel de órgão de doutrinação e propaganda do capital.

«Acordo da esquerda preocupa mercados» , diz-nos o Expresso, que logo se encarrega de explicar que se o acordo fosse só entre o PS e o BE a coisa ainda era tolerada, agora com o PCP lá pelo meio é inadmissível.

Parece que a Bolsa portuguesa segue a tendência geral do país para o vermelho: «prossegue a sessão desta segunda-feira no vermelho, com a banca e a energia a pressionarem o principal índice bolsista para o vermelho. Às 9h30, o PSI-20 caía 0,73%».

Os gestores (esses seres com extraordiários superpoderes) declaram: “o mercado não vê com bons olhos este acordo à esquerda, particularmente depois do aval do PCP, dado ontem à noite”“o acordo histórico alcançado durante o fim de semana entre o PS e o PCP gera preocupações políticas, que se refletem no alargamento dos spreads da dívida pública e, por conseguinte, nas ações da banca nacional e das utilities. Uma provável viragem à esquerda do Governo em termos de política económica e social afastam investidores internacionais, que construíram posições num contexto de estabilidade política, em que foram implementadas reformas estruturais e medidas de austeridade”.

Certamente, o facto de outras bolsas, como Hong Kong, Paris ou Frankfurt, também terem aberto em queda é, igualmente, resultado das preocupações dos mercados internacionais com as conclusões da reunião do Comité Central do PCP, esse órgão de direcção do PCP que subitamente tudo dirige e decide, impondo o pânico aos pobres gestores que só querem o bem e tão preocupados estão com a vida das pessoas.

Para o Expresso, o acordo parlamentar entre PS, BE, PCP e PEV pôs os mercados a tremer de medo, vem aí o caos financeiro e ainda vamos ver bancos e empresas a falir, apenas porque que se prevê que quem trabalha possa vir a recuperar parte daquilo que lhe tem sido roubado.

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25 Abril, 25 Novembro, António Costa, Álvaro Cunhal, BE, CDS, Govermo de Esquerda, Jerónimo de Sousa, Mário Soares, PCP, PEV, PS, PSD, Social Democracia, Terceira Via

A actualidade do Olhe que Não!

João Abel Manta Soares Cunhal

O universo internáutico foi invadido pela memória de um debate de 11 de Novembro de 1975 entre Álvaro Cunhal e Mário Soares., que ficou na história do 25 de Abril com o registo da célebre frase “Olhe que não! Olhe que não!” 

Viviam-se tempos complexos. A contra revolução iniciada na hora seguinte ao 25 de Abril, caminhava triunfante. Camaleonicamente tinha muitas formas e aliados. Estendiam-se da extrema extrema esquerda à extrema extrema direita. Sucessos amplamente noticiadfos outros silenciados, erupções muito revolucionárias e outras muito reaccionários concorrendo para o mesmo objectivo. Oportunismos de vários jaez tanto à direita como à esquerda. Personagens com estatura e dignidade convivendo com escumalha inominável. Financiamentos inconfessáveis que continuam desconhecidos ou bem guardados em cofres de algumas instituições que afanosamente reescrevem a história. Boatos a dar com um pau. Um caldeirão de azeite fervente pronto a derramar-se na porta da história. Muito por contar, que, se calhar, nunca será contado. A contra revolução era um albergue espanhol manipulado por mãos mais invisísiveis ou mais vísiveis como a do amigo Carlucci, em que coexistiam as palavras de ordem mais revolucionárias com destaque para as dos educadores do povo, com as do do bem aventurado cónego Melo. As alianças contra revolucionárias não conheciam fronteiras, nem tinham qualquer ética. Nada de novo neste jardim à beira mar plantado.

O país vivia um clima de cortar à faca. No ar pairava um cheiro a pólvora pronto a explodir, prenunciando uma hipótese de guerra civil que se acontecesse , fosse ganha por quem fosse, acabaria inevitavelmente por uma vitória da direita mais revanchista, com os seus aliados democráticos que não desdenhariam na partilha dos despojos de receber as benesses que a volta do capital em força lhes proporcionariam, caso se tivesse chegado a esse extremo.

O debate foi longo, bastante interessante. Ficou marcado pela frase de Álvaro Cunhal “Olhe que não! Olhe que não! Ironizando com o seu humor inteligente as acusações que Mário Soares fazia de que o PCP queria impor uma ditadura contra as virtudes da democracia burguesa. A crítica de Álvaro Cunhal à democracia burguesa era sobre os efeitos que, nos termos em que Mário Soares a defendia, iria ter na frágil e historicamente recente situação social económica e política portuguesa. Simplificando, como a “democracia burguesa” iria corroer as conquistas de Abril. Os anos imediatamente seguintes e os que seguiram até hoje, bem o têm demonstrado. Quem honestamente na altura se opunha a Cunhal, hoje o reconhece. Curiosamente, mais que previsivelmente, foram sendo silenciados.

Soares sabia bem do que falava: Conhecia os interesses económicos que se acoitavam debaixo do seu manto de campeão de todas as liberdades e do socialismo em liberdade a bandeira que empunhava com o pundonor de super homem da rua da Betesga..

O que nesse debate ficou bem claro, que já  se advinhava, era uma situação explosiva a curto prazo que estava preparada e iria eclodir para fazer pender os pratos da balança política para a direita. Quanto penderiam é que, na altura, era uma incógnita.

O 25 de Novembro foi uma aventura militar bem montada. Se fosse uma séria tentativa de golpe de estado de esquerda, a esquerda não estaria desorganizada e sem voz de comando. Tudo estava  disperso por vários focos sem ligação entre si .Ao contrário, as forças contra revolucionárias estavam bem coordenadas e preparadas. Era uma evidência anunciada, bem vísivel em todos os sucessos que se multiplicavam sobretudo desde o comício da Alameda, mas vinham de longe, de muito longe. Se por hipótese, era uma real possibilidade, as forças de esquerda apesar da sua descoordenação,  levassem de vencida as forças contra revolucionárias, o caos ficaria instalado. Não basta conquistar o poder. Há que ter saber e ter força para o manter. O “olhe que não! olhe que não!” de Álvaro Cunhal traduzia, com a lucidez e inteligência política que o caracterizavam, essa incapacidade,

No debate, Mário Soares sabia do que estava a falar quando dramatizava histriónicamente um país dividido ao meio, à beira do abismo de uma guerra civil. Bem sabia o que se estava a tramar. Sabia do que falava, como antes, soube de todos os ataques à Revolução de Abril, nomeadamente o 11 de Março. Um parenteses, subsiste uma enorme curiosidade em se conhecer quem seria a voz que leria a proclamação de Spínola se o 11 de Março tivesse êxito. Se essa voz não se tivesse, pelas circunstâncias, calado, talvez mais uma ponta do véu se levantaria sobre a teia de cumplicidades que sustentavam o monóculo do general e quem com ele compartilhou as tramas da conspiração.

A história desses tempos está fragmentada e todos os dias é, de uma ou outra forma, detergentada, para apontar o dedo ao Partido Comunista Português como um inimigo da democracia. História que remonta aos tempos salazarentos e que ressurge, em vários tons e sons, ao longo do tempo. Agora, com a perspectiva de um governo PS com apoio parlamentar dp PCP reaparece em força.Há já quem não se exima em pedir de forma sonora ou sorna a sua interdição. Há por aí gente com os dentes de fora ou com sorrisos alvares que o fazem descaradamente nos palcos que lhes são oferecidos. É a democracia burguesa em funcionamento, com liberdade de controlar a seu bel-prazer os merios de comunicação social usando os seus porta vozes mais ou menos dotados e uma enorme legião de idiotas úteis.

Glosa-se o Olhe que não! com vários fins. Até Seixas da Costa não resiste á tentação, afinal porque haveria que resistir, do recurso à citação,  (“burguesa”, claro, como Cunhal não gostava mas que, como Churchill disse, é “a pior forma de de governo, com exceção de todas as outras”). A mesma democracia (“burguesa”, não é?) que hoje permite que o PCP possa ser chamado a ser parte da solução (I cross my fingers).

Será que António Costa já perguntou abertamente a Jerónimo de Sousa se o PCP vai, um destes dias, romper o acordo? E será que este lhe respondeu: “Olhe que não, olhe que não!”?

Graçolas  à parte, passando por cima do ser chamado,  não sendo cosmopolita como Seixas da Costa, também cruzo os dedos para que o PS e António Costa não rompam o acordo. Porque hoje como ontem o PCP sempre quis ser parte das soluções que melhorem efectivamente as condições de vida dos portugueses, o que durante estes anos de vigência da “democracia burguesa” têm sido brutalmente atacadas pelos ditames do capital a que o PS, metido o socialismo na gaveta, se tem submetido. Não venham conversas fiadas em que a conversa da treta da votação do PEC IV é a última e recorrente. Um pouco de seriedade intelectual, mesmo decência e alguma vergonha exigem-se.

Um problema grave, gravíssimo dos partidos do arco social democrata, tem na sua base a total perca de príncipios ideológicos que eram caros aos fundadores da social democracia. Para eles o funcionamento da democracia burguesa e os sistemas eleitorais, mesmo os que mais subvertem os votos expressos nas urnas com manigâncias pouco democráticas, era o campo de batalha da luta de classes por via pacífica. Os partidos socialistas, trabalhistas sociais-democratas, os autênticos não os travestidos como PSD português, vivem há dezenas anos essa crise. Tornaram-se máquinas de conquista de votos a qualquer preço. São máquinas ao serviço de interesses económicos que lhes dão apoio variável e conjuntural. A thachterização dos partidos do campo socialista é uma realidade que atingiu o seu climax com Tony Blair, no que foi seguido por muitos outros.São agentes das políticas neoliberais desse capitalismo terminal que invade todas as esferas do quotidiano. Alimentam-se do poder e por estar no poder.Ideologicamente são autofágicos até nada restar da ideologia. Olhe-se como os militantes e apoiantes mais destacados desses partidos se atropelam na distribuição de cargos governativos e na ocupação de lugares cimeiros no mundo do capital. Dos bancos às grandes empresas ou mesmo em coisas mais aparentemente inocentes  e politicamente falsamente neutras como as humanitárias e culturais. O trânsito é intenso, a ideologia foi para as urtigas. Essa gente, com emblemas partidários vsariegados, está mancomandada e vive alegremente à mesa do orçamento seja público ou privado e do muito que é privado suportado pelo público. Peça mestra nesse estado de coisas é essa enorme conquista da democracia burguesa que foi o sequestrar quase por inteiro do imaginário confiscando a cultura e a comunicação social. Estão lá todos, revezando-se no controlo do pensamento único para que nem sequer seja possível pensar que se pode pensar uma sociedade outra. Nesse ambiente de fraude comunicacional generelarizada dizer a verdade é um acto de resistência.

Esse é que é o real problema desses partidos que questões momentaneas, parcelares, locais ou universais acabam por trazer para primeiro plano, e que . por mais importantes que sejam,  tem andado a maquilhar para não ser seriamente discutida.. O que é muito do agrado dos opinadores aborigenesa que assim deixam de enfrentar os problemos fundamentais para se entreterem nas croniquetas parlapiando entre assises e costas, se estão mais de acordo com um ou com o outro, com as soluções governativas, dizendo que estão a discutir política para cobardemente não debaterem a questão de fundo, e que está realemente em causa  Fazem isso com contumácia sobre qualquer assunto, aqui ou no estrangeiro. O biombo é ler criticamente o mundo imediato limpo de direita ou esquerda, em nome do realismo e de uma suposta inteligência política que é a estupidez ideológica.

O que está a acontecer em Portugal, mais que haver ou não haver um governo com apoio maioritário de esquerda, é um reflexo do debate que atravessa os partidos da área social democrata e, essa é outra questão, o realinhamento à  direita dos partidos que se diziam do centro. Esperemos pelos próximos capítulos. O que está em causa é os partidos do campo social-democrata realinharem-se pelos seus príncipios originais, com tudo o que tempo histórico ensina, ou continuarem a ser apêndices e gerentes do capitalismo neo liberal, caminho bem conhecido. Já era conhecido mas foi consolidado por uma terceira via que triturou a social democracia.

Ao contrário do que escreve Seixas da Costa, no estado actual que se vive em Portugal, o que se espera é que António Costa diga “Olhe que não! Olhe que não!” a todos os que querem e desejam, aos gritos ou em surdina, que o PS vire à direita, prosseguindo políticas com quarenta anos de idade. Que na primeira curva das enormes dificuldades que irá enfrentar não rompa os compromissos com o PCP, o BE e o PEV, dizendo “Olhe que não! olhe que não!” a todos os que esperam existir um pretexto para o fazer.

Uma enorme e funda diferença com o que têm sido as práticas do Partido Socialista desde a falida primavera marcelista

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BE, Cavaco Silva, CDS, Maioria de Esquerda, Passos Coelho, paulo Portas, PCP, PS, PSD

A Direita em Transe

cartoon de João Abel Manta

Cartoon de João Abel Manta

É um exercício curioso, bastante elucidativo, ler os opinadores e jornalistas assustados com a perspectiva e um governo de esquerda. Não os comentários trogloditas, que percorrem a pauta toda do mel ao fel, que acabam por verberar alacremente com o que consideram ser um golpe de estado. Dos vascos correia guedes aos raposos, dos avilezes aos monteiros, a bebedeira contra a hipótese de um governo PS com acordo parlamentar PCP e BE faz saltar as tampas da cabecinhas.

Não esses, mas os outros, senhores de grande ciência económico-financeira que subitamente descobrem os riscos de uma maioria de esquerda porque a recuperação das finanças públicas não foi feita, porque a previsão do crescimento económico é uma miragem, porque a banca está descapitalizada, porque a fuga de capitais se irá agravar, porque o défice afinal é superior ao previsto pelo governo PSD-CDS, porque a situação internacional piorou, porque as reformas estruturais, seja lá o que isso for, não se fizeram. O rol é extenso e quase só lhes falta dizer que afinal estávamos na bancarrota, mas por lá continuamos apesar da violenta austeridade a que Portugal foi submetido pelo governo de direita, bom aluno, mas, pelos resultados referidos por essa sumidades, aluno estúpido da troika.  Em suma, com a fúria que lhes assalta as almas contra a hipótese de um governo de maioria parlamentar de esquerda, nem se apercebem que passam um atestado de incompetência ao governo dos partidos que ficaram em minoria na Assembleia da República. A sua ira é tal que nem reparam que estão a dar razão a António Costa quando disse que nas reuniões que manteve com a coligação PaF, ia conhecendo desagradáveis surpresas. Não as elencou, mas, pela amostra da devolução da sobretaxa sobre o IRS, tão trombeteada, pela dupla Passos-Portas e seus sequazes, que, durante a campanha eleitoral, era de 50% e nos dias a seguir às eleições minguou para 3,5%, as contas públicas devem ter sido bem marteladas para construir os cenários de recuperação económica, com requintes que fariam inveja ao almirante Pontemkin.

Devem ser esses cenários construídos por pantomineiros encartados, que a voz que veio das profundezas do Poço de Boliqueime considera ser de “consolidar”, “prosseguir”, “preservar”, “não regredir”, chavões que repetiu à exaustão em nome “dos superiores interesses da nação”. O que devia causar escândalo vindo de quem vem e da seita que apoia que contumazmente violam a Constituição.

Tudo isso seria uma tragicomédia, de um género La Feria mais rasca, se não fosse extremamente grave, o que certamente irá colocar problemas acrescidos a um governo de maioria parlamentar de esquerda, além dos que vai enfrentar pelos constrangimentos impostos pelo tecno burocratas da União Europeia, mandaretes da finança internacional.

Apesar dessas evidências um governo apoiado pelos partidos de esquerda na Assebleia da República é uma urgência para um país que, durante quatro anos, foi destruído, vendido a retalho, que perdeu quqlquer dignidade. País que regrediu dezenas de anos social, política e economicamente. Há que dar a volta a essa dura realidade, a que já se conhece e a que se vai conhecer a curto prazo

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António Costa, BE, Catarina Martins, Coligação de Direita, Copmunicação Social, Critérios Jornalisticos, Eleições Legislativas 2015, Independência da Comunicação Social, Jerónimo de Sousa, PCP, Poder Económico, PS, Rigor Jornalístico

Acudam! Acudam que o arco governativo está em risco!

arame farpado

Durante anos, dezenas de anos, culpava-se o PCP pela má imprensa, leia-se comunicação social, que tinha. Antiquado, anquilosado não percebia a vibração mediática pós-moderna que lustrava os media. O ghetto para onde o atiravam, era culpa do PCP que não percebia o que eram as novas exigências dos critérios jornalísticos, do pluralismo informativo. Pode ter havido inabilidades por parte do PCP. Houve, há e haverá, mas nada justifica o silêncio, a menorização ou a deturpação de posições e iniciativas do PCP que desde sempre foram sistemática, deliberada e contumazmente ostracizadas e trituradas pelos celebrados critérios jornalísticos.

Aparece o Bloco Esquerda, modernaço, políticos e políticas desempoeiradas, juventude em marcha na movida política, mesmo se muitos já não fossem assim tão cronologicamente jovens. Um clima arejado, um mainstream primaveril estabeleceu-se entre a comunicação social e o Bloco Esquerda, que mesmo antes de formalmente existir já estava embrulhado em boas manchetes. O Bloco, sem precisar de bater à porta, entrava nos salões, salas e saletas dos media para alegres e celebrados convívios.

Com essas danças e contradanças o pluralismo informativo pavoneava as suas penas arco-íris, enquanto paulatinamente ia afastando gente de esquerda dos seus quadros, fossem jornalistas ou comentadores. Iam ficando alguns para atenuar o mau cheiro progressivamente mais intenso.

O palco estava montado para dar credibilidade aos actores que sentenciavam sobre Portugal, os arredores, o mundo. Tudo corria bem na festança informativa até rebentar a bomba dos resultados das últimas eleições legislativas onde se desenhou a hipótese de haver um governo de esquerda suportado por uma maioria dos deputados eleitos, frente a uma coligação de direita minoritária. Os alarmes dispararam. Isto era tudo muito bonito e andava nos carris dos melhores dos mundos se o eixo político estivesse sempre na direita, rodando mais para a direita ou mais para a esquerda. Agora deslocar-se para a esquerda é que é insuportável. Da comunicação social mais rasca à mais sofisticada os tambores rufaram. Estala o verniz. O pluralismo informativo é atirado para as urtigas. A manipulação faz-se com despudor. Nenhum vício lógico os trava.

O PCP continua, com ligeiras variantes, no destratamento do costume. Lá concederam durante a campanha eleitoral que o Jerónimo era simpático, já sem se lembrarem do que disseram dele quando foi eleito secretário geral do PCP, na primeira linha alguns brilhantes jornalistas afectos à esquerda. Virados os resultados eleitorais, com o PCP a declarar a sua disposição em viabilizar um governo de esquerda, voltam a vestir ao Jerónimo a pele estalinista, de chefe de um bando de esfomeados comedores de crianças.

O Bloco de Esquerda é outra grande chatice. Andaram com a rapaziada ao colo, primeiro porque pensaram que ia tramar o PCP. Erraram estrondosamente. Depois porque pensaram que o BE roubaria os votos suficientes ao PS, para o PS ser derrotado e a direita ficar, mesmo que pela tangente, em maioria. Era o quadro das últimas eleições legislativas.A cobertura da campanha eleitoral foi toda ela vergonhosa. Brutos ou sonsos, os bonecreiros da comunicação social fizeram os possíveis e os impossíveis para a direita ganhar. Quando o BE, na esteira do PCP, também se declara disposto a viabilizar um governo PS, a casa vai abaixo.  A Catarina, a grande revelação da campanha eleitoral, que disse isso claramente no debate que teve com António Costa, perfila-se como uma perigosa assaltante da natureza do sistema e do repouso que havia à sombra do arco governativo.. Não querem lá ver a catraia, já se dá ares de Jerónimo! Perdem a cabeça. Só falta dizer que Bonnie e Clyde, mesmo sem terem ainda falado um com o outro, andam a assaltar bancos e a semear o pânico. na bolsa e nos mercados, enquanto abrem caminho a António Costa, um perigoso esquerdista, como alguns, não poucos, camaradas de partido esclarecem nos media que dão largo tempo de antena a essas cassandras sejam lellos ou assis.

Dos pasquins ao jornalismo dito de referência o vulcão entrou em actividade, derramando a lava das evidências: o pluralismo informativo, o rigor jornalístico é uma ficção! Os meios de comunicação social não têm qualquer independência em relação ao poder do capital. São uma tropa fandanga de mercenários que, com maior ou menor habilidade e talento, estão ao serviço dos poderes económicos e dos poderes políticos sujeitos a esses poderes económicos.

Bastou no horizonte esboçar.se a vaga sombra de um governo de esquerda para as marionetas começarem a festa! O cair de as máscaras ser uma desbunda tonitruante! O jornalismo nunca foi um paraíso imaculado, povoado por virtuosas virgens, esquadrões de amazonas (de todos os sexos entenda-se) de espada desembainhada  à procura da verdade. A grande evidência neste lavar de cestos eleitorais é que não há qualquer liberdade imformativa. São um polifónico coro  da voz dono. Pensam, escrevem, falam todos o mesmo com variações meramente formais.das mais primárias às mais elaboradas.. Todo o universo da comunicação social está contaminado e alinhado à direita. Já dispensam as encenações, as gesticulações de esquerda que alguns faziam para simular diversidade editorial e de opinião. Restam uns jornalistas que dentro desses campos de concentração onde se incinera diariamente o que resta da isenção e do rigor informativo resistem e vão, legitimamente, sobrevivendo. Plantam umas flores no meio do pântano. São cada vez mais raras.

O que é extraordinário, mesmo inquietante, é ver, ouvir e ler pessoas de esquerda que se sentem enganadas, quase traídas por essa comunicação social. Indignam-se. Será bom que além de se indignar percebam o que já deviam ter percebido há muito tempo para lerem todas as notícias com redobrada atenção, o que lhes evita futuras surpresas e a formulação de juízos erróneos sobre outros assuntos candentes. O crivo que filtra as notícias sobre o momento político que se vive em Portugal é o mesmo que é aplicado ao restante noticiário económico, internacional, cultural. O sobressalto e o estupor provocado pela dimensão e vigor dessa barragem noticiosa deve ser um alerta para a gigantesca fraude universal montada através da comunicação social para moldar as nossas opiniões, apoderar-se da nossa consciência política, da nossa capacidade crítica, da possibilidade de termos um pensamento independente do que é imposto pelo governo invisível do poder económico. É assim, que muitas vezes estamos a julgar pensar pelas nossas cabeças e estamos a pensar o que eles querem que pensemos, por estarmos intoxicados pela manipulação mediática, pelas mentiras que mesmo as verdades induzem. Uma teia altamente sofisticada e complexa onde nos querem prender. Tenhamos consciência que a escravidão mental está a ser implementada a alta velocidade.

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Não há desculpas…

 

cdu1

Está frio.

Está calor.

Está a chover.

Está sol.

Está bom para ir até à praia.

Está muito melhor para ir até ao campo ou a uma esplanada com vista para o rio.

É dia de missa.

É dia de futebol.

É dia de estar com a família.

Tive de trabalhar.

Eles são todos iguais.

Isto não muda nada.

As sondagens já disseram quem ganha.

A amnésia não me permite recordar o sofrimento que causaram, nem aqueles que estiveram a meu lado a lutar.

Nunca percebi bem o que querem.

É fim-de-semana e tenho direito a descansar.

Quero o meu sofá e o programa da tarde no meu canal preferido.

A política não me interessa, a mim não me afecta.

Não há desculpas! No Domingo, para romper com as políticas de miséria e empobrecimento do País, não pode faltar nenhum voto na CDU! 

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Artes, CDU, Festa do Avante, música, PCP

Foi linda a Festa, pá!

 

Para muitos a Festa não existiu, para outros ela aconteceu porque o Marcelo esteve lá, para outros, ainda, ela até se realizou, mas apenas por causa da música, porque ninguém quer saber de política e muito menos do PCP.

Para a maioria da comunicação social aquilo que importa noticiar é a cor dos cortinados da casa de José Sócrates, não se vislumbrando qualquer interesse numa iniciativa que junta centenas de milhares e onde a política, a música, a pintura, a escultura, a fotografia, a dança, o teatro, o cinema, a gastronomia, o artesanato e a ciência fazem da Festa do Avante! um acontecimento único e sem paralelo no nosso país.

No entanto, por muito que a tentem esconder ou menosprezar o seu real significado, nós sabemos que foi linda a Festa, pá!

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Artes, CDU, Cultura, Desporto, PCP, Revolução

Fim-de-semana na Terra dos Sonhos

«Na terra dos sonhos podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos,escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar»

Abrem-se hoje as portas da cidade de três dias feitos de alegria, cultura, convívio, fraternidade e camaradagem.

Regresso à Terra dos Sonhos, à minha, à nossa Festa do Avante!

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BE, Euro, Geral, PCP, União Europeia

As lições gregas do BE

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Catarina Martins diz que Portugal tem de estar preparado para sair do euro.

Durante os últimos anos, o PCP tem, de forma isolada no panorama político nacional, defendido que Portugal deve estudar e preparar uma eventual saída do Euro, seja por decisão própria, seja porque outros o empurrem para fora da zona euro.

Num quadro de grandes dificuldades e agravamento das contradições internas do processo de integração europeia, a pior coisa que poderia suceder seria uma saída desordenada e desapoiada do euro, com consequências imprevisíveis para a economia nacional.

Nesta posição, o PCP foi confrontado com acusações vindas de todos os lados e os euro-esquerdistas foram pródigos em apelidar o PCP de soberanista, nacionalista, patrioteiro, isolacionista, etc. E, em muitos casos, tentaram colar este posicionamento às opções xenofobas da extrema-direita.

Afinal, o PCP atrevia-se a pôr em causa o benemérito projecto de construção europeia, a solidariedade entre os povos e a convergência económica e social. E só um Partido de loucos poderia colocar em causa a moeda única que nos permite ir a Badajoz comprar caramelos sem ter de trocar moeda.

Tudo serviu para caricaturar a posição do PCP.

Assim, não é de menor importância registar e saudar evoluções (ainda que decorram mais da oportunidade do que da análise) naqueles para quem a União Europeia e o Euro eram realidades intocáveis até há pouco.

Foram duras as lições gregas, mas parecem ter tido consequências na análise que o BE faz sobre o actual momento da União Europeia e da união monetária.

Evidentemente, face a anteriores acusações, resta a pergunta: estará o BE a pôr em causa o seu internacionalismo, estará a atravessar um desvio patrioteiro?

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