Ana Vasconcelos, Clara Menéres, Eduardo Batarda, Fátima Vaz, Fundação Calouste Gulbenkian, Geral, João Cutileiro, José Guimarães, Luísa Correia Pereira, Lurdes Castro, Manuel Baptista, Maria José Aguiar, Menez, Nikias Skapinakis, P, Palolo, Patrícia Rosas, Pós-Pop, Ruy Leitão

Um Murro Colorido num Portugal Cinzento

transferirJaz Morto e Arrefece 1973

Jaz Morto e Arrefece, o Menino de sua Mãe, Clara Menéres,

A exposição Pós-Pop, Fora do Lugar Comum, na galeria principal da Fundação Calouste Gulbenkian, exibe obras realizadas por artistas portugueses e ingleses no período entre os anos 1965 e 1975. Duas datas que definem um período em que Portugal vivia o tempo dramático das guerras coloniais, a de Angola tinha começado em 1961, Guiné-Bissau 1963, Moçambique 1964, até à Revolução de Abril que derrubou a ditadura, acabou com as guerras, negociou a independência das colónias. A referência explícita a essas duas realidades é representada pela escultura de Clara Menéres, Jaz Morto e Arrefece, O Menino da sua Mãe, um soldado em tamanho natural deitado sobre um féretro metálico, colocada no centro de uma sala em que nas paredes estão expostas obras com os traços bem característicos da arte dessa época, brilhantes, luminosamente coloridas, muito sexy up-to-date, o que acentua o tom dramático da escultura de Menéres. A outra referência, a fechar a exposição, é a pintura de Nikias Skapinakis que retrata o 25 de Abril como grande festa popular, recuperando e transfigurando o célebre quadro de Delacroix, A Liberdade Guiando o Povo, pintura icónica da Revolução Francesa. Um quadro em que Skapinakis condensa a linguagem da pop-art e as suas derivas em Portugal, no que é a sintaxe do seu trabalho no período final que esteve bem representada na exposição Presente e Passado (2012-1950) organizada por Raquel Henriques da Silva no Museu Colecção Berardo.

Essas duas obras de algum modo assinalam o tempo cronológico das outras obras expostas.

As curadoras desta exposição colectiva, Ana Vasconcelos e Patrícia Rosas, fizeram uma selecção criteriosa e bem representativa dessa época, recuperando Fátima Vaz, uma artista que morreu cedo e, na altura, não teve o reconhecimento que lhe era devido, Ruy Leitão, tragicamente desaparecido quando o futuro lhe abria as portas, Maria José Aguiar que tem uma extensa obra mas que se remeteu voluntariamente ao silêncio, uma quase esquecida Luísa Correia Pereira, Teresa Magalhães com pinturas inéditas notáveis. Há ainda obras desconhecidas de João Cutileiro e José Guimarães, com trabalhos em que utilizaram os recursos visuais da pop para os resgatarem do seu pendor consumista e superficial com poéticas surrealistas e um traço grosso de consciência social, que é a tónica que percorre toda a exposição ilustrada com fotografias, documentos, músicas e imagens dos arquivos da RTP desses anos, o das mini-saias e do ié-ié dos Beatles que irrompiam num Portugal bolorento.

sem titulo Tersa Magalhães 1969

Sem Título, Teresa Magalhães

Dizem as curadoras que os artistas portugueses percebem muito bem o que está em causa na pop, e criticam-na, transcendem-na. É a capacidade das periferias para fazerem desvios” É isso que fica sublinhado nas duzentas e quinze obras, das quais cerca de vinte inéditas. Isso e como bem esclarece Penelope Curtis no texto do catálogo, a diferença entre os artistas pós-pop em Inglaterra, que assumiam uma feição mais ligeira, enquanto em Portugal “esta segunda vaga da pop foi marcada por um carácter introspetivo, mas também pela emergência de uma linguagem mais contundente, adequada à crítica visual feita a um regime opressivo”. O que acaba por gerar unidade na enorme pluralidade e diversidade das obras aqui apresentadas de, entre outros além dos já referidos, Palolo, Menez, Eduardo Batarda, Manuel Baptista, Lurdes Castro, Sérgio Pombo. Uma geração de artistas portugueses que, à semelhança dos artistas das gerações anteriores, escapavam e iludiam a mediocridade que se vivia em Portugal, varriam o pó que chovia pesada e persistentemente no país com os ventos londrinos, quando Londres se tinha tornado o centro irradiante das artes visuais na Europa, ocupando o lugar anteriormente ocupado por uma Paris que se tinha esgotado.

Uma exposição para ir ver até 10 de Setembro.

Delacroix no 25 de Abril em Atenas, 1975

Delacroix no 25 de Abril em Atenas, Nikias Skapinakis

(publicado em Avante!, 10 Maio)

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