Artes, Comunicação Social, Costumes, Geral, Joana Vasconcelos, Mario Dionisio, Plutocracia, Vasco Pulido Valente

Os barões assinalados do Portugalito

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O nosso Portugalito, o Portugal que tem por brasão o Galo de Barcelos, agora em versão mais medíocre realizada pela putativa escultora Joana de Vasconcelos, que ostenta no seu currículo o feito raro de ter descoberto o caminho marítimo para Veneza em ferryboat, o que mais a notabilizou entre latoarias e outros bordados.

Nas florestas comunicacionais desse Portugalito pastam uns numerosos rebanhos de opinadores inexpressivos, alguns ignóbeis, com lugares cativos nos media suportados pelos plutocratas que aí esbanjam umas migalhas dos muitos lucros da sua actividade de empreendedores, acalantada pelo Estado que os favorece em nome da livre iniciativa.

São os barões assinalados do Portugalito. que mais não merece.

Alguns adquiriram um estatuto que lhes garante uma corte de anões que lhes aplaudem as tiradas, quanto mais obnóxias melhor, nada que faça mexer uma célula cinzenta basta  que sirva para manipular a opinião pública e provoque pressão política sem que nenhum vício lógico os trave. De facto são bastante mais propícias a largas libações congratulatórias entre essa malta, de preferência com os melhores uisques, a distinção anglo-saxónica a isso obriga, tintos seleccionados, por vezes uma cedência popularucha à sangria, mas essa com Barca Velha e Moet et Chandon, Cedências sim, mas sem enrugar o elitismo de pacotilha, a sua imagem de marca.

Um desses abencerragens é um que se autonomeia Vasco Pulido Valente, recorrendo a linhagem distante bastante mais sonora e adequada à petulância do personagem. Tem tido aparições eruptivas em vários jornais, com textos prevísiveis sobre os alvos a que aponta, sempre do centro para a esquerda, com a altivez de um aristocrata decadente a sofrer de gota. Textos escritos num português que procura imitar os dos grandes polemistas de antanho, onde de descobrem as cerziduras de tão laboriosa costura por mais que, de quando em quando, invente uma graçola pronta a usar pela direita sem ideias e ávida de bordões. A sua última, ainda não perdeu prazo de validade, foi ter chamado geringonça ao acordo entre os partidos de esquerda que colocaram o PS no governo da nação. As suas outras experiências, na política activa e na televisão, foram fugazes e reveladoras da personalidade tartamudeante que estava parcialmente ocultada pelos seus textos desinspirados, amodorrados em banalidades quotidianas e frechadas nos seus inimigos de estimação, que são todo o mundo, mesmo o que lhe estende a mão. Todo o mundo excepto o Correia Guedes, vulgo Vasco Pulido Valente, cuja única mais valia é viajar o ego por entre a sua biblioteca de uísques.

Depois de algum tempo em silêncio ei-lo de volta a um jornal on-line onde fica bem entre os pares de jarras daquela mesa carunchosa. A fórmula não se alterou. Em Portugal só existe o VPV que tudo sabe, tudo leu e quase tudo bebeu. O que existe à sua volta é a mediocridade que não o merece a ele que desbarata prosas para a choldra ignara continuar a viver na frivolidade que não se comove com a sua má-língua.

Permite-se a tudo, permitem-lhe tudo mesmo os dislates mais obtusos, mais demonstrativos dos seus desequílibrios mentais por onde viaja ébrio de si-próprio, o que não desculpa de modo algum que na última crónica se permita escrever o que escreveu sobre um dos grandes intelectuais portugueses do século XX, Mário Dioníso.

Vasco Pulido Valente, tem uma alma latrinária, é um intelectual mediocre com mesquinha inveja de todo o mundo, de quase todos o mundo se exceptuarmos os clones que com ele partilham alcoois e ideias tão redondas que não têm ponta por onde se lhes pegue. O texto que escreveu sobre Mário Dioníso, entre outros textos mas este de um acinte miserável, comprovam á saciedade o grande vigarista intelectual que é, vivendo dos benefícios da vigarice intelectual não estar inscrita no Código Civil.

É a demonstração da senilidade do nosso Portugalito e de como a plutocracia o mantém ligado à máquina.

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"Star-System", Artes, Costumes, Cultura, David Bowie, Geral, Gianni vattimo, Indústrias Cultyrais e Criativas, Kundera, PASOLINI

Um mundo sobrepovoado de génios

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Este ano, as mortes de David Bowie e Prince inundaram os media e as redes sociais de textos laudatórios do trabalho desses dois cantores fazendo suspender o tempo para dar espaço ao cortejo de homenagens. Rapidamente ascenderam ao Olimpo dos génios, ao Panteão dos imortais. Poderia, deveria assombrar a facilidade com que se catapultam artistas mesmo daquele gabarito, mais Bowie que Prince o que para o caso pouco interessa, para um excessivo, um adjectivo suave, endeusamento. Começam a escassear os bons artistas, agora só deuses, génios, não por acaso todos ou quase todos da galáxia anglo-saxónica. É a economia do sistema das estrelas que invadiu todas as áreas da cultura, das chamadas indústrias culturais e criativas. Cinema, pintura, teatro, música, literatura, artes performativas, mas também outras como o desporto, a cozinha, a moda, etc., foram tomadas de assalto pelas super-estrelas. Uma marca das sociedades no nosso tempo.  Um fenómeno que merece alguma reflexão.

A questão nuclear é que no mundo globalizado, os mercados das indústrias culturais e criativas fabricam produtos a ritmos acelerados com a manufactura de pseudo-acontecimentos alinhados pelos mecanismos publicitários em que a afirmação enfática da marca é bastante para nomear uma realidade incomparável. Onde a procura de originalidade se transforma na confissão parcial de não-originalidade, mascarada pela erupção constante de novidades que, invariavelmente, acabam por se revelar requentadas.

A urgência de amortizar os custos, materiais e imateriais, da criação de estrelas e super-estrelas não dá espaço nem tempo para uma verdadeira inovação. Nem isso interessa quando o foco está no sucesso do sobe e desce dos top-ten e seus reflexos na cotação dos mercados. Sucessos anunciados no bater dos tambores de uma comunicação social estipendiada que se repercute nas redes sociais cercando e anulando mesmo as vozes críticas mais lúcidas. Aliás, essas desmistificações, por mais sérias e credenciadas que sejam, são sistematicamente remetidas para nichos onde se espera fiquem sepultadas. Raramente ultrapassam os muros que defendem a rede de interesses económicos que domina o mercado e impõe, com arrogância ou manhosamente, os seus ditames tecendo um cintilante e artificial mundo das estrelas e super-estrelas que sobrepovoam o universo de génios construídos com as estruturas aramadas de grandes campanhas promocionais. Vale tudo desde a invenção de qualidades em produtos sem qualidades ou de qualidade duvidosa à exploração dos aspectos da vida intima, de preferência sórdidos. É a cultura burguesa no seu máximo esplendor. A sublime inutilidade em que, nos melhores dos casos mas não por acaso, mesmo quando há algum interesse estético ou algum interesse artístico se cumpre o destino histórico dos formalismos que termina sempre na utilização publicitária do trabalho sobre a forma.

O extenso noticiário apologético provocado pelas mortes de David Bowie e Prince é bem esclarecedor do estado actual da arte. A par de um até pacóvio embasbacamento com a sua obra, sublinhava-se o seu tom por vezes  provocatório em relação a uma sociedade, procurando assombrar uma burguesia entediada com o seu próprio tédio, uma burguesia insusceptível de se escandalizar num mundo inenarrável por demasiado ligeiro, demasiado absurdo, onde nada se repete porque é meramente casual onde, dirá Kundera, “tudo está já perdoado e por isso cinicamente permitido”.

Tudo isso faz parte do imaginário do pensamento dominante de um mundo de conformismo cúmplice com as piores baixezas. Um mundo em que o sentir pós-moderno parece ter ficado paralisado pela discrepância entre um conhecimento lúcido e penetrante e uma imoralidade deliberada, sem freio e sem pudor.

Gianni Vattimo sublinha a importância de um processo de desmistificação, de desmascaramento do desmascaramento “das exigências de uma sociedade que não tem mais necessidade de manter a relativa autonomia das actividades simbólicas, como a arte, a filosofia e as ciências humanas. Que tenta transformar os detentores de actividades simbólicas em funcionários do sistema produtivo (…) fazendo-os descer ao nível da realidade, ou seja da sua dependência directa dos imperativos económicos.”

Uma situação grave e complexa que configura a actual vitória ideológica da direita que é necessário combater em todos os terrenos. Um deles entrar por esse panteão de génios de pacotilha e, com a vergasta do Jesus no Evangelho Segundo S. Mateus de Pasolini, correr com os vendilhões do templo.

 

in Jornal A Voz do Operário,

n.º 3034, pág. 15, Junho 2016, Lisboa.

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Costumes, economia, Geral, justiça, Política

PROMISCUIDADES

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Para se entreterem e se indignarem.

Este jogo já anda há algum tempo na “net”. Traça as ligações entre os grupos económicos e os políticos, recompensados pelo trabalho que fizeram enquanto membros do aparelho de Estado. De ministros a parlamentares, de assessores a administradores, directores nas empresas públicas, reguladores, etecetera,  enquanto não foram ou que ainda não foram privatizadas. Jogando percebe.se melhor as promiscuidades que  ao longo dos anos, correlegionários do PS, PSD e CDS teceram fazendo da política trampolim para se instalarem bem na vida,  vidinha. Nem todos foram tão sôfregos como os que agora estão  nas bocas do mundo, espreguiçando-se à sombra da lenta justiça, casos do BPN, BPP ou Face Oculta. Nem por isso menos eficazes no proveito próprio.

Esses partidos estão cada vez mais próximos e cada vez mais esvaziados de ideologia. fazem a apologia da democracia às boca cheia quanto mais a realidade partidária corresponde cada vez menos ao ideal democrático. Partidos que reduzem a sua acção na caça ao voto. É ver as promessas eleitorais e compará-las com as práticas governativas. Não são instrumentos ao serviço dos seus eleitores. São braços do aparelho de Estado onde representam interesses económicos que lhes dão apoio variável. São organizações eleitorais que medem a sua representatividade pelos resultados da competição eleitoral. Neste jogo, que o seu autor chamou Um Ecossistema Político-Empresarial / Portugal 1975-2013, vê-se a enorme e despudorada promiscuidade entre os políticos desses partidos e os grupos económicos.

Joguem, entretenham-se a perseguir essas baratas nada tontas.

SOBRETUDO INDIGNEM-SE!!!

DIA 1 DE FEVEREIRO LÁ ESTAREMOS EM MAIS UMA JORNADA DE DESBARATIZAÇÃO!

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Costumes, Cultura, Geral, Política

A Última mamada

O meu amigo José Luís Porfírio enviou-me este “mail” que não resisto a publicar. Os comentários não são dele nem meus, mas são certeiros como um golpe de kung fu feito por Bruce Lee. Este e outros continuam a mamar à nossa conta metendo-nos as mãos nos bolsos, directa e indirectamente, e nós lá vamos não cantando nem rindo mas aguentando , alguns bovinamente, a extorsão que nos últimos anos nos tem sido feito de forma mais descarada e violenta pela dupla comandada por Passos Coelho-Paulo Portas à frente do bando de abutres que se acoitam no PSD-PPD / CDS-PP que nos tramam, mentem e roubam com o maior dos descaramentos,sem nada que trave a sua sofreguidão e os conúbios miseráveis entre politiqueiros mal cheirosos e o grande capital como ainda há bem pouco tempo Paulo Morais denunciou de viva voz na Assembleia da República, apontando poucos, poderia ter ido mais longe, bastante mais longe, mas o que disse já é uma denúncia importante. O Arnaut ainda não tinha ido para a Goldman Sachs devido às suas capacidades de lavar alcatifas nos corredores do poder. O que prova que o grande capital está sempre pronto a recompensar mesmo o mais medíocre dos seus serventuários. O que só demonstra que para roubar a pátria entregando os seus valores por tuta e meia ao grande capital qualquer Arnaut chega, desde que seja frequentador assíduo das casas de banho do poder onde se passam as cenas mais indecorosas para tramar o país.
Paula Rego pintou este e expôs este quadro em Londres, sem qualquer repercussão nos estipendiados meios de comunicação social ditos ou não ditos de referência. Aqui vos deixo a pintura e o comentário de que desconhecemos a autoria, mas que subscrevemos por inteiro. Será a última mamada se não os corrermos a tempo de não nos escanzelarem completamente! Fora com esta pandilha!!!

 

 

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Quiçá como reacção à extinção da Fundação Paula Rego, instalada na Casa das Histórias em Cascais, a pintora apresentou o trabalho intitulado The last feed – (a última mamada)
Tendo sido apresentado em Londres, na sua última exposição (Jan-Março 2013), representa a figura de um ‘palhaço rico’ (onde se reconhece perfeitamente o retrato de Aníbal Cavaco Silva), com um pé no pedestal, a mamar nos seios de uma velha decrépita e aperaltada com um chapéu.
O palhaço com a mão esquerda ‘coça a micose’.
A Velha pode representar a política, ou a nação. A pintura chama-se ‘A Última Mamada’  (‘the last feed’).
Apesar de ter tido algum eco nas redes sociais não há registo de grandes referências à exposição (ou à pintura) na imprensa portuguesa.
Ainda não se sabe se/quando a exposição virá a Portugal e se este trabalho fará parte dela.

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Costumes, Cultura

O drama, a tragédia, o horror!

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Se fosse um trailer de um filme de guerra, um qualquer Rambo ou Chuck Noris, chegaria a haver notícia? 

Qual a razão para se aceitar como normais, naturais e moralmente sem censura cenas de extrema violência, de morte, de miséria e se reprovar e censurar a nudez e o sexo?

Que sociedade é esta que banaliza a violência e constrói tabus em relação ao corpo e à sexualidade?

Neste caso, as puritanas mentes norte americanas lá trataram do assunto com bilhetes grátis e o despedimento do pecaminoso funcionário que, por erro, passou o trailer que não devia.

E as crianças, em dois minutos, terão desfeito o mito das cegonhas pondo irremediavelmente em causa um dos pilares fundamentais da sociedade ocidental!

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Costumes, Geral

Gurus das Frases Feitas

ImageVivemos numa época em que a magreza das ideias ou mesmo a sua ausência é suprida pelo falar e escrever frases empoadas que são atiradas para o ar, envoltas numa poalha de ouro que vai-se ver e é brilhantina do latão mais rasca. Na economia, na culinária, a literatura alcança mesmo os picos da imaginação. É vulgar em receitas da cozinha internacional pós-moderna encontrar frases como: “X em sua cama de verdes viçosos do campo”. Lê-se a receita e os verdes viçosos do campo é alface! por esses fornos acima, é uma escrita desatada. Na economia a cada naufrágio solta-se a língua como um salva-vidas. Eles são os produtos tóxicos, os remédios ou não sei que mais, sem esquecer essa pérola que é o crescimento negativo! Por dá cá aquela palha tudo tem que ter  sustentabilidade, em tudo se persegue o que é sustentável, sustentado. E claro qualquer coisa faz sempre parte de um plano integrado de… Um jargão que entrou nos léxicos. Térmitas que todo o mundo usa a propósito e a despropósito. Todos os dias tropeçamos com frases dessas, de pompa e circunstância, que não dizem nada e parecem dizer tudo.
No outro dia caiu em cima da minha mesa de trabalho esta frase, um pequeno e refulgente diamante em resposta a um inquérito feito por uma entidade oficial sobre indústrias culturais e criativas, projectos e objectivos para indústrias culturais e criativas. A pergunta nem interessa qual é. A resposta podia ser à pergunta onde calhou mas em qualquer uma das outras também não deslustrava o seu autor e ficava sempre certa no contexto. É a enorme virtude destas frases.

. Rezava assim:

CRESCIMENTO SUSTENTADO

DA ECONOMIA DO CONHECIMENTO

                                                                    ????????????????????????????????????????????????????

Perceberam? Têm dúvidas? Ofereço-vos uma chave para entenderem a profundidade da frase. A mesma que utilizei para ser tocado pela graça de a entender na sua magnitude, na excelência do conceito que encerra. Auguramos ao seu autor um risonho futuro sustentado em mais frases destas que devem deixar embasbacados os utentes de qualquer areópago por onde passeie a sua ciência de frases feitas a tilintar nas orelhas dos ouvintes, com o efeito da flauta de Hamelyn.

Gazua auxiliar de decifração:

1.Crescimento da economia sustentada do conhecimento

2.Crescimento da economia do conhecimento sustentado

3.Crescimento do conhecimento sustentado da economia

4.Conhecimento sustentado da economia do crescimento

5.Conhecimento do crescimento da economia sustentada

6.Conhecimento da economia do crescimento sustentado

7.Economia sustentada do crescimento do conhecimento

8.Economia do crescimento sustentado do conhecimento

9.Economia do conhecimento sustentado do crescimento

E etc.

Se tiverem insónias podem continuar. sempre é mais divertido do que contar carneiros.

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Costumes, economia, Geral, Política

Lenga-Lenga da Austeridade

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Extracto do Coro da Austeridade dito pelos “nossos” governantes e seus prosélitos, com o catecismo da austeridade decorado na catequese europeia e sessões suplementares em Berlim, todos muito impantes da sua estupidez e insânia.

estamos no bom caminho

em 2013 começa a recuperação económica

estamos no bom caminho

o desemprego aumenta

estamos no bom caminho

os jovens que emigrem

estamos no bom caminho

os impostos aumentam

estamos no bom caminho

Portugal não é a Grécia

estamos no bom caminho

empobrecemos o país

estamos no bom caminho

tiramos a todos damos aos bancos

estamos no bom caminho

matamos a esperança

estamos no bom caminho

em 2014 começa a recuperação económica

estamos no bom caminho

abandonamos os pensionistas e reformados

estamos no bom caminho

cada vez há mais crianças com fome

estamos no bom caminho

os ricos cada vez mais ricos

os pobres cada vez mais pobres

estamos no bom caminho

Portugal não é a Grécia

estamos no bom caminho

cortamos “despesas” na cultura

estamos no bom caminho

cortamos “despesas” na saúde

estamos no bom caminho

cortamos “despesas” na educação

estamos no bom caminho

em 2015 começa a recuperação económica

estamos no bom caminho

cortamos “despesas” nos apoios sociais

estamos no bom caminho

as falências aumentam de dia para dia

estamos no bom caminho

Portugal não é a Grécia

estamos no bom caminho

a recessão agrava-se

estamos no bom caminho

a despesa pública não pára de aumentar

estamos no bom caminho

cada vez é mais fácil despedir

estamos no bom caminho

os salários baixam

estamos no bom caminho

o poder de compra é cada vez menor

estamos no bom caminho

em 2016 começa a recuperação económica

estamos no bom caminho

bla-la-bla-la-bla-la

la-bla-la-bla-la-la

DIZ HUMPTY-DUMPTY PARA ALICE

“NÃO ME INTERESSA O QUE DIGAS, MAS QUEM MANDA NO QUE DIZES”

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Costumes, Geral, Política

Faites vos Jeux…Democratiques

Image  Vai por aí um clamor bem pensante entrincheirado nos princípios democráticos que explica, por tudo o que é sítio,  que o exercício do direito à manifestação e indignação deve ser compatível com o respeito por figuras institucionais e ao seu direito à palavra.

Blalala a legitimidade e blalala os deveres e os direitos que a democracia impõe.

É gente bem pensante, confortavelmente instalada, chamada, a mais das vezes paga e bem paga, para perorar por tudo e por nada nos areópagos em que esta democracia espúria luta pela sobrevivência e que agora exprime, com graduações diferentes, a sua condenação às “grandoladas” em geral e em particular a que cercou Relvas que abandonou o palco sem poder debitar mais uma bula da venda da banha da cobra.

Essa mesma gente deve achar democraticamente legitimo que as figuras agora institucionais o sejam à conta de aldrabarem com o maior à vontade e descaro durante as campanhas eleitorais, numa caça ao voto onde vale tudo. Dirão, com inocência virginal, que isso é o jogo democrático. Também devem achar legítimo e até saudável que a comunicação social estipendiada puxe da carteira dos critérios jornalísticos para censurar as posições, as acções, as intervenções dos partidos que não se inscrevem naquilo a que, hipócrita e soezmente, chamam de arco do governo. Não os incomoda que os comentadores, em que eles se inscrevem ou almejam ser inscritos, que enxameiam os jornais, as rádios e as televisões sejam um coro, ainda que desafinado, que batuca para propagar o pensamento dominante. Assistem em silêncio mesmo ao guilhotinamento de alguns desses comentadores, alguns das suas áreas, quando se tornam excessivamente críticos para os padrões do conformismo que se quer garantir. Não se sobressaltam com a censura efectiva, real e palpável que, de forma directa ou indirecta, menoriza, hipótese mais favorável, ou cala, hipótese mais vulgar, tudo o que possa por em causa o estado de sítio democrático imposto pela rotatividade de mais do mesmo que há quase quarenta anos degrada o Estado a favor dos (uns quantos ) privados. Não lhe faz uma pequena cócega essa democracia ser cada vez mais papel de embrulho para uma expropriação dos direitos políticos, sociais e económicos da esmagadora maioria dos cidadãos. É a democracia em velocidade de cruzeiro, dirão essas virgens ofendidas pelo “ultraje” sofrido pelo feirante Relvas e pelos que andam a perseguir as excelsas figuras ministeriais.

A questão é outra. Essa gente anda a afiar a língua para mentir com todos os dentes que tem na boca para “comprarem” votos e se alcandorarem ao estatuto de figuras institucionais ou fazerem parte da corte. Para eles, o importante é que o jogo democrático continue mesmo que seja uma imensa mentira.

Como diz Kundera na sociedade actual “tudo é permitido porque tudo está cinicamente perdoado”

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Costumes

Vou só ali tomar banho, volto já.

A crer na reportagem das nossas TV´s, um tigre fugiu do circo onde se encontrava, na bonita cidade da Régua, atravessou o Douro a nado e foi capturado já na outra margem do rio, no lado de Lamego, “apenas” duas horas depois. Como tudo está bem quando acaba em bem, o dito bicho, lá se apresentou no espectáculo da noite, meia dúzia de horas passadas depois do seu banho de relaxamento e beleza.

Como todos sabemos, independemente das circunstâncias, o espétaculo deve continuar. Nada de novo, pois já passado um século, o navio Titanic ia ao fundo e a orquestra continuava a tocar.

Um representante do circo, fiquei na dúvida qual o seu lugar, se dono se palhaço, explicou que o bicho, coitado, aproveitou-se de uma distração dos limpadores da jaula e decidiu mergulhar no Douro. Mas, rapidamente a situação foi resolvida. Vejam bem, explica o porta-voz, depois de o tigre atravessar o rio, ao chegar ao outro lado, foi apenas uma questão de se lhe deitar um laço e umas horas depois lá estava ele, digo eu, mostrando-se um grande profissional, apresentando o seu “show”.

Pelo que se sabe, um alerta dado ao fim da tarde do dia da fuga envolveu, na procura do grande gato, elementos da GNR e dos bombeiros da Régua e de Lamego, bem como da polícia marítima.

Apenas um breve intervalo, para lhe lembrar, caro leitor, que no caso de se esquecer da chave em casa e se tiver que chamar os bombeiros para lhe abrirem a porta paga cerca de 60€.

Resumindo: alguém vai pagar a intervenção destas corporações e prevejo, após a leitura da minha bola de cristal, que vão ser os nossos impostos. Enfim , apenas um desabafo.

Voltando à vaca fria, perdão ao tigre manso (manso é a tua tia, diria o outro), segundo as palavras do homem que deu rosto ao circo, nada de anormal se passou pois o tigre está domesticado, seja lá isso o que for. Acrescentou que somente devido a uma ligeira distração dos funcionários encarregues da limpeza das jaulas, a tigreza fugiu, foi a banhos no Douro, mas  ao chegar à outra margem foi posto no redil.

Assim ficou esta notícia, nada se passou, nada aconteceu e como tal tudo está bem.

De pequenos nadas é feito o retrato do nosso país. Este é apenas mais um.

Impedir de imediato o espetáculo dessa noite, inspecionar a segurança do circo, a forma como são tratados os animais, a legitimidade legislativa e moral de manter animais em cativeiro, no fundo, saber se estas companhias têm ou não condições para exercer o seu modo de vida, nada disto ocorreu a quem pode e manda, pois tudo está bem quando acaba bem.

Enquanto portugueses sabemos como estas coisa funcionam. Ninguém morreu ou ficou sem um pedaço do seu corpo e, acima de tudo, nenhuma criança foi molestada, pelo que tudo está bem.

Também não vale a pena exagerar nas consequências, ou seja, nas responsabilidades, pois mesmo que alguma criança, mas também jovem, adulto ou velho, tivesse sido comida ou mutilada pelo tigre “domesticado”, após os dias da “carpição” popular e mediática, ou seja, após os dias denominados de “nojo”, este tigre ou outro tigre continuaria a fugir e a matar.

Não se iludam; o nosso problema não é apenas politico, não é somente económico ou financeiro ou seja lá o que queiram dizer …  a nossa verdadeira questão é profundamente cultural e de cidadania.

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Costumes, Cultura, Setúbal

Festa do povo do mar, Nossa Senhora do Rosário de Troia

Com o pino do Verão está de regresso uma das mais antigas e pujantes festas de pescadores de Setúbal – a Festa de Nossa Senhora do Rosário de Troia, entre 15 e 20 de Agosto. Festividade de gente do mar, mas também de todo o povo de Setúbal que se reconhece na memória (e no presente!) das gerações de homens e suas famílias que tem feito da pesca o seu modo de vida.

A festa une os dois lados do rio Sado. Setúbal, de onde é originária a comunidade piscatória que promove a festa, e Troia (concelho de Grândola), onde se encontra a capelinha que acolhe a imagem da Senhora do Rosário de Troia durante o período das festividades.

É na caldeira de Troia, bem junto aos areais que bordejam o Sado, que os festeiros se instalam, ali acampando durante as festas como é de tradição. No que é, aliás, a única ocasião em que é actualmente permitida a instalação naquela zona, ao invés do que era pratica corrente noutros tempos. Cerimónias religiosas, jogos tradicionais, bailes e arraiais incluem-se no programa. É também nos areais da caldeira que, habitualmente na manhã de domingo, decorre uma colorida procissão.

As festas remontam ao século XVI. No seu programa inclui-se ainda um desfile de embarcações engalanadas a rigor que cruzam o Sado no início e no encerramento das festas. São momentos ímpares de magia e beleza.

O regresso das embarcações engalanadas a Setúbal, escoltando a imagem da Senhora, constitui outro dos pontos altos das festividades. No percurso inclui-se habitualmente uma passagem frente à fortaleza de Santiago do Outão, que alberga um hospital ortopédico e a quem é prestada especial homenagem.

O Novo Círio de Nossa Senhora da Arrábida

Persiste em Setúbal uma outra festividade de gente do mar, no que ficam bem espelhadas as diferentes origens das suas duas comunidades piscatórias. A festa do Novo Círio de Nossa Senhora da Arrábida, promovida pela comunidade piscatória do bairro de Troino (freguesia de Nossa Senhora da Anunciada), que se realiza em Julho no místico Conventinho da Arrábida. Enquanto em Troino, na zona ocidental da cidade, se fixou gente do mar originária do Algarve, no lado nascente da urbe estabeleceram-se comunidades de origem varina, oriundas da região de Ovar e Murtosa, que promovem a Festa de Nossa Senhora do Rosário de Troia.

Cultos religiosos, mas com profundas ligações ao ciclo da natureza, estas festas representam o renovar de um ciclo. Momentos de excepção em que se celebra a união e a força da comunidade e se apela à dádiva da mãe natureza. Tempo ainda para reforçar os laços entre famílias no interior da comunidade.

É Verão, tempo de alegria e fartura! Por todo o país, as comunidades reúnem-se. É tempo para recuperar forças e preparar os novos desafios.

Também por estes dias, em Aldeia da Piedade (Azeitão), decorrem as Festas em Honra de Nossa Senhora da Conceição

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Costumes, Geral

Sorriso Amarelo

O governo comemorou um ano de malfadada existência aproveitando para dizer, em vários tons e com as mais variadas formulações, que vai continuar com contumácia a degradar a vida dos portugueses, a aumentar o desemprego, a fazer regredir os salários e os direitos dos trabalhadores até à fronteira da servidão, talvez mesmo ultrapassar essa linha civilizacional. O Borges, o não ministro com super-pastas governativas que ganha dezenas de milhares de euros pagos pelos contribuintes, falou sem papas na língua quando disse que era “uma urgência baixar os salários”, o que valeu nalguma imprensa, aplausos de alforrecas pensantes que devem achar o trabalho degradante e por isso se dedicam á escrita de opiniões que nem em papel higiénico merecem ser impressas mesmo tendo garantido o final mais consentâneo com o seu teor. Não falou sozinho. Com cambiantes mais coloridas ou mais sombrias o mesmo foi dito por outros., Decifre-se o que o Gaspar disse, as curvas e contra curvas do Coelho, as cambalhotas do Álvarito, até a invenção Impulso Jovem apresentada pelo grande Relvas que, com as liberdades dadas para desempregar, vai provocar um aumento dos despedimentos substituindo alguns dos “dispensados” por jovens desempregados a baixo custo e subsidiados pelo dinheiros dos contribuintes, e a inevitável troika que vem descobrir que a razão para o aumento do desemprego é a mais improvável, os salários e as leis laborais, quando Portugal é o país na Europa onde é mais fácil e barato despedir e praticam-se salários que são dos mais baixos, o que só atesta a perseguição de um objectivo ideológico por mais estúpidos e falsos que sejam os argumentos.

Quando a indignação faz crescer a raiva nos dentes, fechando as hipóteses a qualquer gota de humor, descobre-se um facto que faz abrir a boca de espanto e desenha um sorriso amarelo: somos um país altamente monitorizado. Quem diria? Quando as previsões falham sistematicamente, quando se demonstra o cúmulo da incapacidade de fazer previsões, de supervisionar o que quer que seja pela boca do senhor Constâncio que reafirma que não era possível calcular os custos da “nacionalização” do BPN e que a supervisão andou anos a ver passar os comboios de dinheiro debaixo dos seus olhos sem perceber o que se passava, numa demonstração da ineficiência que ele acha natural. Como deve achar natural que dez mil milhões de euros se evaporem nos cofres do BPN sem deixar rasto. Como se evaporaram quinhentos mil euros no Freeport que os investigadores detectaram ter desaparecido só que não sabem para onde. Pronto, desapareceram para parte incerta, como desapareceram milhões de euros no BPP, como voaram e continuam a voar milhões para offshores sem que nenhum radar dê por ela. Isto acontece num país que tem serviços de informações que esmiuçam a vida dos cidadãos, onde se encontram instalados e em funcionamento centenas de observatórios que observam tudo e mais alguma coisa. Devia dar vontade de rir! Pelo menos traça um sorriso amarelo, também pode ser de outra cor, ler esta lista de observatórios onde se devem produzir relatórios detalhados sobre as matérias a que se dedicam. Leiam, não se sabe se escapou algum, o que se fará com tão certamente doutos relatórios produzidos por tantos olhos experimentados é que já é um mistério.

A lista é longa, deve estar incompleta. Se aos observatórios se somarem os institutos, as autoridades reguladoras e mais não se sabe bem o quê de entidades que se dedicam a essas actividades, temos um país visto ao microscópio, minuciosa e cientificamente esquadrinhado!

Ai vai uma lista provisória: Continuar a ler

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Costumes, Geral

Grito!!!

Um grito contra o sucesso de Portugal afirmado pela Troika e reiterado por Passos Coelho,que  manifestou ontem uma “grande admiração” pela atitude dos portugueses no último ano, que considerou ser de entrega à mudança, de exigência e, ao mesmo tempo, de paciência. com a esperança de mais uns diazitos de tréguas sociais por euforia foleiramente patriótica!!!

Que se desengane essa gente e rapidamente se dê um pontapé no cu desse gangue de farsantes que ainda a goza com a malta, enquanto esbulha os nossos bolsos!!!Image

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Costumes, Cultura, Setúbal

São Luís da Serra

Com a romaria de São Luís da Serra inicia-se o ciclo anual de festas populares de cariz religioso de Setúbal. A festa, que sempre se realiza no fim-de-semana que inclui o domingo de Pascoela, tem lugar na capela do santo do mesmo nome, em plena serra de São Luís, perto de Aldeia Grande, às portas da cidade.

Festa originalmente dedicada à protecção de animais de pastoreio e pastores – olhe-se em volta os vales dos Barris (a norte) e Aldeia Grande, Rasca (a sul) – continua hoje a ser um marco incontornável no calendário da comunidade sadina. Uma festa na primavera que recorda a ancestral relação do Homem com a natureza.

Uma “comissão de festas” encarrega-se anualmente de a organizar e manter num primor uma das mais belas capelas das serranias que envolvem a cidade.

Noutros tempos os festeiros acorriam a partir da cidade e das povoações envolventes, a pé, de burro e munidos de farnéis. O programa das festas incluía, para além de uma parte litúrgica, cavalhadas e outros jogos e a animação musical era assegurada pelos próprios festeiros. Nos dias de hoje a festa também se modernizou. Tem programa de animação, com ranchos folclóricos e quiosque de comes e bebes que dispensa o transporte de farnéis. Não tem a participação popular de outros tempos, mas também hoje há outros atractivos…

Festas e romarias que são testemunhos de outras épocas e que teimam em manter-se no calendário da nossa comunidade: Senhor do Bonfim (Setúbal, Maio), São Pedro de Alcube (Aldeia Grande, Junho), Nossa Senhora da Arrábida (círios de Azeitão e Setúbal, Julho), Nossa Senhora do Rosário de Troia (Agosto), Nossa Senhora da Conceição (Aldeia da Piedade, Azeitão, Agosto), Nossa Senhora da Saúde (Vila Fresca de Azeitão, Setembro).

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Costumes, Geral

Entre a Justiça e a Verdade não metas Colher

   O chamado caso Portucale chegou ao seu termo. Todos os arguidos foram absolvidos. Aliás só por estupidez justiceira o caso chegou aos tribunais, já que o fim foi o que era previsto. A legalidade de todo o processo era evidente. Abater sobreiros numa área protegida desde que sancionada pelos ministros, mesmo demitidos, é legal. O caso relacionava-se com um empreendimento turístico da empresa Portucale, do grupo BES, localizado na Herdade da Vargem Fresca, aprovado mediante um despacho assinado por Luís Nobre Guedes (ex-ministro do Ambiente), Carlos Costa Neves (ex-ministro da Agricultura) e Telmo Correia (ex-ministro do Turismo), poucos dias antes das eleições legislativas de 2005. Para o arranque desse empreendimento turístico, foram abatidos vários milhares de sobreiros na véspera da tomada de posse do novo governo.

Aleivosamente foram levantadas dúvidas sobre a legalidade de todo o processo e a altura, governo demitido e em funções de gestão, em que subitamente os ministros foram atacados por um delirium tremens que provocou um frenesim de assinaturas. Um deles assinou, numa noite, duzentos despachos! Nada como cumprir a lei coisa em que todos eles são peritos. Por uma maldita coincidência, nessa mesma altura, entraram nos cofres do CDS um milhão de euros provenientes de 105 militantes tomados por uma violenta febre de fervor centro-democrático.

Toda a gente foi agora absolvida! O CDS congratulou-se com o fim do processo e pela absolvição de todos, repita-se de todos, os arguidos no processo.

Há, no entanto, que fazer um sério aviso ao seu apoiante Fernão Capelo Gaivota que, por fúria militante CDS em geral e, em particular, por grande amor e devoção ao seu querido lider Paulo Portas,  foi  um dos cento e cinco beneméritos que entregaram milhares de euros ao partido, perfazendo um total de um  milhão de euros, assinando recibo para que nehuma mancha de dúvida pairasse sobre a origem de tão generosa dádiva. Depois de sete anos de humilhação por tão miserável acusação, há que avisá-lo que isto de doar uns euros, mesmo que sejam milhares, ao CDS,  acaba sempre bem mas se for apanhado a roubar uma lata de salsichas e um sabonete vai parar com os costados na choldra, sobretudo se não tem cartão de cidadão, bilhete de identidade ou NIF.

O Fernão Capelo Gaivota que esportulou uns milhares de euros para o CDS, batendo à porta do Largo do Caldas, integrado num rebanho de cento e cinco  militantes, ao que parece pastoreados por Abel Pinheiro, outro a quem se fez justiça, aprendeu uma lição fundamental: entre o direito e a justiça a relação e muito vaga e intermitente; o direito é sempre o direito do mais forte à liberdade que acaba por  fazer o que quer protegido pela lei; no meio disto tudo a verdade é um valor relativo e irrelevante.

Fernão Capelo Gaivota (qual será o seu NIF, BI, CC ? será mesmo filho de Richard Bach e mãe incognita? um feito do arco da velha só possível um militante do CDS!)  pode continuar a doar milhares de euros ao CDS, venha lá donde vier o dinheiro, não poderá é roubar um chouriço.

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Costumes, Política

Os Direitos – entre a teoria e a prática


É importante não dissociar a teoria e a prática dos direitos humanos, sejam os civis e políticos sejam os económicos, sociais e culturais. Isto é, entre o discurso e a praxis.

Tem sido uma longa caminhada a conceptualização dos direitos e, pela sua aplicabilidade legal e na prática quotidiana, têm lutado e morrido muitos seres humanos.

A própria Declaração Universal dos Direitos Humanos tem sido violada frequente e diariamente em múltiplos aspectos daqueles direitos.

Vem isto a propósito do 8 de Março e sobre os direitos das mulheres. Verificamos que também neste caso, existe uma dissonância entre teoria e prática. A sua garantia continua a ser um grande desafio e exige uma atenção e vigilância constantes. Mesmo onde os estados e os governos os reconheceram, não foram totalmente legislados e, sobretudo, não foram criadas as condições da sua aplicação e, ainda noutros, assistimos a retrocessos muito preocupantes pela violação constante dos mesmos, até pelas instituições que deveriam ser o seu garante ou ainda pela aprovação de nova legislação que entra em flagrante contradição com as Constituições e demais legislação existentes.

Em Portugal, como é que vai esse afastamento entre teoria/discurso e prática? Como vai a vida diária das mulheres, nomeadamente, das mulheres trabalhadoras? Continuar a ler

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Costumes, Política

A deputada e a testosterona

Hoje, no programa matinal da RDP, ouvimos a deputada europeia Ana Gomes, explicar que a grande crise financeira europeia se deve ao facto das empresas e bancos transnacionais serem geridos por homens, daí a ganância, o descontrolo e a especulação, originadas pelo excesso de testosterona que corre nas veias dos grandes negócios mundiais.

Um grupo de deputadas vai hoje interpretar os “Diálogos da Vagina” e, a propósito dessa notícia, a nossa voluntariosa ex-embaixadora na Indonésia, entrevistada, debitou esta tese extraordinária.

Estou mesmo ultrapassado na minha ortodoxia, pensei, eu que supunha que tudo isto se devia, no essencial, ao capitalismo neoliberal que atabafa o mundo.

Mas, dado que, com o mesmo tom de seriedade, a deputada nos esclarecia logo de seguida, que a McKinsey, uma empresa de consultoria norte-americana, tinha feito estudos que mostravam a vantagem de as grandes empresas terem, pelo menos, uma mulher na sua administração, porque os números demonstravam os acréscimos muito significativos nos seus lucros anuais, fiquei baralhado. Então, em que ficamos, é da testosterona ou é o capitalismo desregrado, comme il faut?

Será que a política financeira do FMI de Christine Lagarde está menos “gananciosa” do que com o testosterónico Dominique Strauss-Kahn? Tenho que verificar esta hipótese.

E a deputada não se lembrou de referir que, em certas correctoras norte-americanas, na época de ouro da especulação, antes do estoiro de 2008, se utilizavam colaboradoras a granel, elegantemente despidas, para, estimulando a líbido e, portanto, a agressividade masculina, se incrementarem os negócios.

Talvez a solução para a crise esteja, afinal, em distribuir umas cápsulas para controlo da testosterona dos banqueiros: bastaria a Troika impor essa medida que, aliás, nem significaria um grande encargo orçamental!

Que bom que era se o ministro Gaspar fosse hoje ver e ouvir os diálogos da vagina. Talvez nos punisse menos com a sua severidade. Digam-lhe, se fazem favor.

Já agora: quando é que as senhoras deputadas interpretarão os “Diálogos do Cérebro”?

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Costumes, Política

Coisa mais Feya

O deputado do CDS Diogo Feyo disse ao jornal “Público”, no dia 27 de Fevereiro, que “cada greve feita acaba por ser uma mancha na imagem do país”. A opinião, em si, vinda de quem vem, nada tem de novo. A novidade está na forma como é assumida publicamente, 38 anos depois, apenas 38 anos depois, de os portugueses terem conquistado, de forma inequívoca e pacífica, um direito que funda e caracteriza as sociedades democráticas, os estados de direito.

A sanha neoliberal que faz parte do código genético da direita portuguesa, mas não certamente apenas desta direita, associada ao ambiente de crise que vivemos (provocado pelas mesmas políticas que agora prometem resolver os problemas) permite todo o tipo de atrocidades, como temos visto. Mas, a bem de alguma ainda restante paz social, tão característica dos comportamentos portugueses, seria aconselhável, já não diria uma mudança de opinião, mas uma moderação pública de argumentos que apenas provocam mais e mais indignação, somada a toda a que já nos motivaram.

A greve, além de direito democrático, é direito constitucional ancorado na liberdade e na imperiosa necessidade de defender os interesses dos que têm menos poder nas relações laborais, ou seja, os trabalhadores. Negar este direito, com argumentos fascistas do tipo daqueles que Diogo Feyo utiliza, só pode ser entendido como uma provocação de mau gosto vinda de quem nunca deverá ter sofrido na pele a injustiça, a pobreza e a desigualdade.

Diogo Feyo e os seus pares do CDS, como aquele jovem deputado que sugeriu aos funcionários públicos a rescisão do contrato caso não quisessem aceitar a mobilidade territorial que este Governo de irresponsáveis quer impor à função pública, falam de barriga cheia para recuperar um país que já não existe, que começou a desaparecer em Abril de 1974. Por muito que isto pareça uma frase feita, um chavão de esquerda que, cada vez mais, provoca esgares irónicos nos mais retrógrados elementos da nossa direita, não deixa de ser um facto comprovado. Continuar a ler

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Costumes, Política

O Carnaval de Passos

Imagem de autor anónimo em circulação na Internet

O fracasso da intolerância de ponto imposta na terça-feira de Carnaval aos funcionários públicos e a tentativa de a impor à generalidade dos trabalhadores portugueses é a melhor demonstração da ignorância e sobranceria com que o actual Governo trata os cidadãos.

A reboque da crise tentou-se acabar com uma tradição profundamente arreigada nos portugueses, uma tradição que tem até a vantagem de permitir alguma descompressão social e política, tão importante nos dias que correm. Os jovens tecnocratas que povoam o Governo, porém, não sabem o que é essa coisa do Carnaval e pensam que é apenas mais uma desculpa para que os madraços dos funcionários públicos e outros que tais não queiram trabalhar.

Felizmente, a resposta chegou, vigorosa e convincente, até de um largo número de autarquias do PSD, onde os respectivos autarcas ainda mantêm um pouco de dignidade e bom senso e perceberam, cedo, que acabar com o Carnaval, como Cavaco quis fazer há uns anos, seria um disparate de proporções oceânicas. Claro que no melhor pano cai sempre a nódoa e lá tivemos de assistir ao número circense de Fernando Seara a fazer-se filmar às nove da manhã a entrar para a câmara de Sintra, onde Carnaval não entra. Mas uma andorinha não faz a primavera…

Curiosamente assistimos a uma contradição nesta decisão que vale a pena assinalar. Este Governo, tão apressado a retirar o Estado de onde deve estar, foi incapaz de entender que é no Carnaval que o Estado deve manter presença mínima, assegurando apenas as condições para que se mantenha a tradição que, como se viu, está viva e resiste a todo e qualquer discurso de imperiosa necessidade de trabalhar neste dia para combater uma crise criada pelos mesmos que hoje, no Governo, tentam, a todo o custo responsabilizar aqueles que menos culpa têm nela.

O fim do Carnaval não pode, nem será nunca, decidido por decreto, como Passos Coelho pretendeu fazer. Como Cavaco quis fazer há vinte anos. O povo, essa entidade difusa e confusa, essa entidade que para tudo serve e que de todas as ofensas é alvo, não o permitiu e deu uma lição inesquecível a estes governantes arrogantes e prepotentes.

O disparate foi de tal monta que só depois da constatação de que o país estava mesmo parado é que o ilustre, mas não brilhante, ministro da Economia veio atribuir a paragem aos contratos colectivos em vigor na maioria das grandes empresas, nos quais está previsto o “feriado” de Carnaval. Não saberia antes o ministro que assim seria? Não saberia o ministro que, por muita fúria tecnocrata e financeira que ponha nas suas decisões, a vontade popular, ancorada em tradições seculares, é muito mais forte que um qualquer medíocre decreto de fim de Carnaval que o seu Governo possa emitir?

Outra curiosidade deste Carnaval é que, não sendo um feriado oficial, ficou provado que os portugueses dão muito mais importância a esta festa, a este dia de descanso, do que à celebração do feriado do Dia da Independência ou da instauração da República, com os quais este Governo quer acabar. Num e noutro caso apenas se ouviram alguns, pouquíssimos, protestos oriundos de vozes partidárias com ligações profundas aos feriados em causa.

Há quem defenda que o princípio do fim de Cavaco começou num Carnaval assim. Mas Cavaco estava no poder há quase dez anos nessa altura. Será que este Carnaval marca o princípio do fim antecipado de Passos Coelho e sua trupe?

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Costumes, Cultura

Olivenza e Olivença

A questão de Olivença está de regresso ao debate público. Incontornável, volta e meia “incomoda” os portugueses e transforma-se numa “pedra no sapato” das relações entre Portugal e Espanha. O que demonstra que quando algo na história não fica completamente resolvido – e é justamente o caso de Olivença – acaba sempre por nos voltar a incomodar.

O despertar da letargia sobre a questão fica agora a dever-se à anunciada intenção de o Ayuntamento de Olivenza realizar no próximo mês de Junho uma megaprodução a partir da reconstituição histórica da Guerra das Laranjas – episódio bélico que está na origem da anexação daquele município além Guadiana em 1801, quando a praça-forte foi ocupada (sem grande resistência, diga-se) por tropas espanholas dirigidas pelo primeiro-ministro Manuel de Godoy. O caso está a exaltar os ânimos nos dois lados da fronteira, tendo a polémica começado há meses no jornal Hoy de Badajoz.

Durante cerca de três décadas o poder municipal de Olivença esteve nas mãos de autarcas socialistas, com o histórico Ramón Rocha à cabeça. As relações com o lado português foram unanimemente consideradas das melhores. São muitos os bons exemplos de relações com Olivença, terra que mantém relações de geminação com várias cidades portuguesas. Em 2010 iniciou-se um projecto transfronteiriço conjunto de criação de uma Euro-Região, com a participação de diversos municípios alentejanos e extremenhos, de entre os quais Olivença. Há anos foi possível reatar a ligação rodoviária directa entre Portugal e Olivença, com a construção de uma ponte sobre o Guadiana paralela a histórica ponte da Ajuda, destruída por ocasião do conflito. Cidades e vilas taurinas portuguesas, que há anos fundaram uma união internacional (UNICIVITAS), convidaram mesmo o ayuntamento oliventino para a respectiva presidência.

A chegada do PP espanhol à presidência do ayuntamento oliventino, na sequência das eleições autárquicas de Maio passado, parece ter trazido novas concepções de promoção turística, agora servidas com o tempero nacionalista da “direita popular”. Daí o projecto de uma Festa que incluirá a reconstituição da batalha que está na origem da actual Olivenza espanhola, contra a Olivença portuguesa, e que está a levantar coros de protestos um pouco por todo o lado, de autarcas da região à Assembleia da República. Mas que está também a criar focos de desconfiança nos dois países.

O que estará por detrás de um projecto que se arrisca a abrir feridas nunca saradas – insensatez inconsciente, insensibilidade ou um plano de afirmação de uma ideologia nacionalista? Mesmo em Espanha muitos são os que lembram que os actuais oliventinos espanhóis são, em parte, descendentes de oliventinos portugueses. População local que foi a principal vítima do conflito, fosse pela acção militar, fosse pelo longo processo de aculturação após a anexação.

Não sendo o nosso país uma nação com problemas territoriais, a questão de Olivença é um escolho que se mantém à superfície há mais de dois séculos. A complexidade e o melindre do problema são tais que a zona situada entre à desembocadura do rio Caia no Guadiana e a desembocadura da ribeira de Cuncos no Guadiana (território correspondente ao termo de Olivença) é a única onde continua por delimitar a fronteira entre os dois países.

É certo que o problema de Olivença terá um dia que ser dirimido entre Portugal e Espanha. Tal como o país vizinho terá (tem) que dirimir outros anacronismos da actualidade em que é parte interessada – Gibraltar (que reclama ao Reino Unido) e as cidades de Ceuta, Mellila e a ilha de Perejil (reclamadas por Marrocos).

A Constituição da República portuguesa refere no ponto 3 do seu artigo 5º que “O Estado não aliena qualquer parte do território português ou dos direitos de soberania que sobre ele exerce, sem prejuízo da rectificação de fronteiras.” Como serão tidos em consideração os direitos internacionalmente reconhecidos a Portugal por tratados internacionais, nomeadamente a Acta Final do Congresso de Viena (1814/15), face à efectiva ocupação do território e à profunda alteração sócio-cultural operada ao longo dos dois últimos séculos naquele território?

Certamente um problema difícil mas para que terá que ser encontrada uma resposta. Entretanto irá continuar a acordar-nos de vez em quando.

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Sugestão: De Mário Ventura Henriques (1936-2006), Regresso a Olivença, escrito em 1990 e publicado em 2001 no livro “Portugal, Geografia do Fatalismo”, de 2001, Ed. Notícias, com fotografias de João Francisco Vilhena.

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Costumes, Política

A Sopa do Sidónio

Depois de ter aumentado impostos e diminuído salários, pensões, subsídios de desemprego, abonos de família, bolsas de estudo e a generalidade das prestações sociais, o Governo acaba de anunciar que vai aumentar para 50 milhões de euros o apoio às instituições que fornecem refeições aos mais pobres.

É claro que precisamos de nos preocupar com o básico do mais básico – comer, vestir, calçar, um tecto. E é disso que o nosso Governo se apresta a começar a tratar! Quando aos cidadãos mais não resta que recorrer à caridade pública.

Depois das ruinosas políticas que nos conduziram a uma taxa de desemprego que não pára de aumentar, à baixa generalizada dos rendimentos do trabalho e à recessão na generalidade da economia, o governo apresta-se a apanhar os cacos. Só que os cacos são os portugueses atirados para os limites da sobrevivência, em número que não pára de aumentar.

Bem ao gosto do assistencialismo que caracteriza a cartilha néo-liberal, para quem o Estado mínimo é o máximo, bem pode P. Coelho preparar-se para continuar a aumentar as verbas para as “sopas dos pobres” , a que certamente se seguirão os abrigos para os despejados da nova lei do arrendamento.

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Em 1918 é criada a Associação 5 de Dezembro, com o objectivo de ajudar os mais carenciados. A faceta mais visível desta política é a distribuição de alimentos (a conhecida “Sopa dos pobres” ou “Sopa de Sidónio”). A presença de Sidónio Pais na inauguração das várias “Cozinhas” permite-lhe cultivar a imagem de presidente generoso e amigo dos mais desfavorecidos.” Sobre Sidónio Pais ver aqui.

O êxito da Sopa de Sidónio foi tão grande que se prolongou por décadas. Hoje está de regresso!

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