O PORTOGALITO dessa gente que tem o Galo de Barcelos por brasão
O jornalista Miguel Carvalho, que tem feito vários bons trabalhos de investigação, relembre-se Quando Portugal Ardeu, publicou agora na revista Visão mais uma excelente investigação sobre uma festa convívio de empresários apoiantes do Chega e do André Ventura que, como um bom sicofanta mascarado de democrata estardalha mentiras e mentirolas na Assembleia da República à boleia da democracia, com eco na comunicação social mercenária ao serviço dos lusos plutocratas. Não compareceram muitos do universo de empreendedorismo nacional que já devem andar a encher-lhe os bolsos à sorrelfa mas ainda não querem dar a cara, como é habitual no cinismo e farisaísmo dessa gente. Provavelmente faltaram à festarola mas à cautela enviaram algum emissário puxa-saco. Como dizia um personagem do filme de João César Monteiro “La bassin de John Wayne” «hoje, os novos fascistas apresentam-se como democratas» só que as tramóias do capital repetem-se com contumácia. Já era assim com Hitler. Na frente ocidental nada de novo.
Atrás de Mim estão Milhões, fotomontagem de John Heartfield
Adolfo o Super Homem: Tragam o Ouro, fotomontagem de John Heartfield
Pela
primeira vez três partidos, Livre, Iniciativa Liberal (IL) e Chega,
meteram o pé na porta da Assembleia da República (AR), colocando um
deputado cada e o outro, o PAN, que já tinha metido o pé na porta
nas eleições anteriores elegendo um deputado, viu aumentada a sua
representação para quatro deputados. A direita viu a sua presença
na AR ampliada em número de partidos embora com menos 18 deputados
do que tinha em 2015. As esquerdas, embora aumentassem o número de
deputados em relação a 2015, mais dezasseis deputados, perderam
quase 50 mil votantes, o que deve preocupar. Nestas contas
direitas/esquerdas não entra o PAN que afirma não ser de direita
nem de esquerda. Uma espécie de partido sem eira nem beira, de um
oportunismo sem peias.
Embora
o espaço da direita se tenha reduzido o seu futuro não se advinha
adverso. A comunicação social já anda a bolinar a seu favor,
veja-se o tempo concedido sobretudo à Iniciativa Liberal e a lavagem
do Chega classificado de extrema-direita populista, uma forma
simplista de mascarar a readaptação do fascismo de que é herdeiro,
ao contexto actual em nova versão.
Igualmente
a Iniciativa Liberal, que elege um deputado na primeira vez que
concorre, é travestida de liberal quando de liberal nada tem. É a
grande corrupção intelectual por não se assumirem o que realmente
são, ultra-liberais em linha com Hayek e os Chicago Boys que renegam
os liberais, de Stuart Mill a Keynes e seus continuadores actuais,
que defendem a educação pública, universal e gratuita, impostos
progressivos, a protecção social universal, a expansão do
investimento e do emprego público, a repressão dos especuladores
financeiros, um Estado interventivo no combate à sucessivas crises
do capitalismo e que, nos dias de hoje, são as políticas dos
partidos socialistas e sociais-democratas que as praticam com enormes
e devastadoras concessões ao capital, uma das mais graves é terem
abdicado de moeda própria, deixando o financiamento do Estado nas
mãos de especuladores internacionais. Essa gente do IL tem o
desplante, a incomensurável lata de pregarem um pseudo-liberalismo
económico contra o excesso de intervencionismo do Estado, quando nas
últimas décadas se privatizou tudo o que havia para privatizar,
excepto a Caixa Geral de Depósitos, o serviço público da
comunicação social, onde ocupam, directa e indirectamente, um
espaço desmesurado em comparação com a esquerda, o Serviço
Nacional de Saúde e a Educação que paulatinamente tem sido
entregue aos privados. É esse pouco que ainda resiste aos ataques
dos ultra-liberais que agora está na sua mira.
Sem
uma ruga de vergonha, coisa que não sabem o que é, fingem que a
liberalização do sistema financeiro e a livre circulação de
capitais não são os responsáveis pelo exponencial aumento do
endividamento público e privado e que as leis do trabalho que têm
facilitado os despedimentos, os horários flexíveis, a precarização
não estão suficientemente desregulamentadas porque o que desejam é
voltar à barbárie, aos mitos neoliberais do séc. XIX. A política
fiscal que propõem é um ascensor para aumentar as desigualdades. A
meritocracia que usam como brilhante emblema na lapela é a
adulteração do verdadeiro mérito para favorecer os de sempre.
Os
próceres da Iniciativa Liberal proclamam – a sua campanha
eleitoral é um relambório de manhosices, um manual completo de
manipulação eleitoral – que querem colocar Portugal a crescer. A
realidade é que as ideias que defendem são exactamente as que têm
sido postas em prática desde a década de 80 e que nos fazem crescer
de forma frágil. Que por causa delas Portugal é um dos países mais
pobres da Europa, onde as desigualdades sociais são das mais
brutais. São essas evidências que negam com uma desfaçatez, uma
insolência todo-o-terreno. O perigo dos próximos anos é terem uma
desencabulada voz na AR para ampliar a voz que já têm numa
comunicação social ao serviço da plutocracia e também no chamado
serviço público.
O
Chega, carinhosamente apelidado de extrema-direita populista, diz-se
anti-sistema, o que dá imenso jeito num país em que o descrédito
da política e dos políticos, o desencantamento com a política que
os media, produzindo e propondo uma visão cínica do mundo político
nas notícias, na selecção das notícias, nas perguntas das
entrevistas, nos comentários políticos, instalam com contumácia
preparando e adubando o terreno para as simplificações demagógicas,
que foi bem explorado também pelo IL e que também já tinha sido e
continua ser explorado pelo PAN. É esse o terreno que o Chega
vindima sem descanso, que o fez obter os resultados eleitorais que
obteve. Acresce a notoriedade pública do seu líder iniciada em
Loures pelo lugar que Passos Coelho lhe outorgou, consolidada pelo
comentarismo desportivo, leia-se futebol, que é um campo fértil
para se alcandorarem na política, lembrem-se de Santana Lopes e
Fernando Seara, entre outros.
O
PAN cavalga sem freio a causa ambiental. Cavalga mas não sai da
pista de corrida da lavagem verde que o capitalismo iniciou e que
teve e tem em Al Gore um dos rostos mais mediáticos em que agora
todos, mesmo Christine Lagarde e Vítor Gaspar, se empenham em
apregoar. Bem
sabemos que eles sempre
foram adeptos
do
verde, convictos
de que verde mesmo
verde é
a cor do dinheiro que continua a dominar o sistema financeiro
internacional.
Contra esse ambientalismo neoliberal tem sido lembrado recorrentemente e com razão a frase de Chico Mendes, sindicalista-ambientalista brasileiro assassinado em 1988, de que «ambientalismo sem luta de classes é jardinagem». Depois do discurso pungente de Greta Thunberg na ONU,que tem sido usado com desonra pela lavandaria ambiental e destratado grosseiramente pelos arautos neoliberais, nas acções de massas das Sexta-Feiras pelo Ambiente surgiu com força a ideia nuclear de que o capitalismo não é verde, de que a luta ecológica tem de colocar a questão da superação do capitalismo colocada de forma clara e sintética por João Rodrigues no blogue Ladrões de Bicicletas.
Para
o PAN essa não é a equação, a jardinagem é o que está a dar, a
vender bem na Feira da Ladra da ecologia. A ver vamos se os vigésimos
premiados continuam sem prazo de validade a render votos.
Os
desafios futuros para a esquerda, contra a tralha neoliberal e os
populismos em marcha, não são fáceis. É urgente uma nova política
económica em que o Estado agarre as alavancas do investimento e da
banca para reduzir as desigualdades sociais, combater o desemprego,
valorizar o trabalho em vez do capital, colocar em prática uma nova
ordem ambiental, e essa não é agenda de alguma esquerda que só
muito empurrada faz algumas, poucas, cedências.
Há
que traduzir essa urgência em votos – uma das frentes de luta –
o que com o panorama comunicacional manipulador existente vai exigir
esforços acrescidos. Há que lutar, contra todas as evidências,
sabendo de ciência certa que a razão está do lado da esquerda
mesmo, apesar e contra as conjunturas, o que não é garante de
nenhuma certeza mas vitamina a luta.
A casca grossa de Berardo teve a inegável qualidade de mostrar como o Portugal democrático pós-25 de Novembro se berardizou, gerando uma nova aristocracia que tem um lema oculto gravado a fogo: pobrezinho sim, honesto nunca.
As alarves gargalhadas de Joe Berardo na Assembleia da República incendiaram indignações em todos os cantos e recantos do nosso Portugalito (o Portugal que tem por brasão o Galo de Barcelos de preferência actualizado na versão da Vasconcelos) como se as tivessem ouvido pela primeira vez e essa não fosse a imagem de marca do comendador pontuando uma arrogância e petulância que começaram a ser mais visíveis e sonoras desde que adquiriu estatuto social quando trocou a lavagem do cupão, com que driblava o fisco, por uma súbita paixão pela arte que lhe garantiu uma corte que lhe engraxava o ego e lhe selava uma nova imagem pública a troco de umas espórtulas.
O Joe Berardo que um pelotão de jornalistas, comentadores, políticos, advogados, economistas e o mais que vier à rede encosta à parede para fuzilar pela falta de respeito das graçolas com que respondeu na Comissão de Inquérito na AR é o mesmo Joe Berardo que quase ninguém censurou quando disse que Isabel Pires de Lima era “estúpida e saloia” por fazer um mínimo de exigências para a colecção de arte, aumentada e reciclada, transitar de Sintra, onde Edite Estrela tinha aceite tudo e mais alguma coisa num protocolo sem inventário, valores das obras, títulos de propriedade, etc., para o Centro Cultural de Belém. O mesmo Joe Berardo que proclamou que Gabriela Canavilhas era “uma mentirosa” quando mandou investigar as trocas e baldrocas com que o comendador cumpria a sua parte do protocolo referente à aquisição de obras para valorização da colecção à sombra “do superior interesse artístico” (Bernardo Pinto de Almeida dixit) uma fragância que asperge qualquer negociata, sem que ninguém se indignasse. Estórias já aqui contadas.
O
Joe Berardo a quem atiram pedras prenhes de virtudes é o mesmo Joe
Berardo agraciado com o título de Comendador e com a Grã-Cruz da
Ordem do Infante Dom Henrique a par de outros “barões
assinalados”,
bavas, granadeiros, amados, salgados, rendeiros, azevedos,
carrapatosos, júdices e tantos outros merdalhados
(esta roubei-a ao Fernando Assis Pacheco) que se destacaram “por
engrandecer a sociedade portuguesa pelo seu trabalho e influência
económica” e
que hoje são assaltados pelas insónias provocadas por partilharem
tamanhas distinções com aquele apalhaçado personagem que em vez de
se mostrar respeitavelmente indignado com as suspeitas, se
entrincheirar em irreversíveis falhas de memória, desatou a
disparar piadolas
para
indignação geral, em particular daquela fatia de deputados que quer
impingir culpas a outra fatia de deputados, todos muito incomodados
pelas suas peregrinações pelas mecas da economia de mercado ficarem
maculadas pelas blasfémias que caracterizam o seu funcionamento e
que deveriam ser sempre publicamente apresentadas como sumas
virtudes.
O
Joe Berardo a quem espetam o dedo no umbigo acusando-o de ter
armadilhado as garantias que deu à banca, quando a banca tardiamente
se inquietou por lhe ter dado milhões de mão beijada, é o mesmo
Joe Berardo que se fornecia dos materiais para as fabricar nos mesmos
armazéns de onde saíam os contentores com as ferramentas para
forjar as grandes manobras financeiras que causaram perdas de
milhares de milhões de euros, que os portugueses estão a pagar e
vão continuar a pagar durante muitos anos, enquanto essa gente na
sua maioria se continua a banquetear esparramada ao sol da impunidade
que o sistema permite e só uns tantos, vitimados
pelo pecado da sofreguidão, se expuseram aos riscos de terem agora
que escapar entre os pingos da justiça. Em coro, todos proclamam as
virtudes do Estado de Direito, sabendo melhor que ninguém que entre
a justiça e o direito há um abismo difícil de transpor e que o
direito é sempre o direito do mais forte à liberdade, por isso têm
sempre à mão de semear uma trupe de reputados juristas prontos a
peneirar os códigos em seu benefício.
Este
Joe Berardo a que agora muitos viram as costas, mudam de passeio para
o outro lado da rua é o mesmo Joe Berardo aceite encomiasticamente
no universo empresarial enquanto empreendedor ultrapassados os
incómodos que tinha provocado quando, aos quatro ventos, se
proclamou especulador, o que alarmou os outros especuladores seus
concorrentes que vestiam os assertoados fatos do empreendorismo que
tornam mais fofas e espessas as alcatifas do poder por onde circula o
regime económico/financeiro, o regime jurídico/legislativo, o
regime político/jornalístico.
O
Joe Berardo objecto do tiro ao alvo da comunicação social é o
mesmo Joe Berardo que ainda não há muito tempo resplandecia
endeusado pela bajulice da esmagadora maioria dos jornalistas e
comentadores, sobretudo das áreas económicas, políticas e das
artes. Excepções raríssimas existiram, mas sem excepções as
regras não existem. Brilhava dentro da mesma moldura onde se
amontoam os figurões que manipulam os cordéis da promiscuidade
entre a política e os interesses económicos, que esses escreventes
mercenários do regime endeusam até aos limites do quase impossível
para lhe dar a credibilidade que nenhum Polígrafo, nenhum FactCheck
que não esteja viciado na sua raiz lhe pode dar.
A
casca grossa de Berardo, a desfaçatez de Berardo em exibir sem pudor
a impunidade que sente possuir
e
que
não é dele, é a que o sistema oferece a ele e a todos os outros
berardos sejam de rústico barro ou fina porcelana, tem a virtude de
arrancar sem contemplações nem detenças as diferentes túnicas em
que se tem embrulhado a democracia em Portugal para o voltar a
entregar aos grupos económicos que tinham sido desmontados no
período revolucionário do pós 25 de Abril e aos que se formaram
sobre esses destroços, relembrando a actualidade do Príncipe de
Falconeri “tudo
deve mudar para que tudo fique como está”, um
lugar-comum que se globalizou.
A
casca grossa de Berardo teve a virtude de evidenciar a promiscuidade
institucionalizada entre o poder político e o poder económico.
Entre empresas, fundações, banca, institutos e o mais que a
imaginação do empreendorismo seja capaz de inventar, em que as
fronteiras entre o público e o privado são porosas, o trânsito
entre quadros é intenso. A casca grossa de Berardo teve a virtude de
ver como os mesmos políticos, jornalistas, juristas, economistas,
comentadores que mais aplaudiam os lances em que Estado era refém
dos interesses económicos e financeiros de alguns, engrossam agora a
voz para enforcar em público os geniais gestores, os banqueiros de
sucesso, os empresários visionários a que curvavam o cerviz,
serviam com denodo. São os mesmos que correm atrás dos que estão
no terreno para os elevar ao Capitólio em que tinham colocado os que
agora condenam à Rocha de Tarpeia.
A casca grossa de Berardo teve a inegável qualidade de mostrar como o Portugal democrático pós 25 de Novembro se berardizou gerando uma nova aristocracia que tem um lema oculto gravado a fogo: pobrezinho sim, honesto nunca.
o barco que transporta Nosferatu no filme de Murnau
Passos Coelho vocifera empurrado pelo ciclone de dez mil milhões de euros! Paulo Núncio tropeça em si-próprio até não conseguir negar as evidências! Paulo Portas passeia irrevogável mudez até agarrar de novo os microfones de vendilhão nos templos da comunicação social estipendiada! Assunção Cristas faz queixinhas ao Presidente da República enquanto distribui beijinhos postais aos lisboetas pedindo ideias para encher a sua vazia cabecinha! Luis Montenegro e Nuno Magalhães usam a Assembleia da República para concorrerem aos óscares dos incorruptíveis contra a droga realizando a sua remake em versão filme cómico! Lobo Xavier e António Domingues almoçam e jantam sms nas casas de banho para defesa da sua intimidade que deixam entrever abrindo e fechando a portas dos privados das administrações dos bancos onde as trocam! Maria Luís Albuquerque cala-se para guardar de Conrado o prudente silêncio! A mentira, as mentiras são despejadas, sem selecção de resíduos para reciclagem, no aterro sanitário dos erros de percepção mútua!
Uma ópera bufa que nos toma por basbaques, recuperando um grande final em que contumazes indignidades recuperam prazo de validade rebobinadas pela assunção política das falsidades, retirados os andaimes que as ocultavam. Miserável lavagem pública da imoralidade passada e repassada em todas as máquinas da comunicação social para voltar a dar crédito à miséria de alguma política e de muitos políticos.
No caso das dezenas de milhares de milhões de euros que voaram para offshores que um prestimoso secretário de estado viu mas não permitiu tornar público, o roteiro da viagem do que está em causa não é a ocultação, muito menos o azar de vir a ser objecto de tributação legal, mas o seu significado. O que é substantivo é essa acção ser parte por inteiro do norte político de um governo, as políticas de austeridade que reestruturavam a economia fazendo cortes e ajustamentos que visavam os trabalhadores, as pequenas e médias empresas, passava a ferro a classe média, todos os que eles diziam estar a viver acima das suas possibilidades, enquanto dava rédea solta aos desmandos da banca e do grande capital. Politicas em que ofertavam mais riqueza para os mais ricos a continuarem a acumular enquanto o garrote se apertava aos mais desmunidos que o viam apertar com um fisco de mão mais extensa e mais implacável, com leis laborais que faziam retroceder dezenas de anos de conquistas feitas palmo a palmo, com a degradação sistemática dos direitos sociais, económicos.
O laxismo que deixa ficar nas gavetas do secretário de estado as listas das dezenas de milhares de milhões de euros que legalmente iam estacionar em offshores não é inocente, como não o eram as listas VIP ou a indiferença em relação à fuga ilegal de dezenas de milhares de milhões de euros que só parcialmente são contabilizáveis pelos processos judiciais em curso, é a resultante directa da política do governo PSD-CDS que favorecia a acumulação da riqueza dos mais ricos e o aumento, na melhor das hipóteses, a manutenção da pobreza da esmagadora dos portugueses. A sanha com que atacam o actual governo PS, com apoio parlamentar PCP/BE/PEV, as medidas, mesmo que tímidas, de repor rendimentos a trabalhadores, pensionistas e reformados, de dar melhores condições de crédito às pequenas e médias empresas é a pedra de toque dessas políticas em que se dá liberdade quase absoluta aos que já a têm e aperta a tarraxa a todos os outros que não devem ser piegas por serem metidos na ordem de viverem conforme as suas magras possibilidades.
É repugnante ver esse teatro de sombras em que um forcado corneado pela impossibilidade de continuar nas omissões das verdades, se refugia nas tábuas das meias-mentiras, vai para o meio da arena exibindo a orelha da responsabilidade política para ser aplaudido pela turbamulta dos seus aficionados que agitam freneticamente o manto diáfano da sua mais que esburacada dignidade. São todos iguais por mais tonitruantes declarações que façam. Querem safar-se como se tudo isso tivesse sido um acidente do aparelho fiscal e o governo Passos-Portas não fosse politicamente responsável. A bardinagem, o populismo, a demagogia no seu melhor.
Um peão de brega é obrigado a saltar do barco para aliviar o lastro e o barco continuar a navegar no pântano. Enquanto houver parvos ou parvos fingidores continua acima da linha de água. La nave va, o rumo não se alterou, não se altera nem dá guinadas às quinta-feiras.
Com a entrada em funções do XXI Governo Constitucional do PS com apoio parlamentar do PCP, BE e PEV, a direita ficou desorientada porque vivia no conforto de julgar que pelo capitalismo actual se pensar definitivo, não fazia sentido a distinção entre direita e esquerda, pelo principio de a esquerda ter sido inapelavelmente encerrada num ghetto. Ou que a reivindicação de se ser de esquerda era uma bandeira empunhada por radicais que viviam fora da realidade, sendo a realidade confundida com as bases teóricas e práticas intransformáveis do capitalismo.
Ancorados nessa convicção, radicalizaram a exploração de todos os recursos fossem humanos, sociais, ambientais, culturais ou económicos com a fé totalitária de que os mecanismos do sistema capitalista ultrapassariam todas as crises em que se afunda. Não conseguiam, nem conseguem, nem conseguirão perceber que nenhuma realidade por mais hegemónica e aparentemente consistente que seja, como é o capitalismo na actualidade, pode ser considerada definitiva. Muito menos quando para o capitalismo terminal em que barbaramente tudo, a começar pelo ser humano, foi esvaziado de qualquer valor a não ser o seu valor de mercadoria. As chamadas reformas estruturais têm esse sentido e objectivo, o de desumanizar a sociedade tornando-a num gigantesco mecanismo de produção e reprodução de mercadorias, aumentando exponencialmente as desigualdades em nome do lucro. É essa a lógica intrínseca do sistema capitalista como se não estivesse dependente, na sua substância e de modo crucial de uma coisa chamada lei da queda tendencial da taxa de lucro, como Marx bem explicou, mas que essa turbamulta de publicistas económico-financeiros do capitalismo parece desconhecer, mesmo quando a sucessão de crises, com ciclos cada vez mais curtos e profundos, o demonstra à saciedade.
A fé, como bem se sabe é cega e estúpida, torna essa gente autista. O espectáculo do debate na Assembleia da República na apresentação do programa do XXI Governo Constitucional, foi a demonstração que a direita nunca perceberá que para a esquerda a realidade histórica do capitalismo tem um caracter contingente, mesmo dentro de um quadro em que o capitalismo continua a ser o sistema dominante. O que a torna incapaz de entender o funcionamento da democracia, da democracia burguesa sublinhe-se, cujos valores hipocritamente usam na lapela dos seus casacos de marca. Por isso não perceberam, nem nunca perceberão o alcance e o significado dos acordos que viabilizaram este governo. Não entendem, nem nunca conseguirão entender o que significa ser de esquerda no século XXI. Muito menos como a praxis teórico-política da esquerda arranca de princípios sólidos na legibilidade da realidade, para actuar sobre a transformação dessa realidade mesmo em bases mínimas, para por fim à aniquilação das pessoas e da sua individualidade. Por fim aos sistemáticos assaltos à nossa inteligência à nossa vidae aos nossos bolsos.
Os acordos que viabilizaram parlamentarmente o XXI Governo Constitucional colocaram um travão a fundo ao rol dos desvarios mais insanos, das mentiras mais descaradas da direita em nome da sustentabilidade de um sistema de exploração brutal em benefício do grande capital. Foram quatro anos de assalto a todos os que tinham menos armas para se defender, os que estavam mais desmunidos, porque esta direita é rancorosa, não tem escrúpulos e é cobarde.
Também é estúpida, profundamente estúpida e por isso vivia na ilusão que o apartheid parlamentar era durável. Não tinha fim. A realidade ultrapassou-os. Atirou-os para onde sempre estiveram, no caixote de lixo da história. Daí não enxergam o valor simbólico dos acordos que a esquerda alcançou com o PS, para por um ponto final, melhor um ponto e vírgula ou mesmo uma vírgula, no autoritarismo ideológico de que não havia alternativa. Havia, há e haverá sempre alternativas, isso distingue fundamente a esquerda da direita. Como essa alternativa ou essas alternativas vão funcionar é o centro de gravidade dos próximos tempos com uma certeza: a hegemonia de um sistema que dominou os últimos quarenta nos da vida política portuguesa acabou. Esse ficou definitivamente enterrado.
(na imagem pintura de Rogério Ribeiro/Elegia I/1989)
Já algum tempo que na minha assinatura nos e-mails, a mensagem que transdrevo é parte indissociável! não é texto original, copiei-o do meu amigo José Luís Porfírio. penso quie todos os que estão em desacordo com este Acordo Ortográfico, também poderiam adicionar o texto à assinatura., contra os espetadores destes espetadores da língua portuguesa.
Em defesa da língua portuguesa, o o remetente desta mensagem não adopta o “Acordo Ortográfico” de 1990, devido a este ser inconstitucional, linguisticamente inconsistente, estruturalmente incongruente (para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral).