
Nem pequenos, nem pobres; nem ricos, nem grandes. Será esta a melhor resposta para a pergunta do título.
Vem isto a propósito de, nestes tempos de pré-campanha eleitoral, a principal estratégia de quem disputa o poder camarário parecer ser a do menosprezo por Setúbal, ou, dito de outra forma, o apoucamento do que é a cidade e o concelho.
A estratégia narrativa é clara e básica: Setúbal precisa de ser mesmo a grande cidade que é, porque não é uma pequena cidade, dizem uns; outros, recuperando uma velha ideia, querem que Setúbal volte a ser o terceiro concelho do país, seja lá o que for que isso significa. Dizia-se, era eu miúdo, que éramos a terceira cidade do país, depois de Porto e Lisboa, ainda que a afirmação não estivesse minimamente ancorada em quaisquer dados estatísticos ou sociais. Hoje fala-se em terceiro concelho do país porque, naturalmente, ficaria mal falar só em “cidade”, pois as populações de Azeitão e das Praias do Sado não haveriam de gostar de ser excluídas.
Outros dizem ainda que precisamos de mais investimento industrial, que há muito desemprego, que temos os mais baixos salários do país.
Tudo se diz nestes tempos de campanha eleitoral e de comunicação instantânea nas redes sociais e em que as opiniões valem todas o mesmo (já sei que esta última vai ser mal interpretada…)
São tempos de campanha eleitoral e tudo parece valer. O problema é que o rigor dessas afirmações não resiste minimamente quando confrontadas com dados estatísticos oficiais.
De acordo com o Pordata (dados de 2018), por exemplo, o ganho médio mensal no concelho de Setúbal é superior em 14 euros à média nacional (Setúbal – 1181; Nacional – 1167). No Montijo, o ganho médio mensal é claramente inferior à média nacional, situando-se nos 1009 euros; o poder de compra per capita em Setúbal é também superior à média nacional (dados 2017), sendo de 107,5. O mesmo indicador é bastante inferior no Montijo, onde, no mesmo ano, se situou nos 99,2, ou seja, abaixo da média nacional (100).
Se faço comparações com o Montijo é porque já houve por aí um candidato a presidente da Câmara que as fez antes. Nem sequer é por ser um município governado pelo PS. Podia ser, mas não é…
No desemprego, sempre apregoado como uma das maleitas setubalenses (já o foi, de facto), vale a pena olhar para as estatísticas mensais concelhias do IEFP. O que se verifica é que, depois da subida dos números em 2020, se assiste já a uma clara retoma do emprego no concelho. Se tomarmos como referência o mês de maio, o último em 2021 em que já existem números disponíveis, constataremos que o número de desempregados no concelho era de 4910. No ano anterior, em 2020, em plena pandemia, esse número era de 5600 e em 2019 era de apenas 3209.
Setúbal é, aliás, um dos concelhos da península onde a redução do desemprego de 2020 para 2021 é mais rápida e acentuada.
Poderá haver muitas leituras para estes números, mas o que parece claro é que o concelho está a recuperar com alguma rapidez em matéria de emprego. E por que será? As políticas municipais na qualificação urbana do concelho, na atração de turismo e de investimento não terão também responsabilidade nesta retoma? Importante também é constatar que os investidores mantém as suas intenções de aqui manterem os seus projetos.
Importa ainda destacar que Setúbal é o concelho da península onde se assistiu a menor desinvestimento nos setores industriais, onde, aliás, se nota até um dinamismo assinalável, por exemplo, na Sapec Bay, na instalação de novas empresas no Blue Biz, ou até com a vinda da fábrica da Laser, um dos maiores produtores mundiais de embarcações de vela ligeira.
Este é, no entanto, o concelho em que, a acreditar no que diz por aí, há mais desemprego, onde se ganha pior, onde só há emprego no turismo, embora, ainda de acordo com os dados do Pordata, o setor com mais pessoal ao serviço fosse o das indústrias transformadoras, com 17,2 por cento. Por tudo isto, quando alguém por aí alegue que somos uma cidade pequena, que devemos é ser o terceiro concelho, desconfie e mande-os ver os dados oficiais que eles não desconhecem, mas que não lhes dá jeito falar deles.
E não, não somos pequenos nem grandes. Somos apenas Setúbal e isso já é muito.