
Lê-se nos jornais que, no processo em curso com vista à venda de “barragens da EDP”, há três finalistas: a Iberdrola, os noruegueses da Statkraft e os austríacos da Verbund.
A informação foi difundida pela Reuters garantindo haver outras empresas, como a Enel (através da Endesa), a Engie, a Macquarie e a Brookfield, que também estiveram interessadas, mas não passam à próxima etapa.
A Endesa já tinha admitido, em maio, que iria analisar a compra destes ativos hidroelétricos.
A EDP disse, em março deste ano, quando apresentou o seu plano estratégico, que o “reforço na energia renovável” e a “venda de ativos” seriam objetivos até 2022. Ou seja, em Portugal, a empresa privilegiará os “extraordinários” leilões do novos centros fotovoltaicos em que a EDP se viu repescada e, ainda, dos processos de reforço da potência eólica nos seus parques. Mas, vê-se agora, a principal aposta está na “venda de ativos”.
Segundo notícias, a EDP “prevê uma geração de 12 mil milhões de euros nos próximos quatro anos”, dos quais sete mil milhões serão canalizados para novos investimentos. Dos restantes, uma parte importante serão para dividendos aos acionistas (3 mil milhões €) e para baixar a dívida até 2022 (2 mil milhões €)
Cerca de 75% do investimento previsto para os próximos quatro anos será em energias renováveis, sendo os Estados Unidos o principal destino (40%), seguidos pela Europa (35%) e o Brasil (25%). Em Portugal ficará, portanto, menos de 20% do investimento
A par da venda das barragens, a empresa elétrica poderá estar a preparar-se para vender o setor da Distribuição (isso dependerá do resultado do concurso internacional). É uma hipótese que conviria ser esclarecida.
O novo plano estratégico foi anunciado após a apresentação dos resultados referentes a 2018: uma queda dos lucros de 53% para 519 milhões de euros. Os “prejuízos” acontecem pela primeira vez desde o início da privatização, em 1997. A EDP disse que este resultado se deveu a um “forte impacto da elevada fiscalidade” e das “decisões regulatórias”. Ou seja, a empresa esconde que, de facto, houve nos últimos dois anos uma intervenção política corretiva que, embora ainda timorata, permitiu cortar nas escandalosas rendas excessivas que vinha usufruindo.
Os aproveitamentos hidroelétricos envolvidos nesta operação de alienação, correspondendo a um elevado potencial de energia renovável de há muito estabelecido entre nós, fazem parte de concessões que foram parar às mãos da EDP em condições “muito favoráveis”. Isto, para não utilizar outro termo. Aliás, os argumentos então aduzidos para não haver concursos públicos, apontavam para o facto de a EDP “ser pública e portuguesa” e, também, para não se deixar o país ficar refém de uma bacia hidrográfica.
Num momento em que existem dirigentes políticos preocupados com a “evaporação da água nas barragens” e com o “excesso de barragens”, como ouvimos à líder do BE e ao representante do PAN, devem colocar-se as seguintes questões reais:
Em que condições esta venda foi ou vai ser autorizada pelo Estado (concedente)? O que diz o governo acerca desta operação? Foi ela previamente concertada?
As mais-valias resultantes vão ser partilhadas “com os consumidores” baixando as tarifas? Ou com o Estado (contribuintes)? Ou, como parece, vão em larga medida para os dividendos dos acionistas e de outras otimizações financeiras que interessam à empresa?
Se a Iberdrola ganhar, a Autoridade da Concorrência permitirá a consumação da operação?
O que diz o PS sobre este momentoso tema? Já que se está em campanha eleitoral irá continuar a falar-se genericamente sobre as energias renováveis? E, o governo já conversou com os espanhóis e com a UE sobre estas alterações?
Este caso vem demonstrar que, quando as energias renováveis são exploradas por empresas privadas do tipo EDP, quase sempre acontecem grandes negociatas e geração de avultados lucros e mais-valias. E, é também por isso, que os centros de decisão político-económica estão muito interessados, nas medidas de política pública destinadas a um suposto combate aos efeitos das alterações climáticas.
O capitalismo não é Verde.
Aliás, alguns movimentos inorgânicos ditos ecologistas, que pescam por arrastão com redes sociais, atuam, por distração ou por deliberada intenção, no sentido de potenciar os interesses do grande capital.
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