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O grande circo do banco espírito santo

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É isso mesmo que reprovo.
Não há nada mais imoral do que roubar sem riscos.
É o risco que nos diferencia dos banqueiros
e seus émulos que praticam o roubo legalizado
com a cobertura dos governos.
Albert Cossery in As Cores da Infâmia
-edições Antígona, ano 2000
BES

1-O CIRCO POLÍTICO

Passos Coelho diz com o ar solene do costume, para dar credibilidade às fanfarronadas, charlatanices, lapalissadas de político de meia tijela, que “cada vez mais os bancos olham ao mérito dos projectos e aqueles que não olham pagam um preço por isso. As empresas que olham mais aos amigos do que à competência pagam um preço por isso, mas esse preço não pode ser imposto à sociedade como um todo e muito menos aos contribuintes”. Está a gozar com todos nós!!! Os 300 milhões que a CGD emprestou ao BES foi pelo mérito dos projectos? E os 900 milhões da PT ao GES foi pelo mérito dos projectos? E o Estado que tem descaradamente beneficiado a famiglia Espirito Santo desde que esta começou a reconstituir os tentáculos do polvo? Foi pelo mérito dos projectos? E o trânsito entre quadros do grupo Espírito Santo e o aparelho de estado e os partidos do chamado arco governativo? Foi para beneficiar o Estado? Para colocar os partidos mais próximos da realidade? Foi por mérito desses quadros? Ou foi para garantir e ampliar a influência da “famiglia” espírito do santo nos destinos do país a seu favor? Apesar de não terem um pingo de vergonha, pelo menos fechem a carcela!
Paulo Portas, um técnico de vendas com a escola toda, mestrados e doutoramentos adquiridos em anos de frequência das feiras, alinha várias alarvidades, com o ar sério de vendedor de vigésimos premiados, com o cuidado de não se referir aos amigos espíritos santos, ai Portucale, Portucale!«os portugueses já pagaram muito caro erros do sistema financeiro», defende «economia de mercado com responsabilidade ética (…) nós não acreditamos no Estado como produtor de riqueza e temos receio do Estado como produtor de dívida, mas queremos um Estado que seja um regulador forte e um supervisor eficiente».
Como se ética e mercado tivessem alguma vez andado de braço dado. Como se não fosse o Estado a vaca onde toda essa gente mama, acarinhada por Portas&Comparsas.
Desde que começou o folhetim do Grupo Espírito Santo. Passos Coelho e Paulo Portas tinham toda a confiança no que “já foi dito pelo senhor doutor Ricardo Salgado” e assumiam “todo o respeito” pelas questões internas de um grupo privado. Esses dois e a camarilha dos governantes são os mesmos que sacaram milhares de milhões de euros a pensionistas, a desempregados e a trabalhadores no activo para tapar roubos e buracos de negócios desastrosos feitos por entidades privadas que eles tanto respeitam. A história repete-se e é cada vez mais sinistra.
Por fim, António José Seguro diz que está menos preocupado com a situação do BES depois da reunião que teve com o Governador do Banco de Portugal. Diz que, como líder do PS, “recolheu informações que lhe garantem que os portugueses podem estar tranquilos”. O gajo é parvo? Queria que o Governador do Banco de Portugal lhe dissesse que aquilo é uma choldra que andou a gamar à tripa forra? Que ainda não se sabe quantos milhares de milhões vão ser necessários para tapar o buracão?
Esses três da vida airada mentem, sabem muito bem que vão ser os contribuintes a pagar com língua de palmo a roubalheira. Que o BES mais cedo ou mais tarde, com nova ou velha administração, perdida ou reciclada a confiança dos mercados, vai ao saco dos seis mil milhões de euros do empréstimo total feito na base do Pacto de Agressão, que continuam guardados para salvar os bancos e que deveriam ser utilizados para promover a economia. Que quem paga a factura da troika somos nós enquanto as grandes fortunas, os especuladores, continuam a ser poupados.
Esses três da vida airada, mais os que os antecederam são das famílias políticas e do sistema político que permitiu que em trinta anos o Grupo Espírito Santo, com golpadas conhecidas e, pelos vistos, desconhecidas, todas muito éticas, sejam legais, alegais ou ilegais, acumulasse:

  • 7.000.000.000.000 de euros
  • 200.000.000 de euros em cada ano
  • 17.000.000 em cada mês
  • 550.000 em cada dia
  • 24.000 em cada hora

Claro que o problema não é do grupo Espírito Santo é da natureza do sistema e dos políticos e dos partidos que o sustentam, os tais que o Cavaco quer ver concertados, que permite sucessos e insucessos deste jaez. Leia-se o post “Pobrezinho Sim, Honesto Nunca”, aqui publicado em 2010, sobre Ricardo Salgado, antes de conhecidos os actuai lances.

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2- O CIRCO PRIVADO DO GOVERNADOR

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal tem sido muito elogiado pela claque do costume, pela forma sagaz com que tem tratado o caso do Grupo Espírito Santo. Outra coisa não seria de esperar dessa gente que empapa os órgãos de comunicação social com comentários e notícias que são uma roda dentada importante no movimento do sistema em que pontificam os doutores e doutorecos fonsecas & burnays dos Espíritos Santos e congéneres.
Pode-se levar a sério um governador do Banco de Portugal, que só actuou quando se sentiu entalado entre a espada e a parede e não lhe restou outra alternativa senão intervir?
Pode-se levar a sério um governador do Banco de Portugal que pactua com gente que manipula contabilidades para esconder défices de milhares de milhões? Gente que inscreve nos seus activos acções representando ficticiamente milhares de milhões que de facto só valem 10% ou menos? Que, segundo os jornais, atribui idoneidade a troco de um espirito santo mais renitente sair da administração do BES? Que não considera grave um presidente de uma instituição bancária receber luvas de dezenas de milhões de euros de um construtor civil mal cheiroso, o que noutros países daria direito a ser preso, a ser levado algemado para a prisão, em directo e a cores? Que permite que os espíritos santos, sejam salgados ou ricciardis, se preparem para inventar e entrar num Conselho Estratégico, para continuarem a ter um comando à distância no BES? Apesar de Ricardo Salgado já ter nos novos membros do CA, pelo menos alguém que andou com ele de braço dado num virote para salvar os Espíritos Santos do abismo para que parecem caminhar, com os bolsos a abarrotar de maravedis. Alguém avalizado pelo novo presidente do CA do BES e pelo governador do BdP. Tudo gente que frequenta os mesmos salões, sejam eles restaurantes, academias, ginásios, cabeleireiros ou casas de meninas com profissão mais antiga mas de princípios mais sólidos. Gente que nunca se perde no paraíso que é o Portugalito, debaixo das asas do galo de Barcelos que debica as migalhas que os grandes grupos económicos despejam nos pátios das traseiras dos partidos que nos têm governado há quase quarenta anos.

 

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3-O CIRCO DOS BONS RAPAZES

Enquanto a galinha punha hora a hora e pontualmente ovos de ouro, a famiglia espírito santo, seguia em manada o padrinho, embalada pelo tilintar da dinheirama derramada nos seus bolsos pelas cornucópias que durante dezenas de anos multiplicavam rios de maravedis com múltiplas actividades ilegais, desde a fraude fiscal à falsificação de contabilidade, a utilização do dinheiro dos depositantes em benefício dos próprios, a intensa promiscuidade entre os banqueiros e o poder político. Não uma árvore, uma floresta de árvores das patacas.
Era um pagode apesar dos problemas judiciais por práticas ilícitas em múltiplas praças que não a nacional, à sombra da sonolência que invade os gabinetes do BdP, apesar dos sobressaltos BCP, BPN, BPP, Banif. Porque há que respeitar e ter confiança na actividade privada bancária, nos seus senhores e senhoritos.
Os problemas começaram com a guerrilha pública na famiglia. Um turco mais jovem queria substituir o Padrinho. Já não lhes respeitavam os assobios e os chitos como antigamente. Estava a falhar à generalizada e santa ganância. Os golpes não tinham a mesma eficácia. Não estavam a render o esperado, embora toda a famiglia bem se esforçasse em manipulações sofisticadas que não estavam a resultar tão bem como no passado recente. O dinheiro que lhes entrava em cascata nas suas contas bancárias, nos seus bolsos já não lhes satisfazia a desmedida cupidez. Eram tão felizes na candonga financeira, a falsificarem contabilidades, a fazer transacções fictícias entre o labirinto de empresas dominadas pela famiglia, a vender gato por lebre aos seus depositantes, investidores, crentes no espírito santo e agora só chatices…bagunças…
Até o governador do BdP, apesar da reputação da Famiglia, se deu ao luxo de não querer espíritos santos na administração do banco para lhes salvar o banco! Tudo bons rapazes que vão continuar a gozar com o muito de que se apropriaram sem produzir nada! O crime compensa !!!

 

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4- O CIRCO DO RISCO SISTÉMICO
Num país em que um ministro da saúde está a destruir o Serviço Nacional de Saúde sem se deter, mesmo quando põe em risco a vida dos portugueses, eis que surge essa inventiva e maravilhosa frase recuperada dos manuais de sanidade: o risco sistémico.
Aliás se existe área em que a finança é altamente criativa é na invenção da linguagem. Os gurus, mesmo os nobelizados. falham sistematicamente as previsões, enquanto inventam conceitos para baralhar e voltar a dar o mesmo. Algumas são verdadeiras pérolas. Engenharia financeira, um guarda-chuva de todas as especulações financeiras. Crescimento negativo para não dizer que está tudo a ir água abaixo. Imparidades, defaults, contabilidade criativa sei lá mais o quê, um teatro de vozes que alimenta a vigarice intelectual.
Uma das últimas, o risco sistémico. À pala do risco sistémico os estados têm sustentado a voracidade e a falência sucessiva do sistema financeiro. Como se o sistema financeiro fosse o motor do desenvolvimento económico. O coração insubstituível do sistema económico.
É a grande mentira!
Os mercados financeiros não produzem, nunca produziram nem nunca produzirão nada! É a economia real que o faz. Andar atrás do brilho da montagem russa dos mercados financeiros é um erro. A exuberância dos mercados financeiros é uma ficção. Limita-se, na melhor das hipóteses, a ser um reflexo da base real na qual assentam, da qual extraem a riqueza, sem produzirem nada. Especulam. Especulam sempre na margem do roubo legalizado e organizado. Ultrapassam essas porosas fronteiras. Geram bolhas, outra maravilha linguística, que rebentam de forma súbita, descoordenada, como estamos a assistir no BES.. Os efeitos vêm sempre em catadupa, com falências, desemprego massivo, redução de salários, de protecção social, de direitos fundamentais dos cidadãos. Sofrem os países mais pobres e com economias mais frágeis, como o nosso.
Os portugueses estão hoje bem mais pobres e desprotegidos e com uma economia muito menos capaz de responder do que há quatro anos. Os festejos que Passos Coelho, Portas e seus correligionários andam a fazer, é um tenebroso circo.
O povo nunca ganha quando os títulos ou as acções são transaccionados por valores muito superiores ao seu valor real. Ganham, com toda a certeza, os accionistas dos grupos económicos e financeiros cotados em bolsa, mas esse ganho não resulta da exploração das actividades concretas desses grupos.
A ganância e a loucura política que hoje dominam foram e são trágicas para milhões de pessoas. Há, a nível mundial, criminosas negociações, desenvolvido à socapa por governantes e tecnocratas ao serviço das grandes multinacionais, que não apenas procuram erodir ainda mais a regulação financeira, como transformar em meros produtos de mercado os recursos essenciais à vida das pessoas.
Este é o verdadeiro risco sistémico que se pretende iludir quando um bando que andou anos a banquetear-se lautamente é vítima da sua própria ganância. Do muito que ganharam e que por acaso infeliz, por um erro de cálculo se estampou.

Sei apenas duas coisas muito simples, disse Heikal
(…) a primeira é que o mundo em que vivemos
é regido pela mais ignóbil quadrilha de tratantes
(…) a segunda é esta: acima de tudo, convém não os levarmos a sério;
é isso que eles querem, que os levemos a sério
Albert Cossery, A Violência e o Escárnio
Edições Antígona 1999

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