Não é que seja um entendido. É a curiosidade que me conduz à descoberta de autores e de livros que não encontro expostos nas montras e nas prateleiras das livrarias da moda.
Ler é perder-me – há muitos lugares onde nos podemos perder, mas nenhum é tão complexo como uma livraria ou uma biblioteca -, o que aconteceu, também, “ao Vivaldo Bonfim, escriturário na repartição de finanças do 7.º Bairro Fiscal e que punha sempre um livro debaixo de modelos B, impressos de alteração de actividade e outros papéis de nomes ilustres, e lia discretamente, fingindo trabalhar. Não era uma atitude muito bonita, mas o meu pai só pensava nos livros”.
É esta a história que nos conta Afonso Cruz, em “ Os livros que devoraram o meu pai”, numa edição da Caminho.
Como aperitivo transcrevo este pequeno e saboroso fragmento: “ … Soube pela minha avó que um tal Orígenes, por exemplo, dizia haver uma primeira leitura, superficial, e outras mais profundas, alegóricas. Um bom livro deve ter mais do que uma pele, deve ser um prédio de vários andares. O rés-do-chão não serve à literatura. Está muito bem para a construção civil, é cómodo para quem não gosta de subir escadas, útil para quem não pode subir escadas, mas para a literatura há que haver andares empilhados uns em cima dos outros. Escadas e escadarias, letras abaixo, letras acima”.
Se gostou… não hesite. Vai ver que vai valer a pena!