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(DES)INFORMAÇÃO

ImageA (des) informação é uma das armas mais importantes para manter o estado de sítio em que se vive a crise económica,

Uma das últimas notícias de topo da (des) informação, na primeira linha da manipulação a que todos nós somos diariamente sujeitos, aconteceu na semana passada.

Todos os jornais, diários, semanários e de negócios, todos os telejornais, públicos ou privados, todas as rádios, bateram  tambores ecoando, urbi et orbi, alertando para a gravidade da incidência da greve dos trabalhadores portuários nas exportações. O maior alarme era trombeteado pela Autoeuropa. Todos eles noticiavam em alta grita que a fábrica de Palmela, gravemente afectada pela greve dos estivadores, procurava alternativas nos portos de Espanha aos portos portugueses paralisados pela greve. Uma verdadeira sabotagem à economia nacional. Os ministros desfilavam as preocupações que os deixavam à beira de um ataque de nervos ameaçando com a requisição civil. Os comentadores do costume amareleciam ainda mais entontecidos com tamanha afronta que aprofundava a crise. Todo o mundo e ninguém inflamava-se com os perigos decorrentes de a maior parcela de exportação do país apodrecer nos cais dos portos em greve.

Na semana seguinte percebeu-se que o que a Autoeuropa procurava eram portos alternativos para enviar para todo o mundo os automóveis que não ia produzir, por suspender o trabalho nas suas linhas de produção até 7 de Janeiro de 2013.

Ninguém chora nem cora de vergonha! A comunicação social estipendiada continuará o seu trabalho! Mais coelhos na cartola estão prontos a saltar!

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6 thoughts on “(DES)INFORMAÇÃO

  1. Pedro Bichinho diz:

    Fim da greve da Estiva!
    Até que enfim houve bom senso.
    Agora é hora de, pela via negocial, elaborar um CCT que vá ao encontro dos anseios das partes envolvidas, com cedências de ambas as partes, contribuindo desse modo para a maior eficiência, competitividade e melhor imagem dos portos nacionais.

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  2. Manuel Augusto Araujo diz:

    Desculpem só agora voltar à liça mas tive um colapso informático. Meus caros Pedro Bichinho e João Afonso Luz, a primeira nota é que a conversa é de todos, os que “postam” e os que nos lêem. Será óptimo que haja reacções e contra reacções ao que aqui se escreve, mesmo que esses debates sejam agrestes, desde que não insultuosos.
    Ultrapassado este preambulo, vamos ao que me motivou a escrever aquele “post”. Indignei-me com a demagogia com que se atacava a greve dos estivadores dos portos nacionais, com excepção de Leixões e Sines. Nos debates, nos comentários entre opinadores e políticos com que se tropeçava na comunicação social era clara a intenção dos alinhados com os partidos do governo para aproveitar o balanço e limitar ainda mais o direito à greve sob a capa dos graves prejuízos que estava a produzir na economia nacional. A exportação de automóveis, pelo peso que tem nas exportações, era sublinhada, não referindo que uma parte dessa exportação é a de automóveis que tendo sido importados não foram vendidos e que são devolvidos à procedência entrando nos números das exportações. Curiosidades estatísticas. Depois de uma semana em que o martelar desse argumento se acelerou, mais as nuvens de perigos que se acumulavam no horizonte com as alternativas portuárias que a Autoeuropa estava a procurar para escoar a sua produção, eis que a Autoeuropa pára a produção. Uma medida que não se decide em dois dias, nem numa semana. Com consequências gravíssimas para a economia. O universo das empresas que fornecem componentes para a fábrica de Palmela vai ser violentamente afectada. Fala-se menos nisso que na greve do estivadores. A desinformação tornava-se patente.
    Evidentemente que uma greve, ou um “lay-off” causam prejuízos económicos. Claro que enquanto se acentua o impacto das greves se minimiza os do “lay-off”. As greves estiveram e estarão sempre debaixo de fogo. Chegou a haver argumentos muito curiosos para denegrir os efeitos das greves. Faziam-se elaboradíssimas contas para demonstrar como as greves beneficiavam, no caso o Estado, pela poupança que induziam com os dias de salário que os grevistas suportavam e que não se pagavam. Conclusão, as greves eram um maná para as contas públicas e uma estupidez em que os sindicatos insistiam. No caixote do lixo os prejuízos causados pelos serviços fechados. Isso não interessa o que interessa são os números.
    Na mesma ordem de raciocínio, citando o Pedro Bichinho “as associações de empresas de estiva defendem que, ao contrário do que é apregoado pelo Sindicato, ao invés de despedirem trabalhadores as empresas iriam necessitar de contratar novos trabalhadores, o que, considerando a taxa de desemprego a nível nacional, sempre seria uma medida a saudar.” Os sindicatos da estiva também estão atacados de uma incontornável estupidez. Estão à porta do paraíso e recusam-se a abrir a porta! Ainda por cima nem sequer gastam dinheiro a comprar a chave! Vamos acreditar que é assim, e que como diz o Pedro, é uma medida de saudar no contexto nacional. Poderia acrescentar que é uma maior raridade dado as machadadas que tem sido dadas no Código de Trabalho e em todos os direitos sociais, políticos e económicos. Entra-se e quando se fecha a porta o que se tem? O quadro é o descrito pelo João Afonso Luz, o que os estivadores recusam é “a precarização do seu sector de actividade, recusarem a diminuição do âmbito da sua intervenção nos portos, recusarem o despedimento e exigirem a contratação de novos profissionais, não admitirem a sua substituição por trabalhadores não qualificados?” o que está em consonância com todas as políticas deste governo. Os empregadores dão o original da chave, pensando nós, que guardam um duplicado e têm uma fechadura sobressalente. Mal eles entrem, fecham a porta e mudam a fechadura. Elementar meu caro Watson.
    Contra argumenta o Pedro Bichinho ao João Luz Afonso “se o seu entendimento é esse então explique-me como é que os trabalhadores do porto de Leixões e os de Sines concordaram com o novo regime laboral portuário, estando em causa todos esses constrangimentos?” é um argumento redondo, não tem ponta por onde se lhe pegue. A UGT não assinou o Pacto Social? Não foi abraçada, beijada, acarinhada pelo governo, seus acólitos e apoiantes? O João Proença não andou nas bocas de toda a direita, da mais vernácula à mais moderna, como um homem com sentido da realidade? Um sindicalista com quem se podia contar para tirar o país da crise. Não houve mesmo quem propusesse que ele era merecedor de ter uns minutos a sós com a Merkel, para ter o privilégio de passar as mãos pelas penas do pinguim? O Proença e a UGT não sabiam o que seguiria ao Pacto Social? Agora andam em exercícios de contorcionismo para justificar o injustificável. Chegando o Proença ao ridículo de afirmar que faria greve isto quando a UGT, de que ele é secretário-geral, não aderir à Greve Geral do passado dia 14! De passar a vida a ameaçar com o rasgar do Pacto Social, a fazer inútil voz grossa às medidas insuportáveis que o governo vai decretando sob o guarda-chuva do Pacto Social que ele conscientemente assinou. Os trabalhadores dos portos de Leixões e Sines, vitimas de semelhante sentido de realidade, escolheram o mal julgando prevenir o pior, estão inevitavelmente condenados ao mesmo destino.
    As situações de profunda crise económica são sempre mais favoráveis ao capital. O quanto pior melhor é um maná para desencadear ataques aos trabalhadores, ao direito ao trabalho, às negociações dos contratos de trabalho. O seu principal efeito nesse campo é semear o pânico o que degrada a coragem e é muito mau conselheiro.
    Depois Pedro, todas as greves são políticos. Todas as greves não se restringem a discutir salários e direitos têm sempre alcance político. O que se acorda num sector pode ter repercussões imediatas nesse sector, mas tem efeitos mais próximos ou longínquos em todos os outros. Por vezes da forma mais inesperada para quem está desatento. Quer um exemplo? Em 1994, o economista David Throsby, num artigo publicado no Journal of Economics reconhece: “ (…) ser dominante (na economia da cultura) a propensão para gerar fluxos variáveis de receitas ou de empregos, a necessidade de avaliação das decisões culturais e, no plano teórico, o fomentar a economia política dirigida a novos campos (economia de actividades não comerciais, economia das organizações, da informação e da incerteza implicando a revisão dos pressupostos de racionalidade). A economia da cultura é o terreno privilegiado para a verificação empírica de elementos novos”. (…) Esses elementos novos aplicam-se também ao mundo do trabalho. As actividades artísticas são um laboratório da flexibilidade e precarização do trabalho, por se tratar de trabalho qualificado onde o trabalho independente, a intermitência do emprego sem custos de angariação nem de despedimento, a generalização da fragmentação do salário e a irregularidade do estatuto da actividade abrem caminhos para se estudar e experimentar como abrir brechas nos direitos dos trabalhadores. Está a ver os caminhos ínvios com que atacam direitos conquistados em anos de duras e ásperas lutas?
    Estes temas, mesmo quando estão mais próximos de nós, sobretudo por isso porque os efeitos imediatos que se sentem provocam desfocagens na análise, devem ser aferidos com muito cuidado. Nem tudo o que parece é. E o que realmente é só mais tarde se revela. Devia ver um filme, passou há uns anos em Lisboa, quase despercebido num cinema dito para públicos minoritários, Recursos Humanos. É exemplar sobre estas situações. Se o encontrar em DVD, não será fácil, empresto-lhe. Depois voltaremos a falar sem que esta conversa esteja acabada.

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  3. Pedro Bichinho diz:

    Manel, se você visse a desinformação que os sindicatos dos estivadores tem promovido em Setúbal e Lisboa, junto da população, através de panfletos deixados nas caixas dos correios aludindo aos motivos da greve. Um conjunto de dislates para escamotear os verdadeiros motivos que são apenas de cariz político. O problema é que esta guerra está de facto a afectar todas as empresas que de uma forma ou outra estão ligadas ao ramo marítimo-portuário e que nada têm a ver com este conflito.

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    • Caro Pedro Bichinho, sei que a conversa não é comigo, mas não resisto a perguntar: é desinformação ou dislate os estivadores recusarem a precarização do seu sector de actividade, recusarem a diminuição do âmbito da sua intervenção nos portos, recusarem o despedimento e exigirem a contratação de novos profissionais, não admitirem a sua substituição por trabalhadores não qualificados?
      E as outras empresas do ramo marítimo-portuário «que nada têm a ver com este conflito» como se colocaram face à aprovação do novo regime jurídico portuário?

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      • Pedro Bichinho diz:

        Caro João Afonso, se o seu entendimento é esse então explique-me como é que os trabalhadores do porto de Leixões e os de Sines concordaram com o novo regime laboral portuário, estando em causa todos esses constrangimentos?
        Como sabe tem havido ao longo das ultimas semanas reuniões entre os sindicatos e as associações de empregadores no sentido de se chegar a “bom porto” neste conflito. Nas propostas apresentadas pelas associações de empregadores, os actuais trabalhadores de cada porto em nada sairiam prejudicados, uma vez que não viriam os seus postos de trabalho reduzidos e a todos seria garantida a ocupação efectiva.
        Mais, as associações de empresas de estiva defendem que, ao contrário do que é apregoado pelo Sindicato, ao invés de despedirem trabalhadores as empresas iriam necessitar de contratar novos trabalhadores, o que, considerando a taxa de desemprego a nível nacional, sempre seria uma medida a saudar.
        Pese embora todos os esforços desenvolvidos pelas Associações de empresas de estiva, o Sindicato foi inflexível “rejeitando rotundamente o diploma em formação” exigindo dos operadores e do Governo que travem a aprovação da nova proposta de lei.
        Como exemplo elucidativo da postura dos sindicatos nestas reuniões fica a informação de que frequentemente no decorrer delas as empresas são informadas/confrontadas com o próximo pré-aviso de greve. De facto é sempre um bom principio para negociação….

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      • Caro Pedro Bichinho,
        se reparar limitei-me a colocar algumas questões sobre o que considera desinformação e dislates.
        O discurso dos patrões e do governo já conheço, a intoxicação gerada na comunicação social também, resta-me apenas saber se estamos ou não perante uma proposta de lei que vem desregular o sector, promover a precariedade das relações laborais, os baixos salários e a ausência de direitos, retalhar a actividade nos portos, não reconhecer velhas aspirações destes trabalhadores, designadamente, no que diz respeito à caracterização da sua actividade como sendo de desgaste rápido.
        Já quanto às razões que levaram Leixões e Sines a ter posição diferente dos demais é questão de lhes perguntar e, já agora, aos seus sindicatos sempre dispostos a assinar qualquer coisinha.
        Sobre as posturas e a forma como cada um se assume nas negociações é também necessário ver como se comporta o outro lado, indo para a negociação afirmando logo à partida que não cederá uma vírgula no fundamental da sua posição, termino do mesmo modo que você, dizendo: de facto é sempre um bom princípio para negociação.

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