Já sabíamos que o Cardeal
Policarpo tem uma missão, certamente divina, de proteger os privilégios de alguns, apelando à resignação dos portugueses perante as injustiças, os sacrifícios, a austeridade e o roubo de que estão a ser alvo.
Não se manifestem, não se revoltem, isso é pouco democrático e, claramente, nada católico, diz o Cardeal.
Agora, também o seu órgão de comunicação social, a Rádio Renascença, vem informar o fiel ouvinte dos perigos da resistência à injustiça.
Num texto não assinado, onde sobressai o ódio, o medo e o preconceito, sente-se o cheiro a mofo e compreende-se que cada palavra foi carinhosamente recuperada do léxico anticomunista dos tempos da guerra fria.
«Os perigos da falta de memória», assim se intitula o texto, fala-nos do perigo vermelho, o perigo das pessoas aderirem às propostas do PCP, dos comunistas que vêem na crise uma oportunidade para levar os ingénuos a pensar que é possível neste mundo construir um mundo diferente e melhor, distraindo-os do essencial, claro está, os crimes do comunismo e a falta de liberdades nos regimes do ex-bloco socialista.
Ora se avaliássemos tudo pelo seu passado, veríamos em Policarpo, não um Jesus Cristo, mas um Cerejeira, ou um Torquemada, ou um qualquer Cruzado, veríamos que em Portugal, no tempo em que não havia liberdade, os comunistas estavam a reivindicá-la e a arriscar a sua vida por ela e a hierarquia da Igreja a defender o regime, a repressão e a ausência de liberdades, tais são os perigos da falta de memória.
Também seria interessante apelar à memória para se ver o papel que a Igreja (as Igrejas) tiveram nos tais países do ex-bloco socialista, com quem se aliaram, que tipo de liberdades defenderam, teríamos conclusões bastantes interessantes, mas esse seria outro debate e os erros de uns, não absolvem os erros de outros.
Felizmente, não avalio as pessoas e as organizações pelos mesmos parâmetros que se utilizam na Rádio Renascença, até porque o que está verdadeiramente em causa não é o passado e a memória, mas o presente e a defesa que a hierarquia da Igreja faz deste governo e do caminho de desastre em que este coloca o País.
O que está em causa é a necessidade de, através do preconceito e da frase feita, a Rádio Renascença e a hierarquia da Igreja alertar para o perigo de as pessoas ouvirem as propostas do PCP e a apresentação de alternativas à crise, à austeridade e a recessão, um projecto que rompe com as inevitabilidades e põem em causa as desigualdades e as injustiças de um sistema assente na exploração, quando o que exigem é a resignação e a aceitação acéfala da miséria e do emprobrecimento do Povo e do País.
A bravata da Rádio Renascença não constitui novidade. Há muito a tendência para esquecer que esta rádio é um órgão doutrinário, mas essa é a realidade de uma rádio que sempre serviu, nem seria de esperar outra coisa, claro, os interesses da igreja e daqueles que, historicamente, sempre serviu com maior fervor, ou seja, a direita conservadora e retrógrada interessada em manter os privilégios. E não constitui novidade porque, sempre que as coisas se complicam, é preciso construir o inimigo, agitar o papão. Neste caso, como noutros, no passado, o papão são os comunistas, a que é preciso juntar a mesma cassete de sempre dos países socialistas, que, de tão gasta, já soa mal e cheira a ranço. Vá lá que não se lembraram de dizer que os comunistas ainda comem criancinhas e dão injeções atrás da orelha dos velhos…
Numa coisa têm razão: os comunistas não desistirão de os confrontar com a iniquidade das políticas que a igreja sanciona, seja na rua, no parlamento, nos blogues, onde quer que sejam, Vão ter que nos aturar, porque não desistiremos…
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É o que dizes, para salvaguardar o existente é preciso encontrar/construir o inimigo.
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Imperdível, este artigo! Levo-o, obrigada!
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