Passos Coelho tem uma abre-te sésamo para justificar as políticas desastrosas que estão a atirar Portugal para o mais fundo dos abismos. A tudo responde com uma palavra: credibilidade. O desemprego sobe por causa da credibilidade. O investimento público e privado estagna para garantir a credibilidade. O défice orçamental não pára de crescer a bem da credibilidade. A credibilidade que este governo tem conseguido para o país, garantindo os aplausos dos mercados e das quadrilhas financeiras, que, apesar disso, não vá o diabo tecê-las, continuam a gozar à sombra de juros agiotas com que continuam a celebrar os êxitos do dredibilidade do coelhismo.
O Euro grupo, reunido na semana passada, passa a ferro a credibilidade de Passos, Portas & Companhia, desconfiando dos apregoados êxitos da sua governação pedindo à troika “ que trabalhe em conjunto com as autoridades portuguesas durante o quinto exame regular do programa de ajustamento que começa a 28 de agosto para garantir que o processo de ajustamento continue a decorrer de forma bem sucedida”. Traduzindo., com um milhão de desempregados, milhares de falências, venda ao desbarato de bens públicos, consumo nos níveis mais baixos, investimento perto do zero, emigração a disparar, sobretudo entre os mais jovens, tensões sociais a atingirem um nível de insuportabilidade, e a provada impossibilidade de cumprir a s metas acordadas com um programa, que supostamente nos iria salvar da crise e que só a têm agravado, faz soar os alarmes em Bruxelas que diz sem querer dizer que isto está a estoirar, que o falhanço é garantido, por isso é necessário mais tempo.
A questão é, mais tempo para quê? para “se fazer progresso adicional, o que é claro uma vez que o processo de ajustamento não está completo. Na verdade, o que está aqui em causa é olhar para o processo de ajustamento português e procurar facilitar esse processo de ajustamento.” Esta conversa fiada do ministro das finanças, que ninguém, nem o próprio, entende, é a da credibilidade apregoada por Passos Coelho e que está garantida pelo não cumprimento do défice este ano, “um objectivo claramente difícil” soletra Gaspar. A luz que se abre no túnel da credibilidade de Passos, Portas & Companhia, é de adiar dois anos o completo e absoluto fracasso destas políticas.
Depois de um ano a vender ao desbarato os bens públicos, a roubar os portugueses, não todos o grande capital continua a viver à tripa forra, o falhanço absoluto é anunciado com o selo da credibilidade. De um certo ponto de vista, falhanço absoluto não será. É para Portugal e para os portugueses não para essa gentalha que, à pala de umas ditas reformas estruturais, anda a destruir o Estado, os direitos sociais, laborais, culturais entregando numa bandeja a riqueza material e imaterial do país à exploração mais desenfreada, só comparável com o antes do 25 de Abril. Tudo caninamente alinhado com o pensamento neoliberal que está enxertado na União Europeia, na troika, no FMI,no BCE. Tudo em nome de uma esfarrapada credibilidade.
Se dúvidas existissem sobre o desastre que já não é anunciado é uma evidência, surge agora o Borges das catacumbas do seu não-ministério que tem poderes de ministério a elogiar Passos Coelho e a sua credibilidade, dizendo-se “surpreendido com a qualidade com que tem sabido governar”, pelo que “ultrapassou as minhas expectativas e mostra que muitas das críticas que lhe fiz estavam desajustadas”. Era a vela que faltava no velório em que governo cuida de Portugal. Só em Portugal um personagem como António Borges arrota essas tiradas. António Borges que Marc Roche, autor de um livro premiado que conta a história da Goldman Sachs e de como esse banco dirige o mundo, não conhecia esse “peixe miúdo” da Goldman Sachs, o outro que lá estava ainda mais miúdo é Carlos Moedas. Agora sabe se foi informar e o “ FMI disse-me que se livraram dele [António Borges] porque não estava à altura do trabalho e agora chego a Lisboa e descubro que está à frente do processo de privatização. Há perguntas que têm de ser feitas”, defendeu o correspondente financeiro do “Le Monde” em Londres, em entrevista à Renascença.
O equívoco de Marc Roche só é possível por nunca ter lido Eça. Não sabe que Portugal é governado por Abranhos de todas as espécies e feitios, com a credibilidade que é contada no romance. Deve é ter percebido o que é fácil perceber: essa credibilidade está a atirar-nos para o mais fundo dos abismos.