Cultura

Jacques Brel -1

Em Outubro de 1978, morre com 49 anos, Jacques Brel, um dos maiores cantores da música de texto. a música em que as palavras não se banalizam e são tão importantes como a música. Durante o mês de Outubro vamos celebrá-lo.

Jacques Brel é provavelmente o único cantor de expressão francesa que, por desejo de cantar trocou uma vida sem problemas pela incerteza do dia seguinte.
Os primeiros anos da sua vida não faziam prever uma tal decisão. Infância burguesa e católica. Adolescência com educação cuidada algumas incursões nas teatradas da escola. Chegado a adulto, Brel vira as costas a tudo, abandonada a fábrica de papel do pai apanha o comboio para paris e dirá «A sanduiche que comi na carruagem de 3ª classe que me levou a Paris tinha um sabor único: estava perfumada pela aventura, a esperança, a felicidade.» Vai cantar deixando para trás a sua Bruxelas cinzenta e pesada, zarpando da sua Bélgica com ondas de dunas que travam as ondas do mar, abandonando o seu país que tem as catedrais por únicas montanhas onde o correr dos dias é a única viagem, as estradas de chuva o único bom dia e o céu é tão baixo e cinzento que é necessário perdoar-lhe

Dos grandes autores compositores intérpretes da canção francesa Jacques Brel é um caso singular. Não é certamente o maior poeta nem o maior músico mas de uma tetralogia de grandes autores da canção francesa de texto Charles Trenet, Georges Brassens, Leo Ferre é o único que nunca vestiu de música poemas de outrem como o fez Trenet com Rimbaud e Supervielle, Brassens com Villon, Victor Hugo, Verlaine, Paul Fort, Aragon, Ferre com Ruteboeuf, Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Appolinaire, Caussimon, Seghers e Aragon.

Brel considera que os seus poemas sem música são palavras sem sentido e que a música sem os seus poemas nada diz. Era um artista que vivia o palco enfrentando-se e enfrentando o público Ninguém como ele sofria, ria, gozava. Ninguém como ele se metia na pele das canções. Amesterdão é um excelente exemplo. Brel empresta à canção uma força ancorada na música e na violência irónica e desmistificadora do texto bem expressa na última estrofe: “No porto de Amesterdão os marinheiros que bebem tornam a beber não param de beber/ à saúde das putas de Amesterdão de Hamburgo e de todo o mundo / bebem à saúde das mulheres que lhes vendem os corpos/ e quando estão bêbados como cachos/ plantam o nariz no céu assoam-se às estrelas / e mijam como eu choro pelas mulheres infiéis”

 

 

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3 thoughts on “Jacques Brel -1

  1. Maria Crabtree diz:

    Manuel Augusto,

    Magnifico post, optimas cancoes para mim em silencio. Nao sei que se passa mas ao meu laptop nao chega o som. Ouco-as na minha cabeca mas nao e a mesma coisa…

    Grande frustacao…
    Maroa Crabtree

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  2. Margarida Guimarães diz:

    A estas, que tão bem escolheste, eu juntaria “Zangra” que nos diz como a vida é, maioritariamente, feita de desencontros, inutilidades e mágoa por não se atingir os objectivos. Outras existem que mostram a sua vertente, digamos, mais divertida e sarcástica como “Les remparts de Varsovie” e “Vesoul” por exemplo. E nunca mais acabaria…

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    • Manuel Augusto Araujo diz:

      Este é, como se digo a abrir, o primeiro post sobre Brel. Outros se seguirão. a ideia foi organizá-lo tematicamente e este é o de introdução e hoje, domingo vou colocar o segundo.abraço

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