Política

Procrusto, a Troika, o governo de Passos Coelho

Poul Thomsen, do FMI, Jurgen Kruger, da EU e Rasmus Ruffer, do BCE, voltaram a Portugal para verificar se o governo cumpre os seus ditames e não procrastina nenhuma das medidas que impuseram a Portugal. Estão bem treinados para representarem os seus papéis num espectáculo bastante entediante de tão repetitivo. É uma troupe de tecnocratas com sangue de barata, habituada a viajar pelo mundo, simulando fazer grandes análises e desenhar grandes modelos macroeconómicos onde quer que pousem, para tudo acabar na apresentação de uma bula com mais do mesmo, só variando nos números. No essencial, as medidas que preconizam são as mesmas que aplicam onde quer que desembarquem. Ao embrulho chamam reformas estruturais que acabam sempre com o mesmo resultado: o desastre económico e financeiro, o empobrecimento generalizado, o favorecimento dos mais ricos e poderosos, a corrosão brutal dos direitos sociais, a destruição do sector empresarial do Estado a favor da iniciativa privada e retirando-lhe o poder estratégico de intervenção.

Tecnocratas da treta que prometem a quem cumprir o que eles determinam, o acalanto dos mercados, acalmada a nervoseira de que estão sempre possuídos e que faz saltar a pulsação dos juros dos empréstimos para valores de risco, com enfarte garantido. Dizem isto com a mais polida desfaçatez quando bem sabem que isso dos vampiros se tornarem vegetarianos é uma impossibilidade genética e que eles trabalham para lhes garantir as doses de sangue fresco necessárias para a especulação financeira, a economia parasitária, continuar a viver feliz. Não há vício lógico que detenha esses vendedores da banha da cobra de qualidade sofisticada, há que reconhecê-lo.

Para melhor endrominar usam argumentos de um primarismo quase ofensivo. Em Portugal, afirmam, sem uma ruga na cara, que eles, a troika, não impuseram, nem impõem nada! Que Portugal tem um programa de governo que é diferente do programa da troika. A perfídia não tem fronteiras. Dizem isto sempre que aterram em Lisboa, para onde viajam, no quadro de visitas programadas, para vigiar e controlar se o aperto do nó que colocaram no pescoço dos portugueses não foi desleixado. Claro que ficam satisfeitos quando verificam que os lacaios em funções de carrasco deram mais uma volta no torniquete para mostrar serviço, pondo a corcunda a jeito, é o que dá não ter coluna vertebral, para palmadas nas costas mais firmes e efusivas. Seria bom saber-se quanto nos custa cada palmada a somar ao que, todos os dias, nos tiram do bolso. Essa gente está sempre por conta de alguém mas quem lhes paga o “trabalho” e as viagens são sempre outros, no caso somos nós, os que já estamos a sentir os efeitos das suas mãozinhas marotas que, por interpostas mãos, remexem nos nossos bolsos, para não lhes escapar um cêntimo.

Ardilosamente insinuam que o caso português é diferente do da Grécia ou da Irlanda, poderiam acrescentar a Cochinchina, Marte, Júpiter ou que lhes viesse à cabeça. O que não dizem é que a cartilha que desenvoltamente anunciam, já a conhecem de cor e salteado, é velha e relha. Passada a encenação de esmiuçarem a situação económico-financeira aplicam sempre o mesmo receituário que conduz inevitavelmente aos mesmos resultados. Uma versão actualizada dos três macacos sábios transformados, nos três macacos burros que só têm em comum o não verem nem ouvirem nem falarem com qualquer voz sensata que alerte para os efeitos nefastos de políticas económicas sempre com os mesmos efeitos, e muito menos quem proponha políticas económicas que escapem ás malhas da cartilha.silabário neo-liberal. Nada mais fácil do que cortar salários, cortar despesa e investimentos. É fácil e garante uma redução acelerada do défice com a vista míope do curto prazo, que não vê que depois é o abismo. São políticas à Proscruto que acabam por espalhar o empobrecimento generalizado, por anemizar as economias dos países, por destruir direitos humanos mínimos, por mudar os centros de decisão política para centros difusos onde o capital financeiro, cada vez mais concentrado em Mega Pólos abstractos que escapam a qualquer escrutínio, comanda os destinos dos povos e das nações. É o totalitarismo do pensamento económico liberal, intolerante como Proscruto.

Procrusto era um ladrão que vivia de roubar quem passasse pela estrada que ligava Mégara a Atenas, só poderia cruzar seu caminho quem passasse por um terrível julgamento, o bandido possuía uma cama de ferro de seu tamanho exacto, nenhum centímetro a mais ou a menos, onde ele fazia sua vítima deitar-se, se a pessoa fosse maior que a cama amputava-lhe as pernas, se fosse menor era esticada até atingir o tamanho desejado. Procrusto representa a intolerância do homem em relação ao seu semelhante O mito já foi usado como metáfora para criticar tentativas de imposição de um padrão em várias áreas do conhecimento, como na economia, na política, na educação , na história , na ciência, na administração.

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4 thoughts on “Procrusto, a Troika, o governo de Passos Coelho

  1. João Eduardo Coutinho Duarte diz:

    Pena que o nosso povo ainda não tenha interiorizado que a vinda da troika era há muito desejada, por bancos, seguradoras e outros meliantes que diariamente- e há séculos- nos espoliam.Até o Stiglitz diz no livro ” A grande desilusão” que perante a crise do Sudoeste asiático, os países que não adoptaram as receitas Fmiescas, foram aqueles que mais rapidamente arrancaram. Os outros mergulharam ainda mais fundo na crise.Mas havemos de sair disto. Ganhemos o subjectivo, pois as condições objectivas são mais que reais.

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  2. Luis Almeida diz:

    Maravilha, caríssimo MAA! Excelente artigo.
    Essa, então, de “… isso dos vampiros se tornarem vegetarianos é uma impossibilidade genética e que eles trabalham para lhes garantir as doses de sangue fresco…” é excelente.
    Vou já reenviar a todos os amigos aqui dos Anjos que têm Internet !

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  3. Maria Crabtree diz:

    Bom dia Manuel Augusto.

    Linda historia contas tu acerca desse grego Procrusto que eu nao conhecia. Tenho estado a ruminar pensamentos: Tira o segundo “r” e fica Procusto o que da uma grande metafora – pro custo da vida, etc, etc. Depois a horrivel solucao deste ladrao deixa-me arrepiada. Considera la isto: Se adoptassemos a solucao deste grego, vejo o Procrusto portugues, ladrao-carrasco no exercicio da sua funcao neste cenario: depois de almoco, talvez um “cozidinho” bem regado a vinho tinto e um bagaco para acamar, o dito do homem, mete os pes pela cabeca (Falo tanto da vitima como dos pes e da cabeceira da cama), engana-se e em vez de cortar os pes ao roubado, corta-lhe a cabeca. Coca a cabeca dele, confuso com o engano e logo ali lhe corta os pes – ‘Ja agora…’

    Continuei a divagar sobre o assunto neste dia de “Bank holiday” aqui em Londres. Tambem nao me parece impossivel que o dito grego Procrusto gostasse do seu “Retsina”, bebesse um copo, outro, outro, com resina ou nao, e tudo uma questao de interpretacao. Para acanmar um “ouzo” ou um “metaxa” (a falta de bagaco) e podiamos ter o mesmo desvio da fabula….

    Possivel? Provavel? Nao sei mas estamos na UE e como dizem as mas linguas, Portugueses, Italianos, Gregos e Espanhois somos todos PIGS… Que tal um copo de tinto com presunto e broa?

    Saudacoes

    Maria Crabtree

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  4. Faz parte da natureza do escorpião, o picar a presa. Eles, lacaios do vampirismo financeiro, estão apenas a cumprir o seu papel natural, assim como os governantes que lhes limpam o rabo. Está tudo certo, portanto.
    Agora a questão que se põe é como nos livrarmos disto!

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