(…) — Ensinei-te a roubar e agora vais usando o teu talento nos bairros finos, renegando o meio de onde vieste e desprezando o teu educador.Nós não somos da mesma laia. Agora já só te resta comprar um carro desportivo. Talvez então te possa admirar. De momento, pareces-me um pavão todo orgulhoso com as suas penas.
— Antes de ser preso, já te tinha explicado a razão de usar estas roupas.Operando em certos meios, vestido como estou, ninguém ousa confundir-me com um ladrão. Eliminei assim todos os riscos.
— É isso mesmo que te reprovo. Não há nada de mais imoral do que roubar sem riscos. É o risco que nos diferencia dos banqueiros e dos seus émulos que praticam o roubo legalizado com a cobertura do governo. Não te inculquei a minha arte para te tornares um ladrão de cinema cuja única preocupação é não desagradar ao seu público. (…)
In AS CORES da INFÂMIA, Albert Cossery, tradução Ernesto Sampaio,Edições Antígona, 2000
Bom dia de novo,
A obra nao esta traduzida em ingles nmas irei ao “Grant & Cutler” comprar no original. Acabo de ver o magnifico obituario (“The Times” 2008).
Abraco
Maria Crabtre
GostarGostar
Você tinha que ser leitor dos “Esquecidos de Deus” – Se somos pobres é porque Deus nos esqueceu, meu filho. – Deus! -, exclamou a criança. E quando se lembrará ele de nós, meu pai? – Quando Deus esquece alguém, é para sempre”. Do Cossery, militante da vida “Dei-me sempre com pessoas que têm uma concepção original da vida, que não se deixam levar pelo que lêem nos jornais, sabendo muito bem ler nas entrelinhas. Tais pessoas são felizes. Eu fui sempre feliz. Comigo só trago o bilhete de identidade, ou melhor, o cartão de residente. É o único cartão que trago na carteira, não tenho cartão de crédito nem livro de cheques. A vida é maravilhosa, mas é preciso uma pessoa saber desprender-se de tudo isso que desgraçadamente dá felicidade aos imbecis.” Vivemos uma época de grande cinismo social, mas, como alguns outros, A. Cossery – “A prisão é o único lugar onde um homem livre e justo pode morar com honra.” – inspirará a determinação de uma nova geração de insubmissos. Aproveito para recordar um homem que morreu por amor(!), o esquecido Ernesto Sampaio, o primeiro tradutor português de Cossery.
GostarGostar
Bom dia Manuel Augusto,
Lindo pensamento para um domingo calmo. Nao conhecia a obra e vou ver se esta traduzida em ingles.
Sempre a aprender e apreciar coisas novas. Revi o filme de Jean Renoir “French CanCan” que esta melhor que nunca, em copia limpa e tudo.
Ate sempre
Maria Crabtree
GostarGostar