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Circo Bin Laden

Há extraordinárias sequências, quase cinematográficas, para as bandas de Washington.

Uma semana atrás, Barack Obama mandou publicar a sua certidão de nascimento, para desmentir os norte-americanos que duvidavam que tivesse nascido em solo pátrio. As controvérsias costumeiras e o presidente em grande gozo a mostrar, no jantar anual com os correspondentes na Casa Branca, imagens da sua infância captadas por Walt Disney no Rei Leão, produzindo gargalhadas gerais na assistência.

Na sequência seguinte, Barack Obama com ar sério, de estadista determinado, pronto para o que der e vier, anuncia ao mundo o assassinato de Ussama Bin Landen.

O orgulho norte-americano explode, enquanto Obama segue atentamente a subida dos índices de popularidade. Em duas semanas o homem mostra o que quer. E o que quer é ser reeleito mostrando-se mais capaz que os republicanos a puxar do gatilho e a acertar no alvo. A fazer o que os outros não conseguiram em dez anos de guerras e políticas securitárias. Há já quem embandeire em arco pensando alto que a reeleição está no papo.

Poderá não estar, apesar desta sequência que nada deve ao melhor marketing. Há muitos anos que a auto-estima made in USA não estava tão em alta. A comunicação social de todo o mundo esmiúça o processo que conduziu à localização e ao abate de Bin Laden, sem que ninguém, pelo menos no que se tem lido, refira o que deve ter sido fulcral para esse sucesso: a participação dos serviços secretos paquistaneses, um estado dentro do estado, que devem ter decidido acabar com Bin Laden, depois de anos a protegê-lo. Os últimos atentados perpetrados pela Al-Qaeda no Paquistão, atingindo algumas mesquitas com forte implantação popular, devem ter sido a espoleta para os serviços secretos paquistaneses traçarem a sorte de Ussama Bin Landen, pondo-se completamente de fora.

Claro que este, mais que provável cenário, não convém ao Rei da Selva que agora ruge espanejando a juba a caminho das eleições.

Infelizmente para ele, não será o circo mediático que resolve os grandes problemas económicos dos EUA que se advinham insolúveis, tanto para democratas como para republicanos, porque ultrapassam em muito a sua capacidade de intervenção. Não é o receituário de uns ou de outros que tirará da decadência o império. Como não é a morte de Bin Landen, para lá do valor simbólico que tem, que irá acabar com o terrorismo internacional.

O Magrebe e o Médio-Oriente continuam agitados. A democracia continua distante em praticamente todos esses países, apesar das alterações que aconteceram. Curiosamente o que parece estar mais calmo, o Bahrein fê-lo por via da intervenção da despótica monarquia saudita. No Egipto nada de muito novo além dos militares continuarem a deter o poder e são os mesmos que estavam ao lado de Mubarak. Na Líbia não se sabe se Kadhaffi continua, como continua ou se é substituído por um outro Kadhaffi qualquer. A Síria e o Iémen continuam em polvorosa. Que adianta ou atrasa a morte de Bin Landen? Nada a não ser para consumo interno nos EUA.

Nada, enquanto os povos não tomarem o destino nas suas mãos. Cenários não do agrado do Ocidente que sempre preferiu a segurança de apoiar déspotas que deixam cair para apoiar os déspotas seguintes até se livrarem deles. Ou preferirem apoiar grupos que são dos mais conservadores e radicais com medo de apoiar as forças populares capazes de fazer uma verdadeira transição para uma sociedade mais justa e democrática. Desde os impérios francês e britânico sempre foi assim, e assim contínua.

Vícios políticos velhos, agravados por uma situação económica instável e em mutação.

Enquanto isso o circo Bin Landen ainda tem uma esperança de vida razoável. Lá mais perto das eleições será estreado um filme com o romance dos acontecimentos e o presidente a gritar Acção! Vai uma aposta?

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3 thoughts on “Circo Bin Laden

  1. Luis Almeida diz:

    Ser vanguarda não é só liderar as massas e apontar-lhes caminhos. É também, caro MAA, isto que Você faz: apontar-nos interpretações dos acontecimentos que vão mais fundo do que a superficilidade fácil que os os media do pensamento único nos querem impingir. Bem haja, caro amigo !
    E obrigado também ( e também à Maria Crabtree ) pela dica do Independente.

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  2. Maria Crabtree diz:

    Mergulhada em jornais e ouvindo noticias na BBC recomendo-te vivamente a leitura de
    “The Independent” de ontem, dia 3 e de hoje. (ainda nao li) com noticias, comentarios e analises onde mais uma vez Robert Fisk se destaca.

    Ate sempre

    Maria Crabtree

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