Cavaco Silva quer mesmo provar que o segundo mandato vai ser diferente. O presidente deixou-se, finalmente, de rodriguinhos e diz-nos ao que vem, sem rodeios de qualquer espécie, piscando aceleradamente o olho à direita mais básica.
Cavaco vem agora, sem ponta de vergonha, dizer o que nunca nenhum responsável político ou titular de órgão de soberania disse nestes quase 37 anos de democracia e atiça cinzas do passado ainda capazes de provocar enormes incêndios. O mais alto magistrado da nação disse, nas cerimónias que assinalaram o 50.º aniversário do início da guerra colonial em África, que “importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.” Não existe “causa maior”, acrescentou o PR, do que dedicar o esforço e a iniciativa “ao serviço da nação e dos combates que é necessário continuar a vencer para promover um futuro mais justo, mais seguro e mais próspero”.
A “mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação”? Nem Salazar teria dito melhor…
Mas, se os jovens eram obrigados, das formas mais veementes, até, a irem combater na guerra colonial, uma guerra que muitos não compreendiam e outros tantos abominavam (quantos deles terão emigrado para fugir ao disparate colonial?); uma guerra injusta contra a autodeterminação dos povos de Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde e Timor; uma guerra com elevados custos humanos que ainda hoje perduram e que foi a causa mais próxima da revolução de Abril, como pode o PR vir agora comparar a intervenção militar africana com “causas e missões essenciais”?
Foi a guerra colonial uma “causa” e uma “missão essencial”?
Terá sido um “combate” que era “necessário vencer para promover um futuro mais justo”?
Não precisamos disto.
Vou agora ficar à espera que Cavaco Silva explique no seu Facebook que foi mal interpretado…
O 25 de Abril antecipou-se ao projecto pessoal do Senhor Cavaco Silva. Mais uns dois ou três anos e teriamos o homem na Câmara Corporativa, UN ou coisa parecida.
Pessoalmente tenho dúvidas quanto à coragem da criatura.
Teve uma”guerra” à maneira, no ar condicionado da antiga Lourenço Marques e os estropiados, fisica e mentalmente, passaram-lhe ao lado.
Como se vê pelo exemplo presente, para ser professor catedrático neste país e até presidente da República, basta dizer uns quantos disparates, mas os disparates de sons musicais, ao gosto das classes dominantes
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