“É preciso recuar até 1918, devido aos efeitos da gripe pneumónica, para encontrar valores negativos na diferença entre nascimentos e óbitos”, diz Maria João Valente Rosa, Professora da Universidade Nova, citada na edição de hoje do “Correio da Manhã”, a propósito da diminuição de 15.000 habitantes registada em Portugal desde o inicio do corrente ano.
A questão demográfica é um dos problemas mais graves com Portugal se confronta. Mais grave porque não se resolve com meras deliberações do Parlamento ou rúbricas orçamentais – embora também passe por aí. Mais grave porque não se resolve num ano, dois ou três. Mais grave também porque tem que ver com as nossas perspectivas e expectativas relativamente ao futuro. Mais grave ainda porque o futuro de todos e de cada um de nós depende da sua solução.
A notícia agora vinda a lume vem confirmar as tendências que se já se conheciam: o país perde população e envelhece – uma conjugação explosiva a que nem a imigração (também em queda) consegue contrapor-se. Se a baixa natalidade é comum à generalidade dos países europeus, em Portugal assume uma dimensão preocupante (sobre este assunto ver aqui). Qual o futuro de um país envelhecido?
E porque perde Portugal população? Diria, com todos os riscos de uma afirmação genérica, que muitos portugueses deixaram de acreditar em Portugal. Depois do sonho do império e de África; depois do sonho de Abril de 1974; depois da “Europa está connosco”, o que nos resta? De desilusão em desilusão os portugueses voltaram (nunca deixaram de) emigrar.
Certamente que nos faltam políticas concertadas de apoio à família e à natalidade. Que apoiem as jovens famílias e as mães nos horários de trabalho e no apoio à infância. Qual o casal que, com rendimentos medianos, se pode dar ao “luxo” de ter dois ou três filhos em infantários (quando os há) pagos a preços incomportáveis?
Não se vê a forma como esta tendência será invertida. Mas tenho, para mim, que ela mostra bem a reacção de desânimo que grassa na sociedade portuguesa.