Cavaco Silva anunciou a sua recandidatura, o segredo de polichinelo mais mal guardado dos últimos tempos. Há quatro anos elegemos o candidato Cavaco Silva com base no seu curriculum. Isto é, alguns incumbiram-se de nos chamar a atenção para as ilustres qualidades profissionais e académicas do antigo primeiro-ministo (durante quase-quase 10 anos) de professor de finanças e economia. Diziam-nos que tal seria uma mais-valia para um país`sempre à beira da crise. Alguém que não iria governar, mas que podia dar bons conselhos e instar o jovem Sócrates a trilhar “bons caminhos”.
E agora, que estamos como estamos, a galope para o empobrecimento, pergunto, de que nos valeu tão ilustre curriculum? Seria diferente se estivesse lá um poeta, um economista, um advogado, um professor universitário… ou um operário (o Brasil tem um)? Ninguém, em boa verdade, sabe responder. Mas sabemos o que se passou. Cavaco Silva, o Presidente da República, foi como os outros presidentes no primeiro mandato. Resguardou-se. Evitou polémicas que o pudessem desgastar. Mesmo contra a sua consciência, caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Preparou o terreno para um quase certo segundo mandato – assim manda a tradição, dois mandatos (até prova em contrário) para cada “Primeiro Magistrado da Nação”. Seriam três ou quatro se não houvesse limitação de mandatos. Coisas que merecem a nossa reflexão.
Será que, à semelhança dos antecessores, estará Cavaco à espera do seu segundo mandato para mostrar a sua natureza “executiva”? Se não, o que se terá passado neste mandato: hipóteses 1ª) O primeiro-ministro e o governo não atenderam à “discreta magistratura de influência” do Presidente, como C.S. gosta de propalar; 2ª) Os primeiros atenderam ao segundo mas os efeitos foram os que estão à vista.
Qualquer que seja a explicação o actual Presidente é co-responsável pela actual situação: dez anos primeiro-ministro (quando deixou o cargo, em 1995, o deficit público era de 5% do PIB), mais um ano como ministro das finanças do governo AD em 1980/81 e quatro como Presidente (desde 2006). São 15 anos de Poder, a caminho de 20. E não tem nada a ver com isto?
Será que foi essa má consciência que o levou a dizer, na declaração desta noite, que o que o move é a “consciência da gravidade dos problemas”.